Revisitando o conceito de Homem em Gestalt-terapia
Keywords:
revisitando conceito homemAbstract
No verão de 1992 escrevi um trabalho cujo título foi “A concepção de Homem em Gestalt-terapia e suas implicações no processo psicoterápico”. Este trabalho foi apresentado no I Encontro Goiano de Gestalt-terapia e publicado na Revista do I.T.G.T., em março – abril de 1995. Naquela ocasião busquei o desvendamento da concepção de Homem implícita na Gestalt-terapia e suas implicações no processo psicoterápico, que se constituiu em um texto longo e denso que tem sido usado como referência nos cursos de formação em Gestalt-terapia por vários Institutos de Gestalt no Brasil. Após o exame das dez principais fontes que influenciaram a construção da Gestalt-terapia (Humanismo, Existencialismo, Fenomenologia, Psicanálise, Análise Reichiana do Caráter, Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo de Lewin, Teoria Organísmica de Goldstein, Taoismo e Zen Budismo) busquei a formulação de um balanço de harmonia e congruência possível nestas abordagens, com históricos e conceitos tão distintos, para delas extrair um conceito de Homem compatível com os escritos e práticas de Fritz e Laura Perls, Paul Goodman e seus discípulos e seguidores. Propus por ocasião desse trabalho o seguinte conceito de Homem congruente com a abordagem: o Homem é um ser digno de confiança, isto é, é responsável por si mesmo, pois se escolhe ser o que é, é uma totalidade que pode ser integrada, voltado para a consciência, auto-regulado, em permanente energia de auto-realização e presentificação e em busca de dar um sentido às suas percepções, às suas experiências, à sua existência. Não se admite nem na ciência e nem na especulação filosófica e teórica a proposição de dogmas e dogmatismo - que isto fique exclusivamente para as religiões, se é que as mesmas são merecedoras de conceitos e ideias irremovíveis! Com o objetivo de afastar-me de qualquer ideia de dogmatismo escrevi no penúltimo parágrafo do trabalho que publiquei naquela época textualmente o seguinte: julgamos que o conceito de Homem a que chegamos neste trabalho expresse, em uma síntese, a ideia de Homem que é peculiar à Gestalt-terapia. Esperamos que tal concepção de Homem que ousamos propor como imanente à Gestalt-terapia possa suscitar debates em nosso meio e aprofundar discussões acerca da contribuição que nós gestalt-terapeutas possamos prestar à humanidade. Tomo a iniciativa de eu mesmo propor uma revisitação a este conceito. Será que o mesmo continua atual e consegue abarcar o “Homem da Rua”? Será o Homem isto tudo mesmo como lá propus? Não estará este conceito eivado da noção típica das camadas sociais que obtiveram uma maior internalização da cultura e da civilização, com todos os seus pesos de educação, refinamento, erudição e, por outro lado, com os contrapesos da repressão e recalque de suas características mais biológicas e animais? Como este conceito abarca o Homem que passa a faca, que tortura, que é pedófilo, que estupra e que mata? Que bom que não há dogmatismo, pois nós podemos pensar, repensar, rever e aprimorar nossa visão de Homem porque dela depende tudo o mais que construímos acerca de uma abordagem filosófica ou psicológica. Contudo, se uma revisão ou revisitação é sempre bem-vinda não podemos nos descuidar daquilo que se pode, com coerência e congruência, justapor-se a um determinado modelo filosófico e/ou psicológico. Tem coisas que misturadas estragam a abordagem original. Uma coisa é revisar outra coisa é juntar alhos e bugalhos. Não digo que tais coisas juntadas não possam ter valor por si mesmo, mas argumento que o ato de junção ou justaposição possa estragar a ambos. Por exemplo, um vinho tem as qualidades que lhe são intrínsecas e podem ser muito boas. O vinagre também as têm e também pode ser muito bom. Ambos servem a bons, mas distintos objetivos e propósitos. Se você juntar os dois você vai ter algo de péssima qualidade que nem é vinho e nem é vinagre e que não servem aos desígnios e propósitos nem do vinho e nem do vinagre. É exatamente isto o que penso sobre as tentativas de junção de toda e qualquer tipologia à Gestalt-terapia. São como o vinho e o vinagre: eneagramas, constelações, mapas astrais, horóscopos, I ching, tarô, cristais e etc. Certamente são pouco mais refinadas que as propostas por Césare Lombroso e Ernst Kretschmer, mas não saem do escopo de que existem alguns tipos de Homem. O que varia é a quantidade de tipos (doze, dezenove, vinte e um, etc.) e as poucas variáveis que levam em consideração (mês de nascimento, ano de nascimento, um ou outro traço de personalidade, etc.). Oposto a isto proponho a Gestalt-terapia – existencialista e fenomenológica que é - que os tipos humanos correspondem ao exato número dos bilhões de seres humanos que habitam a Terra. As variáveis para entendê-los são singulares (bilhões elevados a potência “n”), mutáveis a cada momento, também variando como cada um percebe o seu viver e não podem ser estendidas e generalizadas a nenhum outro ser na face do nosso planeta. É o que pretendemos debater. Modalidade de apresentação: Mesa redondaPublished
2015-12-01
Issue
Section
Mini-cursos