ARTIGO

IGT na Pandemia da COVID-19: Apoio psicológico on-line em grupos abertos

IGT in the COVID-19 Pandemic: On-line psychologic support in open groups

 

Midiam Rodrigues Tavares Alves1; Mônica Pecegueiro do Amaral2; Clélia Auxiliadora de Oliveira Lima Bastos3; Renata Gonçalves de Britto4; Gabriela de Sena Camodego5; Dilean Freire Campos Ducharme6; Ana Maya Szuchmacher El Mann7; Daniela Nogueira de Moraes8; Peggy Liz Mendes de Moraes9; Danielle Marques da Silva10; Marcelo Pinheiro da Silva11

IGT – Instituto de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar – Rio de Janeiro – RJ.

Endereço para correspondência

 


RESUMO

O presente artigo tem como objetivo apresentar o Projeto IGT com Você: Acolhimento na Rede, trabalho desenvolvido a partir do IGT – Instituto de Gestalt-Terapia e Atendimento Familiar durante a pandemia COVID-19. Para o atendimento à comunidade o modelo selecionado foi o de grupos abertos com a intenção de fornecer apoio psicológico, bem como tratar das necessidades focais à primeira vista ligadas ao momento de isolamento social. A partir do dia 30 de abril tivemos nosso primeiro acolhimento e no dia 04 de maio realizamos nosso primeiro encontro de grupo. Nossa base teórica foi a Gestalt-terapia e desenvolvemos práticas de atuação "on-line". O modelo de equipe reflexiva possibilitou a ampliação das vivências. O projeto proporcionou a mudança nos participantes, desde sua chegada em um momento de crise, até seus ajustamentos. Posteriormente disponibilizamos uma pesquisa de satisfação para os participantes a fim de avaliar nosso trabalho e que confirmou o poder de transformação do projeto na vida de todos os envolvidos.

Palavras-Chaves: Pandemia Covid-19; Grupos Abertos; Atendimento on-line; Gestalt-Terapia; Equipe Reflexiva.


ABSTRACT

This article aims to present the IGT Project with You: Welcoming on the Net, a work developed from IGT - Institute of Gestalt-Therapy and Family Care during the COVID-19 pandemic. For the service to the community, the selected model was that of open groups with the intention of providing psychological support, as well as addressing focal needs at first sight linked to the moment of social isolation. From April 30th we had our first reception and on May 4th we held our first group meeting. Our theoretical basis was Gestalt-therapy and we developed online practices. The reflective team model enabled the expansion of experiences. The project provided the change in the participants, from their arrival in a time of crisis, to their adjustments. Subsequently, we made a satisfaction survey available to the participants in order to evaluate our work, which confirmed the power of transforming it in the lives of all those involved.

Keywords: Covid-19 Pandemic; Open Groups; Online service; Gestalt-Therapy; Reflexive Team.

 

INTRODUÇÃO

Em um momento de pandemia, medidas precisam ser tomadas e seguidas em conjunto para que sejam eficazes e evitar a propagação do vírus. Uma dessas medidas é o isolamento, e se torna fundamental a colaboração da população. Considerando esse cenário como um todo e utilizando os recursos disponíveis, o IGT - Instituto de Gestalt Terapia e Atendimento Familiar, fez um chamado aos alunos e ex-alunos para que se juntassem e compartilhassem suas experiências no momento de pandemia. Então surgiu a ideia da elaboração e execução de um projeto voluntário de atendimento em grupo aberto para pessoas que necessitassem de apoio emocional. O modelo de trabalho escolhido foi de grupo para atender a uma quantidade maior de pessoas, e o modelo on-line devido ao isolamento.

Esse artigo se justifica pela importância em deixar registrado um trabalho inédito realizado pelo IGT e apresentar uma nova metodologia com grupos temáticos abertos na virtualidade. A escrita do artigo pôde ser realizada a partir do convite feito aos psicólogos voluntários para relatarem suas experiências ao longo de todo o projeto. Os capítulos que se seguem trazem pontos sobre o surgimento do projeto no contexto de pandemia. O desenvolvimento da metodologia que partiu do atendimento em grupo aberto com formato de equipe reflexiva foi posteriormente modificado com a inserção de novas funções, em decorrência dos conhecimentos adquiridos a partir das experiências dos voluntários e dos participantes. Ao final apresentamos como resultados, através da pesquisa de satisfação, o quanto este trabalho significou na vida de todos que nele estiveram envolvidos.

 

CENÁRIO MUNDIAL DE PANDEMIA DA COVID-19

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (2020), "pandemia é a disseminação mundial de uma doença e o termo passa a ser usado quando uma epidemia, um surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa." A OMS dentro dessa avaliação considera também o fator rapidez de disseminação como relevante para avaliar a gravidade da pandemia. O principal meio de disseminação de doenças pandêmicas são as redes humanas pela inalação de ar ou gotículas com a presença do vírus, tocando a boca, o nariz, os olhos após ter contato com superfícies contaminadas. (OPAS, 2020)

Em dezembro de 2019 a Organização Mundial de Saúde (OMS) notificou oficialmente ao mundo o primeiro caso de COVID-19 na China. No mês de março de 2020 notificou a pandemia. As características de confusão e imprevisibilidade de uma pandemia determinam situações de alarme e medo na população, que podem trazer dificuldades no gerenciamento do poder público e no controle social. Esse cenário afeta diretamente a saúde mental e emocional das pessoas, gerando muito estresse, ansiedade, medo de catástrofes, da própria morte, luto de parentes e amigos, insegurança com relação ao futuro, solidão, depressão, compulsões e agravamento de desequilíbrios mentais pré-existentes. A superlotação do sistema de saúde, grandes preocupações quanto a manutenção das rotinas, separação de famílias e amigos com o isolamento social da quarentena, inicialmente a possível escassez de alimentos, o que não foi confirmado ao longo da pandemia, além da perda de salários e empregos, fechamento de instituições de ensino e áreas de lazer. 

Em 26 de fevereiro de 2020 tomamos conhecimento do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, teria sido um paciente vindo da Itália. Logo após, a situação mundial já se encontrava em estado de emergência e a OMS em 11 de março de 2020 decreta pandemia, reconhecendo o alargamento da escala da contaminação. No Brasil, seguindo os critérios da OMS, em 13 de março de 2020 o Ministério da Saúde define critérios de isolamento para pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19. No mesmo dia o Rio de Janeiro decreta situação de emergência e suspende por 15 dias as atividades com presença de público nas esferas privada e pública e em 17 de março de 2020 é notificada a primeira morte no Brasil (Agência Brasil, 2020).

