ARTIGO

Adolescência na contemporaneidade: Uma perspectiva dialógica

Adolescence in contemporary times: A dialogical perspective

 

Bárbara Zaida Rampa Dias*; Ana Maria Veiga Lima**

ComUnidade Gestáltica - Florianópolis - SC .

Endereço para correspondência

 


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo compreender a forma como os adolescentes estão vivenciando a adolescência, enquanto fase da vida, na contemporaneidade, a partir de uma aproximação com a abordagem dialógica de Martin Buber (1979). Trata-se de um estudo qualitativo, no qual o método utilizado foi a pesquisa bibliográfica de artigos e textos sobre o tema adolescência e contemporaneidade a partir da perspectiva da Gestalt-terapia em bases de dados "online" e livros e a interlocução com a Abordagem Dialógica. A partir dos resultados, percebeu-se que os adolescentes estão se desenvolvendo em um período de transição na história da humanidade, baseados em valores incertos e extremamente fluídos que não estão dando sustentação para que eles lidem com as situações atuais. Constatou-se que o contato humano tem perdido espaço para os interesses econômicos e possibilitado a cristalização das relações, aumentando o uso das redes sociais como forma de expressão e auto exposição, bem como sintomas e sofrimento psíquico.

Palavras-chave: Adolescência; Contemporaneidade; Abordagem Dialógica.


ABSTRACT

The present study aimed to describe how teenagers are experiencing this phase of life in contemporary, dialogue with the dialogic approach of Martin Buber (1979). This is a qualitative study, on which the method used was a literature search of articles and texts about the topic adolescence and contemporaneity from the perspective of Gestalt therapy in online databases and books and interlocution with a Dialogical approach. From the results, it was realized that teenagers are developing in a transitional period in humanity's history, based on uncertain and extremely fluid values that are not giving support to cope with current situations. It has been seen that human contact has lost space for economic interests and made possible the crystallize relationships, increasing the use of social networks as a means of expression and auto exposure, as well as symptoms and psychic distress.

Keywords: adolescence, contemporaneity, dialogic approach.

 

1- INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é depreender a adolescência na pós-modernidade sob a perspectiva da Gestalt-terapia e de uma aproximação com a abordagem dialógica de Martim Buber (1979). Para isto, foi realizada a revisão bibliográfica sobre o tema adolescência a partir da perspectiva da Gestalt-terapia; bem como sobre a abordagem dialógica. E por fim, uma interlocução entre ambos.

A adolescência é denominada por muitos teóricos (ABERASTURY & KNOBEL, 1971; ERIKSON, 1968; HALL, 1904) como um momento de crise e grandes experimentações e transformações. Ocorrem mudanças bruscas no corpo, como a primeira menstruação, a primeira ejaculação, o desenvolvimento das características sexuais secundárias, o desenvolvimento neuronal e psíquico; de interesse; maior autonomia; desenvolvimento de novas habilidades corporais e sociais; novas descobertas; maior capacidade de reflexão sobre si e o mundo (LIMA, 1997).

 É compreendido como um período de construção de uma subjetividade, diferente da infância (SILVEIRA, 2018a), no qual emergem conflitos e questionamentos sobre as opiniões, tradições e introjetos familiares e sociais (ZANELLA, ANTONY, 2016). É um momento propício para as primeiras experiências sexuais, para novos aprendizados e desenvolvimento de outras habilidades sociais, não obtidas na infância (MIRABELLA, 2013).

O conceito de adolescência, no entanto, é uma construção sociológica recente na história da humanidade e nem todos os países do mundo reconhecem essa fase da vida. Esse conceito foi construído a partir da mudança na estrutura familiar, econômica e na escolarização, a partir do século XVI, por meio do desenvolvimento industrial e econômico (ÀRIES, 1981).

Segundo a UNICEF (2011), a adolescência é compreendida como uma fase de transição na vida do ser humano, que se estende dos 10 anos aos 19 anos de idade.  No Brasil, a adolescência se estende dos 12 anos até os 17 anos incompletos, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1998. Neste estudo, será considerada a faixa etária de 10 a 19 anos, descrita pela UNICEF (2011), uma vez que serão discutidos adolescentes de outros países.

Para Gestalt-terapia, o desenvolvimento humano não é divido em fases e estágios. O crescimento é tido como a passagem do heterosuporte (suporte externo) para o autossuporte (suporte interno). Esse processo se dá de modo singular por meio das mudanças orgânicas e pelo tempo histórico, lugar, classe socioeconômica, estrutura familiar e outros fatores (SILVEIRA, 2018b). O homem é visto sempre em transformação (PERLS, HEFFERLINE e GOODMAN, 1997), por isso, a adolescência é compreendida como período de muitas experimentações, e não simplesmente como uma preparação para a vida adulta, conforme é ressaltado por Aguiar (2015).

Para compreender o conceito de contemporaneidade, foi procurado nos dicionários HOUAISS (2009) e AURÉLIO (2010) seu significado. Ambos descreveram contemporaneidade como: característica, particularidade ou estado de ser contemporâneo; qualidade de existir ao mesmo tempo; coexistência. O que acontece na época presente. O sentido utilizado nesse trabalho será o que acontece na época presente.

Segundo Bauman (2001) os valores humanos têm se transformado no último século, influenciados pela transição da modernidade para a pós-modernidade. A primeira ficou conhecida como um período de tempo na história da humanidade baseada em valores mais sólidos e tradicionais; já a segunda pode ser compreendida como o momento atual, movido por valores fluídos e incertos.

A partir do paradigma da racionalidade moderna determinista e parcial, foi possível desenvolver uma capacidade de produção e fragmentação da vida humana que traz miséria e alienação das necessidades do ser humano e possibilita um sentimento de insatisfação contínuo, uma liberdade de ser sem muita responsabilidade e a falta de contato entre os seres humanos (NUNES, 2008).

O contato humano é descrito pela abordagem dialógica como algo crucial para o desenvolvimento e equilíbrio humano. Esta abordagem, desenvolvida por Martin Buber (1979), aborda a relação entre o ser humano à sua volta, valorizando a singularidade, a presença e o encontro humano. O autor ressalta o dialógico por meio das palavras princípio Eu-tu e Eu-isso, a primeira refere-se sobre a presença no momento do encontro com outro e a segunda, ao mundo das ideias e ação de refletir sobre o vivido.

 Nessa nova realidade, a presença humana tem perdido espaço para uma atitude unicamente Eu-Isso, como descrita por Buber (1979). Baseado em interesses sociais e econômicos, o homem tem deixado de lado seus valores, sua disponibilidade e responsabilidade pelo encontro com o outro, o que tem gerado maior enrijecimento das relações humanas e, consequentemente, menos suporte e mais sofrimento.

A vivência dos adolescentes na contemporaneidade é influenciada por individualismo, descartabilidade, hedonismo, culto ao corpo e valores que podem propiciar a cristalização da relação do homem com o mundo, como descrito por Buber (1979). A busca por atendimento psicoterapêutico de adolescentes com sintomas de depressão, automutilação e tentativa de suicídio é crescente no Brasil. Considerando a necessidade de refletir sobre como esses valores contemporâneos influenciam a vida dos jovens, justifica-se a relevância científica e social deste estudo. 

Neste estudo, será detalhado o método de pesquisa utilizado; em seguida, a conceituação da adolescência e os resultados bibliográficos encontrados sobre a adolescência no período contemporâneo na perspectiva da Gestalt-terapia; logo após a descrição dos dados sobre os sofrimentos psíquicos agravados entre adolescentes e por fim, a conceituação da Abordagem Dialógica e a discussão com a o tema proposto.  

 

2 – METODOLOGIA E DESCRIÇÃO DO FENÔMENO

Trata-se de um estudo qualitativo de natureza básica que tem por objetivo a exploração da temática adolescência na contemporaneidade através da pesquisa bibliográfica de artigos e textos em bases de dados "online" e livros. Existem diferentes tipos de procedimento ao pesquisar um determinado fenômeno, sendo a pesquisa bibliográfica um deles. Esta é um levantamento de referências teóricas que já receberam um tratamento analítico e foram publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, "web sites". Geralmente, investigam ideologias ou se propõem analisar as diferentes posições de um problema (FONSECA, 2002).

Para isso, foi feita uma pesquisa nos relatórios da UNICEF e no Ministério da Saúde do Brasil sobre adolescência e uma pesquisa de artigos nas bases de dados Google, Google Acadêmico, Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e CAPES, utilizando as palavras-chave "adolescência" e "gestalt-terapia" associadas e a palavra-chave "adolescência" associada à "contemporaneidade", nos meses de junho e julho de 2017 e refeita no mês de agosto de 2018. Os critérios de inclusão foram a descrição do tema adolescência sob a perspectiva da Gestalt-terapia e as palavras-chave estarem presentes no resumo dos textos.   

Foram encontrados 284 artigos utilizando as palavras-chave adolescência e contemporaneidade, escolhidos 26 inicialmente baseados nos critérios pré-estabelecidos, descritos acima. Depois de realizada a leitura completa dos 26 artigos, 23 destes não contemplavam a problemática deste estudo, sendo utilizados os demais para a fundamentação teórica. Ao colocar as palavras adolescência e gestalt-terapia foram encontrados 189 artigos e utilizados nesse estudo, oito artigos.     

A partir do que foi encontrado, realizou-se uma leitura crítica com objetivo de selecionar as fontes que respondiam e se enquadravam ao objetivo deste estudo. Após esta seleção, a autora dialogou com a base teórico-conceitual da Abordagem Dialógica e agregou, então, seus comentários e reflexões.

 

3 – ADOLESCÊNCIA: CONCEITUAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA GESTALT-TERAPIA

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF (2011), a adolescência é uma fase de transição na vida do ser humano, que se estende dos 10 anos aos 19 anos de idade. A fase inicial da adolescência ocorre entre os 10 e os 14 anos de idade. Nessa etapa, geralmente acontecem mudanças físicas (crescimento, desenvolvimento dos órgãos sexuais e características sexuais secundárias) e mudanças psíquicas. Essas mudanças podem gerar ansiedade, entusiasmo, orgulho, confusão.

A fase final da adolescência vai dos 15 anos aos 19 anos de idade, quando o corpo ainda se encontra em desenvolvimento, apesar das principais mudanças físicas já terem ocorrido. O cérebro continua a desenvolver-se e a reorganizar-se, a capacidade de pensamento analítico e reflexivo é ampliada. Geralmente, nesse período, os adolescentes ingressam no mundo do trabalho ou continuam estudando, estabelecem a própria identidade e visão de mundo e passam a participar ativamente na organização do mundo (UNICEF, 2011). 

A conceituação de adolescência é influenciada pelo contexto histórico-cultural de cada país. No Brasil, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, "considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade". Neste estudo, será utilizada a faixa etária entre 10 e 19 anos que é considerada pela UNICEF, uma vez que serão abordados modos de viver de outros, além do Brasil.

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009 havia 1,2 bilhões de adolescentes entre 10 e 19 anos de idade em todo o mundo, correspondendo a 18% da população mundial. Desses, 88% vive em países em desenvolvimento e mais da metade vive nas regiões da Ásia Meridional ou do Leste da Ásia e Pacífico; cada uma delas abriga aproximadamente 330 milhões de adolescentes. Em países industrializados, representam 12% da população. A Índia apresenta a maior população nacional de adolescentes (243 milhões), seguida por China (207 milhões), Estados Unidos (44 milhões), Indonésia e Paquistão (ambos com 41 milhões). Em todas as regiões que dispõem de dados, o número de meninos adolescentes é maior que o número de meninas, inclusive nos países industrializados (UNICEF, 2011).

Globalmente, o número de adolescentes atingiu seu pico em 1980, representando pouco mais de 20% da população mundial, e continuará crescendo até meados de 2030, em números absolutos. Contudo, na maioria dos países do mundo, a parcela de adolescentes na população total já vem diminuindo e continuará diminuindo de maneira constante em todo o mundo até 2050. Outro dado importante é o de que, nas próximas décadas, um número cada vez maior de adolescentes viverá em áreas urbanas. Em 2009, era cerca de 50%; até 2050, essa parcela chegará a quase 70%, sendo que os maiores aumentos ocorrerão nos países em desenvolvimento (UNICEF, 2011).

