GD 03: LITERATURA E PSICOTERAPIA

Autores/as

  • Mauro Figueiroa
  • Maria Tereza

Resumen

GD 03: LITERATURA E PSICOTERAPIA Mauro Figueiroa Maria Tereza Qual a ligação entre estes dois campos do saber e da atuação humanos? A psicoterapia não seria uma forma de literatura, já que estamos diante de um campo de encontro humano em que a narrativa se faz presente de forma tão intensa? Muitas vezes, ao estar junto com uma pessoa que revive e encena emoções que revelam antigas histórias carregadas de afetos, não nos perguntamos: “Haverá peça de teatro mais pungente?”. Nesse contexto, ator e personagem são os mesmos e as falas surgem carregadas da espontaneidade que brota como água da fonte, do puro vivido, num improviso pleno de sentido. As formas de colocar na cena do espaço terapêutico as histórias pessoais e sociais revisitadas, são inúmeras nem sempre como dramatizacões externas ou internas. (Aliás, em geral, essas são raras.) Além das possibilidades expressivas de desenhos, modelagens, etc., temos a conversa, em que a fala viva que Merlau Ponty chamava de “fala falante” pode emergir e diferenciar-se da “fala falada”, a fala repetitiva e dispersa do dia a dia. Essa “simples conversa” pode ter sabor literário e poético, como se estivéssemos diante de um livro de páginas que se formam e se desmancham no fluir do encontro entre o terapeuta e o cliente. Em meio a tantos momentos difíceis, em que a fala é truncada, excessivamente racional, cheia de recorrências, a medida que o processo de terapia avança, momentos de fluidez deixam acontecer esse “livro mutante”, lugar de encontro de ambos, terapeuta e cliente, com uma linguagem criativa e vivaz.Uma característica essencial da linguagem literária e poética é ser vivencial e vivenciada. Quando lemos um bom romance, passeamos entre e com as personagens, quando lemos um poema que nos toca, mergulhamos na ruptura com o modo habitual de ver as coisas que ele provoca. As psicoterapias de enfoque fenomenoĺógico (e também outras) têm como característica fundamental o foco cuidadoso no que é vivido na relação ali presente, nas memórias de relações antigas e atuais revisitadas, nas sensações e percepções que se renovam. Ambas, literatura e psicoterapia, levam-nos a caminhar pela estrada do vivido, em que as idéias e reflexões se renovam. O tema de nosso encontro suscita várias linhas de exploração: a contribuição da literatura para o desenvolvimento teórico das psicoterapias; as possibilidades da utilização da literatura enquanto recurso técnico de intervenção psicoterápica; a questão filosófica do conhecimento intuído e reflexivo; a psicoterapia como um lugar onde o sofrimento do indivíduo encontra uma narrativa e alcança uma dimensão literária; a psicoterapia como instrumento de transformação da fala verborrágica ou estéril em fala poética e prenhe de sentidos. Com esta proposta de grupo de diálogo, queremos passear livremente por esta gama de possibilidades, buscando, nas experiências estéticas de cada um, em seu fazer clínico, o reconhecimento desta fronteira incerta na qual, muitas vezes, a palavra e o gesto do cliente e do terapeuta emergem como pura poesia.

Publicado

2014-09-19