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PFEIL, Bruno Latini – “Processos de morte e possibilidades de vida: uma perspectiva gestáltica  sobre o comportamento suicida”

ARTIGO

Processos de morte e possibilidades de vida: uma perspectiva gestáltica sobre o comportamento suicida

Death processes and life possibilities: a gestalt perspective on suicidal  behavior

Bruno Latini Pfeil

Revista IGT na Rede, v. 18, nº 35, 2021, p. 240 –259. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526

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PFEIL, Bruno Latini – “Processos de morte e possibilidades de vida: uma perspectiva gestáltica  sobre o comportamento suicida”

RESUMO

Neste artigo, busca-se evidenciar, à luz da Gestalt-terapia, os processos de  estigmatização e apagamento do comportamento suicida por um viés histórico,  o embasamento teórico da Gestalt-terapia com relação ao suicídio e à morte e  algumas perspectivas críticas acerca do manejo clínico gestáltico com  pacientes que apresentam comportamento suicida. Serão investigados os  impactos do suicídio no âmbito familiar, social, cultural e da saúde, tendo em  vista o caráter coletivo e multicausal deste fenômeno. Em conclusão, salienta se a necessidade de que profissionais de saúde estabeleçam uma relação  diferenciada com a morte e o morrer, perpassada por acolhimento,  receptividade e, principalmente, por respeito.

Palavras-chave: comportamento suicida; Gestalt-terapia; morte; manejo  clínico.

ABSTRACT

This article seeks to highlight, throught the Gestalt-therapy perspective, the  processes of stigmatization and erasure of the suicidal behavior by a historical  bias, the theoretical basis of Gestalt-therapy about suicide and death and some  perspectives on clinical gestalt management with patients who present a  suicidal behavior. The impacts of suicide in the spheres of family, society,  culture and health will be investigated, considering the collective and multi causal character of this phenomenon. In conclusion, the need for health  professionals to establish a differentiated relationship with the processes of  death and dying, permeated by receptivity, welcoming and, mainly, respect, is  highlighted.

Keywords: suicidal behaviour; Gestalt-therapy; death; clinical management.

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Introdução

A Organização Mundial da Saúde apresenta estatísticas alarmantes com  relação ao suicídio. A cada ano, cerca de um milhão de pessoas cometem suicídio ao redor do mundo. Jovens se mostram cada vez mais vulneráveis a  esse comportamento autodestrutivo, sendo o suicídio uma das três principais  causas de morte do grupo etário mais economicamente produtivo, entre a faixa  dos quinze aos quarenta anos (OMS, 2012). Segundo a Organização Mundial  da Saúde (2014), uma pessoa comete suicídio a cada quarenta segundos, e  estima-se um aumento de 60% nas taxas globais de suicídio, desde a última  metade do século XX. Frente a isso, o suicídio é alocado no campo da saúde  pública, enfatizando a necessidade de que medidas preventivas clínicas e  sociais sejam urgentemente elaboradas.

Tais medidas, contudo, encontram desafios no campo prático. À luz da Gestalt terapia, buscamos investigar os estigmas sociais associados ao suicídio e à  morte, seu impacto em profissionais de saúde e suas repercussões no  ambiente familiar. Considerando o suicídio como um evento coletivo, e não  individual (OMS, 2012) – pois não abarca somente a morte de uma pessoa,  mas uma série de crenças sobre os significados da vida e da morte, da  angústia da existência e de violências sociais –, abrimos espaço para  narrativas sobre a morte e o morrer; narrativas que, em detrimento da  estigmatização do suicídio, são historicamente silenciadas.

O impacto que o suicídio provoca nas concepções individuais de quem  circunda este evento é bastante notável. Questões como a medicalização  compulsória, que distanciam o paciente do território familiar e o alocam em  instituições silenciosas e sistemáticas como hospitais, tais como os rituais de  embalsamento, que vestem e maquiam o cadáver para que este pareça vivo,  denotam a relação confusa e angustiante do sujeito com a morte (KOVÁCS,  1992). Tal angústia não implica somente na perpetuação do silenciamento de  discursos sobre o suicídio, como também dificultam o acolhimento de pessoas  que apresentam estes discursos, e as violentam quando, ao invés de tentar  compreendê-las, as afastam dos serviços de saúde oferecidos e de demais  espaços que poderiam ampará-las. Contrariamos, com isso, os mecanismos de  repulsa e silenciamento da morte, que, ao invés de afastá-la, produzem mais  morte e mais adoecimento.

A primeira seção deste artigo busca definir o referido campo de estudo por  meio de uma breve revisão histórica da morte e do suicídio, de seus processos  de estigmatização e apagamento. Em seguida, a segunda seção introduz  concepções fundamentais sobre o embasamento fenomenológico da Gestalt terapia, com o objetivo de criticar alguns aspectos da prática diagnóstica e de  definir as particularidades das disfunções de contato e da base teórica  gestáltica sobre o comportamento suicida. A terceira seção se atenta ao  manejo clínico, considerando a dificuldade de profissionais da saúde em  promoverem o acolhimento necessário a pacientes com comportamento

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suicida. Compreendendo os mecanismos sociais que fazem da morte um  fenômeno a ser silenciado, procura-se analisar a forma com que os discursos  paradoxais relativos ao desejo de morrer são concebidos em serviços de saúde  que os acolhem, nas famílias dos pacientes e na clínica gestáltica fenomenológica.

Apesar do enrijecimento de visões socioculturais sobre a finitude e os  processos de morte no decorrer da vida – pois, como Maria Júlia Kovács mostrará, há muitas mortes durante o desenvolvimento humano –, este  trabalho argumenta que uma relação diferente com a morte, receptiva, compreensiva e, principalmente, respeitosa, pode proporcionar uma mudança  significativa na forma como os discursos suicidógenos são recebidos, seja pela  família, por instituições de saúde ou pela própria pessoa que os enuncia.