O reconhecimento da adolescência como uma fase que separa a infância da vida adulta é recente. Durante a maior parte da história da humanidade a adolescência não era reconhecida. Muitas sociedades e comunidades, ainda hoje, não definem com precisão essa linha divisória. Os adolescentes não formam um grupo homogêneo, o que têm em comum é a idade, mas vivem circunstâncias e necessidades diversas (UNICEF, 2001).

Em algumas sociedades, espera-se que os adolescentes e até mesmo crianças mais novas trabalhem, paguem suas contas e prestem serviço militar. São considerados, assim, adultos menos desenvolvidos. Já em outras, esse período é marcado por um rito de passagem que confirma a expectativa de que o indivíduo assuma sua independência, responsabilidades e privilégios vinculados à vida adulta (UNICEF, 2011). 

Para compreender, inicialmente, a adolescência, primeiro se partiu do conceito e da população existente nessa faixa etária. É importante ressaltar que, mesmo dentro dos conceitos genéricos utilizados acima, percebeu-se que a adolescência não é vivida da mesma forma nos diferentes cantos do mundo. Essa diferenciação e singularidade podem ser compreendidas sob a perspectiva da Gestalt-terapia e por meio dos conceitos de campo, contato e ajustamento criativo da Gestalt-terapia, os quais serão descritos ao longo deste texto.

Lira (2010) ressalta que em cada contexto a adolescência é única. Portanto, esse período da vida poderá ser vivido de diferentes modos, dependendo da cultura, da economia, das relações sociais, de aspectos biológicos e naturais de cada pessoa e ambiente.

"Falar em adolescência é falar de uma das etapas do desenvolvimento humano que se caracteriza por alterações físicas, psíquicas e sociais. No entanto, não podemos falar de uma única adolescência, mas de muitas adolescências, uma vez que a vivência da adolescência é única, influenciada pelo campo e pelo "self". [..] podemos observar que diferentes campos possibilitam diferentes formas de "ser adolescente": a condição socioeconômica da família, os hábitos, o contexto sociocultural, a religiosidade são fatores do campo que irão afetar o adolescente e promover modos diferentes de ser e estar no mundo". (LIRA, 2010, p. 20).

Assim sendo, toda investigação biológica, psicológica ou sociológica deve partir do princípio da interação organismo-meio. Perls, Hefferline e Goodman (1997) deixaram claro que não há como falar de um animal ou de uma função do mesmo refletindo de forma isolada. É necessário sempre referir a este campo interacional.

Aguiar (2015) ressalta que, para a Gestalt-terapia, o ser humano não é dividido em etapas do desenvolvimento, uma vez que o homem está sempre em transformação em busca de um equilíbrio entre suas necessidades e as possibilidades de satisfação do meio. Sendo assim, essa abordagem não considera o ser humano como um projeto inacabado ou imperfeito que se concretiza quando chega na vida adulta. Segundo Baroncelli (2012), falar em adolescência apenas como uma transição para a vida adulta pode significar cair no vazio, o qual é gerado pela falta de olhar para elementos de um campo, que estão sempre em mutação em um determinado tempo-espaço.

De acordo com Lima (1997), muitos estudiosos denominam a crise da adolescência como "síndrome da adolescência normal", formada por inúmeros sinais e sintomas com diferentes causas e determinantes, de cunho biológico e constitucional, histórico, psicológico e ambiental.

"Sabe-se que a adolescência se constitui uma fase de conflitos, de polaridade" (PINHEIRO, 2013, p. 87) e que, durante esse período de vida, o indivíduo, geralmente, vivência experiências diferentes da infância que lhe possibilitam questionar os valores familiares e sociais e perceber aqueles que fazem mais sentido para si. Isso gera conflitos internos e externos que exigem um tempo de assimilação. Durante esse processo, o adolescente pode apresentar comportamentos opostos, por isso se denomina essa uma fase de polaridades.

Para Imperatori e Macedo (2017) a forma de relacionar das crianças é diferente dos adolescentes, uma vez que as crianças, geralmente, são mais confluentes nas situações vividas, por necessitar se adaptar aos costumes e necessidades dos outros; enquanto que os adolescentes tem um ajustamento, predominante, egotista, pois tem necessidade de voltar seu olhar para si. Tem um fronteira de contato mais rígida, durante esse processo de construção da identidade e auto-afirmação.

A adolescência é um processo de preparo e instrumentação para futuras crises que o ser humano passa na vida adulta e na velhice. A forma como é dada essa passagem influencia outras fases e crises da vida. Pode ser difícil ou fácil de ser assimilada, isso dependerá de fatores ambientais e pessoais (AGUIAR, 2015).

O amor, o amparo e a orientação familiar são influências favoráveis; o abandono, a negligência e o descaso são profundamente lesivos. O bem suceder dos primeiros anos da infância, a amorosidade e o senso de limites experimentados pela criança são decisivos para o bem suceder da travessia adolescente. (LIMA, 1997, p. 91-92).

"Do ponto de vista corpóreo, biológico e constitucional, convencionou-se considerar como início da adolescência o período em que o corpo passa por mudanças hormonais, em torno dos doze, treze anos de idade" (LIMA, 1997, p. 93). Baroncelli (2012) afirma que, no olhar da Gestalt-terapia, cada adolescente manifesta a concretude da existência do "ser-no-mundo", a qual inclui os aspectos fisiológicos das mudanças corporais, mas não se limita a isso. Para Alvim (2016), o corpo na concepção gestáltica não é apenas uma dimensão material de um corpo biológico, isolado em si ou determinado de fora. A vitalidade do corpo, sua condição de organismo que busca o equilíbrio constantemente por meio da relação e do ajustamento com outros organismos, também é considerada.

 Para buscar esse equilíbrio, o corpo, através de sua capacidade de orientação e manipulação, movimenta-se e cria novas formas de satisfação. Através desse movimento vivo no campo, o indivíduo vai desenvolvendo uma forma singular de andar, ver, falar, ouvir, movimentar-se, com capacidade de expressão e transformação. É por meio dessa dimensão do corpo que se faz e se refaz um sentido de si mesmo1 e do mundo (ALVIM, 2016). Segundo PHG (1997), o crescimento psicológico envolve fechar "gestalten" inacabadas, para isso é preciso entrar em contato e ter uma figura clara.

A adolescência é um novo nascimento, há a perda do corpo infantil e do abrigo quase exclusivamente familiar e escolar, assim como a descoberta de um mundo social com novas possibilidades. Novas instâncias desses lugares já conhecidos, bem como da comunidade, da cidade e do país, são descobertos; novas relações, cursos, atividades extraescolares, maior independência de ir e vir, sentir-se diferente, não corresponder às expectativas de si mesmos e dos cuidadores (OAKLANDER, 1980). O indivíduo ainda se encontra sob a responsabilidade de seus cuidadores, mas já está construindo autonomia e independência. Para Zanella e Zanini (2013), o desejo de crescer, de liberdade, de experimentar coisas novas aparecem, juntamente com o início da adolescência.

Perls, Hefferline e Goodman (1997) refletem essa transformação ao descrever que as novas mudanças e habilidades desenvolvidas pelo indivíduo possibilitam a ele novas formas de relação com o meio.

"Com o crescimento, o campo organismo/ambiente se modifica: isto contribui para mudanças no significado, os objetos relevantes, de sentimentos persistentes. Muitos traços e atitudes das crianças deixam de ser importantes; e há traços adultos que são novos, porque o aumento da força, do conhecimento, da fertilidade e da habilidade técnica constitui de fato, progressivamente, um novo todo". (PHG,1997, p. 113).

É um período de iniciação da independência, o indivíduo deseja autonomia e liberdade, por meio de um conflito entre si e o ambiente com objetivo de definição da identidade. Surgem questionamentos sobre as introjeções familiares e sociais. Para Zanella e Antony (2016) a individualidade só é possível de ser obtida por meio da diferenciação dos familiares, renunciando a independência da infância. Essa diferenciação é obtida por meio de um egotismo funcional, através do qual o adolescente torna-se autor da própria história.

O excesso de estímulos e novas experiências provoca alterações no indivíduo como um todo. Por meio desses, há a revisão dos antigos valores e novos posicionamentos na vida, positivos ou não. Mirabella (2013) ressalta que o ser humano está o tempo todo sendo e afetando o meio, porém, na adolescência, isso ocorre de forma exacerbada e "a afetividade se mostra estrutura fundamental do ser humano por possibilitar o encontro com os acontecimentos que são significados de alguma maneira, pois somos seres doadores de significados e a experiência se mostra a cada um singularmente" (MIRABELLA, 2013, p. 13).

Sendo assim, é possível compreender que somente por meio da experiência o homem afeta e é afetado pelo meio, pode se transformar e dá um novo sentido para o que viveu e para si. Todo esse processo gera conflitos.

Os conflitos fazem parte de toda a vida do ser humano e poderão ser de fácil ou difícil manejo, dependendo da relação entre indivíduo e meio. Lima (1997) ressalta que, em ambientes afetivos e emocionalmente equilibrados e pelos quais a criança desenvolveu uma confiança básica, há maior possibilidade de lidar de maneira mais fácil com esses conflitos. Já a prevalência do sofrimento no dia a dia do adolescente pode gerar sentimentos e emoções de desvalia, vergonha, culpa, angústia, idealização da vida adulta, dificuldade em fazer escolhas.

"A maioria dos esforços do jovem são tentativas de dissimular. Ocultar e desviar a atenção do ambiente em relação às supostas anormalidades que imagina serem atributos exclusivos seus. Envergonhado de confessar o que sente e percebe, ou temeroso que as supostas anomalias possam ser consequências desastrosas, o adolescente costuma se abrigar em uma espécie de casulo existencial "(LIMA, 1998, p. 95).

Devido às angústias e inseguranças geradas por esses conflitos, os adolescentes, muitas vezes, buscam uma vivência adulta, mesmo sem ter autossuporte para isso. Desejam a liberdade e a independência da vida adulta ao mesmo tempo em que sentem medo e ansiedade (OAKLANDER, 1980). Mirabella (2013) destaca que essa última condição pode ser idealizada como uma libertação, bem como imaginada como um futuro hostil e ameaçador, já que requer escolhas que podem comprometer durante toda a vida.

O grupo surge na adolescência como uma forma de mediação desses conflitos, como um abrigo que protege, compreende e auxilia nesse processo de diferenciação e separação da família. A escolha do grupo é determinada por hábitos e situações vivenciadas e pela necessidade de acolhimento do indivíduo (LIMA, 1997).

É importante destacar que, na adolescência, a maioria dos acontecimentos é vivenciada com intensidade. Ocorre normalmente uma oscilação de humor – a enorme apatia ou responsividade. O adolescente pode ter dificuldade em coordenar o impulso e a consciência, uma vez que sobra energia e lhe faltam parâmetros para dosar sua ação no mundo (LIMA, 1997).

Melo (2018) ressalta que o jovem poderá desafiar novas fronteiras para conhecer a si, ao outro e os limites de onde pode ir, para isso é importante o papel de seus responsáveis, os quais cabem delimitar o campo do que é possível ser vivenciado.  A autora destaca, que nesse processo, os pais entram em contato com a sua adolescência e vivenciam a ansiedade ligada a mudanças nos filhos e na dinâmica familiar.

É preciso que os responsáveis dialoguem e mostrem ao adolescente uma noção realista de seu atual momento de vida e do momento futuro, vendo-o "[...] como ele de fato é, com os recursos de que dispõe e com as limitações que ainda têm, assessorá-los e orientá-los naqueles aspectos ainda infantis e imaturos; validar e contribuir para consolidar o crescimento possível já manifesto" (LIMA, 1997, p. 98).

 

3.1 – Adolescência na contemporaneidade

Fernandes (2013) aponta que o adolescente de hoje é inquieto, faz muitas atividades e, depressa, relaciona-se em rede, escuta muita música sem dar muita importância à melodia, está ao mesmo tempo no quarto e no mundo, expõe sua intimidade nas redes sociais, vive em um ambiente cheio de câmeras que tudo registram, fala com pessoas que estão geograficamente perto via celular e por meio de uma linguagem cifrada e empobrecida. Suas escolhas são geralmente ditadas pelos modismos da época.

Pinheiro (2013) completa essas características do adolescente dos dias atuais, no contexto brasileiro, ao descrever sobre a pouca expectativa quanto à vida profissional, a pouca criticidade sobre questões políticas e sociais e o baixo interesse por atividades físicas e artísticas.

