ARTIGO

Bullying: uma perspectiva de intervenção com o agressor sob enfoque da Gestalt-Terapia

Bullying: a perspective of intervention with the aggressor under the Gestalt Therapy approach

 

Ana Cristina Vitor Cardonha*; Deyseane Maria Araújo Lima**

Centro Universitário Estácio de Sá do Ceará - CE; Clínica Vincular e Unichristus -Fortaleza - CE

Endereço para correspondência

 


RESUMO

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre o “bullying” com o enfoque psicológico, buscando compreender o agressor e relacionando à Gestalt-terapia, com propósito de adquirir mais informações e conhecimento e ao mesmo tempo subsidiar material que proporcione uma mudança na realidade escolar e social. Nesta pesquisa, utilizamos escopo de cunho qualitativo, que utiliza como método a revisão integrativa. As informações bibliográficas foram coletadas a partir das redes de dados eletrônicas. O “bullying” é muito discutido atualmente, haja vista sempre buscar intervenções eficazes para a problemática. Para tanto, os profissionais devem estar preparados para lidar com essa forma de violência. Contudo, as produções sobre o agressor são escassas, e as intervenções visam todos os envolvidos. É de extrema relevância proporcionar mais reflexões e desenvolver pesquisas sobre o “bullying” e principalmente sobre o agressor.

Palavras-chave: “Bullying”; Agressor; Gestalt-terapia; Intervenção.


ABSTRACT

The purpose of this paper is to discuss bullying from a psychological perspective, therefore seeking to understand the aggressor from a Gestalt Therapy approach on the purpose of gathering information and knowledge likewise offer material that may provide a significative change in school and social environments. The present study used a qualitative approach which uses an integrative review method. The bibliographical information was gathered from electronic database networks. As a matter of fact, bullying has been widely discussed currently due to the need of developing more effective interventions. Therefore, qualified professionals must be prepared to deal with this kind of violence. However, researches on the aggressor perspective are minimal, and the interventions cover all the individuals involved. Further research development in bullying is essentially relevant, and, most importantly, on the aggressor perspective.

Keywords: Bullying; Bully; Gestalt Therapy; Intervention.

 

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe uma reflexão sobre o agressor que realiza o “bullying”, o seu acolhimento e as possíveis intervenções na perspectiva da Gestalt-terapia. Nesse sentido, primeiramente, é importante pontuar que o “bullying” é um tema bastante debatido por sua incidência e, por isso, é de extrema necessidade fazer reflexões em busca de alternativas para amenizar essa prática e encontrar estratégias de atendimento, visando diminuir o sofrimento e as possíveis consequências que essa violência pode trazer.

De acordo com Lopes Neto (2005), “bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder” (p. 165).

Em relação ao tema, percebe-se a necessidade de estudos nessa área com enfoque psicológico no agressor, isso se justifica por observarmos um alto índice de violência, que na maioria das vezes ocorre entre crianças e adolescentes que estão em processo de desenvolvimento e necessitam de auxílio na resolução de problemas.

Dessa forma, é importante conhecer o contexto desse agressor, pois na maioria das vezes já são rotulados como indivíduos ruins, e buscar intervenções que promovam a conscientização, já que alguns adultos ainda consideram esse tipo de comportamento uma brincadeira e acreditam que a punição é a melhor forma de lidar com o agressor. Diante disso, percebe-se o psicólogo como um profissional que tem um olhar diferenciado, e isso pode ser de grande ajuda no enfrentamento ao “bullying”.

O bullying traz prejuízos para os agressores, os pais, a escola e as vítimas.

"O sujeito que vive de forma que priorize a violência, não traz sofrimento só para quem ele agride, mas também para ele próprio, já que há um desgaste emocional durante uma briga e algumas vezes o sentimento de culpa [...] Em longo prazo esse estilo de vida traz muitas dificuldades relacionais e o comportamento antissocial pode se intensificar podendo até mesmo gerar problemas com a lei" (CREMER, 2010, p. 142).

Em uma pesquisa realizada em 2016, pelo representante do secretário-geral da ONU para o combate à violência contra a criança e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com 100 mil crianças e jovens de 18 países, constatou-se que, em média, metade deles sofreu algum tipo de "bullying" por razões como aparência física, gênero, orientação sexual, etnia ou país de origem. Essa pesquisa constatou que no Brasil a porcentagem é de 43% (BRASIL, 2017).

É possível observar que alguns agressores de “bullying” não apresentam remorso ou culpa e que algumas vítimas tornam-se agressores também. Para Zoboli (2014), o agressor pode ser do sexo feminino ou masculino, e tem poder de liderança com atitudes violentas e perversas. Em relação a ser uma vítima agressora, ela reproduz, repete os maus tratos sofridos. Nessa perspectiva, questionamo-nos como se tornam agressores e quais são as responsabilidades da família e da sociedade na construção desse agressor. Esses questionamentos não são uma busca para justificar o comportamento agressor, mas uma tentativa de entender o contexto em que essa prática acontece.

