Eu e você, você e eu: Situações inacabadas na sexualidade
Keywords:
Situações inacabadasAbstract
Quando sentimentos, emoções e experiências não obtém conclusão podem surgir as situações inacabadas. Isto ocorre quando o individuo não pôde reconhecer ou não teve recurso próprio para expressar-se num determinado momento de sua vida. Se esta situação não chega a um fechamento se torna figura e ficará se destacando na vida da pessoa até que algo possa ser feito. “Qualquer Gestalt incompleta é um assunto pendente que exige resolução. Normalmente, isso assume a forma de sentimentos não resolvidos, expressos de maneira incompleta” (Yontef, 1998, p. 98). Segundo Costa (1994, p.1), “sexualidade é o termo que se refere ao conjunto de fenômenos da vida sexual. Ela é o aspecto central de nossa personalidade, por meio da qual nos relacionamos com os outros, conseguimos amar, ter prazer e procriar”. A sexualidade é uma parte integrante e natural do ser humano, junto com suas sensações, desejos, conflitos e relacionamentos sociais. A sexualidade é múltipla, variável de pessoa para pessoa e compreende dimensões físicas, éticas, sociais, espirituais, psicológicas e emocionais (biopsicossocial). Na sexualidade podem acontecer situações inacabadas devido à falta de diálogo, ao medo de desagradar o parceiro ou por não querer entrar em atrito, podendo surgir assim, questões sexuais. Situações inacabadas também podem aparecer a partir de desejos, fantasias, sentimentos ou sensações que não são reconhecidas e/ou expostas pelo individuo. A falta de contato com o que busca e deseja pode gerar grandes embates e sofrimentos para a pessoa e/ou para relação. “Apenas cada pessoa pode saber o que é melhor para si mesma” (Kiyan, 2006, p. 184). Muitos parceiros não conseguem encontrar realização na sua vida sexual porque o incomodo não é claro e explicito. Assim, eles não têm a possibilidade de fazer diferente ou desenvolver novas alternativas. Obter um prazer reciproco pode requerer tempo, pois é um processo de conhecer-se e conhecer o outro, saber do que se gosta e interessar- se pelo que o parceiro gosta e quer, de dialogar, aceitar e reconhecer as diferenças e assim, poder resignificar às situações inacabadas. Antes mesmo de pensar numa relação a dois, é preciso entender o indivíduo como ser separado que precisa descobrirse antes de se unir a alguém, pois só assim poderá entender os aspectos funcionais da união para estabelecer uma relação saudável. “Eu toco você, falo com você, sorrio para você, vejo você, pergunto a você, recebo você, desejo você, tudo isso, por sua vez, sustenta a vibração de viver. Eu estou sozinho, mas ainda assim preciso encontrar você para viver.” Polster; Polster (2001 p. 111). É através do contato que se consegue perceber o todo, ou seja, o indivíduo inserido em seu meio onde a partir deste contato ele pode mudar e mudar a sua relação com o outro. Segundo Polster; Polster (2001 p. 111), “todos nos tornamos seres separados, buscando a união com o que é diferente de nós... nosso senso de união depende paradoxalmente de um senso ampliado de separação, e é este paradoxo que buscamos resolver. A função que sintetiza a necessidade de união e de separação é o contato”. Para muitos casais fazer sexo sem amor pode gerar ressentimentos, podendo transformarse, posteriormente em hostilidade. Os sentimentos de culpa podem tornar-se constantemente ressentimentos não ditos, onde numa relação a dois, vão se acumulando decepções e mágoas. Com o tempo, pode-se chegar num ponto em que ambos não conseguem se relacionar, dialogar, se olharem, nem se ouvirem. A relação vai se desgastando e acumulando sentimentos velados, deixando pendentes situações inacabadas. Esta falta de diálogo pode aparecer na relação sexual já que os companheiros não conseguem expressar suas vontades e desejos. Muitas insatisfações sexuais estão relacionadas à forma como eles