 Kliksberg (2006) contrapõe essa ideia ao relatar que a falta de preocupações, interesses, esforço e o exagero de conflitos são mitos no contexto latino-americano, uma vez que as falsas promessas eleitorais que não são cumpridas, o mau funcionamento econômico e social, a incredulidade, as exigências sociais e do mercado de trabalho e o estigma explicam esses mitos. Muitos adolescentes se interessam pelo que ocorre à sua volta por meio de atividades artísticas e culturais, movimentos sociais, entre outros. Oaklander (1980, p. 328) confirma que muitos jovens fazem tentativas de aprender a lidar com o mundo – procuram empregos, tomam decisões sozinhos e experimentam a independência –, mas a maioria deles é ignorada, rejeitada, não é levada a sério.

É importante descrever que, assim como ressaltado por Lewin (1936), só é possível compreender uma pessoa dentro de um determinado contexto. Cada movimento da pessoa ou de algo pertencente ao meio altera esse contexto e, consequentemente, essa relação. O autor denomina esse movimento de espaço de movimento livre: "por movimentos, temos de compreender não só os deslocamentos físicos, mas, acima de tudo, ‘locomoções' sociais e mentais" (LEWIN, 1936, p. 23).

Esses movimentos podem ser compreendidos como mudanças de paradigmas e comportamentos individuais e sociais que advêm com a modificação da economia, política e cultura que ocorre diariamente nos diversos cantos do mundo. Sendo assim, essas modificações alteram a forma como o homem simboliza o que vivencia.

Para Alvim (2016), o mundo que é percebido pelo homem tem uma dimensão física ou material, uma dimensão vital e outra humana que constrói uma realidade sociocultural por meio da simbolização, da criação e do compartilhamento de sentidos e significados. Desse modo, o campo não é apenas um construto material, uma vez que envolve todas essas dimensões descritas unidas em uma complexa totalidade, o que compõe a experiência perceptiva do homem.

Lewin (1936) descreveu a diferença da educação de crianças americanas e alemãs de classe média em 1936, período entre as duas Guerras Mundiais; contudo, esses são dados que servem, ainda hoje, para se pensar como as diferenças socioeconômicas e culturais interferem na vida dos adolescentes. O autor relata uma maior independência de crianças e adolescentes que moram nos EUA e a falta de submissão dos mesmos em relação aos adultos, sendo tratados de igual para igual. Já na Alemanha, mandar nas crianças e nos adolescentes é mais naturalizado e isso ocorre tanto na família quanto na escola.

"Na educação dos Estados Unidos, o respeito pelos direitos da criança está muito ligado à tendência de ajuda-la, de todas as formas, a tornar-se independente o mais depressa possível. [...] Em todos os países, encontram-se tendências semelhantes na educação progressiva, mas a liberdade real de escolha e o grau de independência efetiva pretendidos pelo adulto, e atingidos pela criança, parecem ser consideravelmente maiores nos Estados Unidos do que em ambiente comparável, na Alemanha" (LEWIN, 1936, p. 26-27).

Há maior espaço de movimento livre na educação americana, contudo, há, também, maior rigidez na estrutura dos regulamentos acadêmicos nos EUA, principalmente nas universidades, e uma heterogeneidade maior comparada à educação obtida em casa e na escola na Alemanha. Essa diferenciação foi influenciada pelos outros setores sociais que intervêm na educação, como o regime totalitarista alemão e o estilo norte-americano de vida. Esse último é marcado por maior liberdade e individualismo, regiões de maiores contrastes, maior contraste na vida social e econômica, mudanças bruscas de moradia e situação econômica, supervalorização do tempo, menor diferenciação na arquitetura e o caráter das cidades, menor diferença de hábitos e linguagem, menor distanciamento social, menor necessidade de isolamento em diferentes áreas da vida que não sejam as mais íntimas. Na Alemanha, o contato e a intimidade com outras pessoas ocorrem de forma gradual, existe maior heterogeneidade nas cidades e nos hábitos. Lewin (1936, p. 37) afirma que, entre os norte-americanos, "esse desenvolvimento muitas vezes se detém num certo ponto; e, após anos de relações relativamente íntimas, os amigos rapidamente feitos se despedirão com a mesma facilidade com o que o fariam ao cabo de poucas semanas de conhecimento", o que demonstra uma maior descartabilidade.

No Brasil, há influências culturais de diferentes países africanos, europeus e dos índios que aqui já estavam. Isso demonstra uma maior variedade de hábitos e costumes nas diferentes regiões do país e até mesmo dentro de uma mesma cidade. Contudo, com o advento do capitalismo e com a globalização, os Estados Unidos têm tido grande influência sobre a situação social e econômica do país, e valores como o individualismo, a supervalorização do tempo, a descartabilidade e o consumismo estão mais presentes na vida dos brasileiros.

Para Melo e Moreira (2008, p.52) "nos dias atuais a adolescência é considerada um processo cada vez mais longo, pois não se trata mais de pensá-la como faixa etária e sim como forma de lidar com os acontecimentos subjetivos de sua existência". A adolescência tem se prolongado com as imposições do consumo e da mídia sobre a proximidade do mundo infantil ao mundo adolescente e adulto. Assim, a autora questiona sobre o que está proporcionando essa mudança.

Bauman (2001) ressalta que houve, nos últimos séculos, uma mudança de uma modernidade sólida e de uma sociedade industrial baseada na produção para uma modernidade líquida e uma sociedade pós-industrial baseada no consumo; a transição de um mundo de certezas para um mundo de incertezas. Uma mudança na construção das bases do poder da sociedade sob a natureza para o contrário: a fragmentação da vida humana, a cultura do imediatismo, do prazer, da individualização, do consumismo como visão de felicidade. Uma mudança que afeta, principalmente, os valores, os quais deixaram de ser definidos.

Para Nunes (2008), a partir do paradigma da racionalidade moderna determinista e parcial, foi possível desenvolver uma capacidade de produção e individualização que traz miséria e alienação das necessidades do ser humano. Plastino (2005) destaca que, sem uma racionalidade holística, que inclui a existência das outras dimensões da vida, ocorre um desequilíbrio do todo social, privilegiando o interesse de poucos: "é uma lógica instrumental, totalmente desvinculada de uma lógica global estruturada em torno dos interesses da Humanidade e de seus objetivos de solidariedade, liberdade e igualdade" (PLASTINO, 2005, p. 124).

Outro conceito valorizado na contemporaneidade é a liberdade de ser o que se quer sem refletir sobre o que interfere nessa liberdade e a responsabilidade de cada um. Nunes (2008) destaca que houve uma polarização em relação ao passado. Se antes o ser humano era atado por obrigações coletivas, como, por exemplo, seguir sem criticidade os dogmas da religião e da tradição, as quais eram limitantes, hoje se cultua um individualismo, sem criticidade, que limita ao renegar a coletividade: "com isso, negligencia-se o fato de que o humano, ao mesmo tempo em que é livre, único e particular, necessitando efetivamente ter sua individualidade valorizada e respeitada, também é, e sempre será, um ser em-relação" (NUNES, 2008, p. 191).

Brito (2006) ressalta que o capitalismo trouxe mudanças nos valores, na estrutura familiar e nas relações sociais que interferiram no posicionamento do ser humano perante o mundo e a vida. A sociedade tornou-se individualizada. Anteriormente, a identidade do indivíduo era baseada na comunidade à qual pertencia, na nação à qual pertencia, no partido político ao qual pertencia. Hoje é diferente: a identidade deixou de ser herdada para ser criada pelo próprio indivíduo. Com a mudança de valores, foram abertas as portas de um mundo de oportunidades, o que traz a "liberdade de tornar-se qualquer um" e, ao mesmo tempo, a sensação de estar inacabado e incompleto (BAUMAN, 2001).

A liberdade ganhou um valor a mais, diante dos outros que não tinha. A felicidade era mais valorizada. O que inverteu, tornando-se dependente da liberdade. Para ser feliz é preciso ser livre. No entanto, essa liberdade se vivida sem maturidade deixa de promover crescimento e desenvolvimento e pode gerar uma ansiedade patológica. Brito (2006) destaca esse como um problema enfrentado pelo adolescente ocidental nesse início de século XXI. Atualmente, o adolescente precisa fazer muitas escolhas precocemente, sem que tenha tempo de amadurecimento de sua capacidade de escolha. E assim, essa liberdade transforma-se em desamparo. "[...] Para o adolescente de hoje é muito mais difícil eleger seus valores, principalmente porque ele se depara com uma sociedade que ainda não sabe como lidar com a liberdade" (BRITO, 2006, p.59).

O mundo de oportunidade também exige eleger prioridades e, assim, dispensar opções inexploradas; porém, isso gera uma dúvida em relação à escolha ter sido certa ou não. Bauman (2001) ressalta que essa incerteza e o desejo que nunca fora saciado é o que sustenta o consumismo.

"O consumismo de hoje, porém, não diz mais respeito à satisfação das necessidades – nem mesmo as mais sublimes, distantes (alguns diriam, não muito corretamente, ‘artificiais', ‘inventadas', ‘derivativas') necessidades de identificação ou a auto-segurança quanto à ‘adequação'. Já foi dito que o spiritus movens da atividade consumista não é mais o conjunto mensurável de necessidades articuladas, mas o desejo – entidade muito mais volátil e efêmera, evasiva e caprichosa, e essencialmente não-referencial que as ‘necessidades', um motivo autogerado e autopropelido que não precisa de outra justificação ou ‘causa'" (BAUMAN, 2001, p. 88).

Por meio do consumismo, há uma diluição das referências tradicionais e o fortalecimento do mercado como "único modelo" a ser seguido, o qual apresenta características de um modelo não impositivo, mas que perturba (NUNES, 2008).

Frazão (2017) descreve que, na sociedade contemporânea, está cada vez mais difícil conciliar o ser e o ter, já que esse último é mais valorizado e estimulado que o primeiro. Faltam suporte e cuidados necessários para que o indivíduo se constitua como pessoa e é preciso apoio para se dar conta de suas reais necessidades, manter contato com o meio e fazer escolhas claras.

Para Brito (2006) uma forma de diminuir a ansiedade dos jovens é auxiliá-los na discussão de valores e na discriminação daquilo que faz sentido para si. Os jovens com alta ansiedade, pouco questiona sobre as regras que lhe são impostas pela sociedade, cuidadores e pares. Tem sua opinião e escolha apoiada em introjetos apreendidos e não assimilados e sentidos.

Fernandes (2013) ressalta como esses valores têm influenciado a vida de adolescentes da classe média paulistana que, geralmente, recebem inúmeras exigências e estímulos como participar de ampla rede social, passear no shopping, fazer cursos e atividades para seu desenvolvimento profissional, frequentar academia com o objetivo de ter um corpo que atende ao modelo de beleza atual. Muitas meninas, por exemplo, apelam às cirurgias plásticas e aos tratamentos milagrosos para emagrecer (FERNANDES, 2013).

Para Nunes (2008) a preocupação em excesso pela beleza é baseada em critérios à priori do sistema do que é bonito. Nessa situação, a presença humana do ser é diminuída e tornar-se um para o ser humano contemporâneo. O corpo passa a ser moldado por padrões da sociedade contemporânea que anulam a sua singularidade. O corpo magro tem sido associado à beleza, bem-estar, riqueza e poder. Para Carvalho e Lima (2017), a mídia é uma das propulsoras dessa visão, influenciando inúmeros jovens a se preocupar em ter corpos dentro dos padrões legitimados pela sociedade. Quando o indivíduo percebe que seu corpo não se adequa a esses padrões, sentimentos de vergonha e inadequação podem surgir e gerar ajustamentos disfuncionais, como os transtornos alimentares. Queiroz de Brito (2017) destaca, ainda, que, por outro lado, o hiperconsumo de alimentos também está sendo estimulado atualmente, o que dificulta a noção do que e da quantidade que satisfaz. 

Na relação com o meio, o adolescente é influenciado por esses padrões de corpo e consumo; constrói sua identidade e busca, constantemente, satisfazer suas necessidades em um mundo de contradições, como destacado anteriormente. Nesse contexto, a singularidade do adolescente é reprimida pela uniformidade, pelo tédio e pela ausência de significação da cultura de massa, o que pode gerar ajustamentos de dessensibilização de suas necessidades (QUEIROZ DE BRITO, 2017).  

