ARTIGO
O Processo Ciclo do Contato em uma Situação de Luto
The Cycle of Contact Process in a Grieving Situation
Leane Valente de Oliveira*; Marília Zara Gentil de Oliveira**; Edilza de Aguiar Lobato***
Universidade da Amazônia - UNAMA, Belém -PA.
RESUMO
O presente estudo pretende facilitar o aprendizado e reflexão dos princípios da Gestalt-Terapia e promover o raciocínio teoria-prática de estudantes de Psicologia e interessados na área hospitalar. Como objetivo, visa servir de veículo de reflexão e aprendizado para estudantes de Psicologia e demais profissionais interessados. Para isto, o método escolhido foi um estudo de caso com uma paciente que necessitou enfrentar um aborto induzido na Santa Casa de Misericórdia do Pará no segundo semestre do ano de 2011. Para tanto, busca-se contemplar o saber da Fenomenologia na intermediação entre a pessoa que passa pela situação de luto e o seu contato com o sentimento de perda. O resultado desse estudo favoreceu uma ampliação do olhar acerca da dor humana, suas formas de expressão e possíveis passos do contato em direção à cura. Dessa forma, é considerado relevante na medida em que é possível se apresentar na prática essa identificação do Ciclo do Contato e dos Fatores de Cura antes só estudados na teoria.
Palavras-Chave: Luto; Ciclo de Contato; Mecanismos de Defesa; Fenomenologia; Gestalt-Terapia.
Abstract
The present study aims to facilitate the learning and reflection of Gestalt-Therapy principles and to promote the theory-practice reasoning of Psychology students and those interested in the hospital area. As a goal, it aims to serve as a vehicle for reflection and learning for students of Psychology and other interested professionals. For this, the method chosen was a case study with a patient who had to face an induced abortion in the hospital of Santa Casa de Misericórdia do Pará in the second semester of 2011. This seek to contemplate the knowledge of Phenomenology in the intermediation between person who goes through the grief situation and their contact with the feeling of loss. The result of this study favored a widening of the gaze on human pain, its forms of expression and possible steps of contact towards the cure. In this way, is it considered relevant insofar as it is possible to present in practice this identification of the Contact Cycle and the Healing Factors previously studied only in theory.
Keywords: Mourning; Contact Cycle; Mechanisms of Defense; Phenomenology; Gestalt-Therapy.
I - INTRODUÇÃO
O processo de luto inerente a todos os seres humanos inclui uma variedade de sentimentos, pensamentos e reações que surgem devido tais experiências. A perda significa algo além do que muitas vezes é visto, são partes da identidade da pessoa e da sua maneira de ser-no-mundo que estão envolvidas no processo, sendo que a qualidade da elaboração do luto está diretamente relacionada com a qualidade estabelecida com a pessoa e o objeto perdido. Logo, o presente estudo de caso, que foi supervisionado por profissional docente em Psicologia Hospitalar, pretende revelar sob o olhar fenomenológico como o ser humano lida de forma única com um processo de luto, considerando o ciclo de contato proposto pela abordagem da Gestalt-Terapia e os mecanismos de defesa que podem ser relacionados a ele. O caso é de uma jovem de 17 anos que relatou a sua experiência de precisar abortar e como estava vivenciando isso, que apoio recebeu, quais suas expectativas de vida, seu sofrimento e desejos. Nesse contexto, busca-se compreender o Ciclo de Contato desta jovem diante da dor da perda do seu primeiro filho. Serão apresentados pontos relevantes para essa compreensão, como a Fenomenologia, o ciclo de contato, o luto em uma visão fenomenológica e por fim a apresentação de informações fornecidas a partir do relato fornecido pela paciente.
II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 - A Fenomenologia
De acordo com a etimologia, a fenomenologia é o estudo ou a ciência do fenômeno. E como tudo o que aparece é considerado fenômeno, logo, o domínio da fenomenologia é praticamente ilimitado, e não poderíamos, pois, confiná-la numa única ciência (DARTIGUES, 2003).
