A travessia do real: o que temos a apreender com a indiferença criativa

Autores/as

  • Alexandra Tsallis

Palabras clave:

TRAVESSIA DO REAL

Resumen

O objetivo do presente trabalho é retomar o conceito de indiferença criativa de Solomon Friedlaender à luz do método fenomenológico para discutir o modo como essa proposição tece as questões da prática clínica. A história do conceito de indiferença criativa – ponto do qual podemos acompanhar o processo de diferenciação dos fenômenos em polaridades opostas - é considerado por Perls (1979) como central em suas formulações, chegando mesmo a afirmar em sua autobiografia que não havia nada a acrescentar ao primeiro capítulo de Ego, fome e agressão, que tratava, por sua vez, justamente das idéias de Friedlaender. "[...] todo evento se relaciona com um ponto zero a partir do qual se realiza uma diferenciação em opostos. Estes opostos manifestam, em seu conjunto específico, uma grande afinidade entre si. Ao permanecermos atentos ao centro, podemos adquirir uma capacidade criativa para ver ambas as partes de um fenômeno e completar uma metade incompleta. Ao evitarmos uma visão unilateral conseguimos uma compreensão muito mais profunda da estrutura e função do organismo. (Perls, 1975, p.17) Embora esse conceito seja muito mencionado como parte das bases conceituais da Gestalt-terapia, ele é descrito de maneira sucinta nos textos da área. Porém, resistindo a usual crítica que se faz a Gestalt-terapia acerca de sua superficialidade teórica, creio que o conceito de indiferença criativa é descrito de maneira simples e direta, pois seu mistério não está na proposição que faz e sim em como, efetivamente, cultiva-lo no processo terapêutico. Isso significa fazer do método fenomenológico, em sua relação com a prática clínica, uma travessia do cotidiano. Um cotidiano cuja realidade está bem expressa nas palavras de Guimaràes Rosa (1994): “O real não está nem na saída nem na chegada. Ele se dispõe para gente é na travessia. “ (p.53). Para isso é preciso contemplar tanto o “método fenomenológico” quanto a “prática clínica” em sua multiplicidade, haja vista a impossibilidade de tomá-las no singular. Nesse sentido, não se trata de defender o que vem a ser de fato a Fenomenologia, mas pensá-la antes de tudo como método. O que resulta em considerá-la como um meio, cuja decorrência básica é que ela não tem nada a dizer previamente sobre o mundo, trata-se antes de tudo de uma forma de deixar que o fenômeno se mostre ele mesmo.

Publicado

2015-12-01