MOURA, Larissa Katellyn Siqueira de. CAVALCANTI, Danielle. – “Do desabrigo da violência sexual à reconstrução da confiança nas relações: uma perspectiva da Gestalt-terapia”
ARTIGO
Do desabrigo da violência sexual à reconstrução da confiança nas relações: uma perspectiva da Gestalt-terapia
From homelessness due to sexual violence to rebuilding trust in relationships: a gestalt therapy perspective
Larissa Katellyn Siqueira de Moura
Danielle Cavalcanti
RESUMO
O presente trabalho buscou compreender a violência sexual intrafamiliar, levando em consideração a dinâmica social e cultural do Brasil como influenciadora social de tal fato que é uma questão de política pública. Foi utilizada a abordagem gestáltica como forma de compreensão de tal fenômeno, destacando o quanto pode ser efetiva no processo de psicoterapia para com as vítimas, considerando as afetações na infância e no seu desenvolvimento, como por exemplo, o trauma. Para isso, foram utilizados conceitos como contato, awareness e ajustamento criativo. Contudo, compreende-se neste escrito a importância de intervenções com as famílias e o trabalho da existência de confiança nas relações familiares, na relação terapêutica e nas demais, para que seja possível trilhar novas possibilidades de contato com o mundo.
Palavras-chave: Gestalt-Terapia; Infância; Violência Intrafamiliar.
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ABSTRACT
The present work sought to understand intrafamily sexual violence, taking into account the social and cultural dynamics of Brazil as a social influencer of such a fact that it is a matter of public policy. The gestalt approach was used as a way of understanding this phenomenon, highlighting how effective it can be in the psychotherapy process for victims, considering the affects in childhood and its development, such as trauma. For this, concepts such as contact, awareness and creative adjustment were used. However, this writing understands the importance of interventions with families and the work of trust in family relationships, in the therapeutic relationship and in others, so that it is possible to tread new possibilities of contact with the world.
Keywords: Gestalt-Therapy; Childhood; Intrafamily Violence.
INTRODUÇÃO
O trabalho de conclusão da especialização em Gestalt-Terapia, buscou investigar a temática da violência sexual intrafamiliar e a forma como essa pode afetar violentamente as relações futuras, instituindo nessas uma dinâmica difícil ao que se refere à confiança. Buscando reflexões acerca da adaptação da criança após o abuso e a revelação deste, associada à forma com a qual a família lida com a situação e à capacidade de prover suporte emocional às suas crianças (Leifer, Kilbane, & Grossman, 2001; Pintello & Zuravim, 2001).
Assim, buscou trazer uma junção de uma gama de informações sobre o olhar da Gestalt-Terapia sobre as infâncias vivenciadas dentro de um contexto de violência sexual intrafamiliar, chegando assim a reflexões de possibilidades e intervenções dentro dos conceitos da Gestalt-Terapia. O tema foi escolhido devido à prática e interesse na área, além da importância de debate sobre o assunto, e também a percepção da quantidade reduzida de material formulada sobre o assunto em questão dentro da visão da Gestalt-Terapia. Afinal, qual a perspectiva da Gestalt e a relevância dos seus conceitos no contexto de violência sexual intrafamiliar infantil?
O seguinte trabalho se constituiu através de uma pesquisa científica metodológica, por meio de pesquisas bibliográficas que de acordo com Gil (2008, p.50) “é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos”, se utilizando assim de livros do ano de 2000 a 2022 e artigos publicados nos últimos 10 anos. Para a seleção de fontes se considerou como critério a inclusão de bibliografias de autores/as como Aguiar, L.; Anthony, S.; Oaklander, V.; Perls, F,; Ribeiro, J. P.; entre outros que abordam as temáticas que cobrem ou circundam a temática da violência sexual na infância. O livro “Do desabrigo à confiança" de Sapienza (2007) foi grande referência para o processo prático de construção da relação terapêutica, tornando-se essencial para a construção de possibilidades de intervenção do psicólogo dentro dos possíveis campos de atuação que a psicologia pode oferecer – sempre com sensibilidade e acolhimento. Buscando assim refletir e responder como a psicologia pode intervir nas relações sociais da vítima de violência sexual intrafamiliar, em um período posterior ao trauma e suas afetações, sendo um dos referenciais utilizados de forma complementar no desenvolvimento das ideias desse artigo.