História da morte e do suicídio no Ocidente e algumas definições

Com o conceito de campo, a Gestalt-terapia compreende um todo “no qual as  partes estão em relacionamento imediato e reagem umas às outras, e  nenhuma deixa de ser influenciada pelo que acontece em outro lugar do  campo” (YONTEF, 1998, p.17); em outras palavras, o campo caracteriza o  horizonte histórico, as implicações subjetivas e objetivas, em que tudo o que  está ao redor do ser e tudo o que ele alcança com sua percepção o afeta e é  afetado por ele. Aprofundar nosso estudo nas mudanças temporais do  fenômeno da morte no Ocidente se mostra uma aposta interessante para  compreendermos os atravessamentos subjetivos do suicídio, tendo em vista  que a forma com que o sujeito constrói sua narrativa acerca da morte, do  suicídio e da vida está intimamente arraigada a estigmas sociais,  marginalizações históricas e demais mecanismos estruturais que hostilizam  quaisquer discursos sobre a finitude. Esta seção se inicia com uma breve  historiografia sobre as concepções da morte e do suicídio no Ocidente,  fundamentada principalmente nos estudos de Philippe Ariês (2012) sobre a  transformação dos ritos funerários e das representações artísticas e literárias  sobre a morte.

Inicialmente, Ariês (2012) apresenta um período em que os ritos funerários  ocorriam com simplicidade, contrastando com a exaltação dramática e  romântica dos mortos pelos vivos, no século XIX, e com o distanciamento de  qualquer aspecto relacionado à finitude, a partir do século XX. As  representações da morte na Idade Média demandavam a manipulação de  signos naturais, de sentenças premonitórias íntimas e individuais. A morte era  reconhecida naturalmente pelo sujeito moribundo e aceita de forma ritualística:  o leito, geralmente o quarto, continha a família e outros visitantes. Ao contrário  dos tempos atuais, as crianças não possuíam restrições para contemplar o  corpo morto; pinturas antigas retratando velórios revelam a presença  naturalizada de crianças entre os participantes da cerimônia. Ariês denomina  esta morte como “morte domada”, pois não configurava um perigo tão  grandioso para ser evitada e mascarada como o é hoje.

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Apesar de ser aparentemente ‘domada’, essa familiaridade com a qual se  tratava da morte trazia, também, o medo dos mortos. Segundo Ariês, os ritos  funerários e a alocação das sepulturas tinham como principal objetivo impedir  “que os defuntos voltassem para perturbar os vivos” (ARIÊS, 2012, p.41). Os  cemitérios localizavam-se para fora da cidade ou à beira de estradas,  dificultando possíveis assombrações. Com a insurgência do cristianismo, os  enterros foram ‘santificados’. Moribundos queriam ser sepultados no “corpo de  Cristo” como santos, sendo deslocados da periferia às igrejas:

A separação entre a abadia cemiterial e a igreja catedral foi

então apagada. Os mortos, já misturados com os habitantes  

dos bairros populares da periferia, que se haviam desenvolvido  

em torno das abadias, penetravam também no coração  

histórico das cidades. (ARIÊS, 2012, p.43)

Assim, as igrejas tornaram-se uma espécie de asilo para os mortos, despindo se do caráter público dos ritos funerários. Os sepultamentos passaram a  ocorrer de forma displicente, sem a devida atenção à localização dos corpos e  à higienização. Com isso, o fim do século XVIII foi marcado pelo grave comprometimento da saúde pública: odores oriundos de fossas, exibição de  ossários, descuido com a terra escavada para os enterros (ARIÊS, 2012).  Revoltas sociais irromperam pela demanda urgente de higienização e pelo  crescimento populacional, desapropriando os cemitérios das igrejas e  alocando-os novamente à periferia das cidades. Os cadáveres começaram a  ser escondidos, dispostos em caixões hermeticamente fechados. Esse  ‘encarceramento’ da morte, apesar de motivado pela necessidade de  higienização e cuidado com o solo, conferiu outra significação à finitude, considerando o teor simbólico de eventos ritualísticos: a morte, antes localizada  no centro nas cidades e ‘solta’, por assim dizer, havia sido presa – em caixões  – e afastada dos centros urbanos.

Na segunda metade do século XX, os cuidados paliativos incluíam o  encobrimento da morte para com o enfermo, não por sua fragilidade, mas pela  intolerância dos vivos para com a morte do outro. Parte desse encobrimento  pode ser encontrada na realocação da morte: não se morria mais em casa,  mas nos hospitais. Entre ordenamentos médicos e políticas de higienização e  saneamento, observa-se a privação da morte de seu caráter íntimo e familiar  na medicalização compulsória emergente no século XX. Tal como os  cemitérios são anteriormente afastados da cidade, pessoas doentes são  afastadas de suas casas e alocadas em hospitais, por vezes sem  consentimento. Cerimônias de despedida, realização dos últimos desejos do  enfermo, proximidade com a família não mais integram os ritos funerários. A  morte é tratada de forma técnica e tutelar, sob o crivo médico. Cria-se uma  relação repressiva para com a morte, uma vez que o luto, com o afastamento  dos cemitérios, também sofre uma higienização.

Em contraste com o século XIX, que trouxe tentativas de higienização em  razão do controle epidêmico e endêmico, o século XX transformou a noção de

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morte em algo vergonhoso, escondido e impessoal. No hospital, a morte pode  ser mensurada, analisada, concedida. Apesar do suposto controle da vida  sobre a morte, esta não pode ser percebida; as cerimônias funerárias tornam se cada vez menos ‘ritualísticas’, sem os costumes taciturnos e dramáticos.  Kovács (1992) identifica a vergonha da morte nos rituais de embalsamento, em  que a face do cadáver é corada e pintada para parecer viva.

A lida conturbada com a morte não possui melhor campo de análise do que o  luto. Estudando os impactos da morte em famílias de pacientes terminais,  Elisabeth Kluber-Ross (1981) mostra como a medicalização compulsória e a  ‘guarda’ do paciente pelo hospital criam barreiras entre as trocas de afeto,  dificultando a aceitação da morte pela família e pelo próprio paciente. Nossa  cultura ocidentalizada concebe a morte como tabu, distanciando as crianças do  corpo morto, ao contrário das representações de quartos de enfermos da Idade Média, segundo Ariês. Se, para Kluber-Ross, a aceitação da morte seria a  melhor possibilidade para se viver uma vida plena, o comportamento arredio  perante a mortalidade humana tem impedido qualquer chance de plenitude.