Esse excesso, que aparece em inúmeros aspectos, não facilita a reflexão sobre sua relação com o meio, a percepção e a elaboração de suas necessidades, sentimentos, emoções e conflitos, assim como compreensão sobre a perspectiva do outro, o cultivo de relações duradouras, essenciais para seu desenvolvimento. "O que vivemos agora é a expressão da pluralidade e da diversidade dos modos de vida que provocam, no adolescente, um sentimento de insegurança e de incerteza quanto às suas necessidades e à possibilidade de realizá-las [...]" (MELO, MOREIRA; 2008, p.52). Relacionado a isso, percebe-se o aumento de violência, de diagnósticos de transtornos psiquiátricos, do número de adolescentes em conflito com a lei, entre outros (FERNANDES, 2013). Segundo Pinheiro (2013) as queixas e os questionamentos dos adolescentes podem se transformar em sofrimento psíquico (tais como angústia, agressividade e ansiedade) e dificuldades acadêmicas (baixo desempenho, dificuldade na concentração), quando não são reconhecidos como expressões próprias do ato de viver.

Nunes (2008) coloca que, na contemporaneidade, a valorização da imagem baseada nas leis do consumo e na espetacularização da vida tem propriedades e ritmos diferentes da experiência de contato. O primeiro tem um ritmo acelerado, impulsivo e não requer um envolvimento pessoal, baseado em introjeções do imaginário social do que deve ser valorizado; o último exige o ir e vir e o envolvimento pessoal suscetível na experiência presente. 

Atualmente, o ser humano tem buscado outras experiências de vida que podem estar substituindo o aspecto relacional, que se encontra em falta em muitas vidas. O sexo desenfreado, por exemplo, pode ser uma forma de evitar o contato com o outro (LIMA, 1997).  O uso em excesso de álcool e outros tipos de substâncias também pode ser uma forma de fuga do contato com a ambivalência de sentimentos e emoções presentes no período da adolescência, assim como uma forma de substituição do aspecto relacional, mencionado anteriormente: "as drogas seriam uma maneira de aliviar a angústia e a insegurança relacionadas à diversidade de sentimentos que permeiam suas experiências" (MIRABELLA, 2013, p. 21).

Diante de sensações, emoções e sentimentos desconfortáveis e desejos que o ser humano, hoje, acredita não ser possível de atender, levam-no a buscar formas de alívio que também são formas de evitação de contato e dessensibilização. Aos poucos, o indivíduo se afasta de suas sensações genuínas e cria padrões fixos e cristalizados, dificultando o contato com o meio (CIORNAI, 2017). 

A tecnologização também é outro fator contemporâneo que interfere na forma como as pessoas se relacionam. Zanella e Antony (2016) afirmam que a internet é um meio de comunicação predominante, hoje, entre os adolescentes, que passam bastante tempo conectados por meio dos "smartphones", "tablets" e computadores em busca de novas amizades e relacionamentos amorosos que correspondam à satisfação de suas necessidades e de participar de comunidades, pelas quais projetam sentimentos e pensamentos íntimos. 

Para Zanella e Zanini (2013), a internet passou a ser uma forma de contatar o meio, predominantemente através do olhar e do ouvir, que possibilita novas percepções, incluir novos elementos e alterar a si e o meio. 

"Se em Gestalt entendemos a pessoa como um ser em relação, podemos compreender o adolescente como alguém exercitando seus ajustamentos criativos com o meio. O mundo circundante do adolescente se altera: suas fronteiras de contato incluem novos elementos – a internet entra com força total em seu mundo real e imaginário. [...] Ora, se a internet promove relacionamentos, podemos dizer que amplia a "awareness"" (ZANELA e ZANINI, 2013, p. 69-70).

Contudo, ao mesmo tempo em que é um meio reconhecido de comunicação, atualmente, a internet dificulta o desenvolvimento de um contato real em seus diferentes aspectos, de modo que um mundo imaginário é criado. Queiroz de Brito (2017) descreve que a ausência de fidedignidade entre a realidade e a virtualidade influencia a construção de identidades fictícias projetadas nas redes sociais, baseadas, geralmente, em padrões sociais.

A mesma autora ainda ressalta que, com a hipermodernidade, a privacidade tem sido invadida constantemente por meio das tecnologias. Qualquer indivíduo é facilmente encontrado em redes sociais, sites e blogues. Para Bauman (2001), a prática da exposição da própria vida já foi internalizada. Por meio da visualização dessa exposição, o indivíduo pode sentir-se realmente membro do mundo. Por outro lado, quando está desconectado da internet, a vida é cada vez mais deserta, uma vez que as ofertas de socialização, convivência, união, amizade estão sendo transformadas em ofertas "online" somente. Quando desconectado, essas ofertas deixam de existir, o que imprime fragilidade, não durabilidade.

 

3.2 – Adolescência e saúde mental

Segundo dados do Relatório da UNICEF (2011), em torno de 20% dos adolescentes de todo o mundo tem algum problema de saúde mental ou de comportamento. A depressão é o principal fator isolado que influencia essa prevalência entre indivíduos de 15 a 19 anos de idade. O suicídio é uma das três principais causas de mortalidade entre pessoas de 15 a 35 anos. Metade dos transtornos mentais inicia antes dos 14 anos de idade e 70%, antes dos 24 anos.

De acordo com PHG (1997) o ajustamento criativo ocorre na fronteira de contato e tem o objetivo de fechamento de "gestalten" abertas. O organismo busca sua autorregulação por meio de estratégias adaptativas para o bom funcionamento. Para isso, é preciso "awareness". Quando não se está consciente, o ciclo de contato pode ficar interrompido e o organismo em desequilíbrio. Em situações frequentes, pode gerar uma cristalização e um sofrimento agravado.

Para Melo e Moreira (2008, p. 60) "a fenomenologia da depressão está relacionada com o contexto social dos adolescentes. A depressão na adolescência, na cultura ocidental, tem aumentado devido ao conflito entre a sua necessidade de laços afetivos e a multiplicidade de situações de separação e de ruptura". Conforme Silva (2015) os laços afetivos estão diminuindo e tornando-se insuficientes para proteger os indivíduos dessas situações de separação e ruptura no Brasil, principalmente no Nordeste, região marcada pelo aconchego, convivência, contato entre as pessoas. 

O aumento é relacionado à pobreza, ao rompimento das estruturas familiares, ao desemprego crescente entre jovens e às expectativas educacionais e profissionais que não são possíveis de serem realizadas, e da família em relação aos filhos. Quando esses sofrimentos emocionais e sociais não recebem cuidados, percebe-se relação com baixo nível de realização educacional, desemprego, uso de drogas, comportamentos de risco, criminalidade, saúde sexual e reprodutiva precária, automutilação e cuidados pessoais inadequados, os quais são fatores que interferem no aumento do risco de morbidade e mortalidade prematura.

Pinheiro (2013, p. 87) afirma que "quanto mais adverso o contexto em que se desenvolve o adolescente, maior a necessidade de apoio para que se sobreviva e se desenvolva no futuro como um cidadão, e não como um ser invisível". O adolescente precisa de apoio para expressar seus sentimentos, emoções, confusões, assim como para perceber o que e como interrompe seu próprio fluxo organísmico e como pode assumir a responsabilidade sobre si (OAKLANDER, 1980).

Esse apoio pode advir do contato com a família e de outras instâncias sociais. No entanto, os responsáveis, geralmente, têm longa jornada de trabalho e outras obrigações longe desse adolescente, restando-lhes pouco tempo e energia para investir na convivência familiar com qualidade (FERNANDES, 2013). Pinheiro e Zanella (2015) chama atenção para a função materna e paterna, uma vez que a carência e a inversão dessas funções pode gerar sofrimento psíquico. Conforme Silva (2015) a relação entre pais e filhos adoece, quando ambos não conseguem se ajustar de forma criativa, perante o novo, lidando de forma não saudável. O contato pleno é interrompido, deixando comprometido o fluir da relação.

Em classes mais baixas da população brasileira, as inúmeras dificuldades que compõem a vida de muitas famílias, além do que foi descrito, também resultam da falta de oportunidades de trabalho e educação. Além disso, pode haver conflitos entre as gerações. Nem sempre os responsáveis se sentem preparados para lidar com as mudanças do adolescente e, assim, evitam o diálogo, também como forma de fuga de contato com aspectos próprios de uma adolescência não resolvida (PINHEIRO, 2013).

Segundo Kliksberg (2006), muitas pesquisas do ano de 2002 indicaram que, para os jovens latino-americanos, a família continua tendo sua fundamental importância na afetividade, saúde psíquica, equilíbrio emocional, maturidade, inteligência emocional, na capacidade de aprendizagem, entre outros. Jovens do México e do Chile, entre outros, percebem a família como um espaço harmônico no qual os conflitos são solucionados, em sua maioria, por diálogo.

Para Baroncelli (2012):

"Isso não significa, entretanto, que a condição sócio-econômica determina a adolescência de uma forma totalizante estabelecendo uma espécie de "classificação" de características da adolescência de acordo com as condições materiais. Na ótica gestáltica, o que muda são as forças presentes no campo, o que certamente afeta, mas de modo algum determina o comportamento e as experiências dos jovens" (BARONCELLI, 2012, p. 193).

Ao mesmo tempo em que há fatores comuns em cada sociedade, e até mesmo no mundo, é importante ressaltar que cada adolescente vai construir sua própria forma de lidar com as experiências do mundo, já que, para cada pessoa, esses fatores serão relacionados de modo único (NUNES, 2008). Assim, haverá tantos indivíduos que se ajustam criativamente por meio do desenvolvimento de doenças, transtornos, uso de qualquer substância em excesso, violência, alienação de si e do outro quanto aqueles que se ajustarão de modo mais satisfatório às condições sociais existentes.

Por fim, compreende-se que a adolescência é um período de vida marcado por transformações biopsicossociais, novas descobertas e experimentações no mundo e contradições de comportamentos; precisa de tempo e apoio dos pares e familiares para ser refletido e para ser vivido de uma forma mais satisfatória. Contudo, na contemporaneidade, o excesso de interesses sociais e econômicos propicia agendas lotadas e pouco contato humano, não facilitando esse processo de re-conhecimento e amadurecimento. Com isso, houve e há um aumento de sofrimento psíquico dos adolescentes, como descrito aqui.

 

4 – ADOLESCÊNCIA CONTEMPORÂNEA SOB A PERSPECTIVA DA ABORDAGEM DIALÓGICA

Segundo Buber (1979), o mundo, para o homem, é duplo, de acordo com a dualidade de sua atitude, assim como com a dualidade da palavra princípio que o homem proferir, Eu-Tu e Eu-Isso. Essas palavras são proferidas pelo ser: "O mundo como experiência diz respeito a palavra princípio Eu-Isso. A palavra-princípio Eu-Tu fundamenta o mundo da relação" (BUBER, 1979, p. 6). O mundo da relação ocorre em três esferas: a vida em natureza, a vida com os homens e a vida com os seres espirituais.

De acordo com Cromberg (2005, p. 38) "a OBRA CAPITAL de Buber, Eu e Tu (Ich und Du) constrói-se sobre os pilares das duas palavras-princípio (Grundwort): Eu-Isso e Eu-Tu. Buber chama de ‘relação' somente o que há entre Eu e Tu; já entre Eu-Isso há um ‘relacionamento'".

É importante compreender que a abordagem dialógica presente na obra "Eu e Tu", de Buber, foi escrita e publicada em 1979, final do século XX, período em que já havia sido iniciada a transição da modernidade para a pós-modernidade, bem como o início da tecnologização nas indústrias e a liberação de novas formas de pagamento de produtos do mercado, o que facilitava o consumismo.

Buber vivenciou essa transição e, a partir de sua experiência de vida, buscou responder sobre o problema que assolava a humanidade, a ruptura entre o homem e Deus. Buber era um judeu hassídico e acreditava que Deus se encontrava em cada ser vivo presente nesse mundo. Para isso, escreveu diversos textos e obras, inclusive o livro "Eu e Tu", em que descreve a abordagem dialógica.

É importante ressaltar que a abordagem dialógica enfatiza a relação entre dois seres humanos.

