MC 10: PSICOLOGIA HOSPITALAR SEGUNDO A ABORDAGEM GESTALTICA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E PRÁTICOS
Abstract
PSICOLOGIA HOSPITALAR SEGUNDO A ABORDAGEM GESTALTICA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E PRÁTICOS Helena Pinheiro Jucá-Vasconcelos RESUMO Este curso visa a capacitação de estudantes de psicologia para o trabalho em hospitais públicos ou privados. Serão abordadas sucintamente algumas questões teóricas, para propiciar espaços de discussões sobre os fundamentos da clínica hospitalar, intercalando com casos clínicos e práticas supervisionadas (role-playing). Palavras chave Psicologia hospitalar, Gestalt-terapia, Medicina PROPOSTA O hospital, tal como o conhecemos, é uma instituição relativamente nova. Na Idade Média, criou-se essa instituição que inicialmente era de caridade com o objetivo de abrigar, alimentar e dar assistência aos pobres, miseráveis, mendigos, desabrigados e doentes. O termo “hospital” se relacionava ao significado em latim da palavra: hospedagem, hospedaria, hospitalidade. Não era uma instituição médica, mas, sim, religiosa (Amarante, 2007). Além desse tipo de instituição ser recente, a entrada do psicólogo nela também o é. Somente na década de 1950 houve a inserção da psicologia no hospital geral. A princípio, o trabalho no hospital se assemelhava ao do consultório quanto à postura, teoria e local (Romano, 1999 apud Lamosa, 1987). Essa entrada foi propiciada principalmente em como se estabeleceu e se organizou o saber médico, vendo o ser humano de forma fragmentada, ou seja, buscando a compreensão só do orgânico, sem interface com o psicológico ou emocional. A compreensão histórica auxilia a entender como se dá a organização hospitalar atual. Em um ambiente hospitalar espera-se que os pacientes cheguem com questões orgânicas para se tratar: doenças crônicas ou agudas, ferimentos, etc. A equipe médica está apta, inicialmente, a decifrar sinais e sintomas e transformá-los em algum diagnóstico que levará ao tratamento correspondente. Generalizando, poderíamos dizer que o que se deseja do hospital seria tal diagnóstico e tratamento. Entretanto, o profissional se depara com o problema que nem sempre se encontram casos tão lineares como os esperados. Há um enredamento que não se pode decifrar a partir de manuais. Os pacientes, além das queixas orgânicas, se referem a dores que muitas vezes não podem ser explicadas como algo biológico; e, ainda, concomitantemente aos problemas biológicos estão os psíquicos, apontando para a complexidade do ser humano. Percebe-se que o ambiente hospitalar propicia a emergência de sentimentos que mobilizam também a equipe. Acontecimentos inexplicáveis e muitas vezes até revoltantes acontecem, como, por exemplo, bebês com câncer, crianças vítimas de violência, pessoas com doenças incuráveis e até mesmo sem um diagnóstico claro. Podendo remeter ao medo de cada um que algo parecido possa acontecer consigo ou com seus familiares e amigos, fazendo com que o profissional lance mão de mecanismos de defesa para lidar com a dor Frente a essas dificuldades, Angerami-Camon (2003) comenta sobre a expectativa da equipe médica frente ao paciente, chegando a tracejar uma “trajetória hospitalar” que se espera que ele percorra: da entrada até a ida aos setores específicos de tratamento e de intervenção. Cada trajetória diferente irá corresponder a um comportamento da equipe, podendo surgir conflitos na interação entre paciente e equipe. O autor afirma que em um hospital acredita-se que o paciente “adequado” será aquele que não questionará o tratamento e as normas impostas pela equipe. Contudo, aquele que não for submisso às regras terapêuticas, podendo até mesmo aceitar a própria morte, poderá ser alvo de ira da instituição. O trabalho em uma instituição hospitalar leva a equipe a se deparar com questões que abalam, de certa forma, o modelo de ensino tradicional da medicina. Ao se dividir o ser humano em “partes”, pode contribuir para que não sejam encontradas as queixas do paciente no manual de prática clínica. Pode-se, assim, produzir confusão e até dúvidas da veracidade do sintoma apresentado pelo indivíduo ou até mesmo do conhecimento do médico iniciante. Já foi relatado em outro artigo sobre a dificuldade de uma equipe em lidar com pacientes caracterizados como Fora de Possibilidades Terapêuticas (FPT) pelos médicos que acreditam que “não têm o que fazer” com tais pacientes. A hipótese que fizemos foi que a angústia do médico nestas situações pode fazê-lo ignorar o trabalho possível a partir da dimensão subjetiva diante do luto (Palmeira e Jucá-Vasconcelos, 2008). As situações no ambiente hospitalar, portanto, tendem a mobilizar a equipe que pode usar formas