A partir dessa data se instala o isolamento social, momento em que a ampla maioria das categorias de trabalho foram afetadas e tiveram que alterar sua rotina, onde Psicólogos (as) através do Conselho Federal de Psicologia (CFP), seguiram as orientações para atuação em momentos de crise em consonância com as medidas governamentais e de prevenção da OMS (CFP, 2020). Esse novo cenário mundial levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a soar um alarme para o mundo sobre a necessidade de uma abordagem integral nos cuidados com a saúde da população mundial, para evitar um caos nessa área e o adoecimento em massa, considerando o estado emocional como um agravante do quadro (OPA, 2020).

Com intuito de promover bem-estar emocional das pessoas em suas casas, cuidando da saúde mental e evitando a violência doméstica, criaram-se iniciativas de organizações voluntárias e grupos que, atendendo a um chamado do código de ética profissional da Psicologia iniciaram trabalhos de assistência e promoção da saúde psíquica e emocional para todos aqueles que necessitavam de ajuda ao longo do decorrer da pandemia da COVID-19.

O isolamento forçado e a quarentena podem representar uma ameaça psicológica e emocional muito grande para algumas pessoas, necessitando de apoio emocional e orientação. Sendo assim, fatores psicológicos desempenham papel essencial no sucesso ou fracasso de cada um dos métodos de controle da pandemia, sob o aspecto de seu gerenciamento social.

 

PANDEMIA E ATENDIMENTO PSICOLÓGICO: E AGORA?

Durante a escrita do artigo, no dia 02 outubro de 2020 tivemos a atualização dos dados da pandemia em relação ao número de contaminações e óbitos: 34.161.72 casos de contaminação, e 1.016.986 óbitos e milhares lutando pela sobrevivência nos leitos dos hospitais de acordo com dados retirados do portal da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS, 2020).

Uma boa saúde mental tem relação com o equilíbrio na forma como interagimos e nos conectamos com os outros. As pessoas experienciam diferentemente situações da vida e isso influenciará na forma como elas aprendem, trabalham, e experimentam a felicidade, dor e sofrimento em suas vidas. Baseado nisso, irão se regular de maneira única nesse momento de crise.

A definição de saúde mental de acordo com a OMS (2019):

"é um estado de bem-estar mental no qual as pessoas lidam bem com os muitos estresses da vida, podem realizar seu próprio potencial, podem funcionar de forma produtiva e frutífera e são capazes de contribuir para suas comunidades" (OPAS-BRASIL, 2014).

O ser humano necessita manter a homeostase intrapsíquica para manter a sensação de bem-estar e para se sentir em equilíbrio, ou melhor, para que seja feita a auto-regulação organísmica, com a existência de uma estabilidade entre os recursos internos (dados emocionais, mentais e sensoriais) e recursos externos. De acordo com Kurt Goldstein, "a auto-regulação é um processo constante de atualização do organismo no sentido de auto-realização, sendo feito sempre através do contato com o meio externo" (RIBEIRO, J.P., 1985). Esse processo leva a um "ajustamento criativo", ou seja, a reorganização do organismo às novas experiências. Corroborando a ideia de Kurt, Yontef destaca: "A auto-regulação organísmica baseia-se na assimilação, em vez de introjetar ou rejeitar, sem consciência suficiente para desenvolver ‘awareness'" (YONTEF, G.M, 1998). A criatividade é o atributo que o organismo possui para ajustar-se ao novo, habilidade para selecionar o que é funcional e pertinente, e rejeitar o que é irrelevante e nocivo.

O momento de Pandemia é naturalmente considerado de adoecimento por exigir uma capacidade extra de ajustamento criativo, pois o meio externo apresenta cenários muito diferentes, frustrantes, confusos, inseguros e imprecisos. Segundo Zinker (2001) a rigidez do indivíduo no ajustamento criativo é justamente o que gera a necessidade de atenção à saúde emocional, levando a bloqueios no ciclo de contato com o meio e consequentemente ao aprisionamento e estereotipia nas respostas ao meio na busca de satisfação das necessidades.

Reações psicológicas e emocionais podem influenciar o sistema imunológico, sendo este diretamente afetado pela infecção da COVID-19. Alguns sintomas físicos como falta de ar, sudorese, dores musculares, produzidos por reações emocionais como ansiedade, foram confundidos com sintomas do vírus.

"Décadas de pesquisa no campo da psiconeuroimunologia têm mostrado que emoções negativas e eventos de vida estressantes podem levar a algum grau de supressão do sistema imunológico, aumentando assim a suscetibilidade à infecção e atenuação dos efeitos benéficos de vacinas" (IRWIN & SLAVICH, 2017; KIECOLT-GLASER, 2009, citado por TAYLOR 2019).

Segundo Gesmar Rodrigues Silva segundo, alergista e imunologista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) existe uma interação complexa entre o sistema imunológico e as emoções, e que não existe nenhuma pesquisa conclusiva que afirme essa interação, mas assegura que o estresse, a ansiedade e a depressão andam em conjunto e os pacientes estariam sujeitos a uma regulação inadequada do sistema imunológico, trazendo consequências para a pessoa.

Visando esse cuidado integral, a Psicologia proporciona um olhar atento para a relação e para a forma como as pessoas podem se desenvolver diante deuma crise que faz parte de todo o processo de desenvolvimento humano. A Gestalt-Terapia é uma abordagem que privilegia o contato seja ele por qual via for, de forma que seja possível uma troca verdadeira de experiências. Muitos psicólogos não consideravam que o atendimento on-line fosse uma possibilidade válida, devido a estarem acostumados com o modelo tradicional de atendimento presencial, entretanto o IGT já vinha desenvolvendo esse trabalho desde de 2017 e foi a partir dessa estrutura que foi possível concretizar o projeto "IGT com você: Acolhimento na Rede". Vamos olhar um pouco mais agora como foi nossa construção.