Segundo Hycner (1995):

"A dimensão do inter-humano manifesta-se no evento relacional – o diálogo – entre pessoas. Para Buber, o significado do inter-humano "...não será encontrado em qualquer um dos dois parceiros, nem nos dois juntos, mas somente no diálogo entre eles, no entre que é vivido por ambos. Sua realidade é maior que cada um dos indivíduos envolvidos" (HYCNER, 1995, p. 23).

O dialógico abrange o contexto relacional total em que a singularidade de cada indivíduo, assim como as relações abertas, mútuas e diretas entre as pessoas e a plenitude e a presença humana são valorizadas. É a resposta à alteridade do outro que só pode ser compreendida quando o indivíduo se abre no momento presente e responde à sua necessidade. É uma forma de abordar o outro que não necessariamente exige a fala; pode ocorrer em silêncio, desde que haja o verdadeiro encontro entre duas pessoas (FRIEDMAN, 1965 apud HYCNER e JACOBS, 1997, p. 28).

Isso pode ser relacionado com a compreensão da Gestalt-terapia de que o homem se forma e se transforma por meio da relação com tudo que está à sua volta. Mirabella (2013) destaca que na adolescência isso ocorre de forma exacerbada, uma vez que o adolescente passa a ter outras e novas experiências no mundo, diferentemente da criança, que passa mais tempo com a família. A autora ressalta que, por meio da relação, o adolescente afeta e é afetado pelo meio e, desse modo, significa o que foi vivido de forma singular.

O dialógico vai ocorrer no entre e é marcado por dois polos, o Eu-Tu e o Eu-Isso. Esses polos são palavras-princípio, as quais não são opostas, apenas apresentam intencionalidades diferentes. Por meio dessas intencionalidades, o homem consegue se relacionar com o outro e assumir sua existência: "A primeira é uma atitude de ‘conexão' natural e a segunda de ‘separação' natural. Ambas são essenciais" (HYCENER e JACOBS, 1997, p. 32). O viver saudável requer uma alternância rítmica entre as duas.

É importante ressaltar que o momento Eu-Tu é diferente da atitude Eu-Tu. O primeiro é uma dimensão que, junto ao momento Eu-Isso, forma a orientação/postura dialógica. Já o segundo é a forma como o indivíduo se coloca no meio, ou seja, como se aproxima do outro, sem "coisificar" o outro. 

Outra diferença está entre abordagem e postura dialógica; esta última implica a primeira. A abordagem é entendida como a orientação global pessoal e filosófica do indivíduo em sua relação com o mundo. Vai além de uma teoria, necessita ser sentida e vivenciada pelo ser humano. Para se ter uma postura dialógica, é preciso compreender, crer em e vivenciar a abordagem (HYCNER, 1995).

O Eu-Tu significa o encontro entre os homens por meio do acolhimento do outro. No momento em que ocorre o Eu-Tu, ocorre a afirmação da totalidade de cada ser. Eu confirmo a singularidade, a totalidade do outro, ao mesmo tempo em que isso também ocorre com ele. Sendo assim, confirmo a existência do outro sem finalidade: "a palavra princípio Eu-Tu só pode ser proferida pelo ser na sua totalidade. A palavra princípio Eu-Isso não pode jamais ser proferida em sua totalidade" (BUBER, 1979, p. 4).  

O Eu-Isso está presente no momento em que há um objetivo, uma consciência para uma reflexão. É a forma como o ser humano reflete sobre aquilo que está vivendo ou viveu, refere-se ao mundo das ideias. Em algum momento, qualquer indivíduo necessita realizar isso para atingir uma meta e, assim, as outras pessoas se tornam secundárias (HYCNER e JACOBS, 1997).

Cromberg (2005) ressalta que:

"O mundo do Isso é o mundo da e como experiência. Experienciar representa, para Buber, uma aproximação superficial às coisas – por mais profunda que seja a experiência – e um distanciamento do Tu. [...] Experiência implica, para Buber, um saber sobre "a natureza e a constituição das coisas", que correspondem para ele à superfície destas que será explorada pelo homem da experiência. No entanto, quando acontece de ele entrar em relação com algo – que pode ser um objeto, uma pessoa, um ser espiritual, uma obra de arte, etc. – não é com suas características que se relacionará – com as leis que o regem, a espécie ou categoria à qual pertence, sua composição, sua localização espaço-temporal, a carga emotiva que lhe atribuímos, a imagem visual que produz, etc. – mas com ele mesmo; ele, que se fez agora Tu; ele, cuja totalidade implica uma identidade que está mais além da soma de todas as propriedades, extrínsecas ou intrínsecas" (CROMBERG, 2005, p. 40-41).

Buber defende que é necessário um movimento do homem no mundo, entre o Tu e o Isso, presença e objeto, respectivamente. Presença significa encontro, relação, e objeto são fatos do passado, conhecimento, experiência de algo já vivido: "presença não é algo fugaz e passageiro, mas o que aguarda e permanece diante de nós. Objeto não é duração, mas estagnação, parada, interrupção, enrijecimento, desvinculação, ausência de relação, ausência de presença" (BUBER, 1979, p. 14).

Yontef (1998) descreve que as características do diálogo são presença, inclusão e confirmação. Presença é o voltar-se para o outro como único objetivo, deixando as outras preocupações de lado. Inclusão é buscar compreender o outro do jeito que ele é, colocando em parênteses a sua própria forma de estar no mundo. É o movimento de ir-e-vir, de se colocar no lugar do outro e ainda se manter centrado na própria existência. Confirmação é afirmar a existência do outro.

Para haver encontro, é necessário contato e presença do indivíduo com o meio à sua volta. E, para que isso ocorra, é necessário disponibilidade para se abrir à experiência, ter consciência de si mesmo e suporte. Como diz Frazão (2017), é preciso suporte para que o indivíduo se constitua como ser, o que demanda mais esforço, tempo e autopercepção.

Durante a adolescência isso é ainda mais exigido. Como descreve Oaklander (1980), a adolescência é vista como um novo nascimento, já que ocorre a perda do corpo infantil e de experiências exclusivamente familiares e escolares para a entrada em um mundo social com outras possibilidades. O indivíduo, ainda sob cuidados dos responsáveis, passa a construir uma autonomia e independência. Segundo Zanella e Zanini (2013), nesse processo, surge tanto um desejo quanto o medo de crescer. 

Oaklander (1980) relaciona esse medo e essa ansiedade às angústias e inseguranças geradas pelos conflitos vivenciados nesse período. A independência da vida adulta pode surgir como uma condição idealizada de libertação, assim como uma ameaça de um futuro hostil e de grande pressão social, pois requer escolhas que podem interferir em toda vida (MIRABELLA, 2013).

Em uma época em que a facilidade, o imediato e o hedonismo são buscados todo o tempo, pode ser difícil lidar com a espera e com o inesperado, com sentimentos e emoções nem sempre confortáveis, com a frustração, que estão presentes também na adolescência. O ser humano contemporâneo está desaprendendo a se conhecer, a lidar consigo mesmo e a transparecer o que lhe é genuíno. Isto pode ser relacionado com a crítica de Buber (1979) sobre a rigidez e a cristalização das relações humanas.

Essa rigidez está cada vez mais presente entre os adolescentes; muitos vêm perdendo sua sensibilidade de contatar o meio devido à falta de suporte de suas famílias e das instâncias sociais. Essa falta de sustentação e de olhar para os jovens advém, também, da falta de suporte aos cuidadores, assim como da descrença e rejeição com pessoas dessa faixa etária, como descrito por Oaklander (1980) e Pinheiro (2013). Além disso, pode haver choque de valores entre as diferentes gerações, já que nem sempre os adolescentes estão dispostos a ouvir os adultos e vice-versa.

Segundo ressaltado por Pinheiro (2013) e Mirabella (2013), no olhar da Gestalt-terapia a adolescência é tida como uma fase de conflitos, de polaridades, pois o adolescente apresenta comportamentos opostos. O jovem, ao vivenciar novas e diferentes experiências, passa a assimilar as que lhe fazem sentido. Durante esse processo, pode apresentar comportamentos opostos, o que é necessário para o seu desenvolvimento, com apatia e euforia pelas novas possibilidades de ser.

A construção de si a partir do contato com o outro é descrita tanto na teoria da Gestalt-terapia quanto por Buber (1979), que relatou que o homem só se torna um Eu por meio da relação com o Tu, pela qual a consciência do Eu só se esclarece e aumenta cada vez mais. Buber ressalta que essa consciência emerge com uma força crescente até que, em determinado momento, o encontro se desfaz, o Eu se encontra, toma consciência de si e pode seguir adiante em novas relações, já transformado.

O contato entre as pessoas de uma mesma família, comunidade e de outros espaços tem diminuído; o excesso de trabalho, cursos e atividades tem tomado muito tempo na rotina (SILVA, 2015). A falta desse contato diário dificulta a constituição e o autoconhecimento de cada indivíduo, uma vez que é mediante a percepção de semelhanças e diferenças que se constrói uma identidade. O grupo entra, nesse período de vida, como algo essencial na vida do adolescente, uma vez que é percebido como um abrigo que protege e acolhe esses conflitos e o processo de diferenciação (LIMA, 1997).

Em um momento tão crucial da vida do ser humano como a adolescência, por ser um momento de muitas transformações simultâneas, é preciso mais tempo e condições para compreender e refletir sobre as situações vividas. Contudo, atualmente, os adolescentes têm agendas iguais às de pessoas adultas, o que dificulta a percepção de si.

Lira (2010) descreve que, em um contexto no qual o adolescente deixa de ser visto como alguém que necessite de orientação para ser visto como um cliente, instala-se um paradoxo de como ter tempo de diálogo, principalmente na escola, quando o adolescente precisa receber e absorver conteúdos extensos para tirar boas notas no vestibular.

É importante destacar que essa não é realidade de todos os adolescentes; geralmente, para aqueles que são de classes sociais mais baixas e estudam em escolas públicas, o vestibular não se torna foco. Muitos adolescentes estão em busca de empregos, pois necessitam ajudar na renda familiar. Contudo, ainda assim, não contam com tanto tempo e pessoas para dialogar e refletir sobre as transformações de sua vida.

Zanella e Antony (2016) ressaltam que, nesse período, surgem questionamentos sobre as introjeções familiares e sociais. Em busca de sua própria identidade, o adolescente coloca suas energias e atenção para se definir e se decidir como sujeito, escrevendo a própria história por meio da percepção de suas necessidades, desejos e projetos. As autoras denominam esse movimento como um egotismo funcional, necessário nesse momento de vida.

O adolescente necessita de apoio nesse processo. O contato com o outro de forma plena, como em uma relação dialógica, permite que o adolescente lide com suas mudanças e com sua independência com menos dificuldades, pois sente-se parte da relação; quando não encontra quem lhe dê parâmetros e apoio, pode acabar perdendo a noção de suas necessidades e do que/quanto lhe satisfaz. Assim, pode buscar formas para evitar perceber o que está sentindo, como o consumo em excesso (CIORNAI, 2017). Como descrito por Lima (1997), Mirabella (2013), Fernandes (2013) e Nunes (2008), os excessos mais comuns hoje em dia são: sexo, uso de álcool e outras substâncias e autoexposição.

 É possível perceber que o excesso está presente nas diferentes ações do indivíduo contemporâneo, gerando um desequilíbrio no campo, já que o excesso de afazeres, interesses e consumo pode propiciar a falta de percepção de si, contato, limites e consequências no desenvolvimento do adolescente.

Esse desequilíbrio está ligado ao consumismo e à descartabilidade, valores tão presentes na pós-modernidade. O consumo, como descrito por Bauman (2001), é sustentado pelo desejo, algo que é efêmero, imediato, evasivo e que cresceu com a abertura de novas e muitas possibilidades providas pelo mercado, as quais dificilmente serão totalmente experienciadas. Isso pode ser relacionado com a atitude Eu-Isso, definida por Buber.

A atitude Eu-Isso (HYCNER e JACOBS, 1997), presente nas relações humanas, não é um mal, mas se torna um, a partir do momento em que o homem se deixa envolver por seus interesses e deixa de lado seus valores, sua responsabilidade e sua disponibilidade para um encontro com o meio à sua volta, o que deixa de ser fluído e passa a ser cristalizado em apenas um lado desse movimento. Infelizmente, essa cristalização está cada vez mais presente nos dias de hoje. O encontro entre os indivíduos está perdendo espaço diante da valorização do ter e dos interesses envolvidos para conquistar o que deseja.