É necessário pensar e debater sobre essa temática e, para tanto, a psicoterapia é fundamental para esse indivíduo, uma vez que se percebe a necessidade de desenvolver estratégias, já que cada um tem sua subjetividade e singularidade para perceber e internalizar os acontecimentos e suas atitudes de maneira diferenciada.

Sob essa ótica, é possível trabalhar com intervenções que incluam os aspectos da vida desse sujeito, levando em consideração o contexto em que ele está inserido, como a família, a escola e a sociedade contribuem para que esse tipo de violência se propague, além de como a psicoterapia em Gestalt-terapia pode favorecer e ampliar o desenvolvimento desse sujeito.

Visando a importância de enfrentar a prática do “bullying”, esse artigo busca propiciar reflexões e um novo olhar sobre o causador desse tipo de violência, pois esse fenômeno afeta muitas crianças e adolescentes e causa inúmeros prejuízos para todos os envolvidos.

A escolha desse tema é algo que sempre quisemos estudar, o “bullying” com o enfoque psicológico, buscando compreender o agressor e relacionando a Gestalt-terapia com o propósito de adquirir mais informações e conhecimento, e ao mesmo tempo subsidiar material que proporcione uma mudança na realidade escolar e social.

Existem muitos estudos sobre o “bullying”, contudo, poucos trazem como foco o agressor. É relevante conhecer o fenômeno e o contexto do agressor, a fim de produzir uma intervenção que viabilize o processo de conscientização e responsabilização desse sujeito. Portanto, faz-se necessário um estudo que busque não rotular o agressor e proporcionar uma reflexão sobre ele como ser humano, envolvido em uma sociedade em que a violência é constante, com o intuito de minimizar possíveis atos e contravenções que esse sujeito possa vir a apresentar no futuro, e visando expandir o olhar dos profissionais que lidam com esse tipo de comportamento.

O agressor, na maioria das vezes, é visto como problemático, que tem uma família desestruturada e que merece punição por seu comportamento. Para Cremer (2010), “[...] com foco na agressão e muitas vezes só punindo o agressor não ampliamos o olhar e não desfazemos assim, o ciclo estabelecido” (p. 114).

Diante do exposto, o objetivo geral da presente pesquisa é refletir sobre o acolhimento ao agressor de “bullying” e as possíveis intervenções que podem ser desenvolvidas na perspectiva da Gestalt-terapia, trazendo como objetivos específicos compreender o “bullying” no contexto social e histórico, discutir sobre o comportamento do agressor de “bullying”, identificar possibilidades e alternativas de intervenção com o agressor na abordagem Gestalt-terapia.

 

METODOLOGIA

Com o propósito de subsidiar material de pesquisa que possibilite reflexão sobre a temática proposta, será utilizada a pesquisa qualitativa, a qual, conforme Gil (2002), realiza-se através de um conjunto inicial de categorias em geral, que é reexaminado emodificado sucessivamente, com vista em obter ideias mais abrangentes e significativas.

Como método, utilizou-se a Revisão Integrativa, que “[...] é um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática” (SOUZA et al., 2010, p. 102). Ainda segundo as autoras, a revisão integrativa é uma abordagem metodológica vasta referente às revisões que inclui estudos experimentais e não experimentais; apresenta dados da literatura teórica e empírica; engloba definição de conceitos, revisão de teorias e evidências; e, além disso, possibilita a análise de problemas metodológicos.

Para a elaboração desse tipo de revisão, Souza et al. (2008) sugerem um processo dividido em cinco fases, a saber: 1) a elaboração da pergunta norteadora, que é definir os participantes, as intervenções e os resultados a serem mensurados; 2) a busca na literatura, a qual deve ser realizada em bases eletrônicas, periódicos, referências descritas e publicadas; 3) a coleta de dados, que é a extração de dados com a utilização de um instrumento que minimize o risco de erros; 4) a análise crítica dos estudos incluídos, a qual demanda uma abordagem organizada para ponderar o rigor e as características de cada estudo; 5) a discussão dos resultados, etapa em que se comparam os dados evidenciados na análise dos artigos ao referencial teórico. A apresentação da Revisão Integrativa deve conter informações pertinentes e detalhadas, baseadas em metodologias contextualizadas, sem omitir qualquer evidência relacionada.

No início do artigo, utilizou-se fontes secundárias e coleta de informações bibliográficas pautadas no objeto de estudo, posto que houve orientação para busca de artigos disponíveis nas redes de dados eletrônicas, tais como Google Acadêmico, SciELO (Scientific Electronic Library Online), PePSIC (Periódicos Eletrônicos de Psicologia), nos quais foram selecionados cinquenta e seis artigos a partir das palavras-chave, como: “bullying”, “bullying e agressão”, “bullying e Gestalt-terapia”, “bullying e intervenções”.

No processo de exclusão, foram descartados os artigos com datas anteriores ao ano de 2005, com o objetivo de utilizar artigos mais atuais. Foram excluídos os que se apresentavam em língua estrangeira.

Para critérios de inclusão, foram utilizados a seleção de periódicos entre os anos de 2005 e 2016, pois estes abrangem o início das pesquisas no Brasil e também englobam as pesquisas atuais, que retratam a temática referente a bullying, agressor e Gestalt-terapia.

