MT 13: SEXUALIDADE FEMININA: DA ADOLESCÊNCIA À GESTAÇÃO E MATURIDADE
Abstract
MT 13: SEXUALIDADE FEMININA: DA ADOLESCÊNCIA À GESTAÇÃO E MATURIDADE Virgínia Elizabeth Suassuna Martins Costa Júlia Tourinho Maria Cristina Barbalho SEXUALIDADE FEMININA NA ADOLESCÊNCIA O corpo é um elemento que nos faz ser no mundo; ele é o instrumento que capta intencionalmente o que é percebido, afirma Merleau-Ponty (1990). O mundo-vida é o mundo percebido e vivido com nosso corpo porque somos o nosso corpo. De acordo com Angerami-Camom (2003), alterações no corpo ocasionam mudanças em toda a estruturação existencial, incluindo a estrutura emocional e sensoperceptiva. Em concordância com essa afirmação, Berg (1966) afirma que falar do próprio corpo significa falar de si mesmo. Segundo Merleau-Ponty (1990), a noção de corpo é indivisa, pois o corpo é uma forma em que o todo é anterior às partes, sujeitas à lei de figura e fundo, onde um membro se sobressai, passando a exercer uma função a partir de uma necessidade emergente. O corpo é o veículo do ser-no-mundo e por seu intermédio se faz possível a realização de projetos que ele exige. Partindo do pressuposto fenomenológico, não há dicotomia entre psíquico e somático, na medida em que a pessoa experiencia a realidade somente por meio do seu corpo (Angerami-Camom, 2003; Forghieri, 2000; Merleau-Ponty, 1990; Berg 1996). Para buscar a satisfação de suas necessidades no contato com o meio o ser humano busca, por intermédio de suas funções de contato, vivenciar sua sexualidade desde o nascimento. Distúrbios nesse processo são formas de conseguir estabelecer a autorregulação organísmica. Dificuldades surgem portanto, não do desejo derejeitar a busca de equilíbrio, mas de buscá-lo por meio de movimentos inadequados com o objetivo de atingi-lo e de mantê-lo. Estes mesmos comportamentos, ao mesmo tempo em que provocam a homeostase debilitam o self . Na adolescência por seu turno, encontra-se o luto pelo corpo infantil que, segundo (Aberastury & Knobel, 1992; Osório, 1992; Outeiral, 2003; Pinto, 1999), ocorre a partir do desenvolvimento de caracteres sexuais secundários, ocasionando mudanças também psicológicas, que envolvem a identidade e a relação estabelecida, com os pais. A sexualidade é um aspecto estruturador da identidade e a aceitação pela jovem, das mudanças corporais, depende da estabilidade de suas identificações femininas (Osório, 1992; D’Andrea, 1997). Para Knobel, 1981, a discriminação temporal de – passado/presente/futuro – surge dos lutos típicos da adolescência – do corpo infantil, do papel e da identidade, dos pais, da infância, desenvolvendo o que ele denomina de tempo conceitual ou tempo cronológico. Vivenciar a sexualidade é viver intencionalmente o tempo Nesse sentido, para Minkowski (1965), o modo de viver o tempo é fundamentalmente orientado para o futuro. Ainda de acordo com esse teórico, o modo de viver o futuro encontra-se relacionado aos seis fenômenos ou categorias do ‘elan vital’ do eu, que permitem viver intencionalmente o tempo: a ‘atividade’ e a ‘espera’, o ‘desejo’ e a ‘esperança’, a ‘prece’ e a ‘ação ética’. Nesse sentido, Petrelli (1999), sugere uma reflexão teórica de cada um desses constitutivos para operacionalizá-los no processo terapêutico. Reconstituir a sequência dos momentos vividos da temporalidade quando o presente se conecta em uma visão integrada e abrangente com o passado e o futuro pode ser uma possibilidade de atuação do gestalt terapeuta não apenas no que se refere à sexualidade. Referências Bibliográficas Aberastury, A. & Knobel, M. (1984). A adolescência normal. Porto Alegre: Artes Médicas Angerami-Camon, V. A. (2003). Psicoterapia e subjetivação – uma análise de fenomenologia, emoção e percepção. São Paulo: Pioneira Thomson Learning Berg, J.H.V. (1966) O paciente psiquiátrico: esboço de psicopatologia fenomenológica. São Paulo: Mestre Jou D’Andrea, F. F. (1997). Desenvolvimento da personalidade: enfoque psicodinâmico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil Forghieri, Y.C. (1993) Psicologia fenomenológica: fundamentos, métodos e pesquisa. São Paulo: Pioneira. Minkowski, E. (1965) Il tempo vissuto. Roma: Editrice Einaude. Merleau-Ponty, M. (1990) O primado da percepção e suas conseqüências