EDITORIAL
Este é nosso primeiro número de 2025. Neste ano, a IGT na Rede está passando por grandes transformações no que se refere ao nosso formato editorial. Estamos migrando do formato ABNT para o APA, nossos artigos passaram a receber a numeração DOI e, por último, nossa numeração de página passou a ser individual para cada artigo, em vez de ter uma sequência contínua. Essas mudanças visam ajustar a revista às exigências editoriais atuais, tornando a publicação dos artigos mais dinâmica.
Um dos resultados mais visíveis é o funcionamento da revista cada vez mais ajustado à publicação individual de artigos, sem a necessidade de aguardar a finalização completa de cada número. Anteriormente, os números só eram disponibilizados quando todos os artigos estavam prontos, o que atrasava o acesso ao conteúdo. Com o novo modelo, os leitores têm acesso mais rápido às produções da revista. Já a presença do número DOI traz mais segurança no que se refere à possibilidade de acesso aos artigos e à perenidade dos mesmos.
Como não tivemos um editorial no final do ano passado, gostaria de fazer alguns comentários sobre 2024, um ano denso, com muitos acontecimentos. Vale destacar o “I Congresso de Psicologia, Virtualidade, Tecnologia e Inovação: um encontro entre países de língua portuguesa”, evento que organizamos e que marcou o início de uma série cujo objetivo é fomentar o processo de apropriação de novas tecnologias por psicólogos, em nível nacional e internacional. Os vídeos das mesas realizadas neste evento constam neste número de nosso periódico. Como de costume, gostaríamos de manifestar nossa intenção e desejo de que esse material possa contribuir para o desenvolvimento da psicologia enquanto ciência e profissão.
Por nossa parte, estamos nos dedicando especialmente à pesquisa sobre formas de utilização de inteligência artificial associada a outros recursos tecnológicos, para o auxílio do psicólogo em suas várias áreas de atuação, em especial no que se refere à psicologia clínica. Temos a convicção de que esses recursos poderão auxiliar muito no trabalho do psicólogo. Entendemos também que, se nossa classe não se apropriar dessas tecnologias, elas vão ocupar espaço na área da saúde mental à nossa revelia.
Em 2024, também realizamos em Mendes nosso primeiro workshop de imersão após a pandemia de Covid-19. Essa atividade , tão valiosa, estava interrompida em função da pandemia e pelo fato de que, durante aquele período, todas as nossas turmas, que passaram a funcionar de forma virtual, eram compostas por pessoas de diversas partes de nosso país e também do exterior. Para que pudéssemos voltar a ter esse tipo de atividade, precisávamos concluir a migração de uma de nossas turmas para o contexto de presença física. Como existia a demanda por uma turma que tivesse esse perfil, fizemos essa migração.
Tivemos a necessidade de um longo período de transição, no qual, nessa turma específica, só permitimos a entrada de alunos residentes no Rio de Janeiro, para que pudéssemos transitar da presença virtual para a presença física. Essa etapa só pôde ser concluída em 2024, e só pudemos retornar a essas práticas tão ricas nesse período. É importante esclarecer que, desde 2016, trabalhamos com turmas circulares. Essas turmas, compostas por no máximo 16 alunos, recebem novos integrantes semestralmente, e, da mesma forma, têm alunos concluindo seus cursos com a mesma periodicidade. Vem da característica circular de nossos cursos a necessidade desse período de transição. Os workshops presenciais só passaram a ser possíveis quando os últimos alunos que residiam fora da cidade do Rio de Janeiro terminaram seus cursos, restando na turma apenas alunos da nossa cidade.
A retomada dos workshops de imersão certamente foi uma experiência muito agradável e produtiva. Esse tipo de experiência me parece ser uma das poucas que não conseguimos reproduzir de forma virtual, não tanto em função das atividades vivenciais realizadas ao longo do final de semana, mas, principalmente, pelo espaço de convivência nos intervalos entre atividades. Os momentos de convivência nos tempos livres são extremamente importantes na construção de laços e no estabelecimento de vínculos. As grandes amizades normalmente são construídas “na hora do recreio”. Quando estamos na virtualidade, as pessoas tendem a se voltar para seus mundos físicos nesses momentos de intervalo. Existe uma tendência de que as câmeras sejam desligadas e que as demandas do mundo físico, aliadas à busca de descanso — inclusive da própria exposição às telas —, promovam um certo recolhimento individual nesses momentos de intervalo de atividades nas interações grupais mediadas por tecnologias de informação e comunicação.
Gostaria de desejar a todos os leitores de nossa revista que tenham uma experiência interessante e produtiva ao ler nossos artigos e assistir aos nossos vídeos. Que essa experiência contribua para o processo contínuo de construção, ou ainda de reinvenção, da Gestalt-Terapia, essa abordagem tão rica e que tem tanto a oferecer, especialmente neste período da história da humanidade que estamos vivenciando. Uma era em que fica muito claro e cada vez mais marcante o aspecto dinâmico do existir humano. Um período em que as derivas tecnológicas vêm ganhando cada vez mais velocidade e vêm impactando cada vez mais rapidamente as formas de existência. A metáfora do contraste entre o magma incandescente e fluido em contraposição à rocha fria e sólida se torna cada vez mais coerente e elucidativa para compreendermos nossa realidade. A consistência, a flexibilidade e a abertura para o novo, coerentes com a perspectiva gestáltica, se fazem extremamente adequadas para respondermos aos grandes desafios que marcam o contexto que presenciamos.
Marcelo Pinheiro da Silva