Por conseguinte, o objetivo geral desse escrito é compreender a psicoterapia Gestáltica com crianças vítimas de abuso sexual em um contexto intrafamiliar. Tendo assim, como seus objetivos específicos: a) Refletir sobre a perspectiva histórica da violência e suas tipologias, considerando a partir desse olhar suas atuais afetações. b) Refletir sobre a violência sexual intrafamiliar na infância e a sua relação com conceitos da Gestalt-Terapia. c) Discutir as possibilidades de intervenções do Gestalt-Terapeuta com crianças vítimas de violência sexual intrafamiliar. Dessa maneira, o trabalho se constitui como uma forma de fundamentar o conhecimento científico acerca da temática, através de uma pesquisa de abordagem qualitativa, de natureza básica.
Para tanto, num primeiro momento buscou-se discutir a violência e suas tipologias, focando como anteriormente mencionado na violência sexual intrafamiliar na infância. Em seguida realizou-se um diálogo entre conceitos da Gestalt-Terapia com a temática da violência intrafamiliar, tais como Awareness, fronteiras de contato, autorregulação organísmica e ajustamento criativo. Desta forma, obteve-se um debate de possibilidades de intervenções que surgem no processo terapêutico de crianças e adolescentes, considerando o campo de atuação da clínica gestáltica, e os possíveis contextos, pois “O desenrolar-se da vida é a matéria prima da terapia” (Sapienza, 2007, p. 91).
Ao longo da história a violência se construiu e reconstruiu de acordo com seu contexto sociocultural e temporal. É importante observar que a mesma violência que é afetada pelos seus recortes também pode funcionar como ferramenta para construção de novas estruturas sociais. Não se tem conhecimento de uma sociedade onde a violência não tenha estado presente, a própria história como diz Engels (1981): "(...) é, talvez, a mais cruel das deusas que arrasta sua carruagem triunfal sobre montões de cadáveres.” (Engels, 1981, p.187). Assim, podemos observar formas de manifestações distintas ao longo da história, como por exemplo, nas sociedades antigas, na Europa no final da Idade Média, no estado absolutista - na qual inclusive o código penal do Brasil tem origem nesse processo, até os dias atuais. Dessa forma, sabendo que a violência afeta e é afetada pelo seu contexto, ao longo do trabalho vamos partir de um recorte do território brasileiro.
Ao que se refere ao Brasil obtemos uma história marcada e estruturada pela violência, desde o processo de colonização e seus conflitos intensos, que refletem até os dias atuais a desigualdade social. Ou seja, a violência que se manifesta no cotidiano dos brasileiros, tem origem nas relações sociais dos colonizadores em detrimento dos indígenas, africanos e demais povos marginalizados no período do Brasil colônia. Porém, durante o regime capitalista industrial eram vistos os problemas sociais causados no processo de colonização, porém estes foram atribuídos à população negra, mestiça, índia e pobre.
Tornando-se “notável as parcialidades históricas de um país estruturado pelo regime de trabalho escravo” (Corrêa, 2013, p. 58). Tais práticas cristalizaram um país violento, seja essa violência caracterizada de forma física ou simbólica, intensificada pelo desejo de dominação, no entanto tais estruturas violentas persistem e são agravadas pela má administração política. Afinal, como é pontuado por Perls e Goodman (1977), o distúrbio está no campo organismo/ambiente, na fronteira de contato, não está situado em um indivíduo de maneira isolada, mas em todo um sistema relacional.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, violência é caracterizada pelo uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha a possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (Krug et al., 2002). No século XXI, a violência passou a ser considerada como um problema de saúde pública, mundial e grave, devido ao elevado número de vítimas e pelas consequências orgânicas e emocionais que pode produzir e reproduzir.
