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BRAGA, Marcelle Leonardo – “A importância do período inicial no atendimento psicológico grupo:  reflexões de uma experiência”

ARTIGO

A importância do período inicial no atendimento psicológico grupo:  reflexões de uma experiência

The importance of the initial period in psychological care group: reflections of  an experience

Marcelle Leonardo Braga

Revista IGT na Rede, v. 18, nº 35, 2021, p. 148–176. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN:  1807-2526

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RESUMO

Este artigo tem como propósito a reflexão sobre o momento inicial no processo de  construção de um atendimento psicológico de grupo. Traz a experiência de um  atendimento que ocorreu durante o curso de especialização em psicologia clínica  promovido pela UniRedentor, realizado no polo IGT - Instituto de Gestalt-Terapia e  Atendimento Familiar. Foi realizada consulta bibliográfica com o embasamento  teórico da Gestalt-Terapia, tendo como tema norteador o atendimento de grupo.  Utilizou-se leitura de relatórios desta experiência específica de atendimento,  bibliografia sugerida e utilizada pelo curso de especialização, leitura das  monografias da linha de pesquisa do IGT sobre atendimento de grupo, e por fim,  levantamento no Scielo e Revista Eletrônica IGT na Rede, usando as palavras chaves: Psicoterapia de grupo; Gestalt-Terapia; Psicoterapeuta de grupo;  Atendimento psicológico de grupo. Foram abordados temas considerados relevantes  para organização e início de um atendimento psicológico de grupo. Sendo o  momento inicial do atendimento, um período essencial e de grande relevância para  que o grupo de fato aconteça e se constitua de forma bem-sucedida, ou seja, com  maior adesão, confiança, clareza e escolha dos clientes em dar continuidade a  psicoterapia de grupo.

Palavras-Chave: Psicoterapia de grupo; Gestalt-Terapia; Psicoterapeuta de grupo; Atendimento psicológico de grupo.

ABSTRACT

This article aims to reflect on the importance of the initial moment in the process of  building a group psychological care. It brings the experience of a group psychological  care that occurred during the course of specialization in clinical psychology promoted  by UniRedentor, held at the IGT - Gestalt-Therapy and Family Care Institute. A  bibliographical consultation was carried out with the theoretical basis of Gestalt Therapy, having as a guiding theme the group care. It was used reading of reports of  this specific experience of service, bibliography suggested and used by the course of  specialization, reading of the monographs of the line of research of the IGT on group  attendance, and finally, survey in the Scielo and Electronic Magazine IGT in the  Network, using Keywords: Group psychotherapy; Gestalt-Therapy; Group  Psychotherapist; Psychological group counseling. Topics considered relevant to the  organization and initiation of group psychological care were addressed. Being the  initial moment of care, an essential and very important period for the group to actually  happen and build up successfully with the highest adherence, confidence, clarity and  choice of clients to continue group psychotherapy.

Keywords: Group psychotherapy; Gestalt-Therapy; group psychotherapist; Group  Psychological Care

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Introdução

O presente trabalho parte de uma experiência de atendimento psicológico de grupo  dentro do contexto da clínica social, vinculada a um curso de especialização em  psicologia clínica - Gestalt-Terapia da UniRedentor realizado no polo IGT- Instituto  de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar, situado no município do Rio de Janeiro,  no Brasil.

O IGT atua na formação de psicólogos e não possui parceria com o SUS (Sistema  único de Saúde). Os alunos que fazem parte do curso de especialização em Gestalt terapia atendem na clínica social, cujo objetivo é fomentar experiência de  atendimento clínico e prestar atendimento psicológico de qualidade. (IGT – Instituto  de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar). O que também representa uma  possibilidade para aqueles que não conseguem o atendimento no SUS e não podem  arcar com o valor de mercado das sessões de psicoterapia.  

O atendimento na clínica social me traz a necessidade de contextualizar um pouco  sobre a realidade do Sistema único de Saúde (SUS). Portanto, antes de me  aprofundar sobre o tema principal que é a organização e início do atendimento  psicológico de grupo, preciso salientar que a demanda aos serviços de saúde é alta.

Em relação ao serviço da atenção básica, vale lembrar que apesar da expansão da  estratégia de saúde da família e do aumento da cobertura de serviços na atenção  básica, a demanda ainda é grande e não há cobertura suficiente para toda a  população que recorre aos serviços. A atenção básica é a “porta de entrada” dos  usuários do SUS. Kuschnir (2014, p.78) cita que a atenção básica é o primeiro nível  de atenção, garantindo acolhimento, promoção, prevenção, tratamento,  acompanhamento e ordenamento do sistema.

Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram criados pelo Ministério da  Saúde, em 2008, com o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Primária no  Brasil, ampliando as ofertas de saúde na rede de serviços, assim como a  resolutividade, a abrangência e o alvo das ações. (BRASIL, Ministério da Saúde)

Quando o usuário não consegue o acesso na atenção básica, acaba buscando outras alternativas no sistema, como por exemplo serviços de pronto atendimento,  ou emergências dos hospitais. O acesso ao psicólogo para acompanhamento psicológico não ocorre nesses outros serviços, apenas na atenção básica. Portanto,  o usuário que precisa ser atendido e não consegue acesso imediato a um serviço  psicológico, pode acabar optando pelas clínicas sociais.

Ao pesquisar no e-Gestor, uma ferramenta de informação do Ministério da Saúde, alguns dados mais recentes foram observados sobre a cobertura da atenção básica  no estado do Rio de Janeiro. Em julho de 2019, segundo as informações fornecidas,  a população total do estado é de 17.159.960, a estimativa da população coberta  pelas equipes da Estratégia Saúde da Família é de 8.977.811 ou seja: 52,31% de cobertura populacional. Já no município do Rio de Janeiro, onde o IGT está situado,  a população em julho de 2019 é de 6.688.927 e 3.225.060 é a estimativa da

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população coberta pelas equipes da Estratégia Saúde da Família. Ou seja 48,21%  da cobertura populacional. (BRASIL, Ministério da Saúde)

Esse panorama me traz a reflexão sobre a importância do atendimento psicológico  de grupo, também como uma modalidade interessante para que se possa acolher a  demanda de atendimento a quem procura um profissional de psicologia. Sendo  possível expandir o atendimento psicológico à população que necessita, já que  mesmo nas clínicas sociais há grande demanda, e nem sempre se consegue  atender de forma rápida quem procura o serviço, em função de filas de espera.

Gostaria de deixar claro, que esse é um dos benefícios do grupo, absorver mais  pessoas e gerar maior acesso e expansão da psicologia para quem precisa, porém  não é o único objetivo. O atendimento psicológico de grupo é uma modalidade  potente de atendimento, ampliou meu olhar e me trouxe novas possibilidades, que  vão além do atendimento individual. Foi uma grata surpresa como psicóloga.

No presente trabalho abordarei minha vivência de atendimento psicológico de grupo  no contexto da clínica social do IGT. Essa modalidade embasada pela abordagem  da Gestalt-terapia foi algo novo para mim. Na minha graduação em psicologia não  foi possível vivenciar a clínica dentro dessa linha teórica. Tive uma breve experiência  no estágio externo à faculdade, em uma instituição filantrópica onde os pacientes  eram usuários do SUS.

Na experiência de estágio citada acima, lidei com grupos temáticos, que tem uma característica mais específica. Estes, são grupos compostos por pessoas que vivem  um contexto similar, onde o psicólogo tem como critério para composição do grupo  um tema central. Por exemplo: grupo de mães, grupo de pacientes amputados, em  reabilitação física, depressão, usuários de drogas, entre outros.

Já formada, atuei em saúde pública, com apoio institucional mediando grupos de  trabalho com profissionais de saúde dentro de unidades hospitalares. O foco estava  na gestão e na qualidade dos serviços prestados à população usuária do SUS.  Portanto, lidar com os grupos não era uma grande dificuldade para mim, mas ser  psicóloga de grupo, utilizando a abordagem da Gestalt-Terapia e suas ferramentas era um terreno novo.

Durante o curso de especialização em psicologia clínica na abordagem da Gestalt terapia inicialmente fui apresentada a duas modalidades de atendimento Clínico:  atendimento individual e de família/casal. Curiosamente o atendimento de grupo não  estava inserido no programa do meu curso de especialização. Propus junto à minha  turma e aos professores que pensassem sobre a inserção dessa modalidade. A  partir disso, inseriram no conteúdo programático o atendimento de grupo e acabou  se tornando uma grande surpresa positiva. Sendo o tema que escolhi para me  aprofundar no presente trabalho de conclusão de curso.