Foram selecionados, inicialmente, cinquenta e seis artigos acadêmicos que apontam aspectos reflexivos e descritivos dos assuntos acima citados, foram lidos os resumos e a partir dos critérios, foram mantidos dez, os quais são de grande relevância para o desenvolvimento do artigo. Foi realizada uma leitura seletiva com objetivo de verificar se os artigos continham informações úteis para o trabalho, como também foi realizada anotações, ou seja, resumos apontando suas partes principais.

Quadro 1 – Artigos selecionados para composição do presente estudo

AUTOR

TÍTULO

REVISTA

ANO

Analicia Martins de Sousa

“Bullying” e projeto de leis no Brasil: uma racionalidade vitimizante e punitivas sobre as relações humanas.

 

Revista EPOS

 

2015

Aramis Antônio Lopes Neto

“Bullying” – comportamento agressivo entre estudantes.

 

J Pediatria

 

  2005

Eduardo Cremer

“Bullying”: a violência na escola contemporânea sob o enfoque da abordagem gestáltica.

IGT na Rede

2015

Jorge Luiz da Silva, Wanderlei Abadio de Oliveira, Elvio Luciano Bono, Marina Azôr Dib
Marina Rezende Bazon e Marta Angélica Iossi Silva

Associações entre “bullying” escolar e conduta infracional: revisão sistemática de estudos longitudinais.

Psicologia: Teoria e Pesquisa

2016

Kris Kristoferson Pereira

Consequências e implicações do “bullying” nos envolvidos e no ambiente escolar.

Revista Eletrônica de Ciências Jurídicas

2014

Lélio Moura Lourenço; Luciana Xavier Senra.

A violência familiar como fator de risco para o “bullying”escolar: contexto e possibilidades de intervenção.

Aletheia

2012

 

Leni de O. F. Zentarski;
Mirian Gabriella Gomes da Silva.

 

“Bullying” e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola.

 

 Rev. Saberes

 

2016

 

Naiane Carvalho W. Schultz, Denise Franco Duque,
Carolina Fermino da Silva, Carolina Duarte de Souza, Luciana Cristina Assini,
Maria da G. de M. Carneiro.

 

A compreensão sistêmica do “bullying”.

 

Psicol. Estud.

 

2012.

 

Norma Vicença Martins, Alan Almario.

“Bullying”: uma perspectiva sobre o agressor.

Revista da Universidade Ibirapuera

2012

 

Guilherme Welter Wendt e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa

Agressão entre pares no espaço virtual: definições, impactos e desafios do “cyberbullying”

Psicologia Clínica

2013

Fonte: Elaborado pela autora.

Os periódicos selecionados para construção deste trabalho, em sua maioria, discorrem sobre o agressor, mas trazem como foco a vítima, enquanto uma minoria tem por foco o agressor. As intervenções sugeridas também são propostas embasadas no sofrimento da vítima, alguns propõem que a punição do agressor não resolve a questão e outros trazem a preocupação com as consequências futuras desse tipo de violência.

 

1 – “BULLYING” NO CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL

O “bullying” tem acometido crianças e adolescentes de forma prejudicial ao seu desenvolvimento, trazendo muito sofrimento e atos extremos como o suicídio. É um fenômeno que repercute muito na mídia, que vem sendo discutido há algum tempo e várias pesquisas têm buscado formas de reduzir os danos que essa violência causa, uma das grandes dificuldades apresentadas é o fato de ser confundido com brincadeiras e por esse motivo continua se propagando.

Segundo Cremer (2010), os dois primeiros países a se preocuparem com tal comportamento foram a Noruega e a Suécia, que definiram o fenômeno pela palavra inglesa “bullying”,designando um conjunto de agressões que se caracterizam por uma diferença de poder entre os participantes, na qual o poder citado acima representa força, controle.

Um dos grandes pesquisadores nessa área é Dan Olweus, considerado especialista mundial na área e reconhecido por ser pioneiro e fundador da pesquisa sobre problemas de “bullying”.

Como relata Lopes Neto:

"O Programa de Prevenção do Bullying criado por Dan Olweus é considerado como o mais bem documentado e mais efetivo na redução do bullying, na diminuição significativa de comportamentos antissociais e em melhorias importantes no clima social entre crianças e adolescentes, com a adoção de relacionamentos sociais positivos e maior participação nas atividades escolares" (NETO, 2005).

De acordo com Cremer (2010), no Brasil, os primeiros estudos com o nome de “bullying” surgiram na década de 1990, a primeira pesquisa realizada – que foi referenciada em diversos trabalhos – foi a da ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência), concluída em 2003 e a partir dela foi produzido o livro “Diga não para o ‘bullying’: programa redução do comportamento agressivo entre estudantes, escrito por Lopes Neto e Saavedra.

Para definir o “bullying”, Lopes Neto (2005) relata que este compreende as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), que causam dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder e diz respeito a uma forma de afirmação de poder interpessoal através da agressão.