Além do conceito da violência a OMS também estabelece tipologias de violências, sendo essas, divididas em três grupos: a autoprovocada; a interpessoal (doméstica e intrafamiliar) e a coletiva (extrafamiliar e comunitária). Além dessa classificação há também distinções entre a natureza da violência podendo ser essa: física, psicológica, moral, tortura, violência sexual, tráfico de seres humanos, violência financeira, negligência, trabalho infantil e violência por intervenção legal.
Ressaltando que devido ao foco do trabalho, vamos considerar a violência sexual intrafamiliar, que se refere à violência que ocorre por membros da família – não de perspectiva da consanguinidade; e que prejudica o desenvolvimento físico e psicológico da vítima, seja através uma ação ou uma omissão. E também o recorte da violência sexual, que de acordo com a definição do Ministério da Saúde, 2002, consiste em:
...Todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sob a forma de práticas eróticas e sexuais impostas à criança e ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua vontade. Esse fenômeno violento pode variar desde atos em que não se produz o contato sexual (voyeurismo, exibicionismo, produção de fotos), até diferentes tipos de ações que incluem contato sexual sem ou com penetração. Engloba ainda a situação de exploração sexual visando lucros como é o caso da prostituição e da pornografia. (Ministério da Saúde, 2002, p. 13)
É válido ressaltar que entre as tipologias de violência já anteriormente citadas, a violência sexual, sobretudo intrafamiliar é menos denunciada, justamente pela denúncia que essa trás de uma dinâmica familiar violenta, e por isso há uma probabilidade de postura defensiva e negacionista por parte dos integrantes dessa família. De acordo com as ideias de Antony (2020), a violência sexual intrafamiliar trás diversas consequências psicológicas, sobretudo, por partir de um indivíduo que tinha como função oferecer cuidado e proteção, e, ao invés disso, recorre ao apelo erótico, de um corpo ainda em desenvolvimento. A violência sexual intrafamiliar comumente não tem início diretamente no ato de abusar, e sim possui um começo sutil onde há uma ação de ganhar a confiança e o afeto da vítima, que rapidamente cria um laço, afinal o cuidado é função daquele responsável. Assim, traindo um princípio sociocultural instituído a família e rompendo com as expectativas da própria criança sob tais relações.
Ao partir de um viés biológico, é inquestionável que a espécie humana nasce incapaz de sobreviver sozinho e assim chega-se a conclusão da nossa necessidade, enquanto seres biopsicossociais, de termos um suporte que nos forneça alimento e proteção enquanto ainda caminhamos em busca do desenvolvimento e possibilidade de autonomia. Tal necessidade parte de um pensamento que é anterior até mesmo ao conceito de família propriamente dito.
Assim, o trabalho parte de uma perspectiva da família enquanto agrupamento social necessário pela própria condição da natureza. De tal maneira, a família enquanto fenômeno é algo que de diferentes formas e constituições esteve presente em qualquer cultura ou sociedade humana, independente do contexto histórico. Porém, suas formas de organização se distinguem de cultura, período histórico e civilização, mas sua existência enquanto grupo primário e instituição basilar se mantêm.
De tal forma, a família é um fenômeno universal – de base biológica, que existe de acordo com a necessidade e fragilidade da existência humana, mas também um conceito sociocultural, em termos de funcionalidade espera-se que a família seja um espaço responsável por proporcionar segurança, apoio material e emocional, estabilidade e socialização. Essa vai para além de perspectiva de consanguinidade, afinidade ou questões civis, mas um grupo ligado por parentesco, que também não se reduz apenas a um grupo, mas sim a uma estrutura, que funciona como sustentação do sujeito humano, desempenhando assim uma função psicossocial essencial de intermédio entre o social e o indivíduo.