Se a morte é tabu, como diz Scavacini (2017), o suicídio é pior ainda. Na Grécia antiga, por exemplo, o suicídio deveria ser permitido pelo Estado para  ser consumado; caso contrário, a pessoa que se suicidava ilegalmente, ou  seja, aquela que não recebia permissão do Estado para se matar, era privada  das honras fúnebres comuns, tendo sua mão amputada e enterrada longe do  corpo. Da mesma forma, em Roma, o suicídio só poderia ser consumado  quando autorizado pelo senado; suicídio por enforcamento privava o sujeito de  sepultura, e militares e pessoas sentenciadas pela justiça que se suicidavam  tinham os bens confiscados (CARVALHO, 1996, p.86-87). A postura da igreja  católica diante do suicídio, durante os séculos VI e VII, era de repulsa.  Enquanto as igrejas alocavam a morte de forma displicente e posteriormente  marginalizada, negavam-se ritos fúnebres e cerimoniais para pessoas que se  suicidavam. Mas isso não se limitou às igrejas: na cultura islâmica, o suicídio é  considerado um crime e o corpo morto é isolado para não influenciar  malignamente os vivos (ARAÚJO & BICALHO, 2012). Os enterros dos corpos  suicidas costumavam ser realizados à noite, contribuindo com seu  apagamento. A partir do século XVII, na Inglaterra e nos Estados Unidos, “um  em cada dez vereditos de suicídio foi classificado non compos mentis, ou seja,  como decorrente de insanidade” (ARAÚJO & BICALHO, 2012, p.726), e a  insanidade tornou-se massivamente presente nos entendimentos do suicídio,  embora este continuasse sendo considerado crime.

Apesar da consolidação dessa visão estigmatizada do suicídio já na Idade  Média, observa-se uma atividade maior em torno do tema somente no início do  século XIX, com a insurgência da medicina psiquiátrica (SCAVACINI, 2018). As  visões apresentadas pela psiquiatria centralizavam-se na idéia de que o  suicídio resulta de transtornos mentais, o que não se distancia muito dos  discursos acadêmicos vigentes. Segundo Botega et al. (2006), de 93% a 95%  de casos de suicídio poderiam receber um diagnóstico de transtorno mental,

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particularmente transtornos de humor, dependência de álcool e esquizofrenia.  Supõe-se que o risco de suicídio cresce mais de 20 vezes em pessoas  deprimidas (BOTEGA ET AL., 2006). A atribuição de diagnósticos e  comorbidades psiquiátricas a narrativas de morte e suicídio se mostra, neste  artigo, como um assunto a ser problematizado. O que faz com que o fenômeno  do suicídio seja tão psiquiatrizado, de forma que o diagnóstico de transtorno  mental se torne uma espécie de justificativa para tal ato? O que é, de fato, o  comportamento suicida?

Para Werlang & Botega (2004), a conceituação do suicídio geralmente gira em  torno da ideia de tirar a própria vida, abrindo espaço para elucubrações  teóricas acerca dos fatores externos relacionados ao ato, da letalidade da  tentativa de suicídio, dos atravessamentos específicos a cada caso. O comportamento suicida pode ser definido como “todo ato pelo qual um  indivíduo causa lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e  de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato” (WERLANG & BOTEGA,  2004, p.17). Esse pensamento contrapõe-se ao foco excessivo na letalidade e  na intencionalidade da tentativa de suicídio e na costumeira relação de causa e  efeito que paira entre a vida e a morte do sujeito; esses fatores, como será  debatido mais à frente, limitam a experiência do sujeito, cerceando-o a  diagnósticos que não contemplam toda a sua narrativa e que até mesmo a  distorcem, impedindo o sujeito de ter contato com sua própria vivência.

Bertolote et al. (2010) somam à definição de comportamento suicida o conjunto “de fenômenos ligados ao suicídio, dos quais os mais relevantes são o suicídio  propriamente dito (óbito) e a tentativa de suicídio” (p.587). É interessante a  aproximação dos autores à palavra ‘fenômeno’, afastando-a

epistemologicamente da ideia de ‘doença’; enquanto fenômeno, o  comportamento suicida não é compreendido como doença, embora este possa  ser provocado por fatores potencialmente adoecedores. Neste artigo, trilhando um viés despatologizante e interseccional, não se localiza a doença no sujeito,  mas ao que o circunda.

O comportamento suicida é concebido, portanto, como um conjunto de  fenômenos reativos internos a mortificações externas e como um processo  multifatorial, percorrendo desde a ideação suicida até o planejamento e a  consumação do suicídio (OMS, 2012). Nesse sentido, pensar as causas do  suicídio requer um aprofundamento nas matrizes culturais e nas relações de  poder que circundam o evento, no peso simbólico, nos fatores biopsicossociais  atuantes em cada território e a partir de cada subjetividade (SCAVACINI,  2018). “Olhar parte de uma história como o todo”, diz Scavacini (2018, p.34- 35), “leva à construção, cristalização, não ampliando ou expandindo olhares  possibilidades e caminhos”.

O lugar tabu do suicídio apresenta a disparidade deste fenômeno em relação  ao que se poderia chamar de processo ‘natural’ de morte, pois, apesar da  repulsa social para com a morte “comum”, esta possui localização. O suicídio,

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pelo contrário, se assemelha mais a uma ofensa contra o processo de morte do  que a uma causa de morte propriamente dita. Tal perspectiva evidencia a  complexidade do campo da suicidologia, em virtude dos estigmas sociais e de  sua invisibilização, que atingem fortemente a formação de profissionais de  saúde e a relação do social com a morte e com o suicídio. Voltamo-nos, agora,  à análise do comportamento suicida pela Gestalt-terapia, abarcando  principalmente embasamento gestáltico em torno deste fenômeno e a crítica às  dinâmicas diagnósticas que se dirigem ao suicídio.