É importante destacar que existem as brincadeiras entre adolescentes e que algumas são consideradas desagradáveis. Zentarski e da Silva (2016) explicam que faz parte da ação de socialização fazer brincadeiras pontuais engraçadas, imprudentes ou irritantes, comentários ou apresentar opiniões diferentes, discussões ou brigas, dentre outras possibilidades próprias das relações interpessoais e os conflitos ou ofensas pontuais, que implicam em mágoa ou raiva passageira. Por esse motivo existe uma dificuldade em diferenciar essa violência de uma brincadeira, alguns autores consideram que esse fenômeno acontece há muito tempo, mas não possuía essa definição.

Para se configurar o “bullying” é indispensável a presença da vítima, agressor e testemunhas. A vítima é quem sofre a violência, para Martins e Almario (2012) “[...] as vítimas (alvos) são alunos que estão expostos de forma repetida, e durante algum tempo, às ações negativas praticadas por um ou mais alunos no ambiente escolar”(p. 18), já Zaboli (2014) classifica as vítimas em três tipos: a típica, que é aquela pouco sociável, frágil, submissa, insegura, com baixa autoestima e que tem dificuldades para se impor tanto no modo físico, como verbal; a provocadora, é aquela que atrai e provoca reações agressivas com as quais não consegue lidar, geralmente tem atitudes irritantes e quase sempre provoca tensões no ambiente em que frequenta; e vítima agressora, é  aquela que  reproduz, repete os maus tratos sofridos, busca outra vítima mais frágil e repete com ela todas as agressões sofridas, na escola ou em casa.

As testemunhas (espectadores) muitas vezes só observam e não participam da ação em si, algumas por medo e outras por simpatizarem com o agressor, como relata Martins e Almario (2012), os espectadores (testemunhas) podem ser ativos ou passivos e são aqueles que não participam diretamente da agressão, mas que passivamente contribuem para a formação do bullying, complementando essa ideia, Zaboli (2014) cita que espectadores “[...] são aqueles alunos que assistem e assumem a postura do silêncio” (p. 13).

O agressor é o principal participante do fenômeno, é o responsável pelas agressões, é visto como alguém que pratica a violência como algo natural em busca de poder e reconhecimento. De acordo com a literatura, esse agressor sente-se bem estando na posição de superioridade e não teme as consequências de seus atos, normalmente não se responsabiliza por suas atitudes e acredita que não está fazendo nada demais, apenas brincadeiras.

Nessa perspectiva, Zentarski e da Silva (2016) explicitam que o agressor pode usar formas silenciosas como gestos, expressões fisionômicas, bilhetes com mensagens humilhantes, além de ataques virtuais, frequentemente estão envolvidos em confusões e desentendimentos, subjuga, constrange, domina, humilha, persegue os mais tímidos e vulneráveis e apresentam aspectos particulares em seu comportamento que se distinguem dos outros, a exemplo disso, irritabilidade e impulsividade.

Pereira (2014) narra que os agressores podem ser de ambos os sexos, tem em sua personalidade traços de maldade e desrespeito, muitas vezes essas características estão associadas a um poder de liderança obtido através da força física ou do assédio psicológico. Schuchardt (2012, p. 39) complementa que o agressor “[...] força o grupo a ignorar o colega, fazendo de conta que o mesmo não existe, desqualificando sua competência intelectual ou rejeitando um pedido seu, dentre outros”.

Muitos agressores são de famílias que vivenciam dificuldades e fazem parte de um ambiente de violência, a partir dessa concepção, Lourenço e Senra (2012, p. 45) apresentam que:

“As relações de desigualdade de poder na família revelam um lar com cotidiano hostil e permissivo em que há uso de violência como forma de disciplina, sem quaisquer habilidades para resolução de conflitos, o que leva as crianças e adolescentes reproduzirem tais condutas com colegas e professores”.

É importante destacar que fatores emocionais também podem influenciar nesses comportamentos, Silva (2015, p. 9) alega que “[...] existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como a separação traumática dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças na família etc. A violência praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir e, portanto, circunstancial”.

Alguns autores apresentam preocupações pertinentes sobre o futuro desses agressores, como da Silva et al. (2016) mencionam que, envolver-se em situações de “bullying” como agressor prevê a participação em delitos graves, apresentam maior probabilidade de cometer infrações se comparado às vítimas e testemunhas. Ainda nessa perspectiva, Pereira (2014, p. 6) ressalta que,

“A consequência nos agressores se dá pelo o distanciamento e a falta de interesse ao conteúdo ensinado, projetando na violência uma forma de popularidade e demonstração de poder, em alguns casos essa violência habilita o agressor para futuras condutas violentas na vida adulta”.

É possível perceber que com o avanço da tecnologia e a facilidade de acesso às mídias sociais, tem surgido uma nova configuração dessa violência, para Wendt e Lisboa (2013) a inclusão da tecnologia nas casas e na escola causam preocupações a respeito de assuntos como privacidade, segurança de informações, com a exposição de conteúdos indesejados, pornografia, publicidade ofensiva, manifestações de ódio, racistas e homofóbicas.