É válido destacar que o trabalho em questão reconhece a família nuclear como insuficiente para refletir perspectivas acerca dos momentos atuais, e assim tem como ponto de partida para a reflexão a funcionalidade esperada dos cuidadores em questão para o alcance de um desenvolvimento físico e psíquico saudável para o sujeito em questão e o seu contexto. Ou seja, independe da tipologia da família em questão – ao que se refere a sua estruturação. “Criança doente emocionalmente é uma família adoecida em suas relações. Família doente é sociedade doente em seus sistemas de valores, crenças, comportamentos e interações” (Antony, 2009, p. 56).
De acordo com as ideias de Antony (2020), é através desse encontro entre o eu e o outro que acontece dentro dessa família e das trocas afetivas que surgem desse encontro que se tem origem e base para o desenvolvimento de aspectos como a identidade, do amor próprio, a autoestima entre outras coisas que envolvam reconhecimento do eu, do outro e da relação que esses estabelecem, dando também direcionamento ao nosso sentido de vida. Todos esses aspectos têm seus fundamentos em vínculos de segurança e confiança.
Assim, crianças superprotegidas ou expostas constantemente a situações de estresse no ambiente familiar sentem-se confusas e inseguras. Por isso sem suporte ambiental não se constrói o autossuporte. (Antony, 2020, p. 33)
Entretanto sabe-se que independentemente da idade, a violência sexual é um fenômeno que afeta de maneira profunda a vítima - tanto emocionalmente quanto fisicamente. Não é algo do qual se esquecem, a marca e a bagagem do trauma ficam. Dessa maneira, partindo de uma perspectiva gestáltica, uma situação traumática, de acordo com Brito (2019), pode ser definida quando não há suporte interno para integrar situações não finalizadas, afetando as formas e capacidade de lidar com tais situações, ou seja, interferindo as relações com o meio.
Para Ross (2008), há uma classificação de traumas, sendo esses de choque (quando acontece um fato inesperado assustador onde não se foi capaz de ter condições de fazer assimilação), de desenvolvimento (ruptura prematura do vínculo e exposição a situações de violência e desamparo) ou de desenvolvimento de choque (um trauma de choque que acontece em algum estágio da infância que interfere no seu desenvolvimento). Enquanto Taylor (2014) aborda que ainda há o trauma interpessoal, esse não se origina em um fato, mas no relacionamento, como no caso de famílias abusivas ou violentas. Nesse sentido, ressalta as questões sob perspectivas psíquicas, mas é importante que se pontue também a existência de alterações bioquímicas e cerebrais causadas por episódios traumáticos, interferindo na homeostase e na autorregulação neurológica. Além do fenômeno dos gatilhos, podemos resumir em espécies de pistas associadas ao trauma, e podem emergir como figura em situações que lembram as anteriores, mesmo que essa não ponha em risco real.
E justamente na falta do autossuporte para lidar com o vivido, onde há uma deflexão ou uma dessensibilização do incidente, outra possível reação é a retroreflexão de emoções e ações, que passa a ser manifestado pelo corpo, como a somatização, por exemplo. De acordo com Poppa (2016), são as introjeções disfuncionais do momento que se estabeleceu o trauma que afetam sua personalidade e seu self.
Além do trauma, temos de acordo com Summit (1983), a síndrome da Acomodação do Abuso Sexual, essa se classifica em cinco categorias, são estas: o sigilo; o desamparo; o aprisionamento, a revelação tardia e a retratação. Ao que se refere ao sigilo, tem como consequência o sentimento de ambivalência, pois ele tem dois lados, um é por garantir a segurança da criança e pode ser visto como uma forma de proteger a família, afinal essa violência traz a tona uma desestruturação existente no grupo familiar, denunciando assim um problema que “não se situa apenas no indivíduo, mas é fruto de um sistema de relações disfuncionais” (Antony, 2020, p. 74). E outro são os medos e inseguranças constantemente proporcionados. “É essa dinâmica de “proteção desprotetora” que cria o impedimento da capacidade de autoproteção dos membros familiares” (Antony, 2020, p. 83).