Comecei os atendimentos no IGT com uma bagagem pessoal e de aprendizados  anteriores. Com suporte dos coordenadores que me auxiliavam nas supervisões.  Tive a oportunidade de praticar com outros psicólogos da minha turma de  especialização essa modalidade de atendimento. Foi possível vivenciar os

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atendimentos de grupo a partir da minha própria experiência, já que nossa turma  tinha um formato semelhante aos grupos psicoterapêuticos. As turmas são circulares  e a cada mudança de módulo recebem alunos novos. Vivemos partidas de alunos  que desistiam ao longo do processo ou que estavam se formando. Eu fiz parte da  primeira turma dessa modalidade, portanto vivi a entrada de novos integrantes,  assim como me despedi daqueles companheiros de jornada.

Ter tido essa oportunidade me trouxe a riqueza de, a partir da minha vivência, experimentar o contexto grupal, criar vínculos e aprender para além da teoria, o que  me fez me sentir ainda mais próxima dos meus clientes. Participei de workshops e  pratiquei a condução de grupos com os outros alunos da turma. Estudamos o tema atendimento de grupo, através do nosso conteúdo programático, leitura de textos e  trocas em sala de aula.

Tal experiência foi um grande aprendizado e me fez refletir sobre a importância de  um norteador e uma base teórica na condução de grupos psicoterapêuticos, que  auxilie e oriente nas decisões ao longo dos atendimentos. Vejo a necessidade de  coerência nas ações e na prática clínica para realizar de fato um bom trabalho de  atendimento psicológico de grupo, por isso a importância de uma especialização.

Me vi frente a desafios, principalmente no início do atendimento, que considero um  momento muito importante, por entender que esse período inicial é a base do  processo psicoterapêutico. É nesse momento que adubamos o terreno para que seja  possível criar vínculos, criar raízes sólidas e cultivar o jardim. Devido a isso, resolvi  compartilhar essa primeira fase nesse trabalho de conclusão de curso.  

A partir da minha positiva e bem-sucedida experiência durante o período de  especialização, optei por produzir um artigo que possa trazer contribuições práticas  sobre o atendimento de grupo. Focando principalmente na organização, caminhos  trilhados para efetiva formação do grupo e os momentos iniciais desse encontro.

Dentro desse contexto, trago contribuições sobre o tema, visando legitimar essa  modalidade de atendimento e demonstrando que há possibilidades, caminhos e  estratégias para que o atendimento de fato aconteça de forma fluida. Com esta  perspectiva, resolvi escrever sobre minhas reflexões, a partir da minha experiência e  da leitura de materiais que descrevem a prática do atendimento psicológico de  grupo.

Por exigência do curso de especialização supracitado, faz-se imprescindível a  produção de um artigo acadêmico. As linhas de pesquisa sugeridas pelo curso de  especialização, somadas a um interesse pessoal sobre atendimento de grupo, me  levaram a pesquisar sobre o tema. Diante de lacunas encontradas optei por produzir  um artigo que possa trazer um pouco da minha experiência de atendimento e  contribuições práticas sobre a psicoterapia de grupo. Nesse sentido, o presente  trabalho serve de subsídio e fonte de estudo para outros profissionais da psicologia  que tenham interesse no tema.

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O presente trabalho tem como objetivo geral compartilhar a experiência sobre o  atendimento de grupo, trazendo reflexões sobre essa modalidade, de modo a  auxiliar outros profissionais sobre o tema e disseminar esta prática.

O objetivo específico, por sua vez, é apresentar ao leitor o caminho que segui para a  realização do atendimento psicológico de grupo, desde a sua organização até o  efetivo início do atendimento, enfatizando a importância desse momento para um  processo psicológico de grupo continuado.

Não obstante, este artigo também compartilha a importância da experiência, da  contínua aprendizagem e da formação enquanto psicólogo clínico no atendimento de  grupo. Sendo o psicólogo o profissional que possui formação e habilitação para  conduzir esse tipo de atendimento de forma efetiva e responsável.

Como metodologia de estudo, foi realizada consulta bibliográfica com o  embasamento teórico da Gestalt-Terapia, tendo como tema o atendimento de grupo,  para tal utilizei as palavras-chaves: Psicoterapia de grupo; Gestalt-Terapia;  Psicoterapeuta de grupo; Atendimento psicológico de grupo. Utilizou-se a bibliografia  sugerida pelo curso de especialização em Psicologia Clínica - Gestalt-terapia. Além  disso, outras fontes de leitura foram as monografias da linha de pesquisa  atendimento de grupo do IGT sobre atendimento de grupo, bem como as pesquisas  sobre o tema no Scielo e Revista Eletrônica IGT na Rede.

Paralelamente a isso, foi fundamental o material reflexivo oriundo dos relatórios dos  atendimentos do grupo que foi objeto da experiência e as respectivas supervisões.  Tais relatórios foram resumos das 49 (quarenta e nove) sessões de atendimento ao  longo do período de 5 de dezembro de 2017 até 4 de dezembro de 2018. Durante  esse período 5 (cinco) clientes foram inseridos no grupo e por ser um grupo  semiaberto os clientes foram iniciando a psicoterapia em momentos diferentes, os  primeiros clientes entraram em dezembro de 2017 e o último cliente em junho de  2018, Todos estes registros foram salvos em um sistema do IGT. Este relatório,  contempla a ação planejada pelos psicólogos, os elementos observados na  dinâmica do grupo, o tema central da consulta, além da abordagem de todos os  momentos marcantes da sessão. Em cada um desses momentos, são relatados os  elementos observados no cliente quando cada tema foi trazido, a mobilização  interna do psicólogo e as intervenções realizadas ao longo da consulta. Toda  semana antes das aulas expositivas do curso ocorria a supervisão dos atendimentos  com base nestes relatórios.

As inquietações e vivências que tive no atendimento de grupo me levaram a abordar  nesse trabalho de conclusão questões práticas. O presente artigo está dividido em  três seções. Na primeira seção que nomeio de período de organização, abordarei o  caminho percorrido antes de começar os atendimentos em si. Escolhas sobre o  funcionamento, planejamento e tudo aquilo que envolve a organização necessária  para que o grupo aconteça, proporcionando ao leitor reflexão sobre possíveis  caminhos para montar um grupo. Nessa seção elenquei fatores que percebo como  importantes e essenciais. Abordo os seguintes subtemas: o público atendido, regras  de entrada e de saída dos integrantes do grupo, contrato terapêutico e coterapia.

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Na segunda seção abordo sobre o período inicial do atendimento de grupo, que é a  fase onde os atendimentos começam a acontecer, onde o grupo já existe e está  iniciando sua jornada. Escolhi abordar sobre a prática, trazendo elementos que  auxiliem o leitor a pensar sobre a importância desse período e fatores essenciais no  que se refere ao atendimento de grupo, relação terapêutica e possibilidades de  condução. Nessa seção são trazidos os seguintes subtemas: O primeiro contato, o  grupo reunido, experimentos e a presença do psicoterapeuta.  

Concluo o trabalho na terceira seção, com as considerações finais trazendo um  panorama geral sobre os desafios e as delícias que vivenciei ao longo da minha  experiência com o atendimento de grupo.  

Período de organização

O período de organização diz respeito a todo o processo anterior a formação do  grupo em si. O momento onde cria-se diretrizes para a constituição do grupo. O  psicólogo necessita se preparar de fato para receber de forma responsável aquelas  pessoas que procuram por psicoterapia. Para isso é preciso ter o mínimo de planejamento, tendo consciência do caminho a ser seguido e para isso algumas  questões precisam ser pensadas.

Para que uma semente possa germinar precisam existir as condições  

básicas. É necessário o encontro da semente com o meio propício,  

normalmente com a terra, a umidade, etc. Quando a semente está  

em meio adequado, o primeiro movimento que observamos é o  

lançamento de raízes, a construção das bases. (PINHEIRO DA  

SILVA, 2015, p.66)

O público atendido  

Na hora de montar o grupo primeiro precisa-se pensar qual o público se quer atingir:  Qual tipo de grupo pretendo atender? Começar por este questionamento leva a uma  direção interessante, pois vai definir com que público se gostaria de trabalhar. É  importante identificar se há o interesse por parte do psicoterapeuta em definir perfis  mais específicos para o atendimento, como a faixa etária (adultos, adolescentes,  criança, idosos), escolaridade, gênero, dentre outros.

É preciso estar claro que existem diferentes tipos de grupo e isso vai atingir públicos  diferentes. Portanto, é preciso definir se o atendimento será direcionado a um grupo  temático ou um grupo sem um tema específico.  

Quando a opção for por um grupo temático é importante pensar sobre o  tema/assunto central que vai ser trabalhado no contexto psicoterápico. O tema  escolhido será um norteador para formação do grupo. Utilizo aqui alguns exemplos:  Grupo temáticos de depressão, ansiedade, violência à mulher, transtornos  alimentares, transexualidade dentre outros. Agora quando o atendimento de  psicoterapia de grupo não tem um tema específico e norteador, as temáticas a  serem trabalhadas vão surgindo a partir do que aparece nas sessões como demandas dos clientes.