O olhar da Gestalt-terapia sobre a prática diagnóstica e o comportamento  suicida  

Como ensina Rehfeld (2013), a Gestalt-terapia surge a partir de ideias da  fenomenologia. Em seu desenvolvimento, a fenomenologia não se atém à  concepção clássica de consciência. Compreende-se o ser humano como ser  no mundo, de tal forma que não há dissociação entre o self e o outro, o sujeito  e o mundo. A consciência existe, na medida em que o mundo existe. Então, qual é o sujeito dessa consciência? É um sujeito mergulhado em seu contexto  cultural, histórico, nas visões de mundo possíveis, ou possibilitadas, em seu  território. A tarefa da fenomenologia e, consequentemente, o direcionamento  da Gestalt-terapia é analisar “as relações vividas e efetivas que se  estabelecem, ao mesmo tempo necessária e livremente, entre homem e  mundo” (REHFELD, 2013, p.14), ao contrário da análise determinada e objetiva  do mundo, sem considerar o contexto que atravessa seu analisador.

Pela perspectiva fenomenológica, Rehfeld (2013) salienta a necessidade de  recuar ante um conceito, um fenômeno. Analisar o suicídio como fenômeno, tal  como o atendimento a pessoas que apresentam ideações suicidas e/ou que já  tentaram suicídio, pressupõe tal recuo. As dinâmicas de comunicação da  clínica gestáltica procuram sempre uma troca de perspectivas  fenomenológicas, de forma que as diferenças entre a perspectiva de pacientes  e terapeutas se transformem em um diálogo constante (YONTEF, 1998). Pelas  diferenças, o paciente torna-se consciente (aware) não somente de sua  narrativa, mas da forma com que a expressa, das possibilidades de mudança e  aceitação. Por esse viés, a Gestalt-terapia evidencia o processo presente da  narrativa, para além de seu conteúdo.

O conceito de campo, como evidenciado no começo do texto, exerce um papel  interessante no estudo do comportamento suicida. Segundo Yontef (1998), o campo pressupõe uma rede de afetações constantes, sustentada pelo  horizonte histórico, pelos marcadores socioculturais e geopolíticos do sujeito. O campo só existe mediante um sujeito, pois só há fenômeno se há sujeito, e  este só existe se houver, em contrapartida, um mundo no qual ele se insira/seja  inserido. Portanto, o campo necessita imediatamente de um observador,  considerando que os fenômenos emergentes a partir dele e com ele só existem  através de alguém que os conceba e interprete:

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O campo fenomenológico é definido pelo observador, e é  

significativo apenas quando se conhece seu quadro de  

referências. O observador é necessário porque o que alguém  

vê, de alguma maneira, é função de como e quando se está  

vendo. (YONTEF, 1998, p.17)

Portanto, se as “abordagens de campo são descritivas em vez de  especulativas, interpretativas ou classificatórias” (YONTEF, 1998, p.17), a  compreensão do fenômeno estudado encontra um caminho sem embaraços  interpretativos, pois as significações atribuídas ao campo da experiência  derivariam do sujeito em si, e não de quem o observa. Contudo, a descrição de  determinado fenômeno também depende do crivo moral de quem o descreve:  quem descreve as implicações de um fenômeno não estaria, também, se  inserindo nele, uma vez que o fenômeno só ocorre mediante sua observação e  imediata interpretação? É por meio desse questionamento que se evidencia o  caráter tabu do suicídio e da morte. Não é possível, pela Gestalt-terapia, se prender a prerrogativas que afirmam tantas verdades essenciais acerca de um  fenômeno tão complexo como o suicídio. As explicações e as respostas para  os conflitos enfrentados por alguém que decide pôr um fim à existência são  demasiado vastas para uma única compreensão. Compreende-se o suicídio  como um evento multicausal (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013), reunindo interações entre fatores psíquicos, econômicos, religiosos, culturais e  familiares. Ideias essencialistas da natureza humana não encontram  protagonismo na Gestalt-terapia, pois, como mostra Yontef (1998), há sempre  “novos horizontes, novos problemas e novas oportunidades” (p.18).

Dessa forma, julgar moralmente a motivação do suicídio – e principalmente  considerar somente uma única motivação, reiterando relações de causa e  efeito – induz o psicólogo a subjetivismos morais e estereotipados (WERLANG  & BOTEGA, 2004), promovendo a dicotomização da narrativa do paciente. Tal  abordagem não só limita a compreensão psicológica do fenômeno do suicídio,  como também a experiência do paciente: na medida em que o psicólogo faz  parte do campo do paciente, seus julgamentos morais, exprimidos tanto verbal  quanto corporalmente, integram a experiência do sujeito. Portanto, pensar o  suicídio a partir de preconceitos tão arraigados em nossa cultura  ocidentalizada, muitos dos quais foram expostos na seção anterior, não  demonstra grande proveito. Da mesma forma, relações de causalidade se  apresentam como impeditivos na compreensão do suicídio, pois deve-se  considerar a atuação de fatores diversos tanto na constituição da vida, quanto  na constituição da morte. As ‘causas’ da morte de uma pessoa que se suicidou atravessam desde os significados angustiantes alocados na vida até a concepção histórica e cultural da morte, ou se estendem para fora desta teia de  significados. Somente o sujeito tem como afirmar o significado de sua morte,  de seu desejo de morrer e de viver.

Contrariando as dinâmicas de causa e efeito que são atribuídas ao  comportamento suicida e que interferem, muitas vezes, nas práticas

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diagnósticas, Monique Augras (1986) denuncia o caráter patologizante da  clínica. Segundo a autora, a clínica psicológica se origina diretamente da  psicopatologia, de forma que a terapia e o diagnóstico sejam seus grandes  pilares. A origem médica da psicologia clínica não é um problema, e sim sua  falta de autonomia diante de uma linguagem psicopatológica previamente  estruturada. Em nossa cultura ocidentalizada, são concebidos “todos os  aspectos da existência humana como conflitos superáveis mediante tratamento  adequado” (AUGRAS, 1986, p.11), dicotomizando o normal e o patológico e  promovendo encarceramento.

A perspectiva fenomenológica, segundo Augras (1986), compreende a doença  em situações em que o sujeito responde de forma destrutiva a determinados  estímulos, agredindo a si e/ou aos outros. A saúde e doença, nesse sentido,  não seriam estados, mas processos nos quais “o organismo vai se atualizando  conjuntamente com o mundo, transformando-o e atribuindo-lhe significado à  medida que ele próprio se transforma” (AUGRAS, 1986, p.11). Rompendo com  a dicotomia saúde/doença, as situações em que a doença e a saúde são  colocadas à prova podem ser caracterizadas como instâncias de um processo  de criação do e no mundo; portanto, de construção de si.  

