MT03: CLÍNICA CONTEMPORÂNEA – DOS DESENCONTROS AOS "BONS ENCONTROS"

Autores/as

  • Andre Luiz Strappazzon

Resumen

MT03: CLÍNICA CONTEMPORÂNEA – DOS DESENCONTROS AOS "BONS ENCONTROS" Andre Luiz Strappazzon Este trabalho tem início a partir da experiência, em sua dimensão ética e estética. Localizo o seu embrião no início de minha atuação em contextos comunitários (também conhecidos como “comunidades empobrecidas” ou “favelas”), com jovens e adultos. Quero falar de como cheguei neste lugar e de como fui sentindo a necessidade de, num primeiro movimento, abandonar os saberes técnicos da profissão, os objetivos norteadores dos projetos os quais eu coordenava, e, despido de prerrogativas, me deixar levar ao sabor do encontro com o outro. Neste movimento, os saberes e técnicas de nossa profissão ficaram dentro do parêntesis da redução fenomenológica, quase esquecidos diante da necessidade de estar em presença do outro, imerso na força de estar junto com ele. Não foi o abandono radical dos conhecimentos que sustentam a nossa profissão, mas um “deixar de lado”, justamente para recuperá-los depois desde outro lugar, desde outra forma, incluindo o outro e a mim. Abandonar técnicas, procedimentos e conhecimentos num primeiro movimento, foi como varrer os obstáculos existentes entre o eu e ou outro, entre EU e TU, para que nesta região do entre pudesse submergir o NÓS, possibilitando a constituição de uma intersubjetividade e a abertura de suas múltiplas possibilidades. Agora, os objetivos do trabalho já não são apenas meus, pois fazem parte do NÓS. No calor do encontro, vale até mesmo não ter objetivos. E neste caminhar encontramos a base epistemológica da Gestalt Terapia. É a partir desta base que proponho nesta mesa o diálogo sobre a ampliação do que comumente se compreende por psicologia clínica, uma vez que, se ela pode residir no espaço do NÓS, no que está entre, ela transcende a delimitação do consultório e ganha vida no mundo, nos lugares para onde desejamos levar as nossas práticas profissionais e para os lugares onde tais práticas nos são demandadas. Ao espaço do entre, gostaria de agregar um tempero a mais: o “bom encontro”, fundamentado na Ética de Espinosa. Quando Espinosa nos fala de ética, não trata de um conjunto de regulamentos acordados, mas de uma maneira de existência em relação. Trata-se de uma composição de relações, da maneira como afetamos o outro e somos afetados em sua presença, engendrando modos qualitativos de existência. No encontro com o outro e com o mundo, a partir dos afetos que emergem dos corpos em relação, é que meu corpo pode ser potencializado para a vida ou fazer o movimento contrário; ganhar ou perder energia, ou, na forma colocada por Espinosa, ser tomado por afetos de alegria ou de tristeza. O “bom encontro” inclui o outro e a mim em um todo mais potente que engendra possibilidades de vida e a busca pela liberdade. A ética prescinde de valoração ou de valores transcendentes, pois fala da qualidade imanente aos encontros. Fazendo um salto, substituímos a noção de emancipação, colocando em seu lugar a potencialização, sem deixar de considerar que esta última permita o aparecimento da primeira. Neste sentido, proponho pensarmos na possibilidade de que o psicólogo(a) seja o(a) profissional que compartilha da arte de compor relações, um provocador(a) de “bons encontros”.

Publicado

2014-09-19