MC 11: GESTALT-TERAPIA E A EMERGÊNCIA DO PARADIGMA DA PROMOÇÃO DE SAUDE

Autores

  • Guilherme Carvalho

Resumo

MC 11: GESTALT-TERAPIA E A EMERGÊNCIA DO PARADIGMA DA PROMOÇÃO DE SAUDE Guilherme de Carvalho RESUMO Este trabalho visa propor uma articulação entre os pressupostos da Gestalt-Terapia, enquanto campo conceitual e clínico, e a noção de promoção de saúde. Atualmente, com o advento de novos ambientes de trabalho e inserção do profissional em psicologia, destaca-se a área da psicologia hospitalar como cenário legítimo de atuação. Enquanto marco estratégico e de referência teórica para o cenário da saúde mundial, torna-se necessário propor algumas aproximações entre a noção de promoção de saúde e iniciativas clínicas, no que tange ao profissional de psicologia, no ambiente hospitalar. Assume-se a perspectiva da Gestalt-Terapia como via de articulação conceitual, ideológica e técnica para o debate do tema. Palavras-chave: Promoção de saúde; Gestalt-terapia; Psicologia hospitalar PROPOSTA O profissional de psicologia está sendo convidado, nos dias atuais, a participar de diferentes contextos, como a área da educação, da saúde, em ambientes jurídicos, etc. Tais demandas são fruto de transformações naturais no mercado de trabalho, nas relações interpessoais contemporâneas e na relação entre o homem e os novos contextos de inserção na atualidade. Na área da saúde, especificamente no contexto hospitalar, o psicólogo tem composto as equipes de trabalho e de gestão de processos referentes ao ambiente hospitalar e às práticas ali veiculadas. A psicologia hospitalar delineia-se como um importante campo de atuação do profissional da psicologia. Diante desta perspectiva, torna-se fundamental um posicionamento teórico, prático e político, por parte do profissional, para a correta inserção neste cenário em prol da identidade da disciplina da psicologia em consonância com sua responsabilidade social e com os objetivos propostos pelo código de ética do psicólogo. A Gestalt-Terapia aproxima-se desta discussão no sentido de configurar uma abordagem teórica e metodológica consistente capaz de embasar a prática de psicólogos hospitalares. Sua visão de homem relacional, compreendido em sua potencialidade para o crescimento e auto suporte coaduna-se perfeitamente com o ambiente hospitalar e com as propostas inovadoras associadas, tais como políticas de humanização, psicologia da saúde e promoção de saúde. O fenômeno teórico da promoção de saúde consta como elemento chave na área da saúde no Brasil e América Latina. Segundo Carvalho & Buss (2008), a promoção de saúde é ao mesmo tempo um campo conceitual, de práticas, e um movimento político, devido à intensa agenda de eventos e documentos técnicos produzidos nas últimas décadas, tais como: Carta de Otawa sobre promoção da saúde, 1986; Declaração de Adelaide sobre Políticas Públicas Saudáveis, 1988; Declaração de Sundsval sobre Ambientes Favoráveis à Saúde, 1991; Carta do Caribe para Promoção da Saúde, 1993; Declaração de Jacarta sobre Promoção da Saúde no Século XXI em diante, 1997; 5ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, no México, 2000 e; 6ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, na Tailândia, 2005. Historicamente, a construção de iniciativas políticas para a veiculação do conceito teve origem a partir da década de 70, com a divulgação do Relatório Lalonde, no Canadá. A partir desta iniciativa, organizou-se um conjunto de marcações teóricas inéditas, renovando o olhar técnico e ideológico em relação ao campo da saúde. O termo promoção de saúde pode ser definido como: (...) o processo pelo qual os indivíduos (e comunidades) passam a possuir maior domínio sobre os determinantes da sua saúde, inclui e potencializa a categoria autonomia, tornando-a central para a garantia da qualidade da saúde dos indivíduos, tornando-os mais ativos e implicados na manutenção de um estado saudável (p. 96). Na literatura nacional, o conceito apresenta duas tendências principais de análise: a primeira, de orientação comportamental e a segunda baseada na perspectiva de qualidade de vida (Verdi & Caponi, 2005). A perspectiva comportamental foca hábitos e estilos de vida, responsabilizando o indivíduo pela sua condição de saúde, enquanto a segunda, de qualidade de vida, é guiada pelos determinantes gerais das condições de saúde da sociedade, ou seja, enfatiza as habilidades e atitudes favoráveis à saúde (Verdi & Caponi, 2005; Carvalho, 2011). Segundo Carvalho (2011), (...) o conceito de promoção da saúde oferece sustentação segura a partir do momento que, na forma de uma estratégia de ação, conclama os indivíduos para compartilhar informações, decisões, responsabilidades, em nome de um envolvimento mais próximo com a situação de saúde — adversas ou favoráveis — e com a qualidade de vida (p. 95). Conceito relacionado à autonomia dos indivíduos em suas escolhas cotidianas em prol da construção de ambientes e práticas saudáveis, considera os indivíduos como ativos, implicados em seu cotidiano e voltados para o crescimento pessoal. Assim, o indivíduo possui autonomia quanto às escolhas cotidianas, saudáveis ou não, construindo assim um conjunto organizado de decisões com relação à sua vida e saúde. De acordo com esta proposta, a Gestalt-Terapia afina-se com o conceito de promoção de saúde já que, na qualidade de abordagem fenomenológico-existencial, considera o processo saudável enquanto um cenário de eterno debate. Aponta para a necessária responsabilidade do indivíduo pelas suas escolhas e destaca a maneira inédita de crescimento e regulação em prol do auto suporte e da permeabilidade de suas fronteiras de contato. BIBLIOGRAFIA BUSS, P. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 163-177, 2000. CAPONI, S. A saúde como abertura ao risco. In: CZERESNIA, D. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendência. Rio de Janeiro: Fiocuz, 2003. p. 55-78. CARVALHO, A. I.; BUSS, P. M. Determinantes sociais na saúde, na doença e na intervenção. In: GIOVANELLA, L. (Org.). Políticas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. p. 141-166. CARVALHO, G. Gestação de risco: maternidade e redes sociais em um programa de pré-natal. 2011. 241 f. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro. GOMES, A, M. A.; PAIVA, E. S.; VALDÉS, M. T. M.; FROTA, M. A.;ALBUQUERQUE, C. M. Fenomenologia, humanização e promoção da saúde: uma proposta de articulação. Saúde Soc., São Paulo, v.17, n. 1, p. 143-152, 2008. HYCNER, R. Relação e cura em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997. YONTEF, G. M. Processo, diálogo, awareness. São Paulo: Summus, 1998.

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Publicado

2014-07-29