WR 9: NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM BURACO... TINHA UM BURACO NO MEIO DO CAMINHO: EXPERIÊNCIA EM FAZER CONTATO COM A RESISTÊNCIA.
Abstract
WR 9: NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM BURACO... TINHA UM BURACO NO MEIO DO CAMINHO: EXPERIÊNCIA EM FAZER CONTATO COM A RESISTÊNCIA. Priscila Gentil Epel Magda Baetta RESUMO O workshop tem como objetivo realizar uma vivência, a partir da leitura de um poema, para proporcionar o se dar conta do quanto, com certa frequência, caímos em arraigados padrões repetitivos de comportamento e ansiamos por nos livrarmos deles, e de que é possível emergir até a mudança acontecer. Palavras-chave: Awareness - Contato–Resistência PROPOSTA No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.” (Carlos Drummond de Andrade) Na abordagem gestáltica, contato é um processo em que as funções sensoriais, motoras e cognitivas juntas promovem modificações no indivíduo e na sua relação com o mundo. O contato é mobilizador, pois envolve responsabilidade e a percepção de possibilidades novas. Através do contato encontram-se os medos, ansiedades e até a coragem e capacidade de enfrentamento geradores de mudanças. De acordo com Perls, Hefferline e Goodman (1951) in Polster (2001), (…) fundamentalmente, um organismo vive em seu ambiente ao manter suas diferenças, e mais importante, ao assimilar o ambiente em suas diferenças; e é na fronteira que os perigos são rejeitados, os obstáculos são superados e as coisas assimiláveis são selecionadas e integradas. Agora, aquilo que é selecionado e assimilado é sempre novo; o organismo persiste ao assimilar o novo, ao mudar e crescer. Por exemplo, a comida como Aristóteles costumava dizer, é o “diferente” que pode se tornar “igual”; e no processo da assimilação, o organismo por sua vez é transformado. Basicamente, o contato é a consciência “de” e o comportamento “para” com as novidades assimiláveis, e a rejeição das novidades não assimiláveis. O que é difuso, sempre igual, ou indiferente não é um objeto de contato. (p.113) Imprescindível é, portanto, compreender os sentimentos e sensações que temos, uma vez que a mudança saudável ocorre à medida que o indivíduo trabalha as resistências ou interferências e caminha em direção à tomada de consciência. A awareness - capacidade constante de manter-se atualizado com o próprio eu e integrar todas as partes constituintes do ser humano - promove oportunidades de escolha através do livre-arbítrio e responsabilidade de cada um. Aceitar “aquilo que é” em vez de como “deveria ser” é fundamental no processo de mudança. As resistências são proteções contra o risco de qualquer tipo de dor ou desconforto e possuem o objetivo adaptativo de sobrevivência. As resistências e defesas são proporcionais às pressões sofridas no contexto externo e interno. A essência da Gestalt-terapia está no respeito a essas defesas, ou seja, trabalhar com elas e jamais contra elas. Perceber criativamente esta força resistente possibilita energizar o contato, uma vez que apenas conhecendo os próprios sentimentos e sensações, consegue-se alterar de algum modo o comportamento. O desenvolvimento da autoestima e autoconfiança é a base para experimentar o novo e, com isso, atualizar potencialidades e aumentar a capacidade de crescimento. Na Gestalt-terapia o experimento torna-se essencial para a aprendizagem amplificando e clareando a conscientização do tema emergente. “O experimento é a pedra angular do aprendizado experiencial. Ele transforma o falar em fazer, as recordações estéreis e as teorizações em estar plenamente aqui, com a totalidade da imaginação, da energia e da excitação. Por exemplo, ao reviver em ato uma antiga situação inacabada, o cliente é capaz de compreendê-la com mais riqueza e completar essa vivência com os recursos de sua nova sabedoria e entendimento da vida.” (Zinker, 2007, p.141) De acordo com Rinpoche (1999), “... como pode ser difícil voltar nossa atenção para nosso interior! Com que facilidade permitimos que nos dominem, nossos velhos hábitos e padrões estabelecidos! ... Podemos idealizar a liberdade, mas quando se trata de nossos hábitos, somos completamente escravizados.” (p.54) Assim, a proposta deste workshop é possibilitar aos participantes a experimentação e o se dar conta da forma de cada um fazer contato com o mundo por meio de uma vivência em que se utiliza o texto apresentado a seguir. Este poema intitulado Autobiografia em Cinco Capítulos foi extraído do livro: Livro Tibetano Do Viver e Do Morrer de Sogyal Rinpoche (1999). “1) Ando pela rua. Há um buraco fundo na calçada. Eu caio. Estou perdido...sem esperança. Não é culpa minha. Levo uma eternidade para encontrar a saída. 2) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada, mas finjo não vê-lo. Caio nele de novo. Não posso acreditar que estou no mesmo lugar. Mas não é culpa minha. Ainda assim leva um tempão para sair. 3) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Vejo que ele ali está, ainda assim caio, é um hábito. Meus olhos se abrem. Sei onde estou. É minha culpa. Saio imediatamente. 4)Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Dou a volta. 5)Ando por outra rua.”(p.55) BIBLIOGRAFIA JULIANO, Jean Clark. A arte de restaurar histórias: liberando o diálogo. SP: Summus, 1999. PERLS, Frederick e HEFFERLINE, Ralph e GOODMAN, Paul. Gestalt-terapia. SP: Summus, 1997. POLSTER, Erving e Miriam. Gestalt-terapia integrada. SP: Summus, 2001 RIBEIRO, Jorge Ponciano. O ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica. 2. ed., rev e ampl. SP: Summus, 1997. RINPOCHE, Sogyal. Livro Tibetano do Viver e do Morrer. SP: Talento, 1999. ZINKER, Joseph C. A busca da elegância em psicoterapia: uma abordagem gestáltica com casais, famílias e sistemas íntimos. SP: Summus, 2001. ________ Processo Criativo em Gestalt-Terapia. SP: Summus, 2007.Published
2014-07-29
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Section
Workshops