filosóficas. Campinas, SP, Papirus. Osório, L. C. (1992). Adolescente hoje. Porto Alegre: Artes Médicas Petrelli, R. (1999) Para uma psicoterapia em perspectiva fenomênica existencial. Goiânia: Editora UCG. Pinto, E. P. (1999). Orientação sexual na escola: a importância da psicopedagogia nessa nova realidade. São Paulo: Editora Gente ----------------------- SEXUALIDADE FEMININA NA GESTAÇÃO Esse trabalho tem por missão pensar o universo feminino sob o foco da sexualidade. Nessa etapa temos por objetivo refletir sobre como a gravidez afeta e altera a vida sexual da mulher. Ao longo da gestação a mulher vivencia inúmeras alterações hormonais, corporais e emocionais. Muitas vezes essas transformações podem ser vividas como ameaçadoras e abruptas, outras como tranquilas e fluídas. Essas reações dependem de muitas variáveis, mas no âmbito da sexualidade dependem essencialmente da educação recebida pela família, do contexto social e das suas crenças – sua forma de ser no mundo, a pessoa que se é e que se construiu até então. Nossa principal convicção é que a gestação, de uma forma ou de outra, marcará a sexualidade feminina. A gravidez traz elementos novos à vida da mulher e promove alterações que podem ser momentâneas ou permanentes. A gestação é um período de crise, uma desorganização no funcionamento do sistema, uma perturbação temporária do estado de equilíbrio. “Uma pessoa em crise não tem escolha: simplesmente tem que mudar, em alguma direção e de uma maneira nova.” (Maldonado, 1980; p. 13). As expressões da sexualidade e do desejo durante a gravidez ainda são, em muito, influenciados por rígidos padrões de comportamento sociais, como “códigos de conduta” sexuais construídos ao longo da história. Como afirma Perls, (1977) “Nós vivemos em meio à ‘clichês’. Vivemos de acordo com um comportamento padronizado.” (op. cit., 1977; p. 50). Para algumas mulheres a gravidez pode ser vivida como uma situação de impasse, um momento de confrontação entre seus desejos e tais ‘clichês’ e padrões sociais. O impasse faz parte do processo de amadurecimento e, da mesma forma que apresenta o problema, fornece também a solução. No nosso caso, a gestação pode oferecer a mulher uma oportunidade de crescimento superação e re- significação de seu comportamento e suas expectativas. Dentre as possíveis situações de impasse com relação à sexualidade durante a gestação, as que abordaremos durante a apresentação serão: as dificuldades surgidas a partir das expectativas pessoais sobre gestação e sexo, as influências das transformações corporais e a relação difícil com o parceiro Dessa forma, podemos afirmar que a falta de contato com as sensações e emoções nesse período pode levar a cristalizações e sofrimentos. Sem preparo, muitas mulheres se deparam com uma gravidez conturbada e uma série de conflitos pessoais. Por isso é tão importante buscar na teoria e proposta da Gestalt-Terapia recursos para compreender esse processo; refletir sobre a sexualidade na gestação, os mecanismos envolvidos nesse período e a descoberta de novos caminhos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Maldonado, M. T. – Psicologia da gravidez: parto e puerpério / Maria Tereza Pereira Maldonado. Petrópolis, Vozes, 1980. Perls, F. – Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977. Yontef, G. M. – Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo: Summus, 1998. ------------------------ SEXUALIDADE FEMININA NA MATURIDADE A sexualidade feminina na maturidade relaciona-se com a forma como ela foi vivenciada pela mulher ao longo das fases anteriores de sua vida. A mulher madura enfrenta uma série de desafios, tais como o aparecimento dos sinais da passagem do tempo no próprio corpo, sintomas da menopausa e dificuldades no relacionamento e na sexualidade. Um grande tabu que a sociedade contemporânea nos incute é a assexualidade do homem e mulher idosos, partindo do pressuposto de que, o desfrutar da sexualidade se restrinja aos mais jovens. A psiquiatra e pesquisadora da sexualidade feminina, Rosemary Basson, do Centro de Sexualidade da British Columbia University, Vancouver, BC, Canadá, reinterpretou o ciclo de resposta sexual tradicional de Masters e Johnson. Enquanto esses estudiosos afirmavam que homens e mulheres passavam