Por esse pensamento, o normal seria a construção de si em liberdade, a  consciência da realidade, e o anormal se definiria como a sedimentação de  uma estrutura, a impossibilidade de mudança. Não são conferidas a estes  momentos de normalidade/saúde e anormalidade/patologia somente dinâmicas  subjetivas do sujeito, pelo contrário: as inadequações do ambiente, os  processos de violência e apagamento do mundo para com o sujeito também  devem ser trazidos à tona. A doença não é localizada no ser, pois, se este  existe através do ambiente, por meio da linguagem utilizada para interpretá-lo,  então é a linguagem, isto é, a interpretação do ambiente que delineia a  patologia; o sujeito não é doente no ambiente, mas adoecido pelo ambiente.  Nesse sentido, a atribuição de um diagnóstico buscaria identificar a localização  do sujeito nos processos de criação ou estagnação da vida, ao contrário de  limitá-lo a uma série de sintomas.

O processo de atribuição do diagnóstico se sustenta no que Augras (1986)  denomina de intersubjetividade. Na medida em que o sujeito não se dissocia do  ambiente que o cerceia, o contato clínico com o psicólogo confere, à  subjetividade do mesmo, parte integral deste ambiente. Para realizar a prática  diagnóstica, o psicólogo deve, antes de tudo, observar sua própria  subjetividade tal como observa o campo em que o sujeito se encontra:

É preciso entender que, nos protocolos dos testes, não se  

manifestam resultados absolutamente válidos e intemporais,  

mas que os mesmos constituem a expressão de um evento, a  

situação única e momentânea do encontro de duas  

subjetividades que influem uma na outra. [...] Assumir a própria  

subjetividade não é substituir as suas problemáticas aos  

conflitos do paciente. É reconhecê-la para delimitá-la,

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transformando-a em ferramenta para a compreensão do outro.  

(AUGRAS, 1986, p.14)

Não é possível julgar objetivamente a situação exposta pelo paciente sem se  ater aos aspectos subjetivos portanto, pessoais, relacionais – das dinâmicas  clínicas. A aplicação clínica do método fenomenológico não busca a captura de  dada situação exposta pelo paciente, mas sim o significado atribuído a ela,  tanto pelo paciente quanto pelo psicólogo, e o reconhecimento dessa dupla  significação é fundamental para que as crenças do psicólogo não ofusquem a  realidade do paciente.

Pensar a relação entre terapeuta e paciente demanda uma profundidade nas  relações entre o self e o outro, ainda mais pela ótica gestáltica, que concebe a  constituição do sujeito a partir do outro; somente pela diferenciação e pela  identificação entre o self e o outro é que se torna possível estabelecer contato  com o meio externo, com o campo. Yontef (1998) traz o conceito de  metabolismo organísmico como metáfora para os mecanismos de  discriminação aos estímulos externos, mecanismos estes que regulam a  relação do ser com o ambiente. A auto-regulação promove a identificação de  estímulos externos como tóxicos ou nutritivos, ambos passíveis de  discriminação, porém de diferentes formas. “O ambiente inclui toxinas que  precisam ser expostas”, diz Yontef (1998, p.28), e os processos pelos quais  estas toxinas e os fatores nutritivos serão discriminados e/ou absorvidos “são  governados pelas leis da homeostasia” (YONTEF, 1998, p.28).

Acima de tudo, o sujeito busca o equilíbrio. Para tanto, as fronteiras entre o self e o outro, o ambiente, devem ser flexíveis, possibilitando redes de troca, e  estáveis, de forma que o sujeito tenha autonomia para lidar com as  discrepâncias entre si mesmo e as imposições sociais. É por meio do contato  que as fronteiras entre o “eu” e o “não-eu” se delineiam – ou não. Estável e  dinâmica, a fronteira entre o self e o mundo permite tanto o contato quanto o  distanciamento do ambiente; o sujeito flui entre o que o nutre e se afasta do  que o intoxica. Tal flexibilidade firme, por assim dizer, pode perder sua  estabilidade quando esse fluxo de contato não se mostra ideal para o sujeito,  culminando “na perda da distinção entre o self e o outro, um distúrbio tanto de  contato quanto de awareness” (YONTEF, 1998, p.28). Nestes rompimentos,  observa-se a atuação de disfunções de contato, a perda da homeostasia. As  disfunções de contato são marcos importantes nos estudos do comportamento  suicida, podendo afetar pacientes, familiares, profissionais de saúde, etc.,  tendo em vista que a estigmatização do suicídio e da morte, em âmbito geral, atinge a todos. A dificuldade de se dialogar sobre a finitude e a concepção da  morte como algo a ser evitado a todo custo faz do suicídio um grande  paradoxo: se a ideia de morte não se dissocia do sentimento de repulsa, o  desejo de morrer ultrapassa os limites da inteligibilidade, o que se reflete na  forma como os corpos de pessoas que se suicidaram eram dispostos: no caso,  fora dos cemitérios e até mesmo criminalizados. Assim, o comportamento

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suicida, desde ideações a tentativas consumadas, torna-se uma ofensa, motivo  de vergonha, pois contraria toda uma lógica de aversão à morte.

Na desestabilização da fronteira entre o eu e o outro, Yontef (1998) encontra o  que seria a confluência, a desintegração dessa fronteira entre o eu e o mundo;  encontra, também, o isolamento: a impermeabilidade da fronteira rompe com a  união entre o self e o mundo, resultando no distanciamento do self. Além  

destas, há também a retroflexão, a introspecção, a introjeção, a projeção e a  deflexão. A primeira seria uma repartição do self, de forma que este faça  consigo o que deseja fazer com os outros, ou que faça consigo o que gostaria  que os outros o fizessem, promovendo o isolamento do sujeito. A introspecção  se configura como uma forma de retroflexão, porém não necessariamente  destrutiva, pois, dependendo de sua intensidade e especificidades, pode fazer  mais bem do que mal. Na introjeção, observa-se a absorção total de um  estímulo externo, sem discriminação, ocasionando uma rigidez na personalidade do sujeito, pois este não se veria capaz de assimilar e adequar o  estímulo à diversidade de sua composição subjetiva. A projeção, por sua vez,  seria “uma confusão de self e outro” (YONTEF, 1998, p.29), fazendo com que o  sujeito atribua fatores internos ao meio externo. Por último, a deflexão se  caracteriza como a evitação da awareness, afastando-se da experiência por  mecanismos secundários; por exemplo, não ir direto ao assunto, não encarar o  outro nos olhos (YONTEF, 1998).

