TL 22: GESTALT-TERAPIA E O TRABALHO COM PORTADORES DE TRANSTORNO MENTAL: UTILIZANDO O TEATRO E A IMAGEM COMO FERRAMENTA TERAPÊUTICA

Autores

  • Ana Carolina Pacheco de Paula

Resumo

TL 22: GESTALT-TERAPIA E O TRABALHO COM PORTADORES DE TRANSTORNO MENTAL: UTILIZANDO O TEATRO E A IMAGEM COMO FERRAMENTA TERAPÊUTICA Ana Carolina Pacheco de Paula RESUMO Os pressupostos teóricos da Gestalt-terapia sua visão de homem, o trabalho desenvolvido por gestaltistas com grupos, a utilização das artes, dentre outras valiosas contribuições, estão sendo utilizados como instrumento de inclusão social e familiar para portadores de transtorno mental, com histórico de internações, sofrimento e discriminação. Porém o embasamento teórico para atuação dos mesmos em instituições comprometidas com a desinstitucionalização da loucura, é algo que está em construção neste momento, através de profissionais de saúde, familiares e usuários de serviços de saúde mental. Propomos uma discussão sobre o funcionamento dos grupos terapêuticos, direcionados por um olhar gestáltico, realizados com portadores de transtorno mental, utilizando o teatro e a imagem como ferramenta terapêutica. Palavras-chave: Gestalt-terapia, transtorno mental, grupos terapêuticos INTRODUÇÃO O presente trabalho foi construído durante meu curso de especialização em gestalt terapia e nasceu da experiência prática e teórica da autora com portadores de transtorno mental, somado ao interesse nos desafios atuais da saúde pública, em especial a temas relacionados a promoção da saúde, observando-os sob uma perspectiva gestáltica. Apesar dos mais de trinta anos da reforma psiquiátrica no Brasil, mostra-se um desafio constante para a saúde pública, a inserção social, familiar e cultural dos portadores de transtorno mental. Há uma descrença de algumas pessoas sobre a eficácia da reforma psiquiátrica, alguns a vêem como uma utopia ou algo cuja a responsabilidade está restrita aos profissionais de saúde mental. Além do pré-conceito e exclusão social, historicamente sofrida por estes clientes. Tendo em vista a reforma psiquiátrica vigente no Brasil, regulamentada em abril de 2001 através da Lei Federal de Saúde Mental n.10.216, propomos uma reflexão sobre a inserção do olhar gestáltico no campo de atenção psicossocial e a contribuição dos gestáltistas na busca do preenchimento de uma lacuna teórica e social. Partindo de contribuições teóricas e de experiências práticas em oficinas terapêuticas que funcionam nesse contexto e utilizam o teatro e a imagem como instrumento facilitador. JUSTIFICATIVA Na última década podemos observar que apesar de não termos alcançado efetivamente todos os objetivos da reforma psiquiátrica brasileira, a luta antimanicomial tem conquistado novos militantes e parceiros. Deixando de ser uma luta apenas de familiares, portadores de transtorno mental e profissionais de saúde, ampliando-se por uma luta social, visando uma transformação social. Considerando que estamos em um mundo em transformação, a gestalt-terapia apresentasse como um excelente referencial teórico, para embasar práticas de inclusão social, que visam uma mudança cultural, de uma postura de exclusão, preconceito e desvalorização da qual há décadas os portadores de transtorno mental são submetidos. “A visão de homem e de mundo da Gestalt-terapia, bem como sua forma de compreensão diagnóstica, servem como ferramentas para a discussão em torno deste tema no campo da Atenção Psicossocial. Entender o homem como um ser cuja vivência singular é construída e re-construída a partir das relações que estabelece com o campo, em um processo ininterrupto de busca de auto-regulação e crescimento, nos permite uma visão mais ampla de suas possibilidades de existência.” (Pereira, Mabel.2008) Os grupos terapêuticos que visam a promoção da saúde e da qualidade de vida de portadores uma de transtorno