MC 05: O TEMPO VIVIDO NA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA DE EUGÈNE MINKOWISKI

Autores

  • Virgínia Elizabeth Suassuna Martins Costa

Palavras-chave:

TEMPO, FENOMENOLÓGICA, EUGÈNE, MINKOWISKI

Resumo

Este mini curso tem como objetivo abordar as concepções de tempo assimilado ao espaço e de tempo vivido, especificando seus elementos estruturais e os fenômenos a eles relacionados, com base na perspectiva de Eugène Minkowski. As reflexões a respeito do tempo abordadas na perspectiva filosófica de Santo Agostinho (1987), Bergson (1979, 1988, 1999) e Minkowski (1965) incluem a concepção de “tempo assimilado ao espaço” e a do “tempo vivido”, na qual o presente contém de forma singular o passado e o futuro. Especificamente, Santo Agostinho (1987) enfatiza elementos, como a memória e a expectativa que atuam no presente pela atenção; Bergson (1999) define o tempo presente como sensório-motor e, finalmente, Minkowski (1965) sinaliza a existência do presente como fruto de um passado do qual surge e de um futuro para o qual se dirige. A possibilidade de compreender o modus vivendi da temporalidade do paciente por intermédio do como o “élan vital” tem sido vivido, sua velocidade e extensão em relação ao futuro, assim como rupturas nas partes constitutivas do passado, presente, futuro, que acarretam a perda do efeito de duração de continuidade, fragmentando o tempo em momentos, dentre outros aspectos, parecem indicar uma dimensão operativo-comportamental nos elementos constitutivos da temporalidade, utilizável clinicamente. O profissional de saúde, atento ao como passado que se faz presente pelos elementos constitutivos – recordação, memória ou pesar, – poderia atuar na resignificação dos mesmos. Na prática pode favorecer a ampliação do futuro que se impõe diante do paciente por intermédio de intervenções nos elementos constitutivos do futuro – atividade e espera, desejo e esperança, ação ética e a prece como aponta Petrelli (1999). Atuar de forma operativa-comportamental nos elementos do “tempo vivido” apóia-se, também, na concepção heidegeriana (Heidegger, 1981) segundo a qual cuidar, em uma perspectiva temporal, é considerar o que passou e ter paciência com o que está por vir. Como afirma Remen (1993), um crescente número de pessoas tem acreditado na dimensão ampliada do tempo, e até mesmo em alguma forma de vida após a morte. Para ele, aquilo que a pessoa sente e acredita a respeito do tempo é um aspecto fundamental no seu processo de cura. Todas essas possibilidades surgem da crença de que o tempo não é apenas uma dimensão do mundo. É uma orientação significativa do ser, é construção, no qual o presente não é determinado pelo passado, mas pelo horizonte futuro, com suas categorias específicas, no qual passado e presente são vivenciados. O tempo, embora seja a garantia da impermanência do ser no mundo, é também condição de sua existência, diante da qual somos todos responsáveis. “No decorrer de nosso existir caminhamos, a cada dia, para viver mais plenamente, assim como morrer mais proximamente”, declara Forghieri (1993, p. 52). É preciso, afirma Costa (2003), descobrir o ser-aí por detrás do sintoma, uma vez que carne, sangue e nervos são apenas uma fina camada que envolve um segredo invisível, uma estória que mora em nós. O paciente é uma pessoa e não um caso, cuja linguagem da alma se expressa no corpo, no tempo do relógio e no tempo vivido. Referências Bibliográficas Agostinho, S. (1987). Confissões de magistro. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural. Bergson, H. (1979). Cartas, conferências e outros escritos. (F. L. Silva, Trad.) Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural. (Trabalho original publicado em 1903) Bergson, H. (1988). Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. (J. S. Gama, Trad.). Lisboa: Edições 70. Bergson, H. (1999). Matéria e memória. 2ª ed. (P. Neves, Trad.). São Paulo: Martins Costa, V. E. S. M. (2003). A fenomenologia como possibilidade de entendimento da relação médico-paciente. In: R. F. G. R. Branco (Org.), A relação com o paciente (pp. 25-32). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Forghieri, Y. H. (1993). Psicologia fenomenológica: fundamentos, métodos e pesquisa. São Paulo: Pioneira. Heidegger, M. (1981). Todos nós... ninguém: um enfoque fenomenológico do social. (D. M. Critelli, Trad.). São Paulo: Moraes. (Trabalho original publicado em 1922) Minkowski, E. (1965). Il tempo vissuto. Roma: Editrice Einaude. Remen, R. N. (1993). O paciente como ser humano. São Paulo: Summus. Petrelli, R. (1999) Para uma psicoterapia em perspectiva fenomênica existencial. Goiânia: Editora UCG.

Publicado

2012-09-06