Prevalência de dependência de dispositivos digitais em universitários brasileiros
Keywords:
dependência comportamental, dependência tecnológica, dependência digital, estudantes universitáriosAbstract
A crescente integração de dispositivos digitais como computadores, smartphones, consoles de videogames e outros aparelhos no dia a dia oferece vantagens como acesso fácil à informação, conexão social, entretenimento e mobilidade. Contudo, o uso excessivo desses dispositivos pode levar à dependência comportamental, prejudicando o bem-estar psicológico, físico, social, acadêmico e profissional. Vários estudos têm associado a dependência de dispositivos digitais (DD) a diversos problemas, incluindo depressão, ansiedade, solidão, ansiedade social, narcisismo, baixa autoestima, baixo desempenho acadêmico, estresse, má qualidade do sono, insônia e irritabilidade. Além disso, a DD tem sido relacionada à impulsividade, déficit de atenção e transtorno obsessivo-compulsivo, problemas com o autocuidado, realização de atividades diárias e relações sociais, bem como problemas físicos como enxaquecas, dores nos pulsos e pescoço e visão turva. A crescente prevalência do uso desses dispositivos em todo o mundo tem atraído a atenção de pesquisadores de diversos países, transformando a dependência de dispositivos digitais em uma preocupação emergente de saúde pública. A dependência de dispositivos digitais incorpora características comuns a outras dependências, como saliência, alteração de humor, tolerância, sintomas de abstinência, conflitos e recaídas. As taxas de dependência de dispositivos digitais podem variar dependendo de como o conceito é definido, medido e do contexto cultural em que se insere. No Brasil, há estudos de prevalência de subcategorias da dependência digital, como dependência de internet e dependência de smartphones. No entanto, ainda não haviam sido realizados estudos sobre a prevalência da dependência de dispositivos digitais de forma geral. Portanto, este trabalho buscou avaliar o nível de dependência de dispositivos digitais entre estudantes universitários brasileiros. Realizou-se um estudo transversal que envolveu 1098 pessoas com idades entre 18 e 81 anos (média de idade = 27,2; desvio padrão = 10,3). A maioria dos participantes era branca (52%), solteira (73,7%), com renda familiar mensal entre um e dois salários mínimos (41,8%), cursando graduação (95,4%), aluno de instituições privadas (64,5%) e localizados na região Sudeste (40,3%). Foi aplicado um questionário sociodemográfico junto à Digital Addiction Scale (DAS) (em processo de publicação). A DAS contém 16 itens e a pontuação total varia de 16 a 80 pontos, onde pontuações mais elevadas indicam maior grau de dependência. Os participantes foram divididos em estratos iguais considerando a amplitude possível dos valores de respostas e categorizados em quatro níveis de dependência: muito baixo (16%), baixo (39.3%), médio (35.5%) e alto (9.2%). Este estudo pioneiro no Brasil revelou uma preocupante prevalência de dependência de dispositivos digitais entre os universitários, ressaltando a importância do cuidado com a saúde mental dessa população. Estes resultados somam-se a um corpo de evidências que sugere que os efeitos sociais e psicológicos das constantes mudanças tecnológicas constituem um desafio para a psicologia enquanto ciência e profissão.