O “bullying” virtual é uma violência realizada através das mídias sociais, nomeada de “cyberbullying”, e a partir dessa realidade consequentemente surge um novo tipo de agressor.

De acordo com Silva (2010, p. 7), no “cyberbullying”,

“Os ataques ocorrem por meio de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas, internet e seus recursos (e-mails, sites de relacionamentos, vídeos). Além de a propagação das difamações serem praticamente instantânea o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas é imensurável. O ‘cyberbullying’ extrapola, em muito, os muros das escolas e expõe a vítima ao escárnio público”. 

O agressor nesses casos por vezes fica oculto, utiliza-se de contas falsas para disseminar os ataques. Desta forma, “[...] os praticantes desse modo de perversidade também se valem do anonimato e, sem nenhum constrangimento, atingem a vítima da forma mais vil possível” (SILVA, 2010, p. 8). Wendt e Lisboa (2013) relatam que “[...] a internet permite ao agressor recorrer à vítima de inúmeras formas e a qualquer momento, alterando as delimitações contextuais do bullying na escola” (p. 78).

Há grandes consequências dessa violência na vida dos envolvidos, o agressor passa por um processo de rotulações e punições, algumas vezes não se leva em consideração o contexto em que o mesmo está envolvido, e não é desenvolvido um trabalho psicológico com esse agressor. É importante refletir sobre como as intervenções podem ser realizadas de maneira eficaz e como a psicoterapia pode contribuir nesse processo de conscientização e responsabilização.

 

2 - GESTALT-TERAPIA E POSSÍVEIS INTERVENÇÕES PARA ENFRENTAR O “BULLYING”

A Gestalt-terapia teve seu início no ano de 1951, em Nova York, pelo chamado Grupo dos Sete. Sua construção resulta das experiências e vivências de Perls e dos debates realizados pelo grupo. Segundo Frazão (2013), “[...] o grupo dos sete composto por Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester Eastman, Elliot Shapiro, Laura Perls e Fritz Perls, tendo Richard Kitzler posteriormente se integrado ao grupo” (p. 11).

Segundo Ginger e Ginger (1995), a Gestalt-terapia tem em sua constituição influências do Psicodrama, da Psicanálise, do Zen Budismo e de Reich, baseou-se nas teorias da Psicologia da Gestalt, Teoria do Campo, Teoria Organísmica e na Teoria Holística, e suas bases filosóficas advém do Humanismo, da Fenomenologia, do Existencialismo e da Teoria dialógica.

Para Frazão (2013) “[...] a Gestalt-terapia surge em meio a psicologia humanista, que traz para psicologia uma nova visão de homem, significativa diferente das disseminadas pela psicanálise e pelo behaviorismo – abordagens, na época, bastante deterministas” (p. 12). 

A Gestalt-terapia fornece um conceito de pessoa em sua totalidade, um ser não dicotômico, que tem a possibilidade de ressignificar e mudar, Perls (1988) afirma que o conceito holístico em psicoterapia possibilita lidar com o ser humano como um todo, onde pode-se observar como as ações físicas e mentais estão entrelaçadas.

É uma abordagem que a partir de seus conceitos de base percebe o indivíduo como um ser em construção, foca na awareness”: “[...] tomada de consciência da experiência atual” (GINGER; GINGER, 1995 p. 17), que acontece aqui-agora. Segundo Costa (2014) “[...] o agora inclui o equilíbrio de estar aqui, é o experienciar, o envolvimento, o fenômeno, a consciência” (p. 136).

Essa abordagem enfatiza que o ser humano encontra-se na relação com o meio, buscando satisfazer suas necessidades (equilíbrio, funcionamento, harmonia), que de acordo com Lima (2014), “[...] pela autorregulação podemos sobreviver a essa demanda de sermos, para além de organismos, criadores e criaturas que ao nos modificarmos, modificamos a nossa realidade” (p. 102).

Essas modificações acontecem na interação organismo/meio, nessa perspectiva Frazão e Fukumitsu (2014) explicam que “[...] é por meio do contato que ocorrem as trocas entre indivíduo e ambiente, promovendo os processos de crescimento e desenvolvimento humano” (p. 9). Perls (1988) esclarece que “[...] o estudo do modo como o ser humano funciona no seu meio é o estudo do que ocorre na fronteira do contato entre o indivíduo e o meio. É neste limite de contato que ocorrem eventos psicológicos” (p. 31).

Segundo Frazão e Fukumitsu (2014) “[...] é por meio do contato que uma figura pode emergir do fundo, e o contato sintetiza a necessidade de união e separação” (p. 9).

De uma forma mais geral, Ginger e Ginger (1995) esclarecem que a Gestalt não quer só explicar as dificuldades, quer experimentar soluções novas, sentir como, mobilizar a mudança, não procurar um por quê.

Pensando na possibilidade de um atendimento individual para o agressor do “bullying”, a psicoterapia deve ter como objetivo facilitar a ampliação da awareness”, e consequentemente integração desse indivíduo com o meio.

