EDITORIAL
Marcelo Pinheiro da Silva*
IGT - Instituto de Gestalt Terapia e Atendimento Familiar – Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Agora é oficial, o atendimento online está autorizado. Já não existe limite referente a número de sessões ou a tipo de atividade exercida por parte do psicólogo com a utilização de recursos ligados à virtualidade. A partir de agora o psicólogo se torna responsável pelos cuidados necessários para que as práticas virtuais se deem de forma coerente e consistente. Em 10 de novembro de 2018 entrou em vigor a resolução CFP nº 11/2018. Esta resolução tem uma importância marcante na história da psicologia brasileira, e nem todos parecem estar atentos à importância das transformações que uma resolução como esta simboliza. A revolução que vem marcando as relações humanas em nossa época agora pode ser apropriada de modo sólido pelos representantes de nossa classe.
A internet e o contínuo aumento no ritmo de transformações tecnológicas que marca o nosso tempo vem revolucionando relações sociais de forma avassaladora. O psicólogo precisa acompanhar as mudanças que se expressam em seu tempo. Nós psicólogos trabalhamos com relação, com comunicação, sendo assim, precisamos estar consonantes com nosso momento histórico, precisamos estar integrados a nosso contexto cultural, nossas práticas devem ser compatíveis com nossa realidade sócio-histórica. Não estamos tratando aqui de modismos ou tendências sazonais. Não existem pontos de retorno, estamos lidando com transformações que vieram para ficar, que prenunciam novas transformações em um contínuo coerente com a deriva cultural que marca a saga da existência humana.
Gestalt-Terapia e virtualidade, alguns pontos são fundamentais quando se fala nesse tema.
A primeira pergunta é como é possível trabalhar em Gestalt-Terapia, ou melhor, é possível trabalhar dentro de uma perspectiva gestáltica através dos recursos virtuais? Ontem eu estava dando uma aula e uma aluna perguntou sobre isso: como atender online em Gestalt-Terapia se dentro dessa abordagem se tem uma perspectiva holística, se olha para o corpo como um todo. Ela não usou exatamente essas palavras, mas ela quis dizer isso. Essa é uma pergunta interessante. Num primeiro momento se pode pensar numa certa incompatibilidade: se eu vou olhar para o corpo inteiro, como é que eu vou atender online se a princípio eu já tenho só uma visão parcial em relação ao corpo? Eu acho interessante partir dessa questão para falar sobre a coerência ou incoerência do trabalho em Gestalt-terapia com esses recursos e eu vou defender a ideia de que a Gestalt-Terapia é totalmente coerente com o trabalho com os recursos ligados à virtualidade.
O cuidado de olhar para o ser humano como um todo, de olhar a situação vivida no encontro entre humanos como uma totalidade tem uma estreita relação com ideias centrais em Gestalt-Terapia. Dentro desta perspectiva acreditamos que o ser humano se transforma a partir da assimilação de novidades na relação com seu mundo, em especial na relação com o outro ser humano, por isso, o interesse em experimentar e aprender sobre a forma como se dá esta relação em suas diversas dimensões. por isso, o interesse no modo como este ser humano constrói suas trocas principalmente no que se refere às suas relações com esse outro ser humano.
Podemos entender a Gestalt-Terapia com uma arte de construir relações, de criar contextos de troca, de forma a facilitar que o movimento natural da vida possa fluir. Arte de construir campos de proximidade de forma a possibilitar o encontro existencial entre humanos. Não existem regras definitivas e a-históricas acerca de como isto pode se dar. Existem sim éthos que determinam éticas que são circunscritas a um contexto histórico, a um conjunto de crenças e valores que definem uma dada realidade. A arte de construir relações demanda sensibilidade para que se possa identificar os caminhos que permitam que aproximação se dê e que relação aconteça. Isto envolve necessariamente uma clara percepção do éthos vigente no momento de construção de cada relação específica.
As fronteiras ligadas a virtualidade são novas fronteiras. O atendimento online certamente é diferente do atendimento presencial. Não necessariamente melhor ou pior, porém, certamente diferente. A busca de formas de relação coerentes com a singularidade de cada contexto é inerente à prática de um Gestalt-terapeuta. Sendo assim, os recursos virtuais são apenas fontes de novos desafios a serem superados, de forma criativa, por estes profissionais, na busca incessante de quem quer se colocar à serviço do encontro entre humanos, de quem se coloca como um verdadeiro guardião de suas relações.
Marcelo Pinheiro da Silva
Editor Chefe da revista virtual IGT na Rede.
Notas
* Psicólogo Marcelo Pinheiro CRP nº 05/16.499 Gestalt-terapeuta, Mestre em Psicologia Social (UERJ), especialista em psicologia clínica pelo CRP, especialista em psicologia organizacional pelo CRP, especialista em atendimento de casal e família na abordagem sistêmica (I.T.F.- RJ), coordenador do curso Especialização em Psicologia Clínica - Gestalt-Terapia (Indivíduo, Grupo e Família), editor chefe da Revista Virtual IGT na Rede, coordenador do Centro de Documentação da Gestalt-Terapia Brasileira e sócio-fundador do IGT. Presidiu o XIV Congresso Internacional de Gestalt-Terapia Rio 2015.
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