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Existe também o que se nomeia de grupos íntimos, são aqueles grupos onde as  pessoas já se conhecem e já tem algum tipo de relação. Pinheiro da Silva (2015,  p.65) aponta que esses grupos são aqueles que pré existem à intervenção  terapêutica, como famílias, casais, funcionários de uma empresa, membros de uma  igreja e geralmente necessitam passar por uma intervenção psicoterapêutica, por  questões que envolvem impasses na relação entre os integrantes.

Segundo Pinheiro da Silva (2015, p.66) os grupos terapêuticos são Grupos que se  formam com a finalidade de desenvolvimento pessoal por parte dos membros,  comumente os grupos terapêuticos são pensados pelos coordenadores.  

Na experiência que serviu de base para esse artigo não trabalhamos com grupo  temático, pois o curso de especialização nos direciona a seguir esse modelo. A  escolha dos componentes do grupo seguiu o critério de ser um grupo voltado ao  público adulto.

Nesse contexto, a formação do grupo se deu a partir de busca pelas fichas da fila de  espera do IGT. Essa fila é constituída por pessoas que procuraram atendimento  psicológico e que já passaram por uma primeira entrevista anteriormente, com  psicólogos da especialização. O psicólogo responsável pela primeira entrevista é  quem define os caminhos possíveis de atendimento dentro da realidade do instituto,  podendo ser psicoterapia individual, de casal, família, de grupo, orientação  profissional ou psicoterapia infantil e de adolescente.

Na Clínica social do IGT, casos em que a pessoa não esteja em condição de viver o  atendimento de grupo, segundo a avaliação do psicólogo, são indicados a  psicoterapia individual. A psicoterapia de grupo é indicada para os demais que  procuram atendimento psicológico por temáticas pessoais.

Trazendo para minha experiência de atendimento, para montar o grupo, procuramos  pessoas que poderiam ser atendidas em um horário e dia estipulados por nós.  Estava claro para nós psicólogos, que poderiam chegar pessoas de todas as idades,  escolaridades, bairros e com demandas diferentes.

Lembro que um dos clientes fez uma primeira entrevista com o psicólogo com quem eu atuava em coterapia. Era um homem por volta de 40 anos de idade, com uma  certa rigidez, timidez em compartilhar suas questões. Inicialmente ele estava  bastante resistente em participar do grupo. Ele nunca havia feito psicoterapia antes e rejeitou o atendimento de grupo. Na supervisão nosso orientador sugeriu que  fizéssemos de novo a proposta do grupo. A princípio achamos difícil que aquele  cliente reconsiderasse, pois ele trazia temas delicados como demanda e não queria  expor aquele conteúdo para mais pessoas, já estava sendo visivelmente difícil expor  para o psicólogo, na primeira entrevista. Após uma nova conversa, o cliente aceitou  participar do grupo. Mesmo depois de perceber que as outras participantes eram  mulheres, ele se mostrou disponível para aquela experiência e decidiu continuar. No  final das contas foi uma trajetória muito rica.

Quando inserido em grupos terapêuticos o indivíduo pode sentir  

melhor a sua realidade, a partir dos contatos que são desenvolvidos.

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No grupo ele pode aprender a se diferenciar, embora nele possa  

perceber a universalidade que está em si e que também está em  

outros indivíduos. (SANTOS, 2015, p.25).

A não especificidade de um tema ou de critérios mais rígidos na hora da seleção  dos componentes do grupo/público alvo cria um espaço ainda mais desafiador para  o cliente e para o psicólogo, e ambos saem da zona de conforto, do conhecido e  passam a explorar uma nova forma de interação e contato. Portanto, sujeitos podem  se relacionar e vivenciar o grupo mesmo com suas diversidades, sem um tema em  comum que os levaram a buscar por psicoterapia.

Essa experiência de grupo pode facilitar o surgimento de diferentes temas, proporcionando que os clientes através da relação e do se relacionar, entrem em  contato com questões pessoais não resolvidas. Gestalten que não foram fechadas até então, temas que não tinham consciência anteriormente e que podem agora ser  trabalhados, cuidados e transformados.

Para Zinker (2001, p.52) a formação e a destruição de gestalten é um  processo estético e não simplesmente utilitário. Isso acontece com o  

indivíduo e também com sistemas multipessoais. [...] Gestalten  

completas- experiências totalmente maduras das quais nos tornamos  

conscientes, experenciamos, assimilamos e finalmente deixamos ir –

são graciosas, fluidas, esteticamente agradáveis e afirmam nosso  

próprio valor como seres humanos. (ZINKER, 2001, p.52)

Nesse sentido Zinker (2001, p.63) reforça:

Uma imagem é formada para acomodar determinada situação. Pode  

ser um conceito que a define e lhe dá significado. Quando a situação  

muda, adaptação criativa exige a “destruição” da Gestalt antiga e a  

redefinição daquilo que está sendo criado, com o surgimento de uma  

nova Gestalt, que reorganiza a antiga. (ZINKER, 2001, p.63)

Portanto, algo que pode parecer simples como o público alvo, é essencial de ser  pensado nessa fase de organização do grupo. O psicólogo precisa olhar para sua  realidade e para o que faz sentido em sua clínica, tendo consciência que  experimentar diversos arranjos pode trazer riqueza e possibilidades terapêuticas,  assim como novas experiências enquanto profissional.  

No grupo psicoterapêutico pode ser mais fácil entrar em contato com  

seus sentimentos e comparar com os sentimentos dos outros para se  

avaliar. Isso poderá ajudá-lo a se habilitar mais em sua vivência nos  

diferentes contextos humanos. Além de poder se descobrir como um  

habitante de um mundo que está aberto a viver e a sofrer com arte  

para a conquista daquilo que pretende conseguir, fazendo seu  

próprio caminho. (SANTOS, 2015, p.26).

Regras de entrada e de saída dos integrantes do grupo

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Um outro tema importante no período de organização está relacionado a entrada e a  saída dos clientes. O grupo pode ser definido como aberto, fechado e semiaberto.  Antes de iniciar o grupo propriamente dito, o psicoterapeuta deve ter tais aspectos  claros e definidos.

Os Grupos caracterizados como fechados têm um número de integrantes definido  que assume um compromisso de permanência, não podendo, portanto, entrar novos  integrantes depois que o grupo se deu início. Já os grupos nomeados de abertos  podem ter sua configuração modificada ao longo do processo e a cada sessão,  tendo uma liberdade maior para as entradas e saídas dos clientes. (RIBEIRO, 1994,  p.94-96 apud PINHEIRO DA SILVA, 2015, p.66)

Grupos semiabertos são aqueles grupos que têm uma composição estável, mas  existe a possibilidade de entrada e saída de clientes ao longo do processo. A  maioria dos grupos terapêuticos funcionam assim (RIBEIRO, 1994, p.94-96 APUD  PINHEIRO DA SILVA, 2015, P.66).  

Trazendo agora para a experiência de atendimento na qual baseio o presente artigo,  optei por um grupo semiaberto, por assim funcionar também no IGT. Pessoalmente  acho a escolha por um grupo semiaberto um caminho mais confortável, pois com  esse modelo há possibilidade de iniciar o atendimento com um cliente e ir  incorporando ao grupo novos integrantes ao longo do processo.

O grupo do qual embaso minha experiência, iniciou com 2 (duas) pessoas, um  homem na faixa dos 40 anos e uma mulher com idade próxima aos 30 anos. Ao  longo do tempo foram entrando outras 3 (três) integrantes, mulheres, de diferentes  idades, na faixa dos 30 (trinta), 40 (quarenta) e 60 (sessenta) anos.  

Os dois primeiros integrantes nunca haviam feito psicoterapia, portanto tudo era de  fato novo. A terceira integrante vinha de outras experiências no IGT, com outros  grupos e outros psicólogos. As duas últimas integrantes entraram meses depois,  advindas de outros grupos do IGT. Portanto o grupo teve diferentes arranjos, até sua  configuração final de 5 (cinco) pessoas. Nesse caso, não houveram saída de  integrantes. Apenas despedidas ao final do período dos atendimentos.

As entradas e saídas possibilitam aos membros do grupo viver chegadas e partidas, os fazendo perceber como costumam lidar com esses temas. Podendo emergir no  campo diversas possibilidades de assuntos a serem trabalhados e conscientizados  

pelo grupo. Tais experiências tornam possível revisitar situações vividas ao longo da  vida. Os começos e recomeços, início de relacionamentos, novidades, dores,  perdas, lutos mal resolvidos. Entrar em contato com as mudanças que surgem e em  como se lida com elas, proporciona atualização e ajustamento criativo.  

Pode-se descrever o ajustamento criativo como o processo pelo qual  

a pessoa mantém sua sobrevivência e seu crescimento operando  

seu meio sem cessar ativa e responsavelmente provendo seu próprio  desenvolvimento e suas necessidades físicas e psicossociais. Diante  

de condições alteráveis, o mero ajustamento do organismo ao meio é  insuficiente, requerendo respostas criativas, justamente nesse

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encontro específico e singular no campo, por meio da identificação  

da novidade e assimilação ou rejeição do novo na fronteira de  

contato. É criativo na medida em que não se trata de adaptação a  

algo que já existe e sim de transformar o ambiente e, enquanto este  

se transforma, o indivíduo também se transforma e é transformado.  