Enquanto ao desamparo, é o sentimento que surge diante do não acolhimento da revelação por parte dos responsáveis pelo seu cuidado, nesses casos é muito comum o encontro de deflexões. Já o aprisionamento, é a uma dificuldade de aceitação do caso, onde há um movimento de reparação através da culpabilização da vítima, através do movimento de proflexão. Outro movimento que é importante se atentar é o de retratação, que se refere a uma resposta a falta de amparo diante de denúncia – quando esta é efetuada; e diante dessa falta a vítima volta atrás e nega o ocorrido, mais uma vez motivado por sentimento de culpa e de responsabilização pelas afetações que a denúncia traz a dinâmica familiar.
Contudo, um aspecto já anteriormente citado necessita de mais aprofundamento, que é a ambivalência que pode ser encontrada em múltiplas situações, em um contexto de abuso, inclusive é o aspecto mais comum em crianças acometidas pela violência sexual intrafamiliar. De acordo com as ideias de Penna (2001), na ambivalência temos a correlação de emoções e motivações, essa se dá pelo próprio vínculo afetivo com o autor da violência, rompendo a linha que separa a afetividade e a sexualidade.
Assim, em alguns casos de acordo com Pires Filho (2007), esse abuso e a atenção que vem com o mesmo pode ser o cuidado parental mais forte recebido por essa criança, o que faz com que tal confusão mental causada pela violência seja ainda mais intensa, dessa forma há uma polarização dos afetos e emoções dentro da vítima. Tais dúvidas, de acordo com Oaklander (1978) são responsáveis pela geração de dificuldades de aceitar aspectos próprios, e tal desprezo pela aceitação pode levar a uma alienação de si.
Todas as dores humanas são dores na alma e surgem do desamor que se vive ao não ser visto, ao não ser escutado, ao ser negado em um espaço relacional no qual a pessoa espera ser vista e ter presença na sua legitimidade. (Salazar, 2013, p. 164)
De acordo com o olhar da Gestalt-terapia toda situação possui um potencial de ajustamento criativo mediado pela awareness. Tal ajustamento não parte de uma adaptação, mas de uma ressignificação, e o processo terapêutico nesses casos, busca justamente retomar o fluxo de awareness e a retomada do autossuporte. A ideia é ir permitindo através desse alcance o fechamento desta gestalt, evitando que enquanto gestalt aberta haja uma compulsão de repetição que leva um ciclo transgeracional de violência capaz de se passar por gerações.
Seguindo um olhar da Gestalt-Terapia é no aqui e agora que acontece o fenômeno. Esse é o olhar fenomenológico sobre os acontecimentos (ainda que esse tenha acontecido no passado): a lembrança acontece no presente – nesta pode haver também pistas que funcionem como gatilhos; e é nesse movimento temporal passado e presente que essa lembrança é revisitada e tem a possibilidade de no agora ser objeto da awareness. Como já anteriormente discutido, sabe-se que é na família que há uma organização e integração de conceitos do próprio ser, e a partir do momento que esse grupo social conceituado como família não cumpre seu papel, não possibilita meio de organização da criança.
Enquanto seres biopsicossociais quando nossas necessidades não são supridas se mantém como figura, pois só recuará de fato para o fundo quando for de alguma forma compensada. Assim, é justamente através da fronteira de contato de acordo com Polster e Polster (2001), que é possível alcançar o suprimento dessa necessidade, que vai acontecer na relação eu – mundo. Sendo necessário em uma intervenção sob a temática da violência, que permita esse acesso e que considere, a partir de uma perspectiva ecológica, o microssistema onde essa há essa dinâmica disfuncional a seus integrantes.
Afinal, como já debatido anteriormente, a violência é um complexo conjunto de manifestações próprias de relações pessoais, sociais, políticas ou culturais de indivíduos contra outros indivíduos (Minayo & Souza, 1993, p. 10). De acordo com Prado (2004), na história do Brasil, a primeira denúncia registrada de violência infantil ocorreu em 1895, os projetos de lei, ou seja, intervenção do estado nos anos de 1906 e 1912. Contudo, apenas em 1973 um caso de violência contra o infante foi investigado de fato. Como podemos observar são medidas recentes, são estudos novos e ainda com uma gama de possibilidades de intervenções a serem descobertas.
