Por um clínica da vida vivida: ''A abordagem gestáltica e sua “política ontológica”: o exercício do cuidado do que nos faz humanos.''
Palabras clave:
abordagem gestaltica ontológicaResumen
Resumo: Inicio esse trabalho identificando na costura de uma trajetória de vida - da origem nordestina ao momento atual – a proximidade de uma noção de cuidado que se faz presente numa abordagem gestáltica da vida. Um cuidado que não é dado “a priori’ e sim praticado em relações que se constroem de forma horizontalizada. Ser uma nordestina me coloca no reconhecimento de um lugar particular, apontando para um conhecimento situado, ponto de partida para conexões mais amplas (HARAWAY, 1995). Utilizando depoimentos de alunos e profissionais da área da saúde que identificam uma nítida e questionável dicotomia entre o viver e o conhecer, da forma como é instituída na Academia levanto, apoiada em alguns autores contemporâneos, questionamentos quanto ao seu sentido (ALVES, 2011, STENGERS, 2006, MOLL, 2008, COSTA, 2000). Todos os autores trazidos me apontam a necessidade de participar de uma formação de psicólogos viva, onde possamos refletir sobre o que e como estamos fazendo, porque somos responsáveis pela produção e reprodução de um modelo de conhecimento, de leitura de mundo e como tal, das diversas formas de intervenção nele decorrentes. Defendem a necessidade de um “saber de experiência” um saber que se faz pelo que “me passa” e não apenas pelo acúmulo de informações ( BONDÍA, 2002). Ensinar e praticar a Psicologia, bem como viver, implica na adoção de uma postura política. Qual seria então, o interesse na perpetuação dessa dicotomia? Todo o saber é localizado (HARAWAY, 1995), não podemos ser “inocentes” quanto a isso e como tal, sua constituição e reprodução implicam numa “política ontológica” (MOLL, 2008). Nosso modo de ver constrói mundos e se reflete em nossas práticas, elas, por sua vez, constroem realidades num ciclo interminável de produção de sentidos. Que mundos, portanto, estamos ajudando a construir? Não vejo condição de uma prática que não se faça no ato do fazer, nessa costura de olhares, construção de sentidos: processo, criação, experimentoação. Essa concepção designa uma prática psicológica viva, não dicotomizada em teoria e prática, pensar e fazer, favorecendo, portanto, a elaboração de um conhecimento vivo. Viver implica em lidar com o novo, como tal, desconhecido. Viver requer implicação (FONSECA, 2012). Como terapeutas numa abordagem gestáltica essa perspectiva se impõe com muito mais propriedade, afinados com essa perspectiva ainda somos, no entanto, uma abordagem “marginal” na academia. Ao nos afinarmos com essa perspectiva, teremos que pensar que a “formação” do psicólogo requer cuidado, muito cuidado, o desenvolvimento dessa virtude cotidiana da qual nos fala Todorov (1995), que se constitui no cuidado do mais próximo a nós, trazendo para o centro das atenções a importância dos pequenos atos cotidianos como movimento de legitimação da condição humana. Ao cuidar do outro, cuidamos de nós, exercemos o respeito por nós mesmos, resgatamos nosso sentido de dignidade. Como gestalt-terapeutas dentro de uma universidade, ao que nos parece diante do que no trabalho pontuamos, uma “fábrica de interiores” muito mais voltada para “exteriores”, nos percebemos e somos percebidos como transgressores de uma ordem estabelecida. Fundamentamos nossa ação na implicação, valorizamos o sensível como elemento de conhecimento do mundo tão legítimo como o pensar, estimulamos a construção de um conhecimento dialogado, expressão do vivido, pois a abordagem gestáltica, muito mais que uma abordagem psicoterapêutica se constitui numa forma de existir, de encarar a nós mesmos e o mundo, como tão bem ressalta nosso mestre Walter Ribeiro. Palavras-chave: abordagem gestáltica; cuidado; política ontológica.Publicado
2015-12-01
Número
Sección
Mesas-redondas