(D’ACRI; LIMA; ORGLER, 2015, p.20-21)

Preciso salientar que todos os componentes do grupo devem ser avisados sobre a  possiblidade de saída e entrada de novos integrantes, e que isso faz parte do  processo. Todas essas informações devem estar claras, antes do início da  psicoterapia. Esse tema pode ser abordado e revisitado durante o processo  psicoterapêutico. O psicoterapeuta também deve estar atento as reverberações que  a entrada e saída de integrantes pode gerar no grupo.

Em uma das experiências que tive com entrada de clientes no grupo, pude perceber  que diferentes sentimentos e diferentes reações surgiram. Lembro de uma sessão  onde entrou um novo integrante. O grupo estava muito agitado, mais agitado que o  de costume. Contavam histórias e piadas internas, tudo com muita descontração.  Eu sentia que alguma coisa estava diferente, eles pareciam alunos de uma turma da  escola recebendo um novo aluno.

Posteriormente, procurei checar com o grupo e verificar como estava sendo lidar  com a entrada de uma nova integrante. Também quis ouvir dela como estava sendo  viver essa experiência de entrar em um grupo que já estava constituído. A nova  integrante então compartilhou que se sentiu estranha e um pouco assustada, pois  todos já pareciam tão conectados e engajados, inclusive pensou em não continuar  com o atendimento psicológico de grupo, mas decidiu esperar para tomar tal  decisão, ao longo das semanas, se adaptou e se surpreendeu por estar gostando  muito daquela experiência, que era algo novo em sua vida. Portanto, entradas e  saídas sempre vão gerar algum tipo de impacto na estrutura do grupo, cabe ao  psicólogo mediador estar atento.  

O contrato terapêutico

Na fase de organização outro tema importante é a elaboração do contrato, que  também pode ser nomeado de termo de compromisso ou qualquer nome que o  psicólogo se sentir mais à vontade. Este documento serve para especificar as  

responsabilidades das partes envolvidas. O contrato tem papel fundamental para  criação de um vínculo terapêutico, ele traz uma responsabilização pelo processo, pois a partir dele é possível estabelecer acordos sólidos e limites.

É imprescindível que nele constem informações gerais e especificas sobre o que o  psicoterapeuta percebe como importante salientar a respeito do funcionamento da  psicoterapia. Cito algumas aqui: informações pessoais do cliente, contato de  emergência, data e horário da sessão, tempo de duração da sessão, honorários,  data do pagamento, especificação do pagamento como mensal ou semanal,  informações sobre o funcionamento em caso de desmarcações, troca de horário,  faltas (se serão cobradas ou não, se será estipulado um tempo de antecedência

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para aviso da falta para que não seja cobrada), regras de entrada e de saída, avisos  de encerramento, importância e necessidade de sessões de fechamento, se será  estipulado tempo de duração do atendimento, número total de integrantes do grupo e acordos sobre sigilo.

Cada psicoterapeuta vai estruturando seu contrato da maneira que considera viável,  encontrando uma forma de criar algo que tenha proximidade com sua realidade e  vivência de atendimento. Em um grupo, a relação não é apenas entre o psicólogo e  um cliente, existem mais atores envolvidos. Utilizar esse documento como uma  oportunidade para troca de informações ajuda a se ter menos ruído na relação  psicoterapêutica.

[...], o terapeuta sempre tem uma função reguladora frente ao grupo  

e frente à instituição, na demarcação destas fronteiras que podemos  

chamar de contratuais.

A explicitação do contrato equivale a uma delimitação inicial de um  

“dentro” e um “fora” que asseguram a identidade do grupo enquanto  

sistema. E seja qual for o iniciador do grupo, o estabelecimento de  

um contrato inicial é, em si, um processo dinâmico em busca de um  

acordo funcional básico onde já se delineiam questão de poder.  

Quanto mais claro o contrato inicial, melhor [...]. (TELLEGEN, 1984,  

p.77)

O contrato tem duas vias e uma delas é entregue aos clientes, a outra fica com o  psicoterapeuta ou com a instituição como no caso do IGT, permitindo revisitar o que  foi dito, tirar dúvidas e ser uma segurança para os psicoterapeutas e para os  membros do grupo.

Saliento que o atendimento em grupo é um pouco diferente do atendimento  individual em alguns quesitos. No grupo se torna mais complicado trocar dia de  atendimento, pois existem outros integrantes que se organizaram para estar  presentes naquele dia e horário, combinado. O tempo de atendimento do grupo é  maior que o tempo de atendimento individual, os psicoterapeutas necessitam  reservar um horário maior que o habitual na agenda e na sala de atendimento.  Portanto, uma troca de horário acaba não sendo algo simples e, para que funcione, é preciso grande compromisso de todos envolvidos.

É importante ressaltar que o contrato não é apenas um papel e não precisa  necessariamente ser algo engessado, segundo Pinheiro da Silva (2015, p.79) a  finalidade do contrato é proteger a relação que está sendo estabelecida entre os  participantes do processo terapêutico. Quanto mais claras as regras de  funcionamento de uma relação terapêutica, menos chances de problemas que  podem tensionar e, às vezes, inviabilizar as relações.  

Falar do contrato no início do processo ajuda a estar protegido de ruídos de  comunicação. No caso do grupo é um elemento que pode ser trabalhado  conjuntamente. O tema envolve a todos e permite que os clientes se familiarizem  com a psicoterapia. A possibilidade de pensar juntos sobre o contrato, ler, abrir para

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sugestão para mim é uma forma de auxiliar aos clientes a ter maior responsabilidade  e coparticipação no processo terapêutico. Os acordos do contrato podem ser  modificados em conjunto, caso surjam necessidades. São muitas informações novas  e às vezes aquele encontro está carregado de emoção, preocupações. Nem sempre  o cliente vai lembrar do que foi dito e combinado. Ter algo em mãos, com as  cláusulas escritas e que permita que se revisite o que foi dito, pode ajudar a  assegurar a relação. Muitas pessoas nunca viveram um atendimento psicológico e  não sabem como funciona.  

Este tipo de organização favorece o trabalho do psicólogo no sentido  

de proteger a relação de possíveis dúvidas em relação aos acordos  

estabelecidos para o desenvolvimento do atendimento psicológico. O  

contrato cumpre a função de proteger as relações terapêuticas.  

(PINTO, 2013, p.382)

No grupo com a possibilidade de entrada de novos clientes ao longo do caminho  será importante revisitar o contrato, sendo novidade para uns e uma possibilidade de  reafirmar o compromisso terapêutico para os demais. O interessante é que o  contrato pode ser considerado um elemento simples, mas com criatividade e manejo  pode servir como um aliado e trazer à tona temas importantes. Por isso é  indispensável se planejar e se organizar para elaboração deste, antes de iniciar  psicoterapia.

Atendimento de grupo por um psicólogo ou em coterapia.

Um quesito importante da fase de organização é pensar se o atendimento de grupo  será conduzido por apenas um psicólogo ou em coterapia. A coterapia é uma  modalidade que pode ser utilizada na Gestalt-terapia, nela uma dupla de psicólogos  realiza o atendimento clínico em parceria, conduzindo um determinado grupo de  clientes.

Não há nada que impeça um psicólogo de atender um grupo sozinho, a minha  experiência é embasada no atendimento em coterapia, que foi o modelo vivenciado  na especialização. Trata-se de um atendimento de natureza diferente daquele  realizado por um único psicólogo, pois o psicoterapeuta também estará em relação,  o que gera outros tipos de afetamentos e tensionamentos que precisam ser  cuidados de forma atenta. Essa relação entre os psicoterapeutas, antes de tudo,  precisa ser cuidada, de maneira que não reflita de uma forma negativa para os  clientes. Nesse sentido BEHNKEN (2016, p.7) reforça:

O trabalho em coterapia exige grande disponibilidade dos  

profissionais envolvidos. O atendimento em dupla, como tal, também  

obriga que os psicólogos envolvidos entendam que essa modalidade  

clínica produz uma nova forma de se relacionar com o cliente,  

tornando-os uma unidade. (BEHNKEN, 2016, p.7)

Cada psicólogo traz suas bagagens, aprendizados, experiências e uma forma  própria de atuar na clínica e na vida. É importante, pois, identificar um parceiro de

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atendimento com quem se tenha afinidades. Isso não quer dizer que essa escolha  precise ser por um alguém parecido, mas sim por alguém com quem a relação e o  diálogo fluam, uma vez que, mesmo com as diferenças, há uma energia que se  move em parceria.  