 

CONSTRUÇÃO E PRÁTICA: IGT COM VOCÊ EM GRUPOS ABERTOS NA VIRTUALIDADE

O projeto "IGT com Você: Acolhimento na Rede" foi constituído a partir de um cenário mundial extremo que é a pandemia da COVID-19. Frente a esse panorama, o IGT promoveu em 11 de abril, um encontro on-line de alunos e ex-alunos, com ointuito de entender como os psicólogos estavam vivenciando esse momento em suas vidas pessoal e profissional. A ideia de promover um espaço de escuta e acolhimento aos profissionais ligados ao IGT evoluiu para a formação de um grupo de psicólogos que se organizaram e se disponibilizaram de forma voluntária para acolher a população nesse momento de crise com o suporte do instituto. Como está previsto no código de ética profissional do psicólogo:

"II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qua­lidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão" (CFP, 2005, p. 7).

DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO

"Art. 1 d) Prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência, sem visar benefício pessoal"  (CFP, 2005, p. 8).

A Gestalt-Terapia é uma abordagem que acredita no ser integral e em suas potencialidades. Desta forma ela auxilia no crescimento humano e na construção de si mesmo e no contato com o outro. O contato constante entre a pessoa e seu ambiente proporciona, no aqui e agora que sejam atualizadas suas necessidades e que o organismo possa se autorregular. O terapeuta em sua função será um facilitador de processo de "awareness", ou seja, auxiliando para que o cliente se perceba em relação a forma como interage com seu mundo (BRAZ, L. J et al, 2017). A partir desse referencial teórico podemos destacar o poder de transformação do atendimento em grupo com equipe reflexiva.

Yountef (1998) destaca que "Do ponto de vista da Gestalt-terapia, tudo é processo – tudo está se movendo e transformando". Diante dessa premissa, desde a sua concepção os profissionais foram participantes ativos, incentivados a apresentar suas percepções e sugestões quanto ao trabalho em questão de melhoria nos processos com base em experiências anteriores ou mesmo no próprio curso realizado no IGT.

No dia 25 de abril de 2020 foi dado início à estruturação do projeto. Algumas questões foram necessárias serem respondidas como norteadoras do trabalho: nome, composição da equipe, formas de ingressar no projeto seja como psicólogos voluntários ou participantes, assim como a metodologia e a operacionalidade do projeto. Outras questões foram surgindo durante a atuação e o desenvolvimento, e foram precisos muitos ajustes para exercer o trabalho.

A criação do nome do projeto deveria ter como direção destacar o acolhimento oferecido pelo IGT assim como seu caráter virtual. Projeto "IGT com você: Acolhimento na Rede", contemplou esses dois aspectos para sua divulgação. Visando o atendimento de grupo em modelo de equipe reflexiva através da abordagem da Gestalt-Terapia, um critério de seleção da equipe foi convidar alunos e ex-alunos do instituto por terem esses conhecimentos prévios de atuação necessários para exercerem o trabalho.

A base metodológica do projeto partiu da teoria e da prática da Gestalt-Terapia. Foram considerados também o seu diálogo com a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) e a utilização de equipes reflexivas como método de trabalho nos grupos de encontro. A equipe reflexiva é um procedimento criado pelo psiquiatra norueguês Tom Andersen e utilizado no atendimento a famílias no IGT. Ele requer uma equipe de atendimento subdividida em duas: uma parte da equipe interage diretamente com o grupo, conduzindo a sessão, e a outra parte observa, fora da interação direta. A primeira é chamada de equipe de campo e a segunda de equipe reflexiva. No decorrer da sessão, em um momento julgado adequado pela equipe de campo, a equipe reflexiva é convidada a participar da sessão conversando entre si sobre o que observaram e o que chamou a atenção de cada um durante a sessão, enquanto todos os demais permanecem em silêncio. Ao final da conversa, a equipe reflexiva volta a se retirar e os participantes do grupo são convidados pela equipe de campo a conversarem sobre o que ouviram da equipe reflexiva, aprofundando ou tocando em novos temas.

"A Gestalt-Terapia valoriza, de forma marcante, a possibilidade de diversidade, a busca das potencialidades singulares do indivíduo. Dentro deste contexto, é natural e esperado, a presença de terapeutas com estilos diferentes sob esta mesma classificação, isto se dá de acordo com as características de personalidade e também do momento de vida dos terapeutas. Claro que desde que certos pressupostos filosóficos não sejam contrariados" (PINHEIRO, 2005, p. 5).

Complementamos também que:

"Ao propor uma dinâmica de aquecimento sentimos a satisfação dos participantes por terem suas opiniões e conhecimentos validados pelo grupo. No fechamento das atividades o equilíbrio dado pela roda, através de uma dinâmica, fortalece todo processo ocorrido do início ao final da atividade. Diante das observações participativas se pode constatar que o desenvolvimento das rodas de TCI corroboram as similaridades descritas anteriormente, deixando claro que a Gestalt-terapia pode contribuir para um melhor empoderamento de crescimento pessoal, resiliência e ressignificação de vida, tanto individual como coletiva através da autorregulação, do ajustamento criativo, da responsabilidade, do aqui e agora, e da teoria paradoxal da mudança. São conceitos que podem reforçar a prática da TCI" (SANTOS et al, 2020, p.6).

Pode-se dizer que o atendimento em grupos abertos na modalidade on-line, com equipe reflexiva é uma experiência inédita em Gestalt-Terapia no Brasil e essa característica por si só representa um contexto rico de experimentação, com um amplo potencial de construção teórica.

Foram utilizados artigos das plataformas PePsic, Revista IGT na Rede, e também livros da área de Gestalt-Terapia como "A Busca da Elegância em Psicoterapia: Uma Abordagem Gestáltica com Casais, Famílias e Sistemas Íntimos escrito por Joseph C. Zinker e O Afeto e o Afetar em Relações de Grupo: Um olhar a partir da Gestalt-Terapia" escrito por Marcelo Pinheiro da Silva, entre outros. Esses referenciais serviram de base também para a análise dos resultados do projeto. Os dados apresentados neste artigo resultam de observação participativa dos psicólogos nas diversas etapas do projeto "IGT Com Você: Acolhimento na Rede" construindo assim, uma abordagem qualitativa.

No decorrer dos encontros foram incorporados à ideia e metodologia iniciais do projeto, as vivências dos psicólogos envolvidos na realização dos trabalhos propostos, considerando também as dificuldades e facilidades encontradas pelos participantes, que indiretamente também fizeram parte da construção.