Porém é essencial que ao pensar nas intervenções, é fundamental a integração da família. De acordo com Machado (2003), é importante que ocorra um apoio aos responsáveis afetivos na adaptação da denúncia, pois há uma mudança de dinâmica familiar que causa um nível de perturbação do ambiente muito elevado. E assim através da aceitação e permissividade, se alcance o fortalecimento das fronteiras de contato, onde essa mudança familiar obtenha uma reorganização na medida do possível, mas, sobretudo que o que se mantiver tenha seu papel bem definido, de modo que tais responsáveis ocupem o lugar de educadores e protetores, de maneira afetiva e confiável.
Sabe-se que o trauma faz com que a estrutura psíquica sofra uma dissociação, e é através dessa cisão que há um embotamento dos sentidos, como trabalha Perls (1981), como forma de evitar a dor, é evitada também à tomada de consciência. Outra consequência dessa cisão é transferir para si mesmo emoções e ações que gostaria de dirigir ao outro – o outro que a desamparou (Antony, 2020). Há na criança abusada uma dificuldade na elaboração dessa realidade, e isso faz com que se sinta confusa, afinal há um conflito de sentimentos – a ambivalência. E essa ambivalência pode ainda refletir em sensações de prazer e desprazer, ser cuidada/amada, ser desejada, e nesses conflitos podem ser levados a vida jovem e adulta, onde isso seja usado como forma de obter o amor do outro, e que aja um conflito entre amor e sexo. Ou também, que ao ter essa confusão emocional, tenha uma reação onde se congela o corpo e cria-se certa aversão ao ato sexual.
Em casos assim, o foco no trabalho corporal, visando ampliar a percepção de si, sensório-corporal, como argila, pinturas a dedo, mímicas, movimentos expressivos, é um meio de facilitar o acesso a essa vivência. É o fio condutor da terapia, afinal o corpo e mente formam uma totalidade organísmica (Goldstein, 2000). Considerando aqui que é através desse corpo que fazemos contato com o mundo e por eles somos afetados,
“A corporeidade se faz no movimento, em interação com o mundo e o outro, na história, na sociedade. Isso implica afetar e ser afetado, ver e ser visto, sentir e ser sentido, tocar e ser tocado.” (Alvim, 2016, p. 30)
O corpo só aparece como figura quando não está integrado com a situação, por exemplo, quando há cisão, ou diante de gestalten inacabadas – o fundo perde a homogeneidade e não segura a figura.
Mas o ser ainda existe enquanto ser, e não deve ser reduzido a um evento traumático de sua vivência, ele é parte de um todo disfuncional, mas ele também é um todo. E é importante que o psicoterapeuta tenha sensibilidade para assistir esse cliente e participar como heterossuporte enquanto necessário ao desenvolvimento do autossuporte, auxiliando na vivência e no contato desse sujeito com o mundo, alargando suas fronteiras. Contudo, a violência sexual é um evento amplo, que possui várias camadas sociais, várias formas, vários aspectos e vários contextos, e é essencial que todos esses aspectos sejam considerados. Pois como parte de Sapienza (2007), o modo como a pessoa vê a situação pode ser mais importante que o fato acontecido (Sapienza, 2008, p. 74). E é a partir dessa perspectiva que o terapeuta deverá ajudar a romper a “síndrome de segredo” em torno do abuso. A violência ganha várias formas e se estrutura no silêncio que as vítimas são postas a manter, não tendo onde se apoiar e por vezes sofrendo ameaças, mantém o sigilo e permanecem imobilizadas pela complexidade da relação, sentindo culpa de tudo o que está ocorrendo (Romaro & Capitão, 2007, p. 180).