pelas fases do ciclo de modo sequencial - desejo, excitação, orgasmo e resolução, Basson acredita que o ciclo de resposta sexual feminina seja circular, sendo que o desejo pode tanto preceder a estimulação sexual, quanto ser desencadeado. Segundo fatores interpessoais, contextuais, psicológicos pessoais e biológicos, a mulher nem sempre tem consciência do desejo sexual no início da relação, mas adere ao sexo por desejo de intimidade com o parceiro. E, se estimulada adequadamente num contexto apropriado, experimenta excitação subjetiva e desejo sexual responsivo, podendo ter satisfação sexual com ou sem orgasmo, obtendo também recompensas não sexuais - a intimidade emocional com o parceiro e bem-estar geral. Quando presente no início da relação, o desejo sexual impulsiona a mulher a uma resposta mais rápida e intensa (Basson, R. 2005). Estudando quanto e como o relacionamento conjugal satisfatório influencia a qualidade de vida sexual das mulheres no climatério, observou-se que a aceitação do climatério e do envelhecimento corporal, a atenção, a solidariedade, o diálogo, o companheirismo, a reciprocidade, a manutenção da intimidade e do interesse, assim como a frequência da atividade sexual colaboram positivamente para o nível de satisfação sexual na menopausa (Barbalho, 2005). Acreditando na importância da sexualidade como fonte de prazer e união do casal, traço um paralelo entre o Ciclo Gestáltico de Experiência de Zinker (2001), e o Ciclo da Resposta Sexual Feminina proposto por Basson em 2005 (Barbalho, 2009, 2010). Na Gestalt Terapia, essa comparação nos permite identificar na mulher a fluidez do contato com suas necessidades sexuais e a busca de satisfazê-las, bem como em que fase ocorre o bloqueio deste contato e, por conseguinte, também a satisfação sexual. Segundo Zinker (2001), os cônjuges devem ser encarados como uma terceira entidade, a do relacionamento Portanto, ao tratar da sexualidade de mulheres na maturidade, deve-se analisar e trabalhar os aspectos do relacionamento que interferem negativamente na falta de satisfação sexual, com vistas a propor uma terapia de casais na maturidade. Razão para tal é o fato apontado por Kaplan (1977, p. 119): “A libido, teoricamente, deveria aumentar durante a menopausa, porque a ação dos andrógenos da mulher, que materialmente não é afetada pela menopausa, agora não é combatida pelo estrógeno”.Sendo assim, podemos afirmar que, tanto o relacionamento entre os casais na maturidade pode contribuir para o sexo satisfatório, como o mesmo pode favorecer o aprofundar de vínculos afetivos. A Gestalt Terapia pode se configurar como um instrumento para impulsionar os casais maduros nesta redescoberta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Basson, R. Women’s sexual dysfunction: revised and expanded definitions. CMAJ. 2005; 172 (10): 1327- Barbalho, M.C.M. Relacionamento conjugal satisfatório e a qualidade de vida sexual em mulheres no climatério, [monografia], São Paulo: Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2005, p. 23, 92-96, 102. --------------------. Intimidade e Satisfação Sexual na Mulher Contemporânea – Uma Visão Gestáltica. Anais do IX Congresso Nacional de Gestalt Terapia. Vitória- Espírito Santo, Setembro de 2009. --------------------. Contextos Vinculares: Gestalt e Terapia de Casal – Um Ato de Amor. Mesa Redonda: Contextos em que a Gestalt é o texto - VII Jornada Paulista de Gestalt- Terapia - Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo, SP, Setembro de 2010. Zinker J.C. Sistemas: Casais e famílias como fenômenos holísticos. In: Zinker J.C. A busca da elegância em psicoterapia: uma abordagem gestáltica com casais, famílias e sistemas íntimos. Tradução de Sonia Augusto. São Paulo: Summus; 2001, p.84. ----------------. O ciclo interativo. In: Zinker J. C. A busca da elegância em psicoterapia: uma abordagem gestáltica com casais, famílias e sistemas íntimos. Tradução de Sonia Augusto. São Paulo: Summus; 2001, p.88. Kaplan H. S. Os efeitos da idade sobre a sexualidade. In: Kaplan H. S. A nova terapia do sexo: tratamento dinâmico das disfunções sexuais. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1977, p.119.Published
2014-09-19
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Mesas Tematicas