Os valores contemporâneos trazem uma ambiguidade; ao mesmo tempo em que dão diversas possibilidades de "ser", fornecem padrões a serem seguidos. O que é possível de compreender a partir de Bauman (2001), Nunes (2008) e Barronceli (2012) é que os valores tradicionais que antes serviam como um parâmetro e como uma limitação ao ser humano, por não aceitar outras possibilidades, cedeu espaço a uma amplitude muito maior de escolhas ao indivíduo, sem uma exigência de responsabilidade para lidar com as consequências de determinada escolha. Além disso, essas escolhas, geralmente, estão baseadas naquilo que o mercado necessita e vende.

O mundo pós-moderno exige rapidez e agilidade, privilegia a competitividade, a novidade, a mudança sem sustento, mistura desejo com necessidade, cria a ilusão de que se pode conquistar sem esforço e sem perder, está sempre no futuro, tira do jovens a reflexão de si e do mundo no tempo necessário (BRITO, 2006).

A sociedade saiu de um polo para outro polo extremo, sem dar sustentação para que o ser humano tenha habilidade de responder àquilo que o meio impõe e às consequências do que escolhe. Bauman (2001) ressalta que se vive um período de transição, que ainda não foram encontrados valores e respostas que dão sustentação suficiente para o ser humano lidar com as situações vividas na atualidade.

É preciso refletir sobre o presente, a partir das experiências que se encontram no fundo de vividos da sociedade e por meio do que se deseja e precisa para o futuro, para que se possa perceber o que cabe e o que não cabe nesse momento na história da humanidade. Relacionado a isso, Buber (1979) destaca que, com o decorrer do tempo, as civilizações que vieram depois foram aumentando o seu mundo do Isso, uma vez que incluíram não só outros conhecimentos, como também as realizações técnicas e as diferenças sociais. Desse modo, desde o início da humanidade até o presente momento, muito conhecimento já foi adquirido pelo homem, o que o auxiliou a lidar com inúmeras situações, crises, doenças. Porém, por outro lado, não foram desenvolvidas e valorizadas habilidades de contato entre os indivíduos, o que pode ser relacionado com o olhar da Gestalt-terapia de que o homem vive e se constrói em relação e, por meio desta, busca sua conservação e crescimento.

Chama a atenção que milhões de jovens no mundo estão vivendo essa fase de vida, justamente em um momento de transição e mudança de valores da humanidade. É importante refletir sobre como isso afeta a vida desses adolescentes, uma vez que pode, ou não, gerar ainda mais dificuldade para lidar com as transformações presentes nesse período. Isso dependerá do contexto de cada qual: em cada campo, as condições existentes relacionar-se-ão de forma singular (LEWIN, 1936).  

Os valores, as oportunidades, o apoio financeiro, o apoio emocional, as condições físicas e biológicas são algumas das condições que interferirão no campo que determinado jovem se encontra. Como visto no relatório da UNICEF (2011), a adolescência nem sempre foi reconhecida como uma fase que separa a infância da vida adulta. Só recentemente, passou a ser reconhecida, e ainda assim nem todas as sociedades a reconhecem. Em algumas delas, o adolescente é visto como um "mini adulto", já em outras, como no Brasil, é visto em uma fase em que está criando independência, autonomia e responsabilidades para o futuro.

Isso vai ao encontro da percepção da Gestalt-terapia, que não considera a adolescência somente como uma preparação para a vida adulta, uma vez que compreende o ser humano como um ser em constante transformação em um determinado espaço e tempo (AGUIAR, 2015).

 Como colocado no texto, Lewin (1936) descreve que, na Alemanha, as relações entre crianças e adultos são mais rígidas que nos Estados Unidos. Neste último, dá-se maior autonomia e independência que no primeiro. Na Alemanha, as relações são constituídas de forma mais lenta e gradual, o que pode dar maior solidez às relações.

No Brasil, viu-se que as relações são influenciadas tanto pela diferença cultural e regional quanto pela globalização. Contudo, esta última tem tido grande interferência nos valores e tradições do país. A globalização divulga os valores de mercado, um excesso de informações, mais possibilidades e valoriza a homogeneização cultural. Conforme descrito por Lira (2010), a sociedade contemporânea tem minimizado as diferenças e unificado os interesses em busca de prazer e satisfação imediata. Buber (1979), por meio da abordagem dialógica, tenta chamar a atenção para a crise no mundo dos homens, pela qual impera o poder da economia e do Estado sobre as relações humanas.

Com base no que foi descrito por Fernandes (2013) e Pinheiro (2013) sobre o mundo atual de adolescentes brasileiros, percebe-se como esses fatores tem interferido nas vidas desses indivíduos. O uso em excesso das tecnologias, o excesso de informações e a necessidade de aprimoramento de habilidades profissionais são alguns exemplos. Esses excessos que são passados aos adolescentes podem ser compreendidos como uma cristalização das relações humanas em apenas um aspecto, os interesses sociais – atitude Eu-Isso.

As tecnologias são instrumentos que facilitaram a vida do homem em muitos aspectos, possibilitaram novas descobertas e novas soluções. Por outro lado, também têm possibilitado a substituição do contato do homem com o meio, desde o contato entre as pessoas até o contato com a natureza. Isso vai ao encontro de Buber (1979), que discute sobre o poder e a dominação, presentes já no século passado, que tomam a liberdade do ser e das relações humanas.

Nas últimas décadas, essa substituição tem ocorrido de forma muito rápida. Ao olhar para a história, nos anos 1980 e 1990, as crianças e os adolescentes passaram a ter acesso aos videogames e aos computadores que, ainda assim, eram mais voltados aos jogos, para o trabalho. Não era comum utilizar computadores para a comunicação entre as pessoas, até mesmo porque não se tinha acesso à internet. Com a mudança do século, nos anos 2000, passou-se a ver muitos adolescentes com celular, porém ainda pouco utilizados para a comunicação. Com o acesso à internet, os adolescentes passaram a ficar mais tempo no computador, uma vez que já existiam sites e programas que possibilitavam a comunicação entre os pares. No entanto, ainda assim, quando estavam fora do computador, relacionavam-se mais com a família, com os amigos, com os vizinhos e pessoas da comunidade por meio de diferentes atividades.

Contudo, nos últimos dez anos, houve muita mudança, principalmente após o surgimento dos "smartphones", "tablets" e das redes sociais, que possibilitaram o acesso à internet e à comunicação entre as pessoas, respectivamente, a qualquer momento (ZANELLA e ANTONY, 2016). A comunicação virtual2 já é considerada por alguns autores da Gestalt-terapia como uma forma de contato, uma vez que se utiliza de algumas das funções de contato como visão e audição e possibilita o compartilhamento de experiências, novos aprendizados (ZANELLA e ZANINI, 2013).

No entanto, é uma forma de contato empobrecida diante do contato real que exige outras funções e outras condições para que possa acontecer. Esse contato necessita de maior disponibilidade e há um risco real de afetar e ser afetado pelo outro. No contato virtual, esse risco também existe, mas é menos palpável e sólido, como se houvesse uma liberdade maior. Queiroz de Brito (2017) descreve essa diferença entre o mundo real e o mundo fictício presente nas redes sociais. A autora ressalta que a realidade virtual não exige o contato pessoal e a fidedignidade que são exigidos no mundo real, o que possibilita a construção de identidades fictícias e gera relações que cada vez menos necessitam da corporeidade.

Mesmo permitindo certo contato, as relações virtuais não possibilitam o desenvolvimento e a fluidez necessários nas relações reais. Ao relacionar com a abordagem dialógica, percebe-se que esse tipo de relação não exige presença humana, descrita por Buber (1979) como uma das características essenciais para que um diálogo ocorra.

O acesso à internet e a invenção das redes sociais também possibilitaram uma maior exposição da própria vida. Surgiram os "blogues", "fotologs" e outras redes sociais na mesma época em que surgiram as máquinas fotográficas digitais. Logo após, os celulares também passaram a ter máquinas fotográficas, o que facilitou ainda mais tirar fotografias a qualquer instante.

O adolescente contemporâneo tem passado bastante tempo conectado às redes sociais. É difícil encontrar um adolescente, hoje em dia, que não utilize e não exponha, nessas redes, o que acontece no seu dia a dia, não compartilhe ou não curta algo que goste ou que tenha a ver consigo. Isso vai ao encontro de Bauman (2001), que relatou que a necessidade de exposição já foi internalizada pelo homem pós-moderno. O autor ainda destaca a facilidade de se conectar e desconectar das redes sociais e, consequentemente, das relações e imagens estabelecidas.

Essa facilidade de contato com um mundo virtual pode ser encantadora para o adolescente, uma vez que lhe facilita a construção de uma imagem do jeito que deseja. No entanto, essas facilidades nem sempre são verdadeiras. Acabam tornando-se um meio para lidar com seus sentimentos e emoções ou fugir dos mesmos, assim como uma forma de experimentação. A relação virtual pode auxiliar ou mesmo mascarar as dificuldades de relacionamento de alguns adolescentes que, por meio das redes sociais, expõem-se com fotos e comentários e, pessoalmente, ainda seguem com dificuldade de contato.

É importante refletir que, para os adolescentes que estão crescendo nesse tempo, pode ser difícil compreender que em outros momentos da história não existiam tecnologias que proporcionassem essa forma de contato e que os jovens se relacionavam de outras maneiras.

A forma de se relacionar também implica no contato com o próprio corpo. Somente através do contato com o outro o adolescente pode se conhecer. Alvim (2016) coloca que, mediante o movimento do meio, o indivíduo vai se diferenciando e desenvolvendo sua singularidade. Sendo assim, a diminuição do contato entre os pares dificulta, também, a percepção do próprio corpo e o desenvolvimento da sexualidade.

Lima (1997) destaca que se convencionou considerar o início da adolescência como a fase em que o indivíduo passa por mudanças hormonais, que afetam as características biológicas, psicológicas e sociais. Para a Gestalt-terapia, os aspectos fisiológicos das mudanças corporais não são os únicos que devem ser vistos e abordados. A forma de se manifestar como ser-no-mundo vai além das mudanças corporais.

Nessa fase de vida, ocorrem muitas transformações físicas que nem sempre são compreendidas e bem aceitas pelos jovens. Ao falar sobre essas mudanças entre os pares e com a família e outros, eles podem lidar de uma melhor forma. É a partir do contato com a diferença e com a semelhança que é possível se reconhecer e compreender, perceber e responder à sua necessidade. Isso acontece através da fala e também do silêncio (FRIEDMAN, 1965 apud HYCNER e JACOBS, 1997).

Isso vai ao encontro de Alvim (2016), que descreve que é por meio do contato com o meio, da percepção e manipulação do meio que o indivíduo pode buscar formas de satisfação e equilíbrio. Com o movimento vivo no campo, o adolescente tem a possibilidade de se desenvolver e se perceber como um ser singular no mundo e, assim, faz e refaz um sentido de si mesmo. Mirabella (2013) ressalta que o adolescente, no contato com o outro, descobre um corpo diferente e novas sensações, que envolvem prazer e estranhamento.

Os padrões sociais atuais de um corpo magro e esbelto3 influenciam a forma como o adolescente percebe o próprio corpo, o que está de acordo com Lira (2010), que ressalta que a nova sociedade se mostra como um campo com muitas opções de consumo, criando desejos nos adolescentes, os quais são mais vulneráveis devido à sua fase de desenvolvimento.

Isso pode aumentar ainda mais a sensação de desconforto relacionada às mudanças corporais, principalmente quando o jovem não se encontra dentro desses padrões. Como dito pelos autores Nunes (2008), Fernandes (2013) e Queiroz de Brito (2017), muitos jovens, como seguidores do culto ao corpo, têm buscado fazer atividades físicas, dietas e até mesmo cirurgias em demasia.

A partir da relação da abordagem dialógica (BUBER, 1979) com a visão de corpo e corporeidade da Gestalt-terapia (ALVIM, 2016), é possível compreender que os padrões sociais de corpo e beleza produzem a cristalização da relação do indivíduo com seu próprio corpo e com outros corpos, uma vez que não possibilita o contato com o novo e com o diferente, bem como não permite o desenvolvimento de uma identidade, de transformação, de construção e de ressignificação de quem se é.

