CF 01: A PRÉ-HISTÓRIA DO EXPERIMENTO GESTÁLTICO

Autores/as

  • Sergio Zlotnic

Resumen

CF 01: A PRÉ-HISTÓRIA DO EXPERIMENTO GESTÁLTICO Sergio Zlotnic Este trabalho tem por objetivo indicar de que ponto da teoria psicanalítica a gestalt terapia nasce e se desdobra, resgatando a sua fidelidade à segunda tópica freudiana. Acompanhando os escritos técnicos do psicanalista Sandor Ferenczi [que vieram na esteira do texto ‘Além do princípio do prazer’, Freud, 1920], é possível mapear as novidades introduzidas posteriormente por Fritz Pearls, em consonância com a escola húngara – da qual o experimento gestáltico se inaugura e é expressão. Afirma-se aqui a psicoterapia ocupando uma posição nuclear na psicanálise, e sugere-se a questão do ‘erro’ e do ‘equívoco’ como algo essencial nos processos clínicos: é em desacordo com as gramáticas aprendidas que, involuntariamente, o psicoterapeuta alimenta o campo a ser percorrido com os clientes, numa derrapagem, introduzindo elementos que fertilizam a clínica. Finalmente, esboça-se a idéia de que os processos psicoterápicos bem sucedidos dos clientes estariam estreitamente relacionados com as transformações promovidas também – e especialmente – na subjetividade do próprio psicoterapeuta: ao destacar aqueles clientes cuja modalidade de defesa é mais primitiva e anterior ao recalque, conclui-se que o tato, mais que a escuta, é o sentido primordial do terapeuta, - que inclui os fenômenos sensoriais e de fronteira - sentido esse presente, ainda que silencioso, em todo processo clínico, não importando a filiação teórica a que se aderiu. Para indicar de que modo Pearls segue sendo psicanalista até o fim [embora assim não se reconheça], situamos a gestalt terapia no registro econômico da metapsicologia freudiana, aquele que aponta para as quantidades em jogo no aparelho psíquico, e refletimos sobre a conseqüência clínica desta posição teórica: nas fronteiras da ciência de Freud, intensidades ameaçam o lugar do analista e o obrigam a comparecer com seu corpo no setting terapêutico. Sonegar a sua porção sensorial, nesses momentos, significa produzir um novo trauma na atualidade do processo psicoterápico. Noutros termos, desprezar a porção de inédito presente no material que o cliente traz às sessões incrementa o elemento iatrogênico do tratamento. A transferência é definida, a partir daí, para além da resistência, como veículo de uma dupla mensagem: reedição de antigas vivências, de um lado e, de outro, primordialmente, uma força que carrega algo da ordem de um inédito. Afirmamos a gestalt terapia como a abordagem que privilegia esse segundo aspecto das comunicações transferenciais. Ao assim proceder, a escola gestáltica seria aquela que se dedica a produção de novos começos e de inaugurações que antecedem a clínica do desejo de Freud de 1900 [‘A interpretação dos sonhos’]. Dito de outra forma, sublinhamos os momentos em que o terapeuta caminha na direção de seu cliente de maneira a encarnar, voluntariamente ou não, uma presença atual, concreta, palpável e suportiva. Em suma, se de um lado reafirmamos a porção psicanalítica de Pearls e da gestal terapia, de outro, sugerimos a idéia de que os psicanalistas se convertem obrigatoriamente em gestalt terapeutas em determinadas situações dos processos da clínica.

Publicado

2014-09-19