Em face da realidade enfrentada do distanciamento social, o atendimento on-line foi considerado o único meio possível de dar suporte emocional para a população no momento da pandemia.

"Não há sentido em chorar sobre o leite derramado, nós precisamos desenvolver novas habilidades de contato... Os novos modos podem também permitir um bom contato se nos movermos para as direções que eles mostram" (POLSTER & POLSTER, 2001, p. 141).

Após a montagem do manual com as diretrizes de encaminhamento e formulários necessários à organização e normas que regem o atendimento e registro de clientes, foram abertas as inscrições. Posteriormente ao treinamento da equipe, inclusive quanto ao domínio da tecnologia a ser utilizada nos atendimentos on-line foi possível disponibilizar para os participantes um acolhimento inicial, no qual os plantonistas puderam atender de forma irrestrita todos aqueles que se inscreviam no projeto e indicar tanto para nossos grupos de atendimento quanto para a clínica social do IGT.

Inicialmente separamos os grupos de profissionais da saúde e do público chamado global, referente às pessoas que não eram da área da saúde. A escolha da equipe por essa configuração deu-se por acreditar que as demandas dos profissionais da saúde iriam se diferenciar por estarem esses na linha de frente do cuidado à população e mais expostos a COVID-19, além de enfrentarem intensas horas de trabalhos e muitos deles com falta de materiais de proteção necessários para o trabalho. Durante o projeto percebemos uma baixa adesão dos profissionais e então optamos por deixar os grupos mistos.

Após nossa equipe ser treinada em acolher e fazer os encaminhamentos necessários, assim como a definição dos dias e horários dos atendimentos de grupo, tivemos nosso primeiro acolhimento dia 30 de abril de 2020 e no dia 04 de maio de 2020 pudemos realizar nosso primeiro atendimento em grupo aberto.

As sessões de acolhimento em grupo eram realizadas em três etapas: pré-sessão, atendimento e pós-sessão, sendo que o atendimento em si também se configurava em três momentos, por envolver a participação de uma equipe reflexiva. Tanto na pré-sessão quanto na pós sessão eram discutidos aspectos que pudessem aperfeiçoar ou reforçar a proposta inicialmente traçada para o trabalho.

A escolha por trabalhar com grupos partiu da necessidade de se trabalhar com as pessoas sob uma perspectiva sistêmica, considerando o indivíduo e suas múltiplas relações, com o mundo e com as outras pessoas. Visualizamos o grupo como um suporte emocional no momento de crise e uma possibilidade de criação de uma sensação de pertencimento, considerando que a pandemia suscitava muitas emoções ligadas ao desamparo. No momento da pandemia somos influenciados pelo contexto que estamos vivendo de forma intensa, sendo assim, muitos aspectos da vida ficam sob uma "lente de aumento", evidenciando a importância dos relacionamentos entre as pessoas:

"Um fenômeno que frequentemente ocorre é o desenvolvimento de fortes vínculos afetivos, ou seja, a formação de um grupo de pertinência no qual os membros encontram um suporte emocional" (TELLEGEN, 1984, p. 81).

A modalidade de atendimento escolhida foi o grupo aberto, onde os participantes teriam a flexibilidade de estarem de acordo com suas necessidades emocionais no período de funcionamento do grupo. Não existindo um compromisso rígido de frequência e permanência, os participantes no momento inicial do acolhimento individual no projeto sabem e aceitam seu funcionamento dessa maneira, e têm seu encaminhamento para esta modalidade de atendimento mediante concordância.

Destacamos algo inédito com o qual nos deparamos no decorrer do trabalho, inicialmente pensamos em um trabalho de co-terapia, no qual dois psicólogos estariam em campo com os participantes e a equipe reflexiva sendo chamada para compartilhar em determinado momento, observamos que virtualmente para esse trabalho novas posições teriam que ser configuradas, inclusive com nomes apropriados para cada uma delas.

Desta forma, no campo tivemos um dos terapeutas com o papel chamado condutor, que organizava as partilhas, acolhia e recebia os participantes, informando sobre o funcionamento do grupo e o outro terapeuta como "back". O "back" é o terapeuta que poderia se colocar, mas sua função principal era ficar atento a equipe reflexiva durante o atendimento, ficando responsável pelo contato com a equipe reflexiva no "WhatsApp" (um aplicativo de mensagens) que poderia sugerir ajustes, músicas, ou percepções importantes para serem cuidados. O "back" teria a atribuição de dividir as informações da equipe reflexiva com o psicólogo condutor e os dois juntos decidiriam diante do grupo, quais os caminhos que deveriam ser tomados a condução do mesmo.

Na equipe reflexiva também precisamos modificar algumas funções para que o trabalho se desse no formato "on-line". Nessa equipe ficamos com um psicólogo reflexivo/redator que é responsável por registrar o atendimento e enviar para nosso banco de dados através de um formulário. Outra função importante na equipe reflexiva é do psicólogo reflexivo/emergencial, que ficava preparado para caso algum participante se mobilizasse ao ponto de não conseguir ser acolhido no grupo. O procedimento desse acolhimento individual se daria a partir da solicitação pelo condutor para que o psicólogo emergencial fizesse uma chamada individual com esse participante isoladamente, em outra sala do "ZOOM" (um serviço de videoconferência baseado em nuvem que você pode usar para se encontrar virtualmente com outras pessoas – por vídeo, somente áudio ou ambos – e permite gravar essas sessões para visualização posterior), até que ele pudesse retornar para o grupo. Vale acrescentar que essa função não chegou a ser utilizada o que demonstra a força do grupo em acolher participantes mais mobilizados e a capacidade auto regulação organísmica. Foi acrescentado também o psicólogo reflexivo/suporte técnico, ficando com a responsabilidade por dar suporte aos participantes que encontrassem dificuldades com a ferramenta do ZOOM e não conseguissem acessar o grupo.

O "link" dos encontros era enviado em um grupo do "WhatsApp" apenas com os participantes e equipe, e era informado um dia antes do encontro para que os participantes se programassem e 15 minutos antes seria enviado o "link" da sala virtual para que eles pudessem participar. A última função da equipe de psicólogos era do anfitrião/coordenador, ficando como responsável por gerar a sala e permitir a entrada da equipe, bem como admitir os participantes até o limite de 15 minutos após o início do grupo para que não atrapalhasse o desenvolvimento das partilhas durante o encontro.