mental, são uma ferramenta importante para inserção social, familiar e cultural desses clientes e para alcançarmos verdadeira desinstitucionalização desses clientes. Durante minha graduação em psicologia tive oportunidade de apresentar uma roda de conversa sobre o trabalho do psicólogo com crianças e adolescentes em situação de abrigo, em um fórum de saúde mental, saúde coletiva e direitos humanos, neste evento tive meu primeiro contato com profissionais e usuários da rede de saúde mental e a partir deste momento busquei me aproximar deste tema. Em menos de um ano estava participando como voluntária de uma oficina terapêutica que utilizava o teatro e mitos no trabalho com portadores de transtorno mental em um CAPS II, essa experiência resultou na elaboração e apresentação de um trabalho sobre este tema no I Congresso Brasileiro de saúde Mental. Após o término da graduação iniciei meu trabalho como psicóloga em um CAPS I e a primeira oficina que tive oportunidade de coordenar foi a oficina de teatro pela qual me apaixonei enquanto acadêmica e desde 2009 estou tendo a enriquecedora oportunidade de utilizá-la como ferramenta de tratamento de portadores de transtorno mental e usuários de álcool e outras drogas. Essa oficina tem tido importantes transformações de 2009 até a presente data, essas transformações e algumas experiências advindas deste processo me motivaram à escrever sobre este tema e serão descritas neste trabalho monográfico. OBJETIVO GERAL O objetivo deste trabalho é contribuir teoricamente com discussões, estudos e práticas em grupos terapêuticos, cujo público-alvo são portadores de transtorno mental e compartilhar a experiência da utilização do teatro e da imagem no trabalho com grupos. OBJETIVO ESPECÍFICO Verificaremos a contribuição das artes e dos pressupostos teóricos da Gestalt-terapia nestes grupos; visando caracterizar a contribuição teórica para a atuação dos psicólogos interessados por este tema, de forma a otimizar nossa atuação nesta área. Como o teatro e o uso da imagem de fato contribuem para reinserção social/ cultural dos portadores de transtorno mental? METODOLOGIA Como metodologia será utilizado uma breve revisão de literatura sobre o tema, utilizando artigos científicos publicados no site scielo e na Revista IGT na Rede, tendo como palavras-chave gestalt-terapia, saúde mental e grupos terapêticos, somado ao relato da experiência prática da autora no trabalho com grupos terapêuticos, de 2009 até apresente data, também chamados de oficinas terapêuticas em um CAPS I e da Costa verde do Rio de janeiro. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O trabalho com grupos mostrasse como uma excelente oportunidade de troca de vivências e interação social. O psicólogo ocupa um papel de mediador para facilitar a comunicação e troca do grupo, além de ser um instrumento de feedback para o mesmo. Levando em consideração as especificidades dos clientes portadores de transtorno mental e das dificuldades apresentadas por grande parte deles de sentir-se pertencente a um determinado grupo, principalmente devido barreiras e preconceitos de uma ideologia social, que apesar das mudanças advindas da reforma psiquiátrica, tentam diariamente colocá-los a margem da sociedade. Em outras palavras, o próprio grupo, bem como a aplicação de técnicas e intervenções específicas pelo terapeuta treinado, servem como um instrumento para a mudança. Esta característica dá à psicoterapia de grupo seu potencial terapêutico singular. (VINOGRADOV, S.; YALOM, I.D. 1992) O trabalho terapêutico em grupo mostra-se uma excelente forma para que eles compartilhem suas angustias, potencialidades, dúvidas e alegrias; para trabalhar o sentimento de pertencimento a um determinado grupo e de sua própria identidade e desejos, enquanto sujeito que possui direitos, deveres e espaço na sociedade. Pensar