Isso pode estar relacionado com o aumento de transtornos mentais entre os adolescentes, segundo a UNICEF (2011). O aumento de transtornos como autismo, TDAH, alimentares e sintomas como a automutilação revelam um pouco sobre o lugar do corpo na contemporaneidade. Percebe-se a falta de tempo e de espaços livres para as crianças e adolescentes se movimentarem, entrarem em contato com outros e com a natureza; há pouca estimulação para que isso aconteça, o que afeta o adolescente, que ainda está em desenvolvimento, com o corpo se transformando e o cérebro em plena maturação.

A falta de espaços públicos que estimulem o movimento físico está também ligada ao aumento da desigualdade social e da violência urbana. Os adolescentes têm tido sua autonomia e a liberdade de ir e vir diminuída, com base, muitas vezes, na forma como a família e a comunidade têm convivido com a violência. Se a família busca se isolar e se proteger, também poderá exigir isso do jovem, por exemplo. Em cidades rurais, encontram-se mais crianças e adolescentes nas ruas, uma vez que, geralmente, há menos violência e maior confiança entre os vizinhos. O isolamento, produzido por algumas condições como a violência, também pode ser entendido como uma forma que possibilita a cristalização das relações humanas, a partir do momento que não abre espaço para o novo.

Chama a atenção o fato de que, ao mesmo tempo em que existe uma falta de estimulação para a expressão das diversas formas, há uma autoexposição exagerada em outras vias, como já foi dito, virtuais. Isso pode ser compreendido, justamente, como uma forma de ajustar as próprias necessidades de movimento e expressão ao que o meio está oferecendo como possibilidade de satisfação. Contudo, é preciso refletir até que ponto isso é funcional e a partir de que ponto passa a ser disfuncional na vida dos adolescentes.

Outros sofrimentos agravados, como a depressão, a ideação suicida e o próprio suicídio, entre outros, têm aumentado nos últimos anos, o que pode estar relacionado não só com a forma como a sociedade tem patologizado muitos aspectos individuais que não se encaixam com a forma de vida atual, principalmente no ocidente, como também com a falta de lugar para o sofrimento humano. Há pouco acolhimento, escuta, olhar, suporte para permanecer com o que é desconfortável, como dor, tristeza, raiva, medo e outros.

Porém, muito do que gera sofrimento humano está atrelado aos valores de superação, de consumo, de previsibilidade, do imediato, do hedonismo, da descartabilidade, que não permitem a fragilidade, a imperfeição, os limites humanos.

É possível compreender, a partir de Buber (1979), que o mundo do Isso, quando deixa de fluir e ser visitado com e pelo mundo do Tu, torna-se rígido e isolado, oprimindo o homem. Segundo o autor, o indivíduo sucumbe quando o mundo de objetos não pode mais se tornar presença. Desse modo, a falta de presença humana e o excesso de interesses gera sofrimento ao homem.

Percebe-se que essa rigidez oprime a espontaneidade e a fluidez do adolescente, gerando dúvidas, dificuldades e sofrimento quando o mesmo não consegue se adaptar aos padrões de imagem, de bens materiais, de escolhas e qualificação profissional. São muitas exigências e pouco contato humano. Conforme destacado por Cardella (2015), vive-se em uma época caracterizada pela redução do homem e da sua experiência à condição de coisa – há um excesso de conceitos e tecnologias na vida humana – que pode ser denominado de relação Eu-Isso.

Além disso, muitas vezes, a potencialidade do adolescente é subestimada por crenças de que ele "não está nem aí" ou que "não tem capacidade" para compreender o que acontece em casa, na comunidade e no mundo – sendo que muitos têm e/ou estão construindo um posicionamento político sobre as suas realidades (KLISBERG, 2006).

Conclui-se que não deve ser tão fácil para os jovens se desenvolver nessa realidade com exigências contraditórias, com a falta de presença humana, de inclusão e confirmação de forma predominante. É importante ressaltar que só poderão se desenvolver de forma fluída e espontânea, deixando-se afetarem e serem afetados, se forem reconhecidos e confirmados.

 Como descreve Cardella (2015), nos encontros e desencontros vividos ou nos encontros que não aconteceram, o sofrimento e o adoecimento humano se desenvolvem. Do mesmo modo, a cura também acontece no entre,que surge como possibilidade de restauração da abertura, do ritmo, do fluxo, do diálogo, bem como do processo de crescimento, atualização e realização da singularidade.

Lima (1997) o confirma, ao ressaltar que, diante do desamparo, da desassistência e da desproteção, o adolescente, como indivíduo, forma defesas, perdendo a possibilidade de confiar, de se afetar e de sentir empatia. Afasta-se de si mesmo e da coletividade, ficando esvaziado de alma e impossibilitado de amar e ser amado.

É preciso que os responsáveis, e até mesmo a sociedade, tenham um olhar mais ampliado para esse momento de vida, de modo que, assim, possam compreender como estão influenciando e sendo influenciados na relação com milhares de jovens pelo mundo. Ao se abrirem para o mundo adolescente, colocando de lado todas as suas crenças, necessidades e valores, buscando compreender o que é ser adolescente na contemporaneidade e aceitando o modo de ser de cada um, estarão possibilitando que um diálogo genuíno com os jovens aconteça.

Silva (2015) ao pesquisar sobre a relação entre pais e filhos adolescentes, destacou que estas ocorrem de forma saudável quando as necessidades de cada qual são negociadas e satisfeitas. Quando um deixa de olhar para o outro, pode haver conflito. É importante, ainda, que os responsáveis reflitam sobre a relação que tem com os adolescentes, as dificuldades que encontram, os sentimentos e emoções vivenciadas como o medo do desconhecido, de perda do filho criança e da perda de controle.

Ir além de uma atitude Eu-Isso para uma atitude Eu-Tu é o que possibilita o encontro genuíno entre dois indivíduos: "na visão de Buber, a disponibilidade para o encontro Eu-Tu torna o ser humano capaz de reverenciar a existência, portanto de integrar o sagrado e o profano" (CARDELLA, 2015, p. 57). 

Hycner e Jacobs (1997) destacam que não há como forçar esse momento genuíno, ele simplesmente ocorre. Apenas pode-se preparar, deixando-se afetar e ser afetado no presente.  Cada indivíduo apresenta a sua vontade na fronteira de contato, porém só até aí. O resto requer graça e uma resposta do outro. Tanto pode acontecer como não. Quando se usa a própria vontade para que o encontro aconteça, tenta-se controlar o outro e, desse modo, não há contato dialógico. Este último exige confiança e fé no que pode acontecer (YONTEF, 1998).

A partir da teoria de campo, descrita por Lewin (1948), pode-se compreender que tudo que está presente no meio afeta e provoca mudanças no indivíduo. Assim, o adolescente que cresce nesse mundo permeado por esse tipo de relação e sofrimento é afetado e pode sofrer também. Isso dependerá das outras forças presentes no campo. Como destaca Silveira (2018b), na ótica da Gestalt-terapia, não se pode falar em uma única adolescência, mas em muitas adolescências.

Desse modo, o adolescente, para desenvolver-se, necessita de espaços de acolhida, de respeito à singularidade, de limites e orientação. Só assim poderá criar autossuporte e autoestima, bem como ajustar-se criativamente ao meio e fazer escolhas que o satisfaçam.

 

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo compreender a adolescência na pós-modernidade e fazer dialogar essa percepção com a abordagem dialógica, criada por Buber, em 1979. Para isto, foi escolhida, para este estudo, a faixa etária de 10 a 19 anos de idade, conceituada pela UNICEF (2011) e desenvolvida uma pesquisa bibliográfica em base de dados online e em livros.

Por meio deste trabalho, percebeu-se que a humanidade se encontra em um período de transição de valores, percepções e atitudes que, anteriormente, eram mais concretos e estabeleciam um limite mais claro sobre as ações humanas que, atualmente, estão mais incertas e abstratas. O homem saiu de um polo baseado em certezas que limitavam de forma extrema sua liberdade para um polo que possibilita uma liberdade de escolha sem muita responsabilidade com suas consequências. Contudo, essas escolhas estão, geralmente, permeadas pelos padrões de consumo e de interesse econômico.

Por meio da abordagem dialógica e de outros teóricos, como Bauman, notou-se que há um desequilíbrio entre os interesses econômicos e as relações humanas. Atualmente, tem sido muito mais valorizado o "ter" do que o "ser". Contudo, esse último exige maior atenção, suporte, esforço e disponibilidade que o primeiro.

Nesse contexto, o contato humano tem sido pouco valorizado. Constatou-se que isso tem dificultado o desenvolvimento dos adolescentes, visto que é por meio do compartilhamento e da convivência com os pares, familiares e outros que os indivíduos, nessa fase da vida, podem aprender a lidar com as mudanças biológicas, psicológicas e sociais características.

Tudo isso pode ocorrer de forma rápida e necessita de reflexão e apoio. No entanto, diante de agendas lotadas de atividades, exigências sociais tanto das pessoas em volta quanto do próprio adolescente, este último não tem tido tempo, espaço, acolhimento para poder realmente vivenciar esse momento de vida de forma espontânea e fluída.

Suas escolhas, normalmente, são perpassadas pelos padrões sociais de consumo, de imagem, de habilidades sociais e profissionais. Foi visto que, em classes sociais mais altas, as exigências de um corpo bonito e magro e o desenvolvimento de habilidades para o futuro profissional são maiores que nas classes mais populares, nas quais, pelas necessidades socioeconômicas de suas famílias, os adolescentes não têm muitas possibilidades de realizarem cursos, estágios e até mesmo de prestar o vestibular e cursar uma faculdade.

Percebeu-se que a falta de contato do homem com o meio é também permeada pela falta de espaços livres, que possibilitem o movimento físico e o encontro entre as pessoas, e pela violência urbana, o que pode variar de comunidade para comunidade, de cidade para cidade, de país para país.

Relacionado a isso e ao desenvolvimento de aparelhos eletrônicos como "smartphones" e "tablets", o adolescente tem passado mais tempo nas redes sociais, relacionando-se virtualmente. Com o advento da tecnologia, constatou-se uma maior exposição da vida social dos jovens, que, em sua maioria, passam grande parte do tempo conectados, fotografando e postando nas redes sociais momentos de seu dia, o que se tornou uma condição de reconhecimento para muitos indivíduos na atualidade. 

Nesse contexto de exigências e contradições, os adolescentes têm buscado ajustar suas necessidades genuínas às possibilidades de satisfação que encontram no meio. Tentam ajustar-se da forma mais saudável possível, mas, em um contexto permeado pela falta de presença humana, inclusão e confirmação, torna-se difícil desenvolver-se de uma forma saudável e fluída. Muitas vezes, desenvolvem ajustamentos que se cristalizam e passam a ser disfuncionais. Com isso, surgem o sofrimento psíquico e o desenvolvimento de inúmeros sintomas e transtornos, como depressão, automutilação, ideação suicida, ansiedade crônica, como demonstram artigos da UNICEF (2011).

É importante ressaltar que cada jovem desenvolverá suas habilidades de conviver com o meio à sua volta. Constatou-se, por meio da teoria de campo de Lewin, que a forma como o jovem se relaciona no meio depende das outras condições presentes em seu contexto de vida.  Por isso, não é possível generalizar que todos os adolescentes irão desenvolver sintomas e transtornos psíquicos, mesmo havendo valores contemporâneos comuns nos diversos cantos do mundo. 

Destacou-se a importância de que a sociedade busque abrir-se e compreender os adolescentes e vice-versa. Somente disponibilizando-se para o contato poderão dialogar de forma genuína com os jovens, aprendendo e ensinando o que é o amor, a empatia, a responsabilidade das escolhas e de suas consequências, a importância dos limites. Somente desse modo poderão resgatar a importância dos encontros e a fluidez das relações entre as atitudes Eu-Tu e Eu-Isso.

Aprendeu-se, com este estudo, um pouco mais sobre os adolescentes e sobre a forma como eles estão relacionando-se com o mundo à sua volta. Este trabalho vem confirmar a importância do contato humano para o desenvolvimento dos jovens, a necessidade de ações de cuidado voltadas para esse público, bem como que o amor e a simplicidade são essenciais para a construção e a reconstrução de todo o ser humano.

Por fim, fica como início de reflexão para outros profissionais e curiosos do tema e como sugestão para que novos estudos sejam desenvolvidos, de modo que possibilite maior sustentação teórica para aqueles que trabalham e convivem com adolescentes.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABERASTURY & KNOBEL, Adolescência normal. Buenos Aires: Paidós Educador: 1971.

