Etarismo em contato: a clínica gestáltica frente aos corpos que envelhecem

gestalt therapy and the aging body

Autores

  • Bruno Leonel Mendes de Abreu Universidade São Judas Tadeu
  • Rodrigo Jorge Salles

Palavras-chave:

Gestalt-Terapia, Etarismo, Envelhecimento, Corporeidade, Interseccionalidade

Resumo

O presente ensaio teórico propõe uma reflexão crítica e sensível sobre os modos de existência dos corpos que envelhecem, à luz da Gestalt-Terapia. Ancorado na teoria do self, nos ajustamentos criativos e na autorregulação organísmica, o texto articula o envelhecimento com marcadores sociais como gênero, raça e classe, tensionando os dispositivos normativos que moldam, silenciam e controlam o corpo idoso, como o etarismo. A partir de um diálogo com a fenomenologia, a biopolítica e a interseccionalidade, o ensaio propõe uma escuta clínica encarnada, que reconhece o corpo envelhecido como território de memória, criação e resistência. O argumento percorre três movimentos: (1) a teoria do self como base epistemológica e relacional da Gestalt-Terapia; (2) os efeitos do etarismo sobre a visibilidade e o apagamento do corpo velho e (3) os atravessamentos interseccionais que complexificam o envelhecimento. A escrita é tecida com linguagem poética e densidade crítica, sustentada por uma ética do cuidado sensível à singularidade dos corpos. Aposta-se que a postura da clínica gestáltica, ao resgatar o valor estético, ético e político da corporeidade, constitui-se como campo contra-hegemônico, capaz de afirmar a velhice não como ruína, mas como potência relacional e existencial.

Referências

Alvim, M. B. (2011). O lugar do corpo em Gestalt-Terapia: Dialogando com Merleau-Ponty. Revista IGT na Rede, 8(15), 228–238.

Alvim, M. B. (2012). O corpo e a clínica gestáltica. In L. M. Frazão & K. O. Fukumitsu (Orgs.), Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-Terapia (pp. 25–46). São Paulo: Summus.

Alvim, M. B. (2014). A poética da experiência: Gestalt-terapia, fenomenologia e arte. Rio de Janeiro: Garamond.

Alvim, M. B., & Lins, R. O. (2020). A mundaneidade do corpo: (Re)pensar a cultura individualista e suas implicações para a Gestalt-Terapia. Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica, 26(3), 305–316.

Bayles, M. C. S. W. (2012). Is physical proximity essential to the psychoanalytic process? An exploration through the lens of Skype. The Humanistic Psychologist, 40(4), 367–380. https://doi.org/10.1080/10481885.2012.717043

Clemmens, M. (2012). The interactive field: Gestalt therapy as an embodied relational dialogue. Gestalt Review, 16(2), 130–145. https://doi.org/10.5325/gestaltreview.16.2.0130

Collins, P. H., & Bilge, S. (2016). Intersectionality. Cambridge: Polity Press.

Concone, M. H. V. B. (2007). Medo de envelhecer ou de parecer? Revista Kairós, 10(2), 19–44.

Crenshaw, K. (1989). Demarginalizing the intersection of race and sex. University of Chicago Legal Forum, 1989(1), 139–167.

Desmond, B. (2024). Moving-sensing-feeling bodies clamouring for contact in on-line therapy groups. European Journal of Psychotherapy & Counselling, 26(1), 23–38. https://doi.org/10.1080/13642537.2024.2312286

Foucault, M. (2020). Vigiar e punir: nascimento da prisão (L. Costa, Trad.). Petrópolis: Vozes. (Original publicado em 1975)

Hirata, H. (2014). Gênero, classe e raça: Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, 26(1), 61–73. https://doi.org/10.1590/S0103-20702014000100005

Kyrillos, G. M. (2020). Uma análise crítica sobre os antecedentes da interseccionalidade. Revista Estudos Feministas, 28(1), e56509. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n156509

Merleau-Ponty, M. (1994). Fenomenologia da percepção (2ª ed., C. Ribeiro, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.

Muller-Granzotto, M. J., & Muller-Granzotto, R. L. (2012). Clínicas gestálticas: Sentido ético, político e antropológico da teoria do self. São Paulo: Summus.

Organização Pan-Americana da Saúde. (2022). Relatório mundial sobre o idadismo. Washington, D.C. https://doi.org/10.37774/9789275724453

Perls, F., Hefferline, R., & Goodman, P. (1997). Gestalt-terapia. São Paulo: Summus.

Perls, L. (2002). Living at the boundary. New York: The Gestalt Journal Press. (Data original desconhecida)

Picó Vila, D., Keyes, H. A., & Valantin, B. (2021). Internet-mediated Gestalt therapy: Excitement and growth in an online field. British Gestalt Journal, 30(2), 36–45.

Staemmler, F. M. (2021). There is no inside/outside: On the entanglement of bodily self and biosocial environment as a basis for connectedness and compassion in times of COVID-19. British Gestalt Journal, 30(1), 16–22.

Downloads

Publicado

2025-12-17

Edição

Seção

Tema Livre