No caso de um abuso ainda não revelado, mas em que sejam encontrados sintomas, é importante que se atente e tome condutas protetivas e judiciais necessárias, como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Como por exemplo, orientar a família a efetuar esse cuidado pensando no amparo dessa criança como prioridade, para que haja a interrupção do ciclo abusivo transgeracional. “O que não pode ocorrer é o segredo de casa torna-se também segredo do consultório tampouco o terapeuta agir com temor e omissão” (Antony, 2020, p. 86). Sendo assim,
“O terapeuta poderá realizar sessões somente com os pais, juntos ou individualmente, objetivando orientar-lhes sobre as conseqüências físicas, psicológicas, cognitivas do trauma; as condutas de proteção e cuidado; os limites no contato corporal; propiciar a reconexão com a própria criança ferida, cenas de sua infância, além de trazer à consciẽncia os padrões destrutivos dos seus pais, como oportunidade de aumentar o autoconhecimento e cicatrizar a ferida emocional.” (Antony, 2020, p. 86)
No trabalho com crianças, considerando que talvez ela não consiga elaborar a denúncia se colocando enquanto pessoa que sofreu o abuso, mas pode reproduzir o abuso em histórias, através de mecanismos lúdicos, os quais servem para que não ocorra um contato direto com o que pode ser insuportável para ela. Contudo, é importante que se realize atividades onde seja possível o trabalho terapêutico com esse segredo e as reações emocionais que esse pode causar, como por exemplo, a culpabilização. O que nos carrega para um detalhe que parece simples, ao explicar o sigilo terapêutico para criança, não fazer uso do termo “segredo”, pois pode remeter a vivência violenta da mesma. É importante que se ressignifique ou que se signifique o que é o sigilo, fazendo uma diferenciação deste com o segredo.
Assim, tendo em vista os fatores de afetação pós-violência é necessário que o usuário traga a demanda de abuso como fonte do seu sofrimento, pois deduzir isso com absoluta certeza é reduzi-lo ao ocorrido, e talvez seu sofrimento (principalmente enquanto criança), é o fato de que de repente tudo se vê afetado pelo ocorrido e esse sujeito tem que repetir essa história acessá-la novamente e recebe um tratamento diferente – sendo esse de cuidado ou julgamento. É um acontecimento indesejado, violento, que acontece de repente, enquanto as outras pessoas agem como se esse evento engolisse outras questões de sua vida, e a vida passa a estar marcada pelo que aconteceu.
O fato de considerarmos fenomenologicamente a existência permite que, ao olharmos para ela, afastemos de nosso olhar as teorias psicológicas, as concepções prévias que se acumularam em cima deste fenômeno de que tratamos o existir humano. Ao fazermos isso, o que aparece para ser visto e para ser falado é o essencial, é a existência mesma, nua e crua. Nesse momento, o que há de principal no existir começa a despontar com prioridade como tema de estudo. (Sapienza, 2007, p. 10)
De tal maneira, trabalhar uma boa elaboração da quebra do silêncio é uma etapa fundamental, pois ao mesmo tempo em que pode trazer um ganho imensurável para a história da criança, cuidado, proteção e aceitação, amenizando a possibilidade de atitudes destrutivas. Também pode gerar uma estigmatização, trazer o sentimento de insegurança, a necessidade de confiar – mesmo que apenas o suficiente para esperar ajuda. E além de por estar no código de ética do profissional de psicologia é importante que se respeite o sigilo, pois sua quebra consta como mais uma quebra de segurança para o sujeito possibilitando que o evento traumático seja ainda mais aprofundado, como fala Manita (2003).
Interpretação aqui não quer dizer encaixar aquilo que o paciente traz no referencial de uma teoria de psicologia. Quer dizer, diante do que ele traz, tendo como horizontes, ao mesmo tempo, os existenciais e aquela história particular, empenhar-se não só na explicitação do sentido do que aparece como na ampliação desse sentido, na procura do que pode estar encoberto – pois o que é se dá e se oculta –, propiciando assim que o paciente possa alargar e aprofundar a compreensão de como está sendo seu modo de existir. (Sapienza, 2007, p. 47)
Sendo assim, a reação de cada um será muito subjetiva e individual, por exemplo, enquanto uns tentam resistir a outras dinâmicas de violência, outros podem ter um maior índice de tendência a exposição como uma tipologia de resposta. Temos para cada cliente um olhar que é dirigido para ele em particular, para aquela história de vida, para as possibilidades de desdobramento daquele futuro.