AGUIAR, L. Gestalt-terapia com crianças. São Paulo: SUMMUS, 2015.

ALVIM, M. B. O lugar do corpo e da corporeidade na Gestalt-terapia.  In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia. São Paulo: SUMMUS, 2016, p. 27 – 55.

ÀRIES, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

BARONCELI, L. Adolescência: fenômeno singular e de campo. Rev. abordagem Gestalt. v. 18, n..2, p. 188 – 196, 2012. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672012000200009 >. Acesso em: 19 jul. 2017.

BASSO, F. S. Reflexões sobre a internet à luz da Gestalt-terapia. Revista IGT na Rede, v. 13, n. 25, p. 273 – 297, 2016. Disponível em: < https://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=583&layout=html>.  Acesso em: 06 out. 2018.

BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, 1998. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm >. Acesso em: 03 jun. 2017.

BRITO, E. Ansiedade na adolescência. Revista da Abordagem Gestáltica, v. 12, n.2, p.59-66, 2006. Disponível em: < http://www.redalyc.org:9081/html/3577/357735505004/ >. Acessado em: 14 ago. 2018.

BUBER, M. Eu e Tu. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979.

CARDELLA, B. H. P. Relação, atitude e dimensão ética no encontro terapêutico na clínica gestáltica. In: FRAZÃO, L. M.; KARINA, O. F. A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em Gestalt-terapia. São Paulo: SUMMUS, 2015, p. 55 – 82.

CARVALHO, M. L. de; LIMA, D. M. A. A Anorexia em Adolescentes Sob a Ótica da Gestalt-terapia. Rev. IGT na Rede, v.14, n.26, 2017.  Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-25262017000100002 >. Acessado em: 14 ago. 2018.

CIORNAI, S. Um olhar gestáltico para adições: conexões e desconexões. In: FRAZÃO, L. M. Questões do humano na contemporaneidade: olhares gestálticos. São Paulo: SUMMUS, 2017, p. 39 – 47.

CROMBERG, M. U.A crisálida da filosofia: a obra Eu e Tu de Martin Buber ilustrada por sua base hassídica. São Paulo: Associação Editorial Humanitas: Fapesp, 2005.

ERIKSON, E.  Identity Youth and Crisis. São Paulo: Norton, 1968.

HALL, S. Adolescence: Its psychology and its relations to physiology, anthropology, sociology, sex, crime, religion and education. New York: D. Appleton and Company, 1904.

HOLANDA, A. B. de. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

FERNANDES, M.B. A consulta clínica com pais de adolescentes em Gestalt-terapia. In ZANELLA, R. (Org). A clínica gestáltica com adolescentes - caminhos clínicos e institucionais. São Paulo: SUMMUS, 2013, p. 31 – 58.

FRAZÃO, L. Ser ou não ser na contemporaneidade: eis a questão. In: FRAZÃO, L. M. Questões do humano na contemporaneidade: olhares gestálticos. São Paulo: SUMMUS, 2017, p. 17 – 28.

HYCNER, R. De pessoa a pessoa. São Paulo: SUMMUS, 1995.

HYCNER, R..; JACOBS, L. Relação e cura em Gestalt-terapia. São Paulo: SUMMUS, 1997.

IMPERATORI, G. MACEDO, M. L. W. dos S. de. Gestalt-terapia com adolescente: do silêncio ao entre. Boletim EntreSIS, v.2, n.2, 2017. Disponível em: < http://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/boletimsis/article/view/17674/4549n >. Acessado em: 14 ago. 2018.

KLISBERG, B. O contexto da juventude na América Latina e no Caribe: as grandes interrogações. Rev. Adm. Pública, v.40, n.5, p. 909 – 942, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n5/a08v40n5 >.  Acesso em: 24 jul. de 2017.

LEWIN, K.  Problemas de dinâmica de grupo. São Paulo: Ed. Cultrix, 1948.

LIMA, A. Brincadeiras Selvagens: problema nosso – diálogo com pais de adolescentes. São Paulo: Oficina de Textos, 1997.

LIRA, N. T. S. de. Adolescentes e adultescentes na contemporaneidade. Rev. IGT na Rede, v.7 n.12 p. 19 – 25, 2010. Disponível em: < http://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=272&layout=html >.  Acesso em: 11 jun. de 2017.

MELO, A. K. da S.; MOREIRA, V. Fenomenologia da queixa depressiva em adolescentes: um estudo crítico-cultural. Aletheia, v. 27, n. 1, p. 51-64, 2008. < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942008000100005 > Acessado em: 14 ago. 2018.

MELO, L. Uma visão fenomenológica sobre os limites na adolescência. Rev. IGT na Rede, v.2 n.2 p., 2005. Disponível em: <https://www.igt.psc.br/revistas/seer/ojs/viewarticle.php?id=96&layout=html  >. Acessado em: 14 ago. 2018.

MIRABELLA, A. M. Afetividade na adolescência. In ZANELLA, R. (Org). A clínica gestáltica com adolescentes - caminhos clínicos e institucionais. São Paulo: SUMMUS, 2013, p. 11 – 30.

NUNES, L. B.  Pensando gestalticamente a contemporaneidade. Rev. IGT na Rede, v. 5, n. 9, p.185-199, 2008. Disponível em: <https://biblat.unam.mx/pt/revista/igt-na-rede/articulo/pensando-gestalticamente-a-contemporaneidade >. Acesso em: 17 jul. 2017.

OAKLANDER, V. Descobrindo crianças: abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. São Paulo: SUMMUS, 1980.

PLASTINO, C. A. Os Horizontes de Prometeu. Considerações para uma Crítica da Modernidade. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva, v.15 (suplemento), 121-143, 2005. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312005000300007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt >. Acesso em: 17 jul. 2017.

PERLS, F. Ego, Fome e Agressão: uma revisão da teoria e do método de Freud. São Paulo: SUMMUS, 2002.

PERLS, F., HEFFERLINE; R., GOODMAN, Paul. Gestalt-terapia. São Paulo: SUMMUS, 1997.

PINHEIRO, L. Adolescente? Dá para atender. In ZANELLA, R. (Org). A clínica gestáltica com adolescentes - caminhos clínicos e institucionais. São Paulo: SUMMUS, 2013, p. 77 – 103.

PINHEIRO, L.; ZANELLA, R. As relações familiares e o adolescente no mundo em transformação. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE GESTALT-TERAPIA, XIV, 2015, Rio de Janeiro. Resumos... Rio de Janeiro: Centro Internacional de Documentação da Gestalt-terapia., 2015. Disponível em: < http://www.congressointernacionaldegestaltterapia.com/congressos/index.php/cigt/xivcigt/paper/view/391 >. Acessado em: 14 ago. 2018. 

QUEIROZ DE BRITO, M. A. Busca do sentido do ser ou perda da identidade? Lidando com padrões socialmente impostos. In: FRAZÃO, L. M. Questões do humano na contemporaneidade: olhares gestálticos. São Paulo: SUMMUS, 2017, p. 29 – 38.

SILVA, R. V. B. da. Os conflitos na Fronteira de Contato entre Pais e Filhos Adolescentes. Revista IGT na Rede, v. 12, n. 22, p. 53 – 66, 2015. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-25262015000100004 >. Acessado em: 14 ago. 2018.

SILVEIRA, A. B. dos S. Encarando o desafio: o trabalho gestáltico com adolescentes pré-universitários. In: Gestalt-terapia infanto-juvenil: práticas clínicas contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2018. 

______. dos S. Psicoterapia gestáltica com adolescentes: vivências e construções. In: Gestalt-terapia infanto-juvenil: práticas clínicas contemporâneas. Curitiba: Juruá, 2018.

SCHILLINGS, A. Imagem corporal e o lugar que o corpo ocupa na contemporaneidade. In: Um olhar gestáltico para adições: conexões e desconexões. In: FRAZÃO, L. M. Questões do humano na contemporaneidade: olhares gestálticos. São Paulo: SUMMUS, 2017, p. 85 – 97.

UNICEF. Situação Mundial da Infância 2011: Adolescência - uma fase de oportunidades. Estados Unidos, 2011. Disponível em: < https://www.unicef.org/brazil/sowc2011 >. Acesso em: 03 jun. 2017.

UNICEF. Adolescencia em América Latina y el Caribe: Orientaciones para la formulácion de políticas. Oficina Regional para América Latina y Caribe. Colômbia, 2001. Disponível em: < https://www.cepal.org/es/publicaciones/7207-adolescencia-juventud-america-latina-caribe-problemas-oportunidades-desafios >.  Acesso em: 24 jul. 2017.

YONTEF, G. M. Processo, diálogo e awareness: Ensaios em Gestalt-terapia. São Paulo: SUMMUS, 1998.

ZANELLA, R; ANTONY, R. Trabalhando com adolescentes: (re) construindo o contato com o novo eu emergente. In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia. São Paulo: SUMMUS, 2016, p. 83 – 109.

ZANELLA, R..; ZANINI, M. E. B. Atendendo adolescentes na contemporaneidade. In: ZANELLA, R. (Org). A clínica gestáltica com adolescentes - caminhos clínicos e institucionais (pp. 59-76). São Paulo: SUMMUS, 2013, p. 59 – 76.

 

NOTAS

* Bárbara Zaida Rampa Dias: Bacharel em Psicologia e Formação Psicólogo pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2014. Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2015. Especialização em Gestalt-terapia pelo ComUnidade Gestáltica - Clínica e Escola em Psicoterapia em andamento. Atua como psicóloga clínica em consultório particular desde 2016 e como psicóloga no Município de Biguaçu -SC desde 2017. Experiência na psicologia clínica, hospitalar, da saúde e do trabalho e no trabalho com grupos com viés da arte.
** Ana Maria Veiga Lima: Psicóloga graduada pela UFSC. Especialista em Psicologia Clínica pelo CFP e Gestalt-terapeuta pelo Comunidade Gestáltica – Clínica e Escola de Psicoterapia,Florianópolis/SC, Compõe a Equipe de supervisores e professores  da Escola do Comunidade Gestáltica. Psicoterapeuta na área de crianças, adolescentes e adultos, realizando também orientação a pais. Atua, também, com Orientação Profissional para jovens e adultos, Projetos de Vida e de Carreira.
1 O original se refere aqui ao termo "self-consciousness". Mais do que "autoconsciência" ou "consciência de si mesmo", o termo implica uma percepção exagerada da própria presença, que inclui certo embaraço, constrangimento, sensação de sem-jeito e inadequação. Daí optamos por "consciência constrangida de si mesmo", de modo a incluir tais sensações e sentimentos. Essa tradução é coerente também, como se verá ao longo do capítulo, com a própria origem desse sentimento. Aqui, portanto, mais do que em qualquer outra parte, é fundamental a distinção entre consciência e "awareness' (PERLS, 2002, p. 350).
2 A comunicação virtual é possibilitada pelas tecnologias digitais. [...] Uma cibercultura marcada pela web como via fundamental para a interação social. Essa nova forma de contatos sociais eletronicamente mediados, cria, para aqueles cujo contato presencial é ameaçador, espaços para o início da construção de relações sociais (QUEIROZ DE BRITO, 2017, p.35). O virtual, segundo Basso (2016), foi transformado pela cibercultura, para algo real e já existente, possível de ser atualizado – infinitamente; porém ainda é algo que existe de forma acrônico (sem poder ser localizado no tempo) e atópico (sem poder ser localizado no espaço determinado).
3 A cultura da contemporaneidade coloca-nos diante de ideais de modos de ser que engendram uma busca desenfreada de aceitação por formas padronizadas, impostas pela mídia. Podemos, mais do que nunca, ser autônomos para tomar decisões sobre nossos projetos e caminhos; ao mesmo tempo, porém, essa liberdade é bombardeada por propostas globalizadas do que devemos ter e fazer para sermos aceitos nas relações sócias (SCHILLINGS, 2017, p. 86 e 87). Outros autoras que discutem sobre o tema são Távora (2017), Alvim (2016).

 

Endereço para correspondência
Bárbara Zaida Rampa Dias:
Endereço eletrônico:dias.brbara@gmail.com
Ana Maria Veiga Lima:
Endereço eletrônico:anaveigalima@gmail.com

 

Recebido em: 17/05/2018
Aprovado em: 13/11/2018