disfuncionais de entrar em contato. Contato, para Gestal-terapia, é uma “função que sintetiza a necessidade de união e de separação” (Polster e Polster, 2001: 111). Polster e Polster (2001) apresentam sete formas de contato: olhar, ouvir, tocar, falar, mover-se, cheirar e provar. Cada uma dessas configurações tem uma função e são necessárias para que o contato seja alcançado. Quando há um desequilíbrio dessas formas, o contato ou é bloqueado, ou é evitado. A Gestalt-terapia tem como fundamento principal ver a resistência como uma forma de contato, não se procura, por conta disso, retirá-la da pessoa sem que se compreenda sua função. É necessário saber como se deu sua criação e se ainda é necessária no aqui e agora. Perls (1977), sobre isso, enfatiza a importância em se trabalhar como se dá a autointerrupção em vez dos porquês. Polster e Polster (2001) observam que normalmente a resistência é vista como uma força intrapessoal que dificulta a ação para um objetivo específico, sendo um comportamento não natural da pessoa. Nesta perspectiva buscaria remover a resistência já que a percebe como sabotadora, como se essa força não fizesse parte do organismo. Entretanto, os autores a percebem com cautela, já que acreditam que a resistência é uma forma criativa de administrar o que é difícil no meio. Propõem que se focalize na resistência, pensando que ela possibilita o crescimento e faz parte da identidade da pessoa. Com o surgimento de uma resistência forma-se uma nova pessoa, forma-se uma nova natureza individual. Os autores afirmam “sua assim chamada resistência não é menos parte dele do que o impulso a que ele pode estar resistindo” ( Polster e Polster, 2001: 72). O trabalho na psicoterapia é integrar as polaridades, entretanto, Polster e Polster (2001: 79) salientam que “é necessária muita perseverança e criatividade na manutenção da integração e do contato entre características dolorosamente antagônicas”. Os autores ainda explicam: “Não existe uma medida precisa a fim de identificar os limites da capacidade de um indivíduo para assimilar ou expressar sentimentos que tenham possibilidades explosivas, mas existe uma precaução básica. Esta precaução é constituída por um sólido respeito pela autorregulação do indivíduo — sem forçá-lo ou seduzi-lo a comportamentos que ele mesmo não tenha estabelecido de modo amplo” (Polster e Polster, 2001: 83). Assim, em um ambiente hospitalar é preciso respeitar as dificuldades emocionais da equipe, sem preconceitos ou críticas para então buscar compreendê-las de forma que possam integrar as polaridades. É comum haver critica à equipe médica por coisificarem ou tratarem as situações objetivamente, no entanto, o que a Gestalt-terapia traz como importante é a possibilidade de ver tais reações como formas criativas de lidar com a dor, são disfunções de contato. Por essas e outras questões, o trabalho do psicólogo no hospital demanda uma série de tecnologias diferenciadas para o melhor trabalho com os pacientes. É comum os alunos se queixarem de não saber o que falar e como se comportar ao se relacionar com a equipe e os doentes. Este mini-curso visa a capacitação de estudantes de psicologia para o trabalho em hospitais públicos ou privados. Serão abordados alguns aspectos teóricos propiciando discussões sobre os fundamentos da clínica hospitalar, intercalando com casos clínicos e práticas supervisionadas durante o tempo de aula. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. O que é psicologia hospitalar: a. Aproximações e distanciamentos da psicologia clínica b. Alguns conceitos de Gestalt-terapia 2. Papel da psicologia no ambiente hospitalar 3. Atendimentos a crianças, adolescentes e adultos: a. Pacientes com doenças crônicas b. Pacientes cirúrgicos c. Atendimento à família 4. O trabalho com a equipe multidisciplinar: a. Reuniões em equipe - o que falar? b. O que escrever em prontuário? 5. Prática supervisionada (role-playing) BIBLIOGRAFIA AMARANTE, P. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2007. ANGERAMI-CAMON, V. A. (org.): E a Psicologia entrou no Hospital. Pioneira Thomson Learning: São Paulo, 2003. PALMEIRA, C. G. e Jucá-Vasconcelos, H. P. A Psicologia no Plantão Geral: uma parceria em prol da integralidade. Práxis e Formação: as várias modalidades de intervenção do psicólogo: anais do XI Fórum da Residência em Psicologia Clínico-Institucional, - Rio de Janeiro: UERJ, Instituto de Psicologia, 2008. PERLS, F. S.. A abordagem gestáltica e Testemunha ocular da terapia. Zahar, Rio de Janeiro, 1977. POLSTER, E. e Polster, M. Gestalt-terapia integrada. Summus, São Paulo, 2001. Romano, B.. W. Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.Downloads
Published
2014-07-29
Issue
Section
Mini-cursos