MC 02: DIMENSÕES ÉTICA, POLÍTICA E ANTROPOLÓGICA DA INTERVENÇÃO GESTÁLTICA NO CAMPO DAS PSICOSES

Autores/as

  • Marcos José Granzotto

Palabras clave:

ÉTICA, POLÍTICA, ANTROPOLÓGICA, CAMPO, PSICOSE

Resumen

Tal como os demais ajustamentos pensados a partir da teoria do self, os ajustamentos de busca (psicóticos) são nossas tentativas para identificar qual lugar podemos ocupar diante das pessoas que nos procuram em nome de uma intimidade que decidem manifestar. Trata-se de uma proposta ética, orientada para o acolhimento àquilo que de estranho possa haver no modo como o semelhante fala da sua intimidade. No caso dos ajustamentos de busca, o estranho está relacionado às formações alucinatórias, delirantes, identificatórias e de isolamento que o sujeito produz aparentemente em resposta às nossas demandas por excitamento e desejo. E o nosso lugar diante destes sujeitos – conforme a teoria do self – tem a ver com nossa disponibilidade para acolher àquelas formações e identificar quais demandas exigiram-nas. É claro que podemos agir de maneira política, procurando despertar no meio social interesse e respeito pelas produções e limites dos sujeitos que acompanhamos. Trata-se de uma ação de tutela aos sujeitos das formações psicóticas com vistas a provocar no meio social uma ampliação na forma como o meio social ele mesmo compreende e vive, por exemplo, sua fantasia sobre o que seja a relação entre a cidadania e a psicose. Todavia, bem mais além das formações psicóticas e do engajamento em nossas proposições políticas, os consulentes também nos fornecem representações sociais às quais estão identificados passivamente, o que significa dizer, de modo espontâneo. Por outras palavras, eles também nos apresentam valores, pensamentos e instituições que constituem suas identidades sociais. A intimidade que manifestam não é aqui o estranho, ou nosso interesse em despertar - a partir da convivência com os sujeitos da psicose - algum desejo no meio social. A intimidade agora é a horizontalidade de nossa relação humana, nossa co-participação em motivos antropológicos, que possamos dividir enquanto amigos ou cúmplices, tais como a festa, o luto, a esperança, a alegria, a indignação. E eis aqui a terceira dimensão da atenção gestáltica ao sujeito da psicose, a qual está focada nisso que a teoria do self denomina de função personalidade, a saber, nossa participação na humanidade daqueles que convivem conosco. Trata-se do cuidado dirigido aos diferentes vínculos que possamos estabelecer com as “pessoas” que se manifestam mais além das formações psicóticas e dos nossos desejos. O que enfim, nos permite distinguir entre três dimensões fundamentais da atenção gestáltica aos sujeitos dos ajustamentos de busca: - Por um lado, há a atenção não-desejante ao que não-deseja, ou, o que é a mesma coisa, há a experiência de contato “sem” awareness com as formações psicóticas (com os mutismos, com as alucinações, com os delírios, com as identificações arbitrárias...). - Por outro há o desejo por algo em torno da psicose, que não a psicose ela mesma; por outras palavras, há o contato com a psicose em nome de um desejo, como o de ver os sujeitos da psicose desfrutando de maior autonomia. - Mas há também uma terceira dimensão, que é a convivência, o estabelecimento de vínculos diversos, o compartilhar valores, crenças e ideologias. Bibliografia MÜLLER-GRANZOTTO, M.J & R.L. 2008. Clínica dos ajustamentos psicóticos: uma proposta a partir da Gestalt-terapia. IGT NA REDE, v. 5, p. 8-34 PERLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. 1951. Gestalt Terapia. SP: Summus, 1997.