Grupos abertos não são grupos de psicoterapia, por não exigirem uma assiduidade, e por não exigir sigilo, embora este seja orientado. No entanto, um efeito terapêutico pode acontecer e a prática mostra que acontece, pois basta que as pessoas se reúnam com sinceridade para que o encontro se torne viável (RIBEIRO, 1994). As trocas dentro do grupo proporcionam a construção de uma rede de apoio e uma sensação de pertencimento.

Em Gestalt-Terapia, contato é a experiência de dois seres separados que não apenas estão reunidos em relação, mas que mudam a si mesmos e sua visão de mundo. Segundo Polster & Polster (2001, p. 114) "O contato é implicitamente incompatível com permanecer o mesmo. A pessoa não precisa tentar mudar por meio do contato; a mudança simplesmente acontece". No trabalho em grupo são ampliadas as possibilidades de vivenciar o contato sob o olhar dos psicoterapeutas prontos a trazer à propiciar a atualização organísmica.

Além do contato com o outro, os participantes são incentivados a experimentarem o contato consigo mesmos e suas potencialidades como uma forma de crescimento próprio e desenvolvimento. Durante nosso trabalho nos deparamos com diferentes realidades dos participantes. Alguns estavam isolados dos seus entes queridos, outros precisando conviver com suas famílias que intensificaram conflitos prévios, alguns precisando ajustar o trabalho na virtualidade, assim como nós psicólogos estávamos. O "homescholling", ou seja, ensino a distância efetuado em casa, que foi vivenciado com bastante angústia pelas famílias. Além disso o cuidado excessivo na higiene toda vez que era necessário sair de casa.  A troca ajudou as pessoas a encontrarem caminhos possíveis dentro de um contexto familiar no qual existiam posicionamentos diferentes com relação aos cuidados.

Após seis meses de funcionamento do projeto, pudemos perceber que houve um grande aproveitamento por parte dos participantes que foram beneficiados, além de trazer muita satisfação e aprendizado para os psicólogos integrantes da equipe. Diante disso percebemos o trabalho fluir de forma muito criativa e emocionante, e a cada encontro éramos, enquanto equipe, surpreendidos com novas situações, emoções e experiências, e fomos nos enriquecendo como profissionais com todos os aprendizados. Não podemos esquecer o quanto imprevisível é o trabalho em grupos abertos pois nunca sabemos quem vai aparecer e em que estado emocional se encontra.

Os ajustes em nossas relações e nas funções realmente se configuraram como um marco do nosso trabalho. A equipe estava sempre muito sintonizada e atenta às necessidades de cada integrante do IGT, considerando que nós também como pessoas estávamos enfrentando muitas questões que eram trazidas pelos participantes. As reuniões de suporte de sábado, as trocas pós sessão e as intervisões cumpriam o papel de manter a equipe unida, afinada, equilibrada e com saúde emocional para permanecer na execução do trabalho.

 

Experiências e Avaliação dos Resultados

Quando se pensa em psicologia "on-line" vem à mente um atendimento limitado, onde falta o corpo do cliente e toda a riqueza proporcionada pelo seu gestual e reações. É tentador, numa primeira análise sobre a virtualidade, desvalorizar o contato que pode ser feito através do espaço, sem contar com a função do tato na relação com o outro.

É comum pensar em um atendimento baseado na comunicação verbal, seja ela oral ou escrita, onde prevalece a atitude de "falar sobre" a questão a ser trazida, restringindo as possibilidades de contato. No entanto, quando a fala ressoa a própria experiência, é criada uma carga de excitação que culmina com um pleno envolvimento com o que é falado. Dessa forma, o contato ocorre, e falar, por sua vez, pode ser tão tocante quanto um afago físico.

Polster & Polster (2001) propõem o experimento em Gestalt-Terapia como uma tentativa de agir contra o beco sem saída do "falar sobre", ao combinar a realidade "lá de fora" com sua experiência interior numa síntese de descoberta. Seguindo esse caminho, nos atendimentos on-line com grupos abertos, um dos recursos bastante utilizado foi a música, considerando que o ouvir é uma das funções de contato, um processo ativo e aberto, sobretudo diante da riqueza de sutilezas e emoções que mobiliza, remetendo a um mergulho em si.

"[...] Alguém que está de fato ouvindo está avidamente recebendo os sons que entram em si - como num concerto, por exemplo. Esse é um processo adorável que com frequência demasiada é considerado de segunda categoria em comparação com o comportamento obviamente mais ativo de falar ou de fazer outros sons" (POLSTER, ERVING, 2001, p. 148).

Segundo Rocha e Boggio (2013) apesar da escuta ser um contato seletivo, a música tem o poder de tocar o indivíduo acionando as emoções, o sistema límbico, oferecendo sensação de prazer e acolhimento. Desta forma, a música entra como ferramenta de contato com as emoções mais sutis, prazerosas e mobilizadoras, ativando áreas do cérebro e liberando hormônios fundamentais para o reequilíbrio orgânico. E dessa forma desenvolveu-se o projeto.

 

Propiciar mudança e exploração de possibilidades em cada integrante

"Quando alguém está no impasse, fica impossibilitado de agir. A confusão cria a impossibilidade de opções novas. Perls afirma que isto acontece porque o suporte interno se tornou insuficiente e o externo ainda não se tornou suficientemente claro para gerar uma nova energia de mudança. Tecnicamente a mudança se dá quando se clareiam para o cliente estes três momentos: direção, energia e ponto de aplicação. O ato de querer, de fato, significa que a pessoa sabe e quer ir em alguma direção definida, sente-se com energia para caminhar, sabe onde se encontra e para onde ir" (RIBEIRO, 1985, p.156).

O conceito de mudança citado por Jorge Ponciano, foi vivenciado em cada sessão aberta realizada no Projeto IGT com você na pandemia. A cada sessão os participantes do grupo traziam como estava sendo viver, sentir e se observar nesse momento. O grupo de psicólogos debruçados no mesmo ambiente de pandemia e com a mesma energia, conseguia encontrar formas de caminhar em virtude do meio em comum, propiciando trocas verdadeiras e empáticas para cada dificuldade e possibilidade de cada cliente.

