A compreensão diagnóstica no esporte sob uma abordagem gestáltica

Autores/as

  • Adriana Amaral do Espírito Santo
  • Renata Parente Garcia

Palabras clave:

compreensão diagnóstica

Resumen

O esporte é, nitidamente, um dos maiores fenômenos sociais das últimas décadas. Com tamanha importância e visibilidade, tornou-se um campo fértil às atuações de diversos profissionais antes ignorados no processo de formação dos atletas. Tais profissionais atuam em nome das chamadas Ciências do Esporte, dais quais a Psicologia é uma subárea ao lado de disciplinas como Antropologia, Filosofia e Sociologia do Esporte, no que se refere à área sociocultural, além de Medicina do Esporte, Fisiologia e Biomecânica, entre tantas outras. No Brasil, a Psicologia tornou-se conhecida no mundo esportivo, oficialmente, a partir do trabalho do psicólogo João Carvalhaes em um grande clube de futebol e na seleção brasileira campeã mundial de 1958. A partir daí cresceu o número de publicações, estudos e pesquisas na área, além do aumento significativo de profissionais atuantes, em especial a partir da década de 1990 (Rubio, 2000). No entanto, constatamos que ainda é pequeno o número de gestalt-terapeutas atuantes nesta área onde a Psicologia vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente com a realização de grandes eventos esportivos sediados no Brasil. A chamada Psicologia do Esporte é, predominantemente, baseada em conceitos e técnicas advindos das teorias cognitivas e comportamentais. Além disso, raramente encontramos publicações acadêmicas a respeito do trabalho com esportistas pela ótica da Gestalt- Terapia, tanto no âmbito nacional quanto internacionalmente. Sendo assim, parece-nos de extrema importância contribuir para a construção do trabalho do gestalt-terapeuta na área esportiva, já que este vem sendo desenvolvido de forma intuitiva e solitária por parte dos poucos que se aventuram neste campo dominado por teorias, conceitos, técnicas e práticas contrárias à visão de homem e de mundo da Gestalt-Terapia, bem como de sua metodologia fenomenológica. Portanto, o objetivo do presente trabalho é iniciar uma reflexão acerca da primeira etapa de qualquer trabalho psicológico: o diagnóstico, com enfoque no contexto esportivo e sob a ótica da Gestaltterapia. Este, portanto, não será realizado nos moldes clássicos, baseado em procedimentos pré-estabelecidos, realizados em uma determinada ordem e em um determinado número de sessões, com a finalidade de categorizar o indivíduo e estabelecer objetivos e técnicas para alcançá-las (Aguiar, 2005). Aqui propomos a visão processual do psicodiagnóstico, também na área esportiva. Ou seja, um diagnóstico em constante construção e transformação durante todo o período de acompanhamento psicológico do atleta ou da equipe. Com isso acredita-se estar em plena consonância com a visão existencialista segundo a qual o homem é um ser se fazendo, é um ser existindo, permanentemente em busca da sua essência. Se o homem está sempre em construção, não é possível enquadrá-lo em categorias diagnósticas pré-estabelecidas e estanques (aquele atleta está desmotivado, o outro ansioso, aquela é agressiva, e assim por diante). Tais categorias ou critérios diagnósticos foram definidos diante do que se encontra em comum entre os homens. “Para tanto, agrupa, nomeia e classifica tudo aquilo que se refere à perda dos mecanismos normais de funcionamento” (Frazão, 1996, p.27). O trabalho do gestalt-terapeuta é, justamente, identificar como estas comunalidades se art iculam e funcionam dentro do campo existencial de cada sujeito ou, como sugere Aguiar (2005), como este sintoma (a ansiedade, por exemplo) “articula-se com suas especificidades e compõe uma totalidade singular” (p.122). Vale ressaltar que, apesar de entendermos o diagnóstico como algo que acompanhará todo o processo de acompanhamento psicológico, aqui apresentaremos sua fase inicial, chamada de compreensão diagnóstica (Aguiar, 2005). Esta etapa tem como particularidade o nosso pouco conhecimento acerca daquele atleta, daquela equipe, daquele campo singular. Será um momento, portanto, de observações, entrevistas: com a equipe técnica, com o(s) atleta(s), supervisor(es), diretoria(s), enfim, com todos aqueles que julgarmos importantes forças de influência no campo existencial do sujeito do diagnóstico, no caso, o atleta. Esta etapa objetiva, conforme o nome nos indica, uma compreensão inicial daquele campo, como ele funciona, onde e como se interrompe, os sintomas, etc. Além disso, é o momento de escutar as demandas e ajustá-las à realidade, ou seja, o que é possível e o que não é possível fazer (por exemplo: não posso afirmar que um atleta estará menos ansioso para a c ompetição do final de semana), momento de acolher mais do que intervir, ouvir e observar mais do que falar. Este trabalho propõese, portanto, a apresentar uma forma possível, baseada na experiência das autoras, de se fazer psicodiagnóstico no contexto esportivo, respeitando as visões de homem e mundo da Gestalt e utilizando a metodologia fenomenológica. Referências bibliográficas AGUIAR, L. Gestalt-Terapia com crianças: teoria e prática. São Paulo: Livro Pleno, 2005. RUBIO, K. O trajeto da Psicologia do Esporte e a formação de um campo profissional. In: Katia Rubio. (org.). Psicologia do Esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. 1 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000, v. 15, p. 15-28. FRAZÃO, L.M., Pensamento Diagnóstico Processual. Uma visão Gestáltica de Diagnóstico. In.: II Encontro Goiano de Gestalt-terapia, 1996, Goiania. Revista do II Encontro Goiano de Gestalt-terapia, 1996, v.2, p.27-31. Palavra 1: psicologia do esporte Palavra 2: diagnóstico Palavra 3: abordagem gestáltica Modalidade de apresentação: Comunicação/ tema livre Área de concentração: Interdisciplinaridade e novas interfaces (com outras práticas)

Publicado

2015-12-01