A awareness pode sofrer perturbações quando determinada experiência é  negada, bloqueando o contato do sujeito com o mundo. “Uma awareness significativa”, para Yontef (1998, p.31), “é a do self no mundo, em diálogo com  o mundo e com a awareness do outro”. Este processo de trocas entre o self e o  mundo/outro ocorre por meio do “conhecimento do controle, escolha e  responsabilidade dos próprios sentimentos e comportamentos” (YONTEF,  1998, p.31).

A pessoa que reconhece verbalmente sua situação, mas  

efetivamente não a vê, não a conhece, não reage a ela, e não  

sente em resposta a ela, não está totalmente aware e nem em  

contato total. A pessoa que está consciente, aware, sabe o que  

faz, como faz, que tem alternativas e escolhe ser como é.  

(YONTEF, 1998, p.31)

Negando a totalidade da experiência ou seu próprio caráter de experiência, o  self passa por um processo de rejeição, pois, se o sujeito se constitui a partir  da experiência, a negação desta seria, também, a “negação de quem se é”  (YONTEF, 1998, p.32). Nesse sentido, a captura da awareness total necessita  não só de autoconhecimento, como também de “um conhecimento direto da  situação atual e de como o self está nesta situação” (YONTEF, 1998, p.31).  Dito de outra forma, deve-se identificar as representações simbólicas do sujeito  em sua localização social e em seu horizonte histórico: que lugar o sujeito  ocupa? Qual o efeito dos lugares sociais do sujeito para com os outros e como  este efeito repercute na maneira como ele mesmo se percebe? O que o “outro”

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tem a ver com a constituição do self e qual o papel que atribuímos ao meio  externo quando falamos em suicídio?

Este “lugar ocupado pelo sujeito” não se aplica apenas ao paciente, mas, como  vimos, ao psicólogo. Privar-se do caráter de sujeito faz do psicólogo mero  agente passivo nos embates do paciente com o mundo, o que contraria as  propostas da Gestalt-terapia. Frente à dificuldade de profissionais de saúde em  atender pessoas com ideação suicida ou que tentaram suicídio, como  Cerqueira & Lima (2015) constatam, a compreensão das facetas do manejo  clínico, com pacientes que apresentam comportamento suicida, se torna um  fator fundamental nos estudos da suicidologia. Nesse sentido, embora já  tenhamos pincelado algumas concepções acerca da relação entre psicólogo e  paciente, a seção seguinte se aprofundará em aspectos do manejo clínico  referentes ao comportamento suicida.

O manejo clínico gestáltico referente ao comportamento suicida

Uma característica bastante recorrente entre profissionais que se deparam com  pacientes que tentaram suicídio ou que relatam ideação suicida é a dificuldade  de lidar com suas próprias concepções e emoções em contato com as  emoções dos outros (CERQUEIRA & LIMA, 2015). Isso resulta em obstáculos  no desenvolvimento do processo clínico, ao distanciar o terapeuta do paciente por meio de suas crenças discrepantes e emoções de repulsa. O caráter de  tabu atribuído socialmente ao suicídio e a demais comportamentos destrutivos,  como a automutilação, dificulta o acesso do acolhimento social e da saúde aos  sujeitos que procuram, por meio destes comportamentos, resoluções para seus  conflitos. A partir disso, devemos questionar a visão do terapeuta sobre o  suicídio. Qual o valor que o terapeuta atribui à morte? Seria o mesmo valor  adotado pelo paciente? Quais os significados que o terapeuta aloca à vida e às  suas intempéries? Poderiam eles atravessar a clínica?

Na medida em que a significação do fenômeno se sustenta na interpretação  subjetiva do observador, a subjetividade se torna o único caminho possível  para a elaboração de análises objetivas; portanto, não existe neutralidade  científica. As crenças do terapeuta sempre atravessarão sua abordagem e  suas implicações no decorrer de suas análises clínicas. O diferencial que  possibilitará o caminhar da terapia é a consciência, por parte do terapeuta, de  que suas crenças e valores pessoais perpassam, sim, a forma como ele  promove suas análises e dinâmicas clínicas. Tal consciência carrega consigo  um recuo diante de seus pensamentos individuais, que dá espaço para que o  paciente exponha suas próprias crenças e valores em um ambiente mais  seguro e acolhedor:

[...] é necessário que cada terapeuta examine suas crenças e  

seus sentimentos relacionados ao suicídio, pois eles  

certamente estarão presentes no “entre” do processo  

terapêutico, e conhecê-los previamente pode ajudar o  

terapeuta a descobrir suas potencialidades e dificuldades ao

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lidar com o cliente em crise suicida, pois, se acredita que a pior  

hora para se descobrir que não se consegue lidar com pessoas  

que pensam e/ou cometem o suicídio é em meio à crise  

suicida. (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013, p.201)

O método fenomenológico propõe a identificação dos significados do paciente,  reconhecendo a interferência constante de crenças pessoais do psicólogo e  identificando sua atuação no trabalho clínico. Augras (1986, p.16) afirma a  limitação da compreensão: “O significado [do fenômeno] jamais é alcançado  em sua totalidade, da mesma maneira que a complexidade individual nunca se  encerra dentro de um diagnóstico”. Transcrevemos Polster & Polster (2001,  p.21), quando dizem que a elaboração de linhas teóricas e práticas se  assemelham a pinturas: “elas são sua perspectiva, afinal de contas, mas não  devem ser tomadas como a própria vida”. As teorias fortalecem nossos  caminhos, conferem sentido a nossas visões, mas não são a verdade. O  terapeuta, representando o pintor, age na clínica através de suas crenças, sua  perspectiva de mundo, porém sua atuação ocorre somente mediante a  conexão com o paciente, pois, “do mesmo modo que o artista que pinta uma  árvore tem de ser afetado por essa árvore específica, também o psicoterapeuta  precisa estar ligado à pessoa específica com quem ele está em contato”  (POLSTER & POLSTER, 2001, p.35). A Gestalt-terapia se volta à clínica  enquanto experiência, refutando uma suposta autoridade científica que  pretende alocar o sujeito em perspectivas externas a ele.