O projeto IGT com você na pandemia foi se tornando um vínculo forte para que cada participante se sentisse potente para si e para o outro. Durante as sessões abertas foram trazidos alguns conteúdos importantes que validam a potência do projeto como no relato de participantes que se sentiam acolhidos e pertencendo a um grupo diante do cenário atual de quarentena.

 

Crescimento através da troca

Em cada momento vivido existia o cuidado de trocar como era estar no grupo e por vezes foram trazidas sensações diferenciadas tais como: estar ali significava lembrar o dia da semana; conseguir respirar; querer rever alguém e saber como está; contar que conseguiu algo; enfim partilhar momentos e sentir-se tocado e tocar ao longo de cada partilha.

"Um dos momentos mais gratificantes que experimento quando estou acompanhando grupos, se dá quando um membro do grupo dá um retorno para outro membro que eu jamais poderia dar. Simplesmente porque ele está olhando a partir de outro ponto de vista. Estes momentos são mágicos e neles percebo de forma nítida a riqueza e o potencial transformador dos grupos" (PINHEIRO, 2005 p. 60-61).

Conforme Marcelo Pinheiro, a vivência de grupo traz uma troca única e isso pôde ser vivenciado também ao longo das sessões do projeto quando pudemos observar que na entrada de um novo integrante não era mais o grupo de psicólogos que explicava o funcionamento para este, e sim os "participantes veteranos", desta forma a marca do grupo foi o sentimento de pertencimento.

 

Aceitação das diferenças

Outra vivência que pudemos experimentar foi a apropriação das diferenças e semelhanças vivenciadas por cada um de forma respeitosa e ampliada pelo método de equipe reflexiva. Os participantes deixavam evidente o impacto que era ouvir, como seus relatos haviam mobilizados outros psicólogos. Foi possível que eles trouxessem sua percepção do momento que entraram no projeto para o momento atual que estavam. Se reconhecendo diferentes e com potência para tentar novas possibilidades respeitando seus limites.

 

Ter um espaço virtual de trocas cuidadoso e rede de suporte emocional

A troca com o grupo proporciona que a pessoa possa se perceber em sua forma de contar e viver situações de sua vida assim como encontrar eco, identificação e diferenças na experiência do contato com o outro. Esse processo possibilita ampliação de "awareness" em Gestalt-Terapia, estando no aqui agora.

Dentre os principais conceitos da Gestalt-Terapia estão: Aqui e Agora: Trata-se da forma que a pessoa encontra, na atualidade, de manejar situações, independente da temporalidade. O passado só existe quando faz sentido no presente. Enquanto, o futuro é uma possibilidade que se apresenta na atualidade. "Awareness": O estar consciente ("tobeaware") é ter consciência da própria atenção, da própria consciência. Segundo Yontef (1995), a "Awareness" é uma forma de experienciar. É o processo de estar em contato, vigilante com o evento de maior importância no campo indivíduo/meio, com total suporte sensório-motor, emocional, cognitivo" (SANTOS et al, 2017, p. 204) (SANTOS et al, 2018 p. 2).

Acreditamos que no cenário atual de pandemia, onde há muitas incertezas, estar em uma sala virtual possibilita ampliar um olhar para esta nova realidade. A cada sessão do grupo mais trocas eram trazidas, mais vínculos realizados e mais evidente tornava-se a força de ter uma rede de suporte. O atendimento em grupo de acolhimento deixa muito claro o quanto o conceito de rede funciona e pode trazer ajustamentos antes não imaginados.

"Weis (1967) nos dá o exemplo da teia de aranha como um todo formado de sistemas inter-relacionados. Diz ele: "As mudanças feitas pela aranha perto do centro da teia têm efeitos que, literalmente, podemos ver reverberarem em toda a teia, como quando uma aranha de jardim faz vibrar a sua teia em resposta a um intruso. Podemos ver que as múltiplas interconexões entre as partes da teia explicam a sua ação, mas estas interconexões desafiam qualquer análise das partes - logo, o todo é diferente da soma das partes" (RIBEIRO, 1985 apud WEIS 1967, p.106).

Na citação de Jorge Ponciano em relação a Weis sobre a teia de aranha deixa evidenciar um pouco o que pode ser vivenciado nas sessões do grupo de acolhimento, as interconexões, o todo e as partes por vezes na descrição não dão conta de compilar a riqueza desta rede.

Em relação a experiência dos participantes vale ressaltar alguns dados qualitativos e quantitativos realizados durante o projeto e alguns resultados encontrados a partir da pesquisa de satisfação realizada com o grupo de participantes do projeto. A pesquisa foi semiaberta, com isso obtemos respostas fechados e abertas. A seguir temos os gráficos em relação às perguntas fechadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Participaram da pesquisa o total de 35 pessoas até o momento da escrita do artigo. Em relação a como foi a experiência de primeiro acolhimento selecionamos as seguintes categorias: insatisfatória, parcialmente insatisfeita, satisfatória e totalmente satisfatória. Das 35 pessoas 35,3% acharam satisfatória e 64,7% acharam totalmente satisfatória. No quesito sobre quantas vezes participaram do grupo de atendimento. As categorias selecionadas foram: nenhuma vez, uma vez, duas, de três e cinco vezes, de seis a dez vezes e dez ou mais vezes. Nenhuma participação tivemos 17,6%; uma vez 11,8%; duas vezes 26,5%; de três a cinco vezes 20,6%; de seis a dez vezes 20,6% e dez ao mais vezes 2,9%.

Em relação ao suporte técnico oferecido tivemos as seguintes categorias: insatisfatório, parcialmente insatisfatório, satisfatório e totalmente satisfatório. Sobre o quesito insatisfatório 3,1%; satisfatório 37,5 e totalmente satisfatório 59,4%. Sobre como está sendo frequentar os grupos no zoom, selecionamos as seguintes categorias: insatisfatório, parcialmente insatisfatório, satisfatório e totalmente satisfatório. Os resultados foram: insatisfatório 6,9%; parcialmente insatisfatório 3,4%; satisfatório 37,9% e totalmente satisfatório 51,7%.