“O terapeuta não está ali lidando com um psiquismo, querendo explicar como e por que ele funciona de tal forma. Ali ele se encontra com a existência de um ser humano que quer ser compreendido por alguém e quer se compreender melhor. Esse modo do terapeuta estar na sessão faz muita diferença”. (Sapienza, 2007, p. 14)
Não há um conjunto de ações e ferramentas prontas, que constituam uma “receita de bolo”, as intervenções de perspectiva intersetorial – sejam essas intervenções de cunho individuais, familiares ou grupais, se efetivam de maneira transdisciplinar, envolvendo mais de um setor, tendo enfoque na prevenção, na pesquisa, no amparo e na informação social. Contudo, há uma unanimidade sobre a presença de fragilidade das vítimas e dificuldades de lidar com culpas e frustrações. É importante que o terapeuta deixe claro sua disponibilidade para conversar e compartilhar, assim construindo com o cliente um vínculo suportivo, para que juntos possam encontrar aspectos dessa experiência traumática que seja possível acessar, ainda que seja necessário o uso de awareness de recursos, como por exemplo, reparti-la em menores gestalts, para que seja suportável o contato.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa maneira, o processo terapêutico é um buscar pelo fechamento de gesltat, não como forma de recuperar e mudar o que já foi vivenciado, mas como modo de ressignificação sobre formas de entrar em contato e estabelecer relações, alargando fronteiras, abrindo possibilidades para ajustamentos criativos, não de maneira a nunca mais experienciar a dor, mas de maneira onde se permitir estar em constante movimento, abrindo e fechando gestalt. Enquanto da parte do terapeuta, é importante que a escuta acompanhe o movimento da relação, e para caminhar junto é necessário estar presente.
Caminhar na direção da confiança é difícil para quem está vivendo com a única certeza de que não pode confiar em ninguém, em nada, de que está rodeado pela indiferença ou pela hostilidade do mundo. Para quem está vivendo assim, não há o que esperar; a única dimensão da vida que se desvela é a falta de sentido. Diante da impossibilidade de se dedicar a um sentido, ou a pessoa sucumbe de uma vez, ou se põe a, desesperadamente, procurar estratégias de sobrevivência que possam preencher o vazio de sua vida. (Sapienza, 2007, p.117).
Ressaltando, que tal trabalho não retira a importância do uso e do preparo de técnicas, apenas não reduz o processo terapêutico reduzido a isso. Pois tal reducionismo torna-o um processo fixado e tal fixação vai de encontro ao próprio conceito de saúde. Concluindo assim, que o setting trabalha movimento e cada movimento é singular (do sujeito e da relação). Assim, o profissional deve se movimentar nessa relação terapêutica. Pois, a partir do momento que essa escuta descontextualiza o usuário do seu território, de suas vivências, e tenta seguir uma “receita pronta” para todas as vítimas de violência sexual, sem considerar o seu sofrimento subjetivo e singular, é uma escuta sem movimento. E uma escuta sem movimento é uma escuta morta.
REFERÊNCIAS
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Larissa Katellyn Siqueira de Moura
Psicóloga e Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Gestalt-Terapia do Construir | orientanda da pesquisa | E-mail: larissasiqueirapsi@gmail.com
Danielle Cavalcanti
Graduada em Psicologia - Fafire, Especialista em Intervenções em Psicologia Clínica -UNICAP, Mestre em Psicologia Cognitiva -UFPE, Membro da Associação Brasileira de Gestalt-Terapia e Abordagem Gestáltica. Psicoterapeuta InfantoJuvenil, Supervisora Clínica na Abordagem Gestáltica e Docente da Especialização em Gestalt-Terapia Construir/ UNIFACOL. E-mail: Danicb.psi@gmail.com
Revista IGT na Rede, v. 21, nº 42, 2025, p.1-26. DOI 10.5281/zenodo.15426092
Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526