Há casos em que os agressores são encaminhados para psicoterapia, e isso já pode criar uma resistência em relação ao processo terapêutico, nessa perspectiva, é de extrema relevância ter uma postura dialógica, como Vavassori (2010) explica: “[...] a abordagem dialógica é o acolhimento da alteridade, da singularidade do indivíduo dentro do contexto relacional. Reconhecer e perceber a existência do outro, aceitá-lo e confirmá-lo em sua existência, permite que o encontro aconteça de fato” (p. 6).

Para corroborar com o manejo é possível utilizar técnicas e experimentos que possibilitem o processo contínuo de conscientização das sensações, sentimentos e emoções, a fim de que o agressor passe a ter consciência do seu comportamento agressivo, das consequências de suas atitudes e a partir disso possa a mudar.

Kyian (2001) salienta que a utilização das técnicas deve sempre visar o favorecimento da tomada de consciência e do contato do cliente com ele mesmo, possibilitando a integração, a conscientização do momento presente, através da espontaneidade e criatividade que isso pode trazer, o que propicia a awareness”. Ginger e Ginger (1995) fomentam que “[...] as técnicas só tem sentido em seu contexto global, isto é, integradas em um método coerente e praticados de acordo com uma filosofia geral” (p. 20).

Essas técnicas podem ser utilizadas tanto no atendimento individual, realizado no ambiente clínico, como também no atendimento em grupo que pode ser realizado ambiente escolar ou clínico, sempre focando o processo de conscientização. 

No atendimento individual, em nenhum momento o indivíduo deve ser  enquadrado em rotulações, deve ser visto para além do encaminhamento, o psicoterapeuta deve estar livre dos conceitos pré-concebidos, como sugere Zentarski e da Silva (2016), o terapeuta deve  identificar e avaliar se não percebe o agressor de forma negativa, por  saber que ele causa sofrimento em outros indivíduos (vítima), caso isso aconteça sem que o terapeuta perceba,  pode prejudicar o processo.

As técnicas aplicadas em grupos, devem ser voltadas para os alunos, com  o intuito de que haja  integração, momentos de vivências e  trocas entre os participantes, para os pais, a fim  de conscientizá-los para que possam reconhecer comportamentos e atitudes que esse tipo de violência produz, incentivando-os a participarem da vida escolar dos filhos e para os profissionais, com o propósito de  que os mesmos consigam diferenciar o que é brincadeira e o que é bullying,  as mesmas podem ser inseridas nas dinâmicas e aplicadas de acordo com o grupo onde o bullying será trabalhado .

Na interação pode ser usado um exercício de “Awareness” que costuma ser usado como aquecimento; visando sentir o próprio corpo, reconhecer os próprios sentimentos; “Dramatização” para mobilizar o corpo, a emoção, vivenciando a situação (utilizando situações que ocorrem no “bullying”); Polaridades, vivenciar sentimentos em profundidade (vivenciar os sentimentos das vítimas, agressor e testemunha).

No atendimento individual (clínica) com o agressor pode ser utilizado técnicas que possuam caráter vivenciais, para que o mesmo possa expressar e expor os sentimentos que se apresentam durante sua prática agressiva contra a vítima, como possibilidades podemos utilizar: Cadeira Vazia”, o terapeuta utiliza uma cadeira para ser usada para representação personagens de situações inacabadas, aspectos projetados ou outra possibilidade de dissociação e conflito ; Monodrama”, o protagonista desenvolve vários papéis (de agressor, de vítima e de testemunha) da situação evocada por ele; Amplificação”, tornar explícito o que está implícito (os sentimentos existentes durante as agressões); Exageração”, o terapeuta diz o que deve ser exagerado (de acordo com o que for exposto pelo indivíduo em relação ao “bullying”) e essa eleição é determinante para o resultado do processo; Trabalho com sonhos”, é feito através da descrição, dramatização dos diversos elementos dos sonhos, entre outras, pois vai emergir a partir do cliente.

E nesse contexto pode ser feito um processo de orientação aos pais buscando conscientizá-los do envolvimento do filho nessa violência e sobre o papel desempenhado pelo mesmo, incentivando sempre o diálogo e esses devem ser ativos e estarem dispostos a mudanças.

Por essa gama de possibilidades a Gestalt-terapia nos permite trabalhar o sujeito individualmente ou em grupo, buscando facilitar o desenvolvimento da empatia, de modo que o sujeito possa interagir respeitando a singularidade do outro.

Ainda no atendimento individual, Zentarski e da Silva (2016) em relação a vítima, sugerem que a intervenção psicoterapêutica dê ênfase à constituição de um vínculo sólido, fazer uso de trechos de filmes que ilustram situações que remetam às vivenciadas pelo paciente. Em relação ao agressor, os autores propõem fazer uma investigação das emoções, contextualizar em quais momentos elas são evocadas, para possibilitar o desenvolvimento da empatia, exibir relatos de casos, entrevistas, documentários e vídeos de casos reais para que o mesmo se conscientize e perceba os danos gerados a partir das agressões que comete.

Schult et al. (2012) explicam que por ser um fenômeno complexo, é preciso considerar que a intervenção em um fator reflete em todos os outros, tanto na ocorrência como na sua prevenção.