Foram elaboradas também perguntas abertas sobre a experiência da utilização da plataforma e como os participantes resumiram em poucas palavras sua experiência com o projeto. A maioria das respostas foi de uma experiência extremamente satisfatória e suportiva.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia trouxe para a população a situação de confinamento durante a quarentena e isso proporcionou um grande desafio de lidar com o novo (desconhecido) deixando em evidência questões como: estar sozinho, estar acompanhado das mesmas pessoas íntimas o tempo todo, as faltas de diversos hábitos neste momento não possíveis além do ganho de ter novos hábitos e principalmente como conviver com as decisões dos outros nos cuidados com a pandemia. Dentro das sessões de atendimento do grupo esses temas puderam ser trazidos, falados, sentidos e compartilhados. O compartilhar proporcionou para alguns participantes do grupo a sensação de se olharem de forma diferenciada e o sentimento de bem-estar novo.

O projeto "IGT com Você: Acolhimento na Rede" foi desenvolvido em um momento de crise para todos nós. Exigiu de toda a equipe um preparo e um cuidado constante e mútuo para proporcionar acolhimento a comunidade. Trabalhar com uma equipe grande de psicólogos que, apesar de uma mesma abordagem como base, possuem estilos e formas de trabalho diferentes, é um desafio.

Poder conjugar todas as habilidades e dificuldades em uma atuação harmônica e suportiva foi um diferencial no nosso trabalho. Foi necessário uma aproximação gradual e o desenvolvimento de uma intimidade com a virtualidade e suas possibilidades. Tivemos que nos apropriar dos recursos tecnológicos e utilizá-los da melhor forma para nossa configuração.

Durante o trabalho pudemos perceber a mudança nos participantes do grupo, a forma como chegaram em um momento de crise, instáveis emocionalmente, sofrendo com o isolamento e a insegurança, além de lutos e outros complicadores, e fomos acompanhando os ajustamentos que foram conseguindo realizar em suas vidas com a apoio do grupo.

Hoje podemos elencar os benefícios que foram alcançados através de nosso trabalho. O projeto "IGT com Você: Acolhimento na Rede" pôde oferecer o atendimento irrestrito à todos que chegaram no projeto, pois foram acolhidos, independente de terem sua participação integrada ao grupo. O atendimento em grupo on-line proporcionou trocas emocionais e convivência com as diversidades, ajudando a integração de pessoas de regiões, estados e até países diferentes, trazendo vivências ímpares.

A medida que foi se construindo a identidade grupal, através do sentimento de pertencimento, foi possível oferecer um local seguro para dar suporte a cada integrante que chegava. Através da construção de rede foi possível desenvolver as potencialidades e ampliar os recursos de enfrentamento diante da crise.

Nós como equipe experimentamos essas realidades e pudemos também compartilhar e crescer com o grupo. Exploramos os recursos audiovisuais que ressignificam as vivências. A música foi um recurso importante como via de expressão emocional e de alívio. Muitos participantes esperavam por esse momento, como se aguardassem um bálsamo para suas dores, alguns cantavam, outros choravam. Independente das reações, sempre eram momentos de intensas emoções para todos.

Cabe ressaltar que o projeto teve sua primeira sessão em 06/05/2020 e permanece em andamento até o momento da publicação do presente artigo. Os números que foram apresentados neste artigo consideraram o período: 06/05/2020 à 08/10/2020. Os dados coletados neste período conferem a dimensão de alcance do projeto, considerando que das 174 pessoas inscritas no projeto, 131 foram acolhidas e 55 delas participaram os grupos de atendimento.

No momento o projeto está sendo avaliado através de uma pesquisa de satisfação que foi elaborada por toda a equipe com o intuito de manter registradas as experiências que os acolhidos tiveram com o projeto, registrando sugestões e críticas. Considerando que em outubro de 2020 o projeto ainda se encontrava em atividade, e o artigo está sendo publicado com o trabalho em desenvolvimento, deixamos um registro substancial de um trabalho desenvolvido, mas que poderá ter desmembramentos que não serão abrangidos nesta oportunidade de estudo. Deixamos como sugestão para que o projeto permaneça em acompanhamento e que novos estudos dentro dos assuntos abordados neste momento sejam aprofundados, visando o aprimoramento e divulgação da Gestalt-Terapia em nossa comunidade científica, gerando novos artigos posteriores a sua conclusão com novos dados e novos olhares.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Conselho Federal de Psicologia. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília: CFP, 2005.

GARCIA, D. Viva Bem. www.uol.com.br/vivabem, 2020. Disponível em: <https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/03/25/emocoes-e-imunidade-desespero-com-o-coronavirus-pode-afetar-a-imunidade.htm>. Acesso em: 24 agosto 2020.

MANZANO, M. A.; BENTO LIMA DA SILVA, T. www.metodosupaera.com.br, 2020. Disponível em: <https://metodosupera.com.br/musica-uma-aliada-do-cerebro-em-tempos-de-quarentena/>. Acesso em: 24 agosto 2020.

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PINHEIRO, M. O afeto e o afetar nas relações de grupo: um olhar a partir da Gestalt-terapia. 1º. ed. Rio de Janeiro: Viaverita, 2015.

ROCHA, V. C.; BOGGIO, P. S. A música por uma óptica neurocientífica. Per Musi, Belo Horizonte, n.27, 2013, p.132-140

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SANTOS, Jaqueline de Lima Braz; SAMPAIO, Janaina Maria Vidal; JÚNIOR, Ebenezer Teixeira de Souza; PEDRO, Fabiane de Souza; BRAGA, Lídia Cristina da Silva – Terapia Comunitária Integrativa e Seu Diálogo com a Gestalt-Terapia. Revista IGT na Rede, Rio de Janeiro, RJ, v. 14, n. 27, 2017. https://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=601. Acesso em: 08 08 2020

SANTOS, Marina Miranda Lery - Equipe reflexiva em psicoterapia de família: diferentes olhares sobre as diferentes configurações da família contemporânea brasileira. Revista IGT na Rede, v. 5, nº 9, 2008, p.143-167. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs/ ISSN 1807-2526. Acesso em: 16 outubro 2020.

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VENANCIO, Tatiana. Desvendando os mecanismos do prazer de ouvir música. Cienc. Cult. [online]. 2014, vol.66, n.3, pp.64-65. ISSN 2317-6660.  http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252014000300021.