O interessante da coterapia é a possibilidade de mais de um ponto de vista diante de  uma mesma situação, bem como diferentes percepções do que surge no campo, o  que também possibilita diferentes intervenções e trocas. Para que isso aconteça de  uma maneira fluida, é importante haver disponibilidade para ouvir o outro, receber  críticas e lidar com outras acepções, o que demanda criatividade para lidar com o  novo e com as mudanças que o “estar em relação” exige.

Entre os humanos o contato é a grande força de transformação e  

mudança. Sem contato simplesmente morremos. Quando estamos  

face a face com o outro, o que lhe faz face não sou eu, mas a  

energia que emana de mim em forma de contato, energia pela qual  

minha presença se presentifica para ele, mas com uma condição: se  

não estou presente em mim mesmo, não estarei presente para o  

outro. Contato e encontro são funções da presença. O que  

transforma o outro e talvez o cure, é a presença em forma de  

contato. (RIBEIRO, 2017, p.16)

Na experiência que baseio esse artigo, já conhecia um pouco o psicólogo com quem  atuei em conjunto, pois erámos da mesma turma e vivemos vários momentos do  curso juntos, como aulas, supervisões e workshops. Tínhamos similaridades e  diferenças. Em comum, tínhamos a abordagem da Gestalt- terapia, que é algo  importante a se pensar na hora de escolher um coterapeuta. A abordagem teórica  do outro psicoterapeuta também vai ter peso nos atendimentos, no que se refere à  postura e intervenções terapêuticas. Por isso, é sempre bom avaliar se a abordagem  teórica seria também um critério ao escolher a dupla de atendimento (coterapia).

Paralelamente a isso, outro ponto em comum entre nós era o humor e a facilidade  de interação em grupo, mas acima de tudo era o respeito na hora de colocar nossas  opiniões, além do fato de nos sentirmos à vontade um com o outro para colocar os  pontos de vistas e percepções. Apesar de realidades, criação, estrutura familiar e  contextos de vida diferentes, além de algumas características distintas bem  marcantes, tínhamos outras características comuns. Certamente uma das nossas  características mais marcantes era a vontade de experenciar a psicoterapia de  grupo, a disponibilidade, assiduidade e o comprometimento com nossos atendimentos.

Encontrar uma pessoa para estabelecer essa relação tão  

harmoniosa, igualitária e complementar pode não ser fácil. Aspectos  

práticos, como disponibilidade de tempo e local; aspectos conceituais  

e teóricos, como formas de intervenção e; aspectos pessoais  

relacionados à forma de lidar com o outro fazem parte das questões  

a serem avaliadas e (bastante) combinadas. Devido à importância de  

fazer esses ajustes, pessoas que sempre trabalharam sozinhas, seja  

por necessidade ou preferência, e outras que viveram situações  

conflituosas em coterapia anterior podem experimentar grande

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expectativa e receios em ter que dividir o “setting” grupal (BOLORINI,  

2016, p.161)

É no dia a dia do atendimento que essa relação vai se constituindo e fazendo  sentido. Somente na prática que é possível perceber se está dando certo e se isso  está sendo positivo para o atendimento e para os clientes. É vivendo que se cresce,  se relacionando que se aprende e é através do diálogo e da troca que vai se  consolidando a coterapia.

No momento da escolha é importante que esteja bem claro o que  

cada um espera do trabalho em dupla e o que cada um está disposto  

a investir neste trabalho. Ou seja, quais as responsabilidades de  

cada um e quais as expectativas com relação ao trabalho do outro.  

Para isto é importante a qualidade do contato de cada um e da dupla.  Pois, na Gestalt-terapia é no contato que acontecem as relações e é  

nele que o humano pode ser humano. (BEHNKEN, 2016, p.14)

Se torna imprescindível cuidar da relação entre os psicoterapeutas, reservar  momentos para conversar sobre as sessões, perceber como foi para cada um  atender e lidar com os assuntos e intervenções que surgiram, abrir espaço para a  troca. Portanto, firmar um compromisso de realizar a pré sessão e a pós sessão,  assegura que haverá um momento para que os psicoterapeutas cuidem da relação e  do processo psicoterapêutico.

A pré sessão e a pós sessão são espaços antes da sessão começar e depois que a  sessão finaliza, para que seja possível para os coterapeutas realizar trocas,  percepções e planejamentos sobre o processo psicoterapêutico. Firmando esses  momentos de encontro se faz possível abrir caminho para um constante diálogo.

Nesse sentido, Yontef (1998, p.234-235) coloca que o diálogo é conversar juntos.  Um diálogo existencial é o que acontece quando duas pessoas se encontram como  pessoas, em que cada pessoa é “impactada por” e “responde ao” outro, Eu e Tu.  Zinker (2001, p.165) traz a ideia de que uma das tarefas é ver as fronteiras e que se  deve ser capaz de se afastar a qualquer momento e identificá-las:

A Gestalt-terapia afirma que na fronteira você experimenta a  

diferença- existe um “eu e um você”, ou uns “nós” e um “eles” e que  

o crescimento acontece quando existe contato na fronteira. As  

diferenças precisam ser enfatizadas antes que você possa fazer  

contato: preciso saber que você e eu somos diferentes antes que  

possamos ficar juntos. (ZINKER, 2001, p.165)

Diante disso, é importante salientar que antes de se escolher um parceiro para  realizar a coterapia, é necessário que se verifique se há disponibilidade para lidar  com o outro e estar em relação. Ter claro que necessitará gastar um tempo,  conhecendo sua dupla de atendimento e estar sempre atento para verificar se a  relação está sólida, bem resolvida e estar disposto para cuidar e olhar quando algo  não esteja bom ou fluindo da forma que deveria. Conflitos não cuidados podem  gerar impactos negativos nos atendimentos.  

O período inicial do atendimento de grupo

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O primeiro contato  

Cada profissional planeja à sua maneira o primeiro contato com seus clientes. Esse  é o momento onde acontece o primeiro encontro entre o psicólogo e o cliente, no  caso do atendimento de grupo propõe-se agendar de forma individual um primeiro  contato, com cada cliente que vai participar do grupo.

É o primeiro encontro de duas pessoas que nunca se viram antes,  

sendo a primeira vez que o cliente se encontra com aquela pessoa  

(terapeuta) frente a frente para falar de seus problemas. Muitos  

fatores interferem neste primeiro contato, como por exemplo: ser a  

primeira experiência com um (a) psicoterapeuta; o preconceito  

presente em nossa sociedade em relação a quem busca ajuda  

psicológica (Isso é coisa de “maluco”!); o cliente ter vivido  

experiências desprazerosas em outras tentativas de tratamento com  

psicólogos, não se sentindo ouvido ou entendido. A proposta daquele  

momento é que se fale de temas que não são fáceis de lidar para  

aquele cliente, caso contrário ele (a) não estaria ali [...] Cada cliente  

tem sua história e suas características próprias que estão presentes  

naquele encontro o qual definitivamente não é um “encontro”  

qualquer. (ESTARQUE PINHEIRO, 2007, p.138)

Esse momento inicial proporciona um espaço para tirar dúvidas, conhecer as  demandas individuais e se aproximar daquele indivíduo e da sua história. O cliente e  o psicoterapeuta vão viver o atendimento de grupo, mas têm a oportunidade de se  conhecerem antes e isso pode gerar maior conforto e segurança.  

RIBEIRO, (1994, p.88 apud QUEIROZ, 2017, p.115) aponta que, na maioria das  vezes, os clientes não se encontram pela primeira vez no grupo com o psicólogo. De  alguma forma tiveram algum contato anterior, seja em entrevistas ou quando são  provenientes da terapia individual. Segundo o mesmo autor “o terapeuta não deveria  encontrar o cliente pela primeira vez no grupo”. Um encontro prévio com o terapeuta  dá a sensação de segurança ao cliente, sentimento este fundamental para se iniciar  um grupo.

Conhecer o cliente antes que ele conheça os outros integrantes do grupo, vai ajudar  para que ambos, psicoterapeuta e cliente, se situem e criem algum tipo de conexão  e confiança. O psicoterapeuta será a referência inicial e já vai ter uma noção de  características e contextos de vida dos integrantes do grupo.  

Juliano (1999, p.22) afirma:

O terapeuta ouve com clareza a declaração do cliente sobre os  

lugares aonde ele não deseja ir, qual o sintoma que deseja combater,  qual a dor que o aflige, qual o monstro que o ameaça. Ele chega no  

consultório pedindo ajuda para livra-se das situações que o  

machucam [...]. Nesse percurso, terapeuta e cliente em conjunto  

fazem o reconhecimento do campo onde se trava a batalha [...].  

(JULIANO, 1999, p.22)

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Ao realizar essa entrevista que antecedia a entrada no grupo, ouvi muitos receios e  curiosidades dos clientes. Certa vez uma das clientes confidenciou que tinha medo  de sair pior das sessões, pois já estava lidando com muitos problemas e tinha medo  que o problema dos outros a abalasse ainda mais. Tivemos a oportunidade de  cuidar disso e deixar claro que ela sempre poderia sinalizar como estava se sentindo  e que estaríamos ali para ela.  