sistemicamente é debruçar-se sobre a unicidade da composição de elementos, detectar a estrutura dos eventos. Tomando como exemplo um grupo enquanto sistema-sob-consideração, focalizam-se as relações entre pessoas, papéis, regras, normas de comportamento, estilo de comunicação, inserção no contexto social. Ao fazer isto, não se suprime o indivíduo, por sua vez sistema único. Porém, sua posição e papel neste ou aquele grupo confere novos significados aos seus comportamentos, tanto quanto as suas características pessoais exercem influência na constelação estrutural e funcional do grupo em questão. (Thereze,A.T. 1984) A visão gestáltica do trabalho em grupo, nos leva a refletir sobre o campo em que cada sujeito esta inserido e sua relação com ele; sobre como sua posição e trocas neste grupo, pode favorecer mudanças pessoais e em suas relações interpessoais. “A clínica gestáltica tem na noção de saúde seu primordial eixo norteador. É a crença nas potencialidades dos indivíduos e no seu direcionamento para a autorregulação que – via de regra – orienta as ações e planos terapêuticos.”(Carvalho, Lílian Cherruli; Costa, Ilénio Izídio.2010) Na história da Gestalt terapia podemos observar, o quanto as artes foram e são utilizadas pelos gestaltistas como ferramenta de trabalho, tendo em vista também o fato do teatro e do cinema serem admirados por pessoas das diferentes faixas etárias, raças, religiões e classes sociais, entendemos que utilizá-los como instrumento de inclusão social seria uma ideia interessante, para ser experimentada como forma de fazer valer a fala dos usuários de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Segundo Ciornai (2004) Por relaxar as defesas do sujeito e permiti-lo contatar,sentir, elabroar de uma outra forma que não lhe seja ameaçadora, a arte possibilita a quem dela se utiliza exprimir sentimentos nunca antes vivenciados, seu ser mais profundo e autêntico. Stanislavski (2002) Relata que não pode haver arte verdadeira sem vida. Ela começa onde o sentimento assume os seus direitos. Santos (2008) “Em Gestalt-Terapia a criatividade se apresenta como algo inerente ao ser humano, está intrinsecamente conectada aos processos de vida. Possibilita ao sujeito experimentar novas formas de se relacionar”. Estes grupos terapêuticos convidam os participantes a usarem sua criatividade e experimentarem essas novas formas de se relacionar. Torna-se relevante essa construção teórica, visando uma contribuição sobre o trabalho com grupos terapêuticos com portadores de transtorno mental, utilizando o teatro e a imagem, beneficiando psicólogos que atuam nesta área, seus clientes, familiares e pessoas interessadas por este tema. BIBLIOGRAFIA Carvalho, Lílian Cherruli; Costa, Ilénio Izídio.2010.A Clínica Gestáltica e os ajustamentos do tipo psicótico. Revista da Abordagem Gestáltica – XVI(1): 12-18, jan-jul, 2010. CIORNAI, S. Percursos em arteterapia: arteterapia gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Summus, 2003. PEREIRA, Mabel – Gestalt-terapia e saúde mental: contribuições do olhar gestáltico ao campo da atenção psicossocial brasileira. Revista IGT na Rede, v. 5, n° 9, 2008, p.168-184. Disponível em http://www.igt.psc.brISSN: 1807-2526 STANISLAVSKI, C. A preparação do ator. 18ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. SANTOS, Paula Fernanda Fonsêca de Araújo – Arte e saúde mental: caminhos paralelos. Revista IGT na Rede, v. 5, nº 9, 2008, p.136-142. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs/ THÉRESE, A. T. – IV - GESTALT E SISTEMAS (p. 55 a 70) IN:Gestalt e grupos: Uma Perspectiva Sistêmica - São Paulo : Summus, 1984. VINOGRADOV, S.; YALOM, I.D. I O QUE É A PSICOTERAPIA DE GRUPO? (p.3 a 15). In: Psicoterapia de Grupo: um manual prático./ Sofia Vinogradov, Irvin D. Yalom. Trad. de Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

Publicado

2014-09-18