A iniciação da formação em Gestalt-Terapia na Universidade – algumas reflexões

Autores/as

  • Guilherme Carvalho

Palabras clave:

formação em Gestalt-Terapia

Resumen

O presente trabalho tem como objeto maior de investigação o rumo das terapias fenomenológico-existenciais nas graduações de Psicologia no Estado do Rio de Janeiro, em especial a Gestalt-Terapia. Tal investigação faz-se relevante a partir da constatação de que nem sempre, nos currículos de Cursos aprovados de Psicologia, a disciplina de Gestalt-terapia consta das grades curriculares pertencentes aos Projetos Político Pedagógicos (PPP) de muitos cursos de graduação. O Ministério da Educação (ME), órgão regulador das diretrizes curriculares nacionais, recomenda que os currículos dos Cursos de Psicologia regulamentados sejam de natureza generalista, isto é, capazes de oferecer aos graduandos de psicologia diversas oportunidades de escolhas pelas áreas de maior interesse e aderência técnica nas duas ênfases mais comuns: sócio-institucional e clínica. Quanto à primeira ênfase, em geral, o aluno navega por campos como análise institucional, psicologia comunitária, psicologia hospitalar e instituições escolares. Cursa disciplinas de núcleo específico e é convidado a travar contato com profissionais atuantes no mercado de trabalho e conhecer as idiossincrasias do setor. No que diz respeito à segunda ênfase, nota-se uma série de vícios no que tange à formação das grades curriculares e projetos pedagógicos dos Cursos de psicologia. Tais vícios são históricos e de difícil transformação, mas atualmente necessitam serem vistos mediante as intensas mudanças da sociedade. De cunho eminentemente psicanalítico, a partir dos anos 80, época de maior divulgação da psicanálise nos meios de comunicação e perante a classe média, nota-se ainda hoje uma marcante influência da ética psicanalítica no ambiente acadêmico. Organizada em torno de um rígido projeto clínico, assimétrico e estruturado em torno de uma visão de homem e de mundo marcada pela economia do aparelho psíquico individual, a psicanálise apresenta-se, amiúde, como a única possibilidade de interpretação a respeito da expressão humana. Ao contrário da experiência citada acima, a aproximação que o aluno de psicologia realiza com a ênfase clínica, pelo menos nos períodos iniciais dos cursos de psicologia, tem como cenário de fundo os textos freudianos do início do século XX. Não obstante, é marcante a tendência chamada aqui de “patologizante”, voltada para a busca formal de situações de conflito, doença e categorização. Tal tendência evidencia-se através de um longo período marcado pela tão temida corrente da psicopatologia – infantil, do adulto, do adolescente, do idoso, etc. Este modelo ocorre segundo um argumento causal, linear, não abstrato e muitas vezes descontextualizado. Privilegia-se a doença e não o doente. Este trabalho afinase com a visão de Paul Tillich, em seu clássico texto de 1939, que condena veementemente qualquer atomismo de métodos. A visão apoiada sob o combate aos dualismos, aos antagonismos entre subjetivismos e objetivismos, e a adoção de polaridades são as marcas da Gestalt Terapia e defendidas pelo presente trabalho. A adoção da fenomenologia como método de trabalho e o existencialismo como fundamentação filosófica permitiram à Gestalt-Terapia a compreensão mais ampliada da experiência humana. Assim, na corrente oposta à tradição psicanalítica dos currículos, a Gestalt-Terapia surge como um importante representante das correntes humanistas, vislumbrando a experiência humana como realizadora e potente em si, em sua própria manifestação concreta e cotidiana. No entanto, tem enfrentado fortes resistências na academia, especialmente na sua afirmação como possibilidade teórica e prática nos módulos básicos. Observa-se sua presença apenas nos últimos períodos da grade curricular comum, geralmente associada diretamente à prática sob a forma de estágio supervisionado, ao contrário de outras abordagens, como a psicanalítica e a comportamental, que possuem disciplinas teóricas nos primeiros períodos da graduação, alertando e preparando o aluno para a existência das modalidades clínicas, respectivamente. Este trabalho tem como objeto de debate exatamente este fato curioso, arraigado em grande parte dos currículos de instituições privadas e públicas. Atribui-se este fenômeno à presença ainda marcante de um pensamento coletivo linear, vertical e causal, que oferece maior espaço político às abordagens compatíveis, o que não acontece com as abordagens fenomenológico-existenciais, dada sua ascendência erroneamente atribuída a áreas fora da ciência psicológica e portanto, marginal. No caso da Gestalt- Terapia, acrescenta-se ainda a problemática de ser uma abordagem de cunho vivencial, da visão holística e integral. Como consequência final, o momento da supervisão clínica de estagio torna-se um espaço de adaptação por parte do aluno, pouco familiarizado com um pensamento contextualizado e não focalizado nas causas do sintoma. O espaço da supervisão profissional tornase, assim, um momento de correção de desvios (teóricos e práticoinstrumentais) ao longo do processo de ensino superior em cursos de psicologia no país. Modalidade de apresentação: Comunicação/tema livre

Publicado

2015-12-01