se relacionam como casal. Com isso, o desagrado sexual vai aumentando, por não saberem o que querem, e pela falta do contato, vão construindo barreiras emocionais, surgindo conflitos. “O conflito improdutivo caracteriza-se quando eu mesmo não me entendo e acuso você de alguma coisa que é culpa minha...” (Zinker, 2007, p.218). Então, para que se tenha consciência do incômodo na relação é preciso fazer contato com os sentimentos e sensações. Desta forma, poder alcançar a awareness, percebendo sua diferenciação do outro e se poderá mudar e, assim, poder lidar com seus conflitos. Entender essas diferenças ajuda a resolver muitas frustrações causadas pelo desconhecimento de si que afeta a sua relação com o outro. Os desentendimentos poderão ser evitados e resolvidos. Não só a comunicação torna-se diferente, mas eles pensam, sentem, percebem, reagem, respondem, amam, necessitam e apreciam diferentemente. Para a GT, quando uma situação inacabada surge, em qualquer caso, deve-se identificar o sentimento para que futuramente se consiga expressar abertamente aqueles sentimentos que anteriormente não puderam ser expostos. Fazemos uma espécie de encontro com o que está incompleto e/ou encoberto. Muitas vezes, a mudança é complicada, porém só através de novas alternativas, podemos experimentar outras situações que nos permitirão fazer diferente, através da awareness e contato. “O experimento é a pedra fundamental da aprendizagem experiencial” (Zinker, 2001, p. 37). Cada individuo experiencia de forma singular e entra em contato, porém sem perder o senso de cuidado com o outro. No momento em que conseguem olhar um para o outro, começam a experimentar aquilo que são e podem estar envolvidos num processo de mudança. “A mudança acontece quando a pessoa se torna aquilo que é, não quando tenta se transformar naquilo que não é” (Zinker, 2001, p. 125). Atualmente, muitas pessoas se sentem emocionalmente vazias em relação a sexualidade, ansiando por algo capaz de lhes preencher. Com isso, constroem-se inúmeras relações truncadas com diversas gestalten incompletas, falso senso de estabilidade fazendo surgir relações passageiras, inconclusivas, instáveis e, muitas vezes, sem contato. Criamos muitas expectativas com o que desejamos e queremos, entretanto, ao não expressarmos estes sentimentos e sensações, podemos construir até relações estáveis, contudo sem contato. Estas tensões das situações inacabadas se acumulam e é preciso voltar ao inicio dos sinais de resistências para que elas possam ser desfeitas e assim completar a gestalt. Se relacionar sexualmente tem tudo a ver com o que se oferece, e não com o que se exige. Quando nos damos conta no esforço de criar um ambiente de prazer em que buscamos realmente a autorrealização e o bem estar do parceiro, acabamos recebendo o convite pelo qual esperamos e assim a gestalt pode se fechar. Para que possamos exercer nossa sexualidade em toda plenitude, é indispensável que mente e corpo estejam em sintonia e que estejamos aware de quem somos, de como estamos e do que queremos. A partir de um bom contato, os parceiros poderão conseguir fechar situações inacabadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: COSTA, R. P. Os 11 sexos. São Paulo: Gente, 1994. D’ACRI, G.; LIMA, P.; ORGLER, S. Dicionário de gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007. KIYAN, A.M.M. E a gestalt emerge. São Paulo: Altana, 2006. POLSTER, E. POLSTER, M. Gestalt terapia integrada. São Paulo: Summus, 2001. YONTEF, G. Processo, diálogo e awareness. São Paulo: Summus, 1998. ZINKER, J. A busca pela elegância. São Paulo: Summus, 2001. ZINKER, J. Processo criativo em gestalt terapia. São Paulo: Summus, 2007. Palavra 1: situação inacabada Palavra 2: sexualidade Palavra 3: relação Modalidade de apresentação: Comunicação/ tema livre Área de concentração: Clínica e supervisãoPublished
2015-12-01
Issue
Section
Temas-Livres