TL 01: DESAFIOS DO ATENDIMENTO FENOMENOLÓGICO EM GRUPO A PACIENTES PSIQUIÁTRICOS

Autores/as

  • Luis E. Franção Jardim

Palabras clave:

desafios, grupo, pacientes, psiquiatricos

Resumen

Desde o surgimento da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial, o modo de encarar a loucura e a inclusão social se transformou significativamente buscando melhores formas de lidar e tratar os pacientes. A partir de uma parceria estabelecida com um hospital psiquiátrico de São Paulo, foi proposto atendimento fenomenológico em grupo aos pacientes internados. Com os grupos, pretendíamos criar um espaço de compartilhamento e acolhimento da experiência particular de cada um e que tivesse um caráter terapêutico. Neste trabalho, iremos apresentar os principais desafios e dificuldades encontradas nos atendimentos e como a Fenomenologia-Existencial, fundamentada na ontologia de Martin Heidegger, contribuiu para encontrar um novo modo de relação com as psicopatologias. Os preconceitos e estigmas médicos concernentes às chamadas “doenças mentais”, frequentemente, conduzem a uma experiência solitária do paciente. Tradicionalmente, a medicação tende a ser o principal recurso de tratamento, deixando descuidados os aspectos relacionais. Essa visão médica e das teorias psicológicas tende a restringir o reconhecimento de outras possibilidades existenciárias do paciente que não referente ao quadro psiquiátrico. Em contraposição, a fenomenologia discorda da ideia de uma estrutura patológica e propõe um novo olhar, na medida em que entende as doenças mentais como modos de ser possíveis à existência, caracterizados por uma restrição de liberdade. E, como tal, afetam as relações de mundo desde o princípio, o que por si só já favorece o distanciamento com o outro. Esta compreensão rejeita os rótulos e a ideia restritiva do quadro psiquiátrico ou meramente neurológico, buscando abarcar o viés da dificuldade relacional com o mundo. Neste sentido, o grupo fenomenológico se mostra como uma importante alternativa de tratamento, uma vez que favorece o estabelecimento de uma relação que vê as possibilidades de ser do outro para além da doença e rompe com distanciamento, criando um espaço de intimidade e de compartilhamento. A partir da auto-revelação e aceitação do grupo, buscamos propiciar o reconhecimento e legitimização do outro e de si mesmo. Com o decorrer dos atendimentos, pudemos identificar uma série de desafios para a sua realização, oriundos não somente das características psiquiátricas dos pacientes, mas também das restrições existentes no contexto institucional. Diante da impossibilidade de realizar grupos diários, nos deparamos com o problema da continuidade do atendimento, uma vez que as internações são relativamente curtas e os pacientes frequentam de 2 a 3 grupos, em média. Essa característica traz uma renovação frequente dos membros e exigiu um novo modo de condução. A partir do olhar fenomenológico, lidamos com essa dificuldade enfatizando a análise do processo em cada encontro e com devolutivas pontuais relativas ao movimento do grupo. Buscamos, assim, estabelecer e fortalecer a coesão entre os participantes para que cada encontro pudesse ser significativo, independente de sua continuidade.

Publicado

2014-01-10