Hycner (1995, p.23), discorrendo sobre os ensinamentos de Martin Buber, explica:  

[...] a ênfase tecnocrática da sociedade moderna provoca um  

distanciamento maior entre as pessoas. A orientação tecnocrática  

moderna obscurece a dimensão central - o status ontológico - da  

esfera relacional em nossa vida. [...] O relacional fica subjugado por  

uma ênfase excessiva no individual. A ênfase excessiva no individual  

cria uma separação não somente entre as pessoas e em nosso  

relacionamento com a natureza, mas também dentro de nossa  

própria psique [...](HYCNER, 1995, p.23),

O Psicoterapeuta deve sempre estar atento a essas pequenas nuances que o  atendimento psicológico de grupo revela. O cliente pode ter muitas fantasias a  respeito da psicoterapia, não sabemos que batalhas foram travadas para que ele  chegasse ali. Compartilhar sobre sua própria história e sentimentos para um  desconhecido não é uma tarefa tão simples, ainda mais se tratando da realidade do  grupo, onde não existe apenas a figura do psicoterapeuta, mas também de outros  atores. Ribeiro (2017, p.24) descreve o grupo como uma rede de contatos,  funcionando como um todo:

A Gestalt pode ser definida como uma Terapia do Contato em ação,  

no sentido que o terapeuta e cliente estão atentos aos modos pelos  

quais o cliente procura satisfazer suas necessidades, em dado  

campo. Somos os contatos que fizemos e continuamos a fazer. O  

processo terapêutico recapitula, mostra como o cliente abre, às  

vezes escancara, o livro de sua vida, introduz o terapeuta nos seus  

meandros, nos seus deltas experienciais, e ali o terapeuta pode ver  

os ciclos existenciais através dos quais o cliente procura dar sentido  

a ele próprio e à sua vida. Fazer contato é entrar respeitosamente na  

intimidade do outro e lá cuidar de suas feridas. (RIBEIRO, 2017,  

p.24)

O primeiro contato entre o cliente e psicólogo dá início a relação terapêutica e um  primeiro encontro com qualidade, facilita muito a entrada deste no grupo. É papel do  psicoterapeuta nesse primeiro momento criar de alguma forma essa conexão.  Hycner (1995, p.124) expõe que é tarefa do terapeuta construir uma “ponte” em  direção ao cliente. Não é, certamente, responsabilidade do cliente construir uma  ponte em relação ao terapeuta.

O grupo reunido

Esse é o primeiro contato dos clientes entre si e com os psicoterapeutas. A partir  desse encontro, começa uma nova jornada, com uma série de expectativas, medos  e curiosidades. Cada integrante vai chegando do seu jeito, mostrando o que pode

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mostrar inicialmente, cada um tem seu próprio tempo e sua própria maneira de se  relacionar.

A mudança e a cura grupal é fruto da qualidade de contatos que o  

grupo desenvolve ao longo da sua constituição e formação  

subjetivas, internas. Motivação, segurança, permissão para fala e  

coesão grupal são os pilares que constituem por contato, toda  

complexidade de um processo grupal [...] (RIBEIRO 2017, p. 25)

Esse é o momento que o grupo começa a acontecer, é no início que construímos a  base e as raízes do grupo, então são os psicoterapeutas que vão começar a dar a  forma e continente ao grupo para que ele aos poucos vá se solidificando.  (PINHEIRO DA SILVA, 2015, p.71)

A tarefa do terapeuta é acolher o cliente, com tudo o que este traz de  tenebroso ou sublime, deixando-o depositar no chão sua bagagem,  

que se tornou pesada de tanto ser carregada nas costas. À medida  

que se desenvolvem o calor da intimidade e a confiança, o viajante  

recém-chegado se dispõe a abrir seus pacotes, mostrando então  

seus conteúdos e compartilhando histórias de viagem, dos lugares  

longínquos de onde foram trazidos, os objetos que hoje, malgrado o  

peso a ser carregado, constituem a sua atual riqueza e patrimônio.  

(JULIANO 1999, p.21)

Por mais que alguns dos clientes já tenham passado por um processo  psicoterapêutico anterior e já estejam mais à vontade em relação ao espaço da  psicoterapia, aquele encontro que está se iniciando e acontecendo é novo, é único,  pois nenhum encontro é igual ao outro, assim como cada experiência é vivida de  uma forma, com novos fenômenos e novos acordos.

[...] O terapeuta frequentemente tem bons resultados quando busca  

intervenções marcadas pelo oferecimento de um suporte, quando  

trabalha no sentido de criar condições para que o grupo possa,  

gradativamente, ganhar maturidade. Para que as pessoas  

gradativamente construam um vínculo entre elas e com o grupo  

(PINHEIRO DA SILVA 2015, p.78)

Alguns receios e medos podem surgir. O psicoterapeuta pode se fazer uma série de  questionamentos. Será que o assunto vai fluir? O que fazer para quebrar o gelo?  Vou dar conta? Cada psicólogo vive esse momento da sua maneira. Para alguns  funciona se planejar de alguma forma para a sessão e pensar na possibilidade de  introduzir algum experimento que promova interação ou podem escolher não  planejar nada específico. Acredito que cada grupo é de uma forma e cada  psicoterapeuta tem um jeito próprio.

Como um caminho interessante penso na importância de estar disponível ao que vai  surgir no campo e ter em mente algumas ferramentas que possam ser utilizadas  caso haja necessidade. Mas nada disso fará sentido se não houver escuta  interessada e a postura acolhedora por parte dos psicoterapeutas. Portanto não  adianta utilizar dos mesmos experimentos, das mesmas propostas para todos os  grupos. Cada grupo é único e nesse primeiro momento conhecemos pouco de cada  pessoa. Todos chegaram ali, pois estão passando por algo em suas vidas e buscam

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auxílio, muitos nunca viveram a experiência de estar em um processo  psicoterapêutico.

Pinheiro da Silva (2015, p.78) pontua que nesse período inicial normalmente ainda  não existe uma vinculação sólida entre os clientes e entre cliente e terapeuta, assim  como não há uma vinculação com o local e com aquele espaço da psicoterapia.  Torna-se imprescindível, nesse primeiro momento, checar com os clientes como  eles estão se sentindo naquele espaço, observar suas falas, postura corporal, os  lugares que escolheram sentar, os movimentos, tom de voz, aparência. À medida  que a sessão vai fluindo, pode-se sugerir experimentos que promovam interação.

EXPERIMENTOS  

Polster e Polster (2001, p.237-238) colocam que as pessoas se acomodam em uma  atitude de “falar sobre” para solucionar problemas, porém padrões são repetidos,  com modos costumeiros de abordar esses problemas, sufocando a inovação e  improvisação indutiva. A Gestalt-terapia tenta recuperar a conexão entre o “falar  sobre” e a ação. O experimento é uma tentativa te trazer o indivíduo para ação, pois  por meio do experimento o indivíduo é mobilizado para confrontar as emergências  de sua vida. 

Dentro dessa mesma perspectiva, para Zinker (2007, p.141-142): 

O experimento é a pedra angular do aprendizado, ele transforma o  

falar em fazer, as recordações estéreis e as teorizações em estar  

plenamente presente aqui, com a totalidade da imaginação, da  

energia e da excitação [...]

Os experimentos podem envolver cada uma das esferas de  

funcionamento humano. Contudo, a maioria deles tem uma qualidade  em comum: pedem que ao cliente que expresse alguma coisa  

comportamentalmente, em vez de apenas passar por uma  

experiência cognitiva interior.

Algo importante a pontuar é que existe uma série de experimentos e, por  insegurança nesse início, o psicólogo pode acabar utilizando essa ferramenta  mesmo sem ter uma conexão real com o que está emergindo no campo. Porém, o  experimento só vai fazer sentido se ele estiver ao encontro com o que está surgindo  no momento, se tem a ver com o tema que está sendo trazido.

É importante que se explique os experimentos e que fique claro para os  participantes a proposta, muitos não conhecem nem mesmo alguns jargões e  palavras utilizadas por nós psicólogos. Também é necessário respeitar e entender que ainda não existe um grau tão grande de intimidade para que se proponha  experimentos mais profundos nesse início.  

Nesse primeiro momento, onde o grupo ainda não está totalmente estruturado e  ainda está se conhecendo, busca-se estimular a participação de uma forma mais  ativa, que ajude a quebrar aquele gelo inicial, possibilitando que eles se exponham

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de uma forma mais espontânea e gradual. O psicólogo vai auxiliar o cliente a  executar o experimento no nível que ele está pronto para trabalhar.  

Como pode o terapeuta saber que a relação está sendo construída?  