Para Werlang & Botega (2004, p.123), a tentativa de suicídio revela uma cadeia  de “fenômenos psicossociais complexos afetando pessoas que vivem sob  tensão e que expressam de modo agudo o seu padecimento”, fazendo da  prática diagnóstica um exercício situacional. Estabelecer um vínculo com o  paciente, proporcionando um ambiente de segurança e confiança, é essencial  para que o paciente colabore, futuramente, com seu processo clínico. Tal  confiança depende, acima de tudo, do respeito à sua condição emocional, ao  seu contexto social, à sua narrativa, qualquer que ela seja. Concebendo a  clínica como experiência por si mesma, a significação da narrativa do paciente  pelo terapeuta se torna nula. O terapeuta absorve a expressão do paciente,  tornando-a parte da experiência terapêutica, ao contrário de interpretá-la e  nomeá-la, limitando a narrativa do sujeito.

A Gestalt-terapia procura proporcionar ao sujeito a awareness, ou o insight,  que, segundo Yontef (1998, p.16), “é a compreensão nítida da estrutura da  situação em estudo”. Para que a awareness seja obtida, esta deve ser  focalizada tanto na narrativa do paciente quanto no próprio processo a partir do  qual a narrativa se apresenta. Segundo Yontef (1998, p.30), awareness pode  ser definida como um estado de “contato com a própria existência, com aquilo  que é”, com o aqui-e-agora, e a funcionalidade total da awareness como “o  processo de estar em contato vigilante com os eventos mais importantes do  campo indivíduo/ambiente, com total apoio sensorimotor, emocional, cognitivo  e energético” (YONTEF, 1998, p.31). Estar presente, consciente de seu

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organismo, do ambiente que o cerca e das estruturas – sejam elas quais forem  – que o constituem: é assim que este conceito é concebido. Como diz Yontef  (1998):

Mais do que qualquer outra terapia, a Gestalt-terapia enfatiza  

que, o que quer que exista, é aqui-e-agora, e que a experiência  

é mais confiável do que a interpretação. O paciente aprende a  

diferença entre falar a respeito de algo que aconteceu há cinco  

minutos (na noite anterior, ou há vinte anos) e experienciar o  

que é agora. (p.21)

Uma vez que os sistemas sensoriais e motores do sujeito somente capturam  percepções do presente, os impactos do passado e as elucubrações do futuro  têm como única possibilidade de existência o presente (POLSTER &  POLSTER, 2001). O processo terapêutico de um paciente que já tentou  suicídio, por exemplo, não necessita de um retorno objetivo ao momento da  tentativa, ou a acontecimentos que marcaram um período depressivo. Para  Kóvacs (1996), a morte não se limita ao momento em que o coração para de  bater ou quando eletrodos deixam de captar atividade cerebral. A morte está  em situações cotidianas, em fases que chegam ao fim, em momentos de  felicidade que terminam ou em momentos de tristeza que se deixam substituir  por alegria: “não é possível se manter criança para sempre” (KOVÁCS, 1996,  p.13). Somamos a estas mortes cotidianas as mortes sociais, os apagamentos  e as marginalizações que aniquilam tanto o corpo quanto a subjetividade.  Experienciar o aqui-e-agora, segundo Yontef, e estar aware do campo  fenomenológico que rodeia o sujeito diz respeito, também, à compreensão  destes processos de mortificação que suicidam o sujeito, à awareness para  com eles.

No cuidado aos sujeitos que tentaram o suicídio, é preciso “fortalecer os fatores  protetores e minimizar os fatores de risco” (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013,  p.199), evitando que o suicídio seja consumado e que o sujeito permaneça em  sofrimento. Parafraseando Fritz Perls, Fukumitsu & Scavacini (2013)  compreendem o suicídio como “um duelo entre o assassino e o assassinado  que se encontram no ato da morte” (p.198). Não haveria diferenças absurdas  entre o suicida e o assassino; o que os une seria a impotência para lidar com o  conflito, escolhendo a violência e a destruição como resolução. O sujeito que  atenta ao suicídio de fato promove sua destruição, ao aniquilar seu corpo e  impedir seu total desenvolvimento.

Os conflitos propostos pelo paciente, no entanto, não devem ser minimizados.  O conflito, para Augras, não se configura como “algo ruim, indesejável e  portanto inútil e nocivo”, mas antes a “luta necessária entre tendências  contrárias que, sucessivamente opostas e sintetizadas, compõem o próprio  processo da vida” (AUGRAS, 1986, p.20). A realidade, a cisão do “eu” e do  “não-eu”, gera conflitos necessários para a constituição do ser. Na perspectiva  gestáltica, não se almeja o apagamento do conflito, mas “a possibilidade de

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que um conflito signifique crescimento” (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013,  p.199).

Assim sendo, é essencial compreender o conflito como um acarretador de  mudanças; a crise que o paciente enuncia é diretamente proporcional à  quantidade e intensidade dos conflitos e, quanto maior a crise, mais intensa e  rápida será a resposta do sujeito (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013). Tal  intensidade tem caráter bastante perigoso, pois a resposta ao caos que o  sujeito expressa pode muito bem ser o suicídio. O terapeuta deve, portanto,  facilitar o percurso do paciente para que ele elabore seus conflitos em um  ambiente seguro e que lhe ofereça uma base de acolhimento, a fim de que sua  resposta se concentre na resolução em vida, e não na morte.

Para tanto, um dos atravessamentos da terapia pode ser a identificação das  situações que suscitam os conflitos do sujeito, ou seja, os impasses que o  sujeito exprime com mais veemência na terapia. O objetivo de tal identificação  seria a elaboração das questões conflitantes, o reconhecimento das formas  como elas implicam na vida do sujeito e a ampliação da awareness de suas  emoções para com seus dilemas. Sua elaboração propiciaria ambiente ideal  para a resolução dos conflitos, evitando a resposta impulsiva e intensa  referente às suas crises, geralmente o suicídio (FUKUMITSU & SCAVACINI,  2013). Muitos conflitos emergem de situações inacabadas, que o sujeito tenta  destruir a partir de comportamentos autodepreciativos. Contudo, não é possível  conceber a mudança dessas situações inacabadas por meio dos mesmos  comportamentos que as fizeram insurgir.

