MC 16: NOVAS CLÍNICAS GESTÁLTICAS
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CLÍNICAS GESTÁLTICASResumen
Tal como se pode ler na terceira parte do segundo volume do Gestalt-terapia (1951), ao conceberem a experiência clínica como um sistema-self, Perls, Hefferline e Goodman concebem ao menos três lugares diferentes que podem ser ocupados por um clínico. Eles são pensados a partir da presença ou ausência, em um campo que envolve o(s) clínico(s) e o(s) consulente(s), das funções atribuídas a um sistema self. Trata-se da psicose (comprometimento da função id, que é o lugar ético de manifestação dos afetos), da neurose (comprometimento da função de ego ou de ato, que é o lugar político da manifestação dos desejos) e da aflição (comprometimento do self espontâneo, a saber, das representações sociais compartilhadas que constituem a dimensão antropológica de nossa existência ou, simplesmente, função personalidade). Acontece, entretanto, que nenhuma destas três modalidades logra pensar certos fenômenos clínicos típicos de nosso tempo, embora não duvidemos que eles estivessem presentes em outras épocas. Referimo-nos àquelas experiências de consultório, mas não exclusivamente, em que não nos sentimos manipulados (como nos ajustamentos neuróticos, em que somos manipulados a desejar pelos consulentes), ou rejeitados (como nos de busca, em que as buscas na realidade tomam o lugar dos afetos ou excitamentos), ou ainda convocados a uma ação solidária (como nos ajustamentos de inclusão em decorrência do sofrimento ético-político). Referimonos àquelas experiências em que nos sentimos antes ameaçados, seja pela inconseqüência dos ajustamentos que nossos consulentes produzem, seja pela finalidade mesma desses ajustamentos, que às vezes faz de nós alvos a serem aniquilados. Em comum, estas experiências põem em tela um flagrante conflito entre as possibilidades políticas (ou desejos) dos sujeitos (de atos) que nos procuram e nossa posição política e antropológica, a qual, por vezes encarna os desejos, os valores e pensamentos do Outro Social (conjunto de introjetos compartilhados intersubjetivamente como dispositivos de saber e de poder). Aparentemente, tudo se passa como se nossa posição (política e antropológica) significasse para estes sujeitos a impossibilidade de operarem com os próprios desejos. Razão pela qual estes sujeitos ver-se-iam obrigados a substituir seus desejos por semblantes de desejo, como se assim pudessem escapar ao conflito. Ou, então, ver-se-iam obrigados a assumir uma postura quase hostil, eminentemente estratégica, a qual faria de nós alvos a serem aniquilados. Nos dois casos, reconhecemos dois ajustamentos criadores, duas formas originais para lidar com o conflito político e antropológico constitutivo da vida social dos sujeitos de ato: provisoriamente denominamos a estes ajustamentos de “banais” e “anti-sociais”. Entrementes, porquanto nestes modos de ajustamento o conflito não implica a multiplicação das possibilidades de criação social, pois o sujeito de atos ou se aniquila ou aniquila o interlocutor (no caso, o terapeuta), julgamos possível e recomendável o estímulo a novas formas de vivência do conflito, às quais não necessariamente impliquem a aniquilação da interlocução. Referências Bibliográficas MÜLLER-GRANZOTTO, M.J & R. L. Fenomenologia e Gestalt-terapia. SP: Summus, 2007. PERLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. 1951. Gestalt Terapia.Trad. Fernando Rosa Ribeiro. São Paulo: Summus, 1997.Publicado
2012-09-06
Número
Sección
Mini-cursos