Intervenção, de acordo com o Dicio (Dicionário Online de Português, 2017), é o ato de exercer influência em determinada situação na tentativa de alterar o seu resultado; interferência.

Nessa perspectiva, Lourenço e Senra explicitam que,

"Quaisquer abordagens profissionais, preventivas ou de intervenção, devem ser efetivadas e consideradas sempre de modo interdisciplinar, acrescentando aí também a importância da intersetorialidade, para que o trabalho se configure como uma rede de proteção, assistência, estratégias educacionais e pedagógicas articuladas e metodologicamente definidas com objetivo promover bem estar e qualidade de vida a todas as crianças e adolescentes personagens da relação ‘Bullying’-Violência" (LOURENÇO & SENRA, 2012, p. 54).

A escola é apresentada como o ambiente onde mais acontece essa violência, e a partir desse ponto de vista a intervenção deve contemplar todos os envolvidos nesse contexto, já que cada ambiente possui suas particularidades, Cremer (2010) coloca que uma intervenção distinta pode acolher os alunos. Os profissionais da educação devem estar preparados, treinados para ouvir os estudantes sobre como vivem e o que os leva a cometer atos agressivos contra os colegas, podendo assim distinguir as situações e intervir coerentemente, ressalta ainda que a intervenção não deve seguir modelos prontos.

Conforme Pereira (2014) “[...] cabe à instituição escolar, a responsabilidade na prevenção e vigilância constante de seus alunos para que o bullying não ocorra. Identificar o problema e adotar medidas pedagógicas em relação aos alunos agressores e participantes desse ato, para coibir tal prática” (p. 12). Deste fato, concordamos com o autor de que a prevenção é um dos fatores-chave para a inibição dessa violência, a reflexão que fazemos é que as medidas aplicadas não sejam de afastamento ou punição, mas sim de conscientização.

Para Zoboli (2014), a escola deve trabalhar a socialização dos alunos e desenvolver conteúdos que favoreçam à obtenção de conhecimento e bom relacionamento interpessoal, e favoreça atividades que intensifiquem os valores, tais como: amizade, solidariedade, respeito e paciência. E, dentre outros, como exemplos dessas atividades, a autora sugere leitura de textos, assistirem vídeos e palestras sobre “Bullying”, além de facilitar que discutam em grupos.

É preciso a participação de todos visando estabelecer diretrizes e ações que priorizem a compreensão das consequências do “bullying”, é essencial o apoio às vítimas, para que as mesmas se sintam protegidas e os agressores reflitam sobre seus atos, para que a escola seja um ambiente saudável e seguro.

É importante ressaltar como o papel da família é fundamental no desenvolvimento do indivíduo e que a desestruturação e a violência que ocorre nesse sistema pode desencadear em comportamentos agressivos como o “bullying”.  Pereira (2014) discorre que para a formação de um ser humano, é necessário que, “[...] desde a infância ele seja norteado por princípios, levem valores éticos, morais, religiosos e cívicos, para se tornar um cidadão digno e respeitador, onde possa contribuir para uma convivência harmoniosa em sociedade” (p. 10), e a base fundamental para a implantação e preservação de tais princípios advém num primeiro momento da família e na sequência da escola.

A intervenção nesse contexto deve utilizar métodos que priorize a orientação aos pais, a fim de conscientizá-los dos prejuízos que essa violência produz, e de modo a pensar seu filho como uma possível vítima, agressor ou espectador, fazendo-os refletir como poderiam lidar com essa situação, buscando estratégias para cada um dos contextos.

Em relação ao “cyberbullying” – por ser amplo – requer uma intervenção de maior alcance e principalmente a participação dos pais. Wendt e Lisboa (2013) sugerem que para proteger os jovens é preciso uma atitude dinâmica e atenta por parte dos pais e responsáveis, é necessário que estes estejam próximos dos seus filhos, para orientar e acompanhar o que eles realizam nas redes sociais, essa presença não deve ser evasiva, mas também não pode ser permissiva. Ainda segundo os autores, o enfrentamento nessa categoria apresenta desafios, requer dos pais, professores e responsáveis por políticas públicas, uma compreensão dessa nova geração de crianças e adolescentes influenciados pelas tecnologias.

Outras sugestões de intervenções voltadas ao agressor exposta por Martins e Almiro (2012) é: “[...] discutem-se as ações desse agente em nível criminal, a criança ou o adolescente sofre rotulações, como marginal ou personalidade agressiva patológica” (p. 20). Ainda segundo os autores, seja na mídia, na escola, na rua, quando se fala do agressor não é feita uma análise que avalie o contexto histórico desse jovem, pensar o agressor como marginal, com punição criminal é legitimar essa violência. Souza (2015) complementa ressaltando que os mesmos são por vezes considerados “[...] malvados, mentes perigosas, tidos como incorrigíveis, a visão é a de que eles devem ser denunciados, identificados, contidos e punidos” (p. 50).