Devemos pontuar, também, os ensinamentos da psicologia da Gestalt, ao dizer  que o todo é diferente da soma das partes (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013).  A eliminação do sofrimento, insurgente dos conflitos do sujeito, não se dá pelo  aniquilamento do todo – o corpo, a existência –, mas pela localização da  origem do sofrimento e de sua elaboração. O que ocorre é a confusão do todo  pela soma das partes, promovendo o fim do sofrimento pelo aniquilamento do  corpo total.

A ênfase do Gestalt-terapeuta em fatores de proteção do sujeito que revela  ideações suicidas é fundamental para que este tenha desvelamentos criativos,  e não destrutivos, no decorrer de seu processo terapêutico. Importante,  também, trazer à tona o plano do suicídio, os pensamentos diretos sobre como,  quando e por que morrer. A imersão do sujeito nessas questões pode ser uma  maneira de prevenir o suicídio, promovendo o acolhimento e o não julgamento  diante de pensamentos tão reprimidos e repulsivos à sociedade (FUKUMITSU  & SCAVACINI, 2013). O receio do terapeuta de perguntar diretamente sobre a  ânsia de morte deve ser dissipado, pois, ao contrário do que propõe o senso  comum, questões socialmente condenadas como o suicídio precisam ser  dialogadas:

É necessário que o profissional tolere a falta de sentido  

do outro. Quando a tolerância do psicoterapeuta é

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pequena para aceitar o suicídio sem investigar  

efetivamente o significado da morte para o cliente, ou  

seja, quando não tenta compreender a motivação pela  

qual a morte é tão desejada ou, então, não consegue  

nem lidar com esse assunto de maneira aberta, o  

trabalho apresenta dificuldades. (FUKUMITSU &  

SCAVACINI, 2013, p.202)

A intolerância do terapeuta para com a falta de sentido exposta na clínica o  impede de dar o tal ‘recuo’ fenomenológico, pois o terapeuta se atém à sua  própria concepção de morte, aos seus medos e faltas de sentido. A  fenomenologia não impele simplesmente um recuo do sujeito para com os  outros, mas dele para consigo mesmo, pois considera que todas as suas concepções de mundo provêm primariamente de formulações culturais,  contextualizadas historicamente e, portanto, construídas.

Uma das compreensões do suicídio é sua representação como “um pedido  interrompido de vida e não de morte” (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013,  p.202), tornando-se válido questionar o sentido que o cliente aloca na morte:  quais são os seus desejos de resolução que o levam a essa conclusão? O que  a pessoa que apresenta comportamento suicida deseja transmitir? Qual o  significado da morte, da vida e do suicídio para este sujeito, considerando,  porém não exclusivamente, a cultura que o rodeia?

Pela fenomenologia, questiona-se: qual o fundamento do sofrimento? Para  Rehfeld (2013, p.16), o sofrimento é “um encurtamento de seu mundo, de suas  possibilidades”, de forma que o sujeito não tenha arcabouço material e  simbólico para viver de fato. Com o mundo ‘encurtado’, ele se vê preso a uma  só visão, uma só possibilidade de vida. A psicoterapia promoveria a ampliação dessa visão, das concepções prévias, dos determinismos; ao expandir uma  verdade, imediatamente ela é destruída, abrindo possibilidades de criação e  ressignificação. Ao mesmo tempo em que a destruição de verdades pode ser  desesperadora, a crise que ela impulsiona pode acarretar desvelamentos  criativos, e não destrutivos, salvando à psicoterapia um papel substancial na  sustentação das suas questões e demandas levantadas durante as crises  necessárias à criação.

Portanto, arraigar-se aos estigmas históricos atrelados ao suicídio e à morte,  como dispomos na primeira seção, faz do manejo clínico uma atividade  danosa, na medida em que implica, ao sujeito atendido, crenças e visões de  mundo preconceituosas. Identificando os processos de silenciamento da morte,  nos tornamos mais hábeis a combater as raízes da aversão que ela suscita e a localizar, em narrativas sobre morte, possibilidades de criação.

Conclusão

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Pela história da morte no Ocidente e pela forma como o suicídio era e é  concebido, compreendemos como os estigmas sociais em torno do  comportamento suicida inferem na clínica psicológica gestáltica, nas relações  familiares e sociais, nas dinâmicas institucionais que circundam o sujeito.  Silenciar a morte não culmina em seu afastamento; a morte sempre está  presente, e o diálogo sobre o suicídio não o impulsiona, muito pelo contrário (KOVÁCS, 1992).  

Como vimos, o silenciamento de narrativas de morte e suicídio denuncia a falta  de contato que temos com a finitude, e recuar fenomenologicamente pressupõe  a recuperação desse contato. Prender-se a crenças aversivas para com a  morte, no ambiente clínico, não só impede que o sujeito construa sua narrativa  acerca da morte, como também o violenta, ao silenciar seu discurso em  detrimento de estigmas enraizados em concepções de mundo historicamente  estigmatizantes. Se o suicídio é estigmatizado, o sujeito que apresenta  comportamento suicida também o é; a que violências ele está submetido?  Como podemos trabalhar mecanismos autodestrutivos, como o suicídio e a  automutilação, paralelamente ao caráter de condenação que é atribuído a  eles?

Consideramos que os questionamentos expostos no decorrer deste trabalho  têm um peso importante nas formas pelas quais o comportamento suicida é  acolhido e trabalhado, ou reprimido e silenciado. Por meio destas questões e  dos conceitos gestálticos, propomos uma escuta precedida, acima de tudo,  pelo respeito e pela noção de autodeterminação dos sujeitos, considerando  que somente estes podem significar sua morte, sua vida e seus processos de  adoecimento diante de uma realidade já mortificante.

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Endereço para correspondência 

Bruno Latini Pfeil 

E-m ail: brunopfeil8@gm ail.com 

Recebido em: 15/04/2021 

Aprovado em: 30/12/2022

Revista IGT na Rede, v. 18, nº 35, 2021, p. 240 –259. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526