ZINKER, J. C. A Busca da Elegância em Psicoterapia. São Paulo: Summus, 2001.

SILVA, M. P. Equipe reflexiva, quais as diferenças que criam diferenças?, Monografia. Instituto de Terapia Familiar- ITF, 2005.

 

NOTAS

1 Midiam Rodrigues Tavares Alves - CRP:05/57972. Psicóloga graduada pelo Centro Universitário Celso Lisboa - UCL, Cursando formação em Psicologia Clínica pelo Instituto de Gestalt-Terapia e Atendimento Familiar - IGT, Coordenadora do Projeto IGT com Você: Acolhimento na Rede.
2 Mônica Pecegueiro do Amaral - CRP 05/35.580. Psicóloga Clínica, graduada pela Famath - Faculdades Integradas Maria Thereza (2006). Especialização em Relacionamento Amoroso e Sexualidade Humana, Famath (2009); Curso de Extensão em Arteterapia com enfoque no cuidado ao Idoso, UFF (2006).
3 Clélia Auxiliadora de Oliveira Lima Bastos - CRP: 05/57352. Psicóloga formada pela Faculdade Maria Thereza- Niterói RJ. Cursando especialização em Psicologia Clínica, (individual, grupo é família), pelo IGT. Atuando como Psicóloga clínica, individual, família e grupo.
4 Renata Gonçalves de Britto - CRP: 05/48525. Formada pela Universidade Federal Fluminense, especialista em psicologia hospitalar pela Universidade Veiga de Almeida e cursando especialização em psicologia clínica no IGT- Instituto de Gestalt-Terapia e Atendimento Familiar. Coordenadora do Projeto IGT com você: Acolhimento na Rede.
5 Gabriela de Sena Camodego - CRP:05/55589. Psicóloga graduada pelo Centro Universitário Celso Lisboa - UCL, formada em Psicologia Clínica pelo Instituto de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar - IGT, Coordenadora do Projeto IGT com Você: Acolhimento na Rede.
6 Dilean Freire Campos Ducharme - CRP: 05/39.498. Gestalt-Terapeuta, formada em Gestalt-Terapia (Indivíduo, Grupo e Família) pelo IGT, Psicóloga pelo UniCEUB - Centro de Ensino Universitário de Brasília. Psicóloga clínica atuando com individuo, grupo, casal e família.
7 Ana Maya Szuchmacher El Mann - CRP 05/33087. Psicóloga Clínica graduada pela UERJ, em 2005; Especialista em Psicologia Clínica em Gestalt-Terapia (IGT): atendimento a Adultos, Casais/Famílias e Grupos. Formação em Psicologia Perinatal e Parental. Sócio fundadora do Espaço Materno RJ - Psicóloga Clínica e Perinatal, atuando com Indivíduo, Grupos Casais e Famílias.
8 Daniela Nogueira de Moraes - Graduada em Psicologia pela UFRJ, graduada em Administração na Universidade Estácio de Sá, Pós-Graduada em Psicologia Clínica Universidade Celso Lisboa, Formação em Clínica Atendimento Individual, Grupo e Família – Instituto de Gestalt Terapia IGT. Experiência na área organizacional em Recursos Humanos em empresas públicas e privadas, e atuando na área clínica em consultório individual e em grupo "Instituto Preciso Falar" – Sobre Adoecimento no Trabalho.
9 Peggy Liz Mendes de Moraes - CRP-9756/05. Psicóloga graduada pelo Centro Universitário Celso Lisboa - UCL, Psicomotricista, Universidade Cândido Mendes, Psicopedagoga, Faculdade da Região dos Lagos - FERLAGOS, Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde, Universidade Federal Fluminense - UFF, Membro do Nucleo de Pesquisa Qualitativa Translacional em Emoções em Espiritualidade na Saúde – Qualitees UFF, Membro do Núcleo de Pesquisa em Filosofia, Saúde e Educação Humanizada/ FSEH – UFF. Psicóloga Clínica, atuando com atendimento individual e em grupo, com adultos, adolescentes e crianças na abordagem fenomenológica.
10 Danielle Marques da Silva – CRP: 05/40783. Gestalt-Terapeuta, formada especialização em Psicologia Clínica: Gestalt-Terapia (Indivíduo, Grupo e Família) pelo IGT, MBA Gestão Estratégica de Pessoas pela Escola Politécnica da UFRJ, Psicóloga pela Universidade Veiga de Almeida. Psicóloga clínica atuando com individuo, grupo e família.
11 Marcelo Pinheiro da Silva - CRP nº 05/16.499 Gestalt-terapeuta, Mestre em Psicologia Social (UERJ), Especialista em Psicologia Clínica pelo CRP, Especialista em Psicologia Organizacional pelo CRP, Especialista em atendimento de casal e família na abordagem sistêmica (I.T.F.- RJ),  Coordenador do curso Especialização em Psicologia Clínica - Gestalt-Terapia (Indivíduo, Grupo e Família), Editor chefe da Revista Virtual IGT na Rede, Coordenador do Centro de Documentação da Gestalt-Terapia Brasileira e sócio fundador do IGT. Presidiu do XIV Congresso Internacional de Gestalt-Terapia Rio 2015.

 

Endereço para correspondência
Midiam Rodrigues Tavares Alves
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Mônica Pecegueiro do Amaral
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Clélia Auxiliadora de Oliveira Lima Bastos
Endereço eletrônico:psicologa.cleliabastos@gmail.com
Renata Gonçalves de Britto
Endereço eletrônico:brittorenatapsicologarj@gmail.com
Gabriela de Sena Camodego
Endereço eletrônico:gabrielacamodego@gmail.com
Dilean Freire Campos Ducharme
Endereço eletrônico:dilean.ducharme@hotmail.com
Ana Maya Szuchmacher El Mann
Endereço eletrônico:ana.maya@yahoo.com.br
Daniela Nogueira de Moraes
Endereço eletrônico:danielanogueirademoraes@gmail.com
Peggy Liz Mendes de Moraes
Endereço eletrônico:peggylizpsi@gmail.com
Danielle Marques da Silva
Endereço eletrônico:danielle.marques6@gmail.com
Marcelo Pinheiro da Silva
Endereço eletrônico:marcelo@igt.psc.br

 

Recebido em: 28/10/2020
Aprovado em: 23/11/2020