São poucas as intervenções voltadas para o agressor, na verdade não focam o indivíduo, e com isso esse comportamento produzido por ele vai sendo repetido e sendo aceito como normal, porém, quando uma vítima chega ao extremo do seu sofrimento, é que esse agressor é percebido e punido, devido a esse fato, postula-se que trabalhar a conscientização e respeito às diferenças é algo que pode mobilizá-lo.

No entanto, é necessário avaliar a corresponsabilidade social, familiar e política na construção desse agressor, pois como existe uma permissão social que abona as chacotas e apelidos, como fazendo parte do desenvolvimento, fica difícil definir as dimensões e de reconhecer quando alguém é um agressor.

As intervenções apresentadas demonstram que se deve compreender todos os âmbitos de relações desses indivíduos, Schultz et al., reforçam:

"Em esforço conjunto, pais, a comunidade e a escola devem criar e manter regras claras contra o ‘bullying’ e planejar estratégias de prevenção e tratamento, pois se sabe que a falta de intervenções efetivas contra esse fenômeno leva o ambiente escolar a tornar-se totalmente contaminado por sentimentos de ansiedade e medo que acabam por afetar todo o processo de convívio e aprendizagem" (SCHULTZ et al. 2012, p. 253).

Colocar em prática intervenções que produzam resultados requer empenho das partes envolvidas, a intervenção deve contemplar as relações. Na psicoterapia individual é possível buscar o crescimento e conscientização desse agressor, o trabalho na escola pode ser direcionado para a orientação dos pais, capacitação de professores e conscientização dos alunos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O “bullying” é um fenômeno que causa grande sofrimento psicológico, apesar de estar sendo discutido por várias áreas de conhecimento, ainda é muito presente no cotidiano de crianças e adolescentes. A maior frequência é no ambiente escolar, e tem se manifestado também através das mídias sociais. É uma violência que prejudica todos os envolvidos, trazendo consequências posteriores e resultados extremos de violência.

A partir da pesquisa realizada foi possível constatar que o “bullying” precisa ser encarado como uma violência que produz sofrimento, que os danos causados repercutem para além da fase escolar, que as relações individuais e sociais têm grande influência na propagação da violência e que algumas vezes o agressor é apresentado por meio de rotulações, além  de ser visto como um possível infrator na vida adulta.

 Destaca-se então, a importância dos profissionais da Educação estarem preparados para lidar com o “bullying”, e o quão significativo é a participação dos pais no enfrentamento. Sugere-se a participação de todos e as intervenções devem ser direcionadas a todos os envolvidos.

Durante a pesquisa pôde-se encontrar algumas dificuldades na produção do artigo, relacionadas a material que apresentasse dados e pesquisas sobre o agressor, pois as produções com esse enfoque são escassas, o que impossibilitou uma discussão sobre o mesmo, contudo foi compreendido o quanto a Gestalt-terapia pode contribuir na produção de intervenções voltadas tanto para os envolvidos, como para trabalhar individualmente esse indivíduo.

Essa pesquisa propicia sugestões de intervenções que mobilizem e facilitem a conscientização do agressor, através de um olhar psicológico e que podem ser aplicadas em vários contextos, possibilitando assim uma diminuição dessa violência, além de propor uma reflexão sobre o agressor, pois ele é o maior responsável pela ocorrência do “bullying”, onde seu modo de agir possibilita fazer várias vítimas.

Somando-se a isso, nessa perspectiva trazemos algumas reflexões que consideramos significativas para a área psicológica, social, educacional, haja vista, precisar discorrer mais sobre esse agressor, pois é importante saber quem ele é, compreender como se percebe nas relações, como é o seu contexto familiar, como se comporta em suas outras relações,  e se a partir da conscientização dos seus atos e do entendimento sobre sofrimento que causa aos outros, se tem uma possibilidade de parar de repetir esses atos, são perguntas que nos levam a querer futuramente produzir pesquisas de campo com esse enfoque.

Por perceber a indisponibilidade de intervenções que focam o agressor, e por perceber que o mesmo só recebe atenção a partir das consequências que produz na vítima, enfatizo que é de extrema relevância proporcionar mais reflexões e desenvolver pesquisas sobre o “bullying”, e principalmente sobre o agressor.

 

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NOTAS

* Ana Cristina Vitor Cardonha – Psicóloga clínica graduada pelo Centro Universitário Estácio de Sá do Ceará - CE.
** Deyseane Maria Araújo Lima – Psicóloga Clínica. Doutora em Educação. Mestre em Psicologia. Especialista em Psicologia Clínica (CFP).  Especialista em Educação à Distância. Especialista em Educação Inclusiva. Formação em Gestalt-Terapia. Formação em Gestalt-terapia com crianças e adolescentes. Formação em Gestalt-terapia com casais e famílias. Diretora da Vincular: Centro de Estudos, Pesquisa e Psicoterapia. Professora da Graduação e Pós-graduação em Psicologia.

 

Endereço para correspondência
Ana Cristina Vitor Cardonha
Endereço eletrônico:anacardonh@hotmail.com
Deyseane Maria Araújo Lima
Endereço eletrônico:deyseanelima@yahoo.com.br

 

Recebido em: 07/06/2018
Aprovado em: 31/07/2019