É uma avaliação intuitiva que deve ser feita. Em um sentido maior, é  

a culminação e a integração de numerosos momentos de interações  

em direção a uma experiência global. Em última instância, é uma  

compreensão de ambos os parceiros na terapia de que há um  

profundo entendimento compartilhado. É o compartilhar “de dentro”

de cada um com o outro. Uma vez que a relação esteja estabelecida  

e aprofundada, as possibilidades na terapia são virtualmente infinitas.  Com uma sólida relação estabelecida, o clínico pode correr grandes  

riscos na terapia. Ele pode explorar áreas excessivamente  

vulneráveis, em relação às quais, até então, o cliente poderia estar  

muito resistente a exploração. Hycner (1995, p.124).

Quando alguns temas são trazidos precocemente, isto pode influenciar na  permanência dos integrantes do grupo, podendo haver saídas por vergonha de ter  se exposto demais, antes de sentir à vontade. É interessante refletir que esse é o  início, portanto pode-se optar por não trabalhar determinado tema naquele  momento. Temas importantes tendem a ressurgir e terão oportunidade de ser  cuidados quando o grupo já estiver mais solidificado.

Para o terapeuta tudo o que é apresentado é novo, e ele se põe  

atento e curioso, pois é justamente essa curiosidade, esses olhos e  

ouvidos atentos que incentivam esse viajante. Instala-se uma fase de  

discriminação: coisas de pronto uso, outras a serem reformadas,  

outras de valor ainda incerto a serem guardadas para exame  

posterior, outras para serem recicladas ou jogadas fora. (JULIANO,  

1999, p.22)  

Existem alguns experimentos simples para esse momento inicial: pode-se pedir para  que a pessoa escolha um objeto que a represente, ou faça um desenho, pense em  uma música, recite uma poesia. Escreva ou represente suas expectativas em  relação ao processo psicoterapêutico. Pode-se pedir também que eles se dividam  em duplas e falem sobre como é estar ali, sobre o que os levaram àquele espaço e  elaborem algo para apresentar ao grupo. Ideias simples, mas que possibilitem a  interação e uma forma mais criativa de se expor ao grupo. Os clientes vão  entendendo como funciona a psicoterapia, vão se sentindo mais à vontade para  trazer suas questões, contar suas histórias e dividir suas queixas. Vão aprendendo a  se colocar, a falar o que sentem diante do outro.

Essas intervenções mais estruturadas, podem facilitar muito o caminho para os  membros do grupo, já que podem ajudar a organizar suas formas de estar, definir  diretrizes de ação em um momento em que essas pessoas ainda não estão seguras  o suficiente para elas mesmas inventarem suas condutas (PINHEIRO DA SILVA,  2015, p.78)  

No grupo que me baseio para escrever esse trabalho, experimentos eram  inicialmente difíceis para um dos integrantes, ele tinha vergonha e medo de errar,  percebemos que experimentos mais lúdicos e simples, como desenhos, músicas

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eram melhor recebidos. Isso gerou um efeito importante, foi valioso. No final da  sessão que experimentamos a expressão através da música todos estavam  cantando e interagindo. Gerando uma conexão e leveza. Ao longo dos  atendimentos, foi ficando mais fácil e percebi uma evolução absurda em relação à compreensão, contato e raciocínio desse cliente.

A presença do psicoterapeuta  

Esse início exige uma presença forte dos psicoterapeutas que estão conduzindo o  grupo. A presença forte significa que, nesse momento, é necessário estar ainda  mais atento, intervindo, dando constante suporte aos clientes, pois o psicoterapeuta  nesse momento é a maior referência para o grupo. A postura acolhedora é um outro  fator importante, pois facilita que de alguma forma os clientes se sintam mais  confortáveis.  

Juliano (1999, p.26) menciona que a principal característica do terapeuta para  executar bem o seu trabalho é a qualidade de sua presença: uma atitude  descontraída e atenta, inteira, disponível, energizada. Ficando com o fenômeno tal  qual ele se apresenta, tal qual ele é.

Dando continuidade a esse ponto de vista, Juliano (1999, p.26-27) também enfatiza  que a atenção do terapeuta fica centrada não apenas no conteúdo do que é  relatado, mas principalmente, sobre “como o cliente narra” [...] A escuta interessada  do terapeuta é curativa por si só, uma vez que consegue, por espelhamento, fazer  emergir o interesse da pessoa por si mesma.

O psicoterapeuta ou os psicoterapeutas darão esse tom inicial e a forma que eles se  relacionam com o grupo influencia na maneira que o grupo vai lidar com esse  momento. Por isso ter uma postura cuidadosa, que respeita o movimento dos  clientes, suas falas, acolhe as demandas de forma atenta, presente e generosa  poderá criar uma atmosfera mais convidativa para que sigam caminhos parecidos.  (PINHEIRO DA SILVA, 2015, p.77)

Quando se refere à presença, cabe lembrar que o psicólogo que se apoia na  Gestalt-terapia também traz um pouco de si. Trata-se de uma abordagem que não  busca a neutralidade total. O Psicólogo pode ser honesto em relação ao que sente e  como o cliente o afeta, podendo compartilhar sentimentos gerados quando julga  necessário e importante, além de comunicar observações sobre o cliente.  

Sem assumir a posição nem a frente e nem acima, como faz o  

maestro, porém ao lado, o gestalt-terapeuta fica atento às  

individualidades que se encontram dentro do grupo. Cada pessoa  

chegará trazendo seu tom, seu ritmo, suas repetições e instrumentos  

desafinados. Até que a orquestra se afine, leva tempo, requer  

disposição e comprometimento de todos. (D´AVILA, 2015, p.10)

Nesse período o psicoterapeuta revelará seu jeito e sua forma de condução, esse  tom refletirá muito em como o grupo vai reagir dali para frente, lembrando, que todo  grupo possui uma forma própria de atuar no contexto da psicoterapia e a forma que

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os psicoterapeutas conduzem o grupo, principalmente nesse início tem grande  impacto.

Pinheiro da Silva (2015, p.77) cita que se uma pessoa tem a agressividade como  uma característica forte terá naturalmente a forma de se expressar mais agressiva,  por mais que esteja frente a uma pessoa de postura mais suave que expresse  menos agressividade.  

Trazendo para minha experiência, nossas posturas sempre foram atenciosas e  cuidadosas, utilizamos um tom leve e humorado, os tratando com proximidade. A  maioria dos integrantes eram mais cuidadosos na hora de falar ou abordar algum  tema. Traziam também assuntos sérios e profundos com cuidado e, desde o início  demostravam leveza e bom humor.

Apesar disso, um dos clientes tinha em sua postura uma forma bem direta e em  alguns momentos não muito cuidadosa na hora de abordar alguns temas. Por mais  que nossa postura enquanto psicólogos do grupo fosse de um estilo diferente, esse  cliente tinha seu estilo próprio de funcionar no mundo. É natural cada pessoa ter  uma forma de se relacionar e de se colocar. Essas diferenças trazem riqueza ao  grupo e muitos temas para trabalhar.  

Nas sessões iniciais, os clientes ainda não sabem como fazer terapia  

de grupo. Como o estar trocando com um grupo pode gerar  

transformações em sua forma de lidar com o mundo no ambiente  

externo ao grupo. Nesta fase os membros do grupo estão ávidos  

para entender o que devem fazer ali para desenvolver seus  

processos terapêuticos. (PINHEIRO DA SILVA, 2015 p.78)

O processo de mudança de comportamento não é simples. Nem sempre será fácil  para o cliente falar sobre o que incomoda na postura do outro, ainda mais quando  ainda não existe um vínculo forte. É nesse período que mostramos ainda mais a  responsabilidade de cada integrante do grupo rumo a sua mudança. Não será algo  imediato, mas sim construído, aprendido, que demandara esforço e participação.

A psicoterapia não tem necessariamente que ver com a cura, mas  

sim com a mudança, a qual pode levar a cura. Mudar significa  

ressignificar coisas, pessoas e, sobretudo, a própria existência. Não  

é um ato de vontade apenas, é um ato integrado, envolvendo a  

pessoa, na sua relação com o mundo como uma totalidade  

consciente (RIBEIRO, 2017, p.35)

No início dos atendimentos do grupo no qual baseio essa experiência, quando algum  tema era trazido por um dos componentes os outros ficavam calados ouvindo. Nós  psicoterapeutas, precisávamos estimular de forma mais ativa essa participação.  Muitas vezes é preciso convidar os clientes a falar como se sentiu, checar o que a  fala do outro gerou, o que aquele tema abordado o fez refletir. Essa postura do  psicólogo é importante para que o diálogo e o que está sendo vivido ali flua de  maneira natural, e para que de fato se trabalhe os temas em grupo com  aprofundamento. Essa postura auxilia que não seja uma psicoterapia individual em  grupo, mas que de fato seja uma psicoterapia de grupo.

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Hycner discorrendo sobre os ensinamentos de Martin Buber, cita:

Há o monólogo disfarçado de diálogo, quando dois ou mais  

indivíduos, encontram-se em algum lugar, falam cada qual consigo  

mesmo de formas singularmente tortuosas e em circunlóquios e  

ainda assim imaginam que escaparam do tormento de estarem  

limitados a seus próprios recursos. (Buber, 1965a, p.19 apud Hycner  

1995, p.69)

Muito do que se considera diálogo é frequentemente uma forma sútil, e às vezes  nem tanto, de monólogo. A pessoa está falando consigo mesma na presença de  outros, criando a ilusão de que está realmente falando com os outros e interessada  neles. (Hycner 1995, p.69)

Com o passar do tempo o psicólogo não vai mais precisar estar sempre chamando  os integrantes do grupo para participar. Com vínculos mais sólidos e ao decorrer dos  atendimentos os clientes naturalmente vão “aprendendo” como funciona a  psicoterapia, estando mais atentos, conectados e disponíveis com o que está sendo  vivido. Percebendo sentimentos e sensações geradas e tendo maior segurança para  compartilhar opiniões e percepções, constituindo relações genuínas.

É importante lembrar que nem toda sessão será muito profunda e com temas  intensos. Se torna importante também ter momentos de leveza. Nesses momentos  também aparecem muitos materiais, o importante é não se engessar, usar da  criatividade e estar ali presente e disponível. Lembro que o grupo que atendia tinha  muita energia, as pessoas “de fora” ficavam curiosas para saber o que rolava ali. As  supervisões eram muito interessantes e animadas. Isso fala também do nosso estilo  enquanto psicoterapeutas, saber caminhar e dançar entre os momentos e nuances  que a clínica apresenta.

Aprender está relacionado a uma mobilização grande, levando a níveis elevados de awareness e de auto atualização. Yontef (1998, p.30-31) explica:

Awareness é uma forma de experiência que pode ser definida  

aproximadamente como estar em contato com a própria existência,  

com aquilo que é. O objetivo da Gestalt Terapia é o continuum da  

awareness, a formação continuada e livre de Gestalt, onde aquilo  

que for o principal interesse e ocupação do organismo, do  

relacionamento, do grupo ou da sociedade se torne Gestalt, que  

venha para o primeiro plano , e que possa ser integralmente  

experenciado e lidado (reconhecido, trabalhado, selecionado,  

mudado ou jogado fora). (YONTEF,1998, p.30-31)

Deve-se ter em mente que formas rígidas e autoritárias não permitem que o cliente  viva o processo psicoterapêutico de forma plena e criativa. A ideia é que o  psicoterapeuta seja um instrumento que facilite o amadurecimento, a mobilização da  energia e a tomada de consciência.

Zinker (2007, p.186) afirma que “para promover a awareness do grupo, bem como a  excitação e o contato, os líderes gestálticos cuidam de comunicar aos participantes  suas regras básicas essenciais. Alguns escolhem comunicar essas regras no

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começo, enquanto outros introduzem à medida que apareça apropriado, dentro do  processo grupal”. Algumas delas são:  

Que o cliente assuma a autoria de sua fala e de seus  

comportamentos. Se você quer dizer, “eu” em vez de “você” ou a  

“gente”. [..]

Dê prioridade ao que está experenciando aqui e agora. Compartilhe  

sentimentos, pensamentos e sensações presentes. [..]

Preste atenção na maneira como ouve os outros. “Você está ouvindo  

essa pessoa que fala ou está distante, só esperando o momento de  

entrar em cena? [...]

Faça um esforço para falar diretamente com a outra pessoa.

Ouça o que a outra pessoa está sentindo e valide essas vivências –

Evite também buscar as causas dos atuais sentimentos da outra  

pessoa, dizendo por exemplo: você está ansiosa porque...” [...]

Respeite o espaço psicológico dos outros, da mesma forma como  

quer que respeitem o seu. Se alguém está retraído ou deprimido,  

respeite o desejo dessa pessoa ser deixada em “paz” por um tempo.  

Embora incentivemos a pessoa a mudar, não as coagimos a adotar  

novos comportamentos. [...] (ZINKER, 2007, p.186)

As observações do autor citadas acima é uma proposta de possíveis caminhos e  manejo do grupo que o psicoterapeuta pode utilizar para estimular o contato entre os  sujeitos e não apenas a interação sem maior profundidade, proporcionando o  encontro e a oportunidade de aprendizado, amadurecimento e mudança através da  experiência relacional.

O processo de crescimento e expansão da consciência é, em parte  

autônomo. Sob essa luz, vemos que cabe ao psicoterapeuta e ao  

cliente aprender a dar passagem, a compreender e cooperar com  

esse processo. Esse terapeuta precisa fundamentalmente ser um  

homem de fé. Fé na possibilidade de crescimento inerente ao  

homem, fé na possibilidade de autogestão psicológica, fé na  

existência de um centro norteador, organizador do psiquismo.  

(JULIANO, 1999, p.21)

CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Começar um atendimento psicoterapêutico é desafiador, lidamos com o ser humano  e com toda a sua subjetividade. Estamos diante de diversos fenômenos e  peculiaridades. O ambiente terapêutico é por si relacional, na psicoterapia individual  ou na psicoterapia de grupo. Se trata de um contato real e verdadeiro com o outro,  que deposita em nós psicoterapeutas sua confiança e compartilha suas histórias.  São muitos os desafios. Não é possível sair dessa experiência da mesma forma que  entrou. Com certeza se trata de algo transformador.

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Diante do novo, buscamos a teoria, estudar, ler, praticar entre colegas, mas é a  experiência a cereja do bolo. A vivência dos atendimentos que dá a liga e que torna  tudo mais especial. Para que se consiga lidar de forma positiva com essa prática, é  imprescindível se preparar tecnicamente e teoricamente, entendendo, que ser  psicólogo de grupo vai além das técnicas.

O início é a base de tudo, é onde plantamos as sementes, tudo é novo. No caso de  quem está iniciando os atendimentos de grupo é uma experiência nunca antes  vivida. Portanto ter um norteador de como se organizar e estruturar os atendimentos  para que aconteçam de forma positiva, é essencial. Os clientes ainda não têm o  vínculo formado e isso demanda ainda mais do psicólogo que conduz o grupo,  sendo ele o principal responsável e o suporte para os clientes e para as relações  que estão se constituindo.  

Estamos diante de um grupo de pessoas que estão em um contexto que proporciona  experimentar novas maneiras, novas formas de se relacionar e de se perceber  nessas relações e no mundo. Tive a oportunidade através desse estudo, de reviver  meu processo de formação quanto psicoterapeuta de grupo. Revisitei todos os  momentos e fases que precisei passar para conseguir realizar o atendimento de  forma positiva e estruturada. Descrevi pontos importantes do período de  organização, até o início dos atendimentos.

Me propus escrever sobre aspectos que me chamaram atenção e sobre o que foi  importante olhar e cuidar durante todo esse processo, como o contrato terapêutico e  seu papel fundamental para se criar diretrizes, resguardando o psicólogo e criando  solidez no encontro. Cada fase passada foi comemorada, foram muitas tentativas e  alguns erros. A escolha por um atendimento em coterapia foi uma grata surpresa e  trouxe benefícios para os atendimentos e para minha experiência, com a  possibilidade de expansão de olhar e exposição de outros pontos de vistas, abordei  sobre a importância de cuidar dessa relação e de ter consciência na hora de  escolher por atender sozinho ou com uma outra pessoa.  

Tive a oportunidade de ser mais criativa, a observar mais, estar atenta a mim e as  minhas percepções e sensações, podendo compartilhá-las. Aprendi com essa  vivência a trabalhar ainda mais a humildade. Humildade em ouvir os meus  orientadores e no contato com os clientes. Abordei aqui a importância do cuidado e  de utilizar de experimentos que fazem sentido para o momento inicial do  atendimento psicológico de grupo, pois muitos clientes ainda não estão prontos para  viver algumas experiências. Por isso, destaquei nesse trabalho a importância da  presença do psicoterapeuta.

Através da experiência de atendimento de grupo foi possível concluir que ser um  psicoterapeuta de grupo em Gestalt-terapia é um desafio e demanda que se  reinvente a todo instante, se questione e que esteja atento a não ficar na zona de  conforto. É ser instrumento para que as interações aconteçam, é abrir espaço,  facilitando a tomada de consciência e a busca por uma vida emocional mais  saudável.

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É preciso se planejar, olhar para a sua clínica e estruturá-la. A pressa pode revelar  futuramente descuido de aspectos importantes para um bom trabalho. É necessário  reconhecer os caminhos que fazem sentido, estando consciente da responsabilidade  que se tem ao conduzir um grupo, portanto somente um psicólogo atento, em  constante processo de atualização, poderá efetivamente realizar esse trabalho.

Esse estudo não tem a pretensão, de encerrar o assunto, mas visa promover  reflexões e direções para aqueles profissionais que se interessam pelo atendimento  psicológico de grupo, uma modalidade de atendimento repleta de possibilidades,  onde pessoas podem ser tocadas e transformadas.

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Submetido em: 19/03/2020

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