Assim, não é possível proibir a ninguém que se intitula de fenomenólogo desde que sua atitude tenha algo a ver com a etimologia do termo: "Se nos atemos à etimologia, qualquer um que trate da maneira de aparecer do que quer que seja, qualquer um, por conseguinte, que descreva aparências ou aparições, faz fenomenologia" (P.RICOEUR, 1953, p.82). Nesse sentido, o conceito de fenomenologia para MERLEAU-PONTY (apud MARCELLO, 2009, não paginado), é "o estudo das essências e todos os problemas, segundo ela, resumem-se em definir as essências na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a partir de sua ‘facticidade'". Nesse contexto, a fenomenologia surge então como proposta de nova filosofia: uma filosofia de rigor. Esta "nova" filosofia surge da inquietude de Edmund Husserl (1859-1938) acerca da postura adotada pela psicologia naquela época. Logo, podemos considerá-lo o verdadeiro iniciador desse movimento, que deu um conteúdo novo a uma palavra já antiga, como podemos ver na comparação de Dartigues (2003, p.3):
"Enquanto a fenomenologia de tipo Kantiano concebe o ser como o que limita a pretensão do fenômeno ao mesmo tempo em que ele próprio permanece fora de alcance, enquanto inversamente, na fenomenologia hegeliana, o fenômeno é reabsorvido num conhecimento sistemático do ser, a fenomenologia husserliana se propõe como fazendo ela própria, às vezes, de ontologia, pois, segundo Husserl, o sentido do ser e do fenômeno não podem ser dissociados".
A noção de intencionalidade é central para a fenomenologia, é restaurando a intencionalidade em seu sentido obvio, isto é, como visada da consciência e produção de um sentido, que a fenomenologia poderá perceber os fenômenos humanos em seu teor vivido. Logo, ela não pode se transformar num simples campo psicofísico sem comprometer com isso, a própria ideia de fenomenologia (DARTIGUES, 2003).
Merece ser considerado o fato de que a fenomenologia e o método fenomenológico tiveram origem na crítica, da capacidade de discernir de Husserl e de sua insatisfação com a superficialidade que os rumos da ciência estavam tomando no momento histórico vivido. Desta maneira, tanto a fenomenologia quanto o método fenomenológico são fundados como proposta de uma filosofia de rigor, em contraponto às explicações naturalistas do mundo (das coisas, do conhecimento, da consciência e do homem) interpretações de sentido que, para Husserl, não tinham o rigor lógico-metodológico necessários à produção do conhecimento científico e, consequentemente, não tinham condições de virem a ser consideradas como bases para a ciência em geral (MARCELLO,2009). Resumindo, é possível dizer que a fenomenologia, enquanto terminologia ou nomenclatura está presente na história da filosofia e das ciências humanas há muitos séculos. Porém, a proposta fenomenológica atual é consideravelmente mais jovem.
2.2 - O Luto na Visão Fenomenológica
Ao passar por uma perda, tais como morte, divórcio, separação de pais, filhos saindo de casa, distanciamento dos pais de origem, perda de uma habilidade conhecida, relacionadas com a idade, entre outras fazem parte do desenvolvimento humano. O processo de luto inclui uma variedade de sentimentos, pensamentos e reações com tais experiências. O conceito de perda não pode significar apenas uma coletânea de definições, mas, sim, partes da identidade da pessoa e da sua maneira de ser-no-mundo e, faz-se pertinente, nesse momento, tomar a fenomenologia como a filosofia e o método capazes de instrumentalizar a compreensão do fenômeno por meio de três questões de investigação: a redução fenomenológica, a intencionalidade e a intersubjetividade. A primeira aborda a realidade na sua própria essência mundo-sujeito no aqui-agora; a segunda apresenta atribuição de um sentido, um objetivo em uma direção para o real ou o irreal; a terceira questão trata sobre a pluralidade de intercâmbios entre os sujeitos no mundo (RIBEIRO, 2009). Nesse sentido, situações de perda, são fenômenos que normalmente surgem de forma inesperada, sem advertência, o que pode nos fazer duvidar do sentido da vida. Toda experiência na sua essência interfere em nossa percepção de vida e é por isso que normalmente, quando passamos por uma situação de perda, revemos os valores da vida. E em toda experiência vivida, há uma chance de mudança e crescimento como ser humano no trabalho de intersubjetividade.
Sobre a vivência do aqui-agora, Fukumitsu (2004) relata que a partir do momento que constatamos que estamos lidando com um momento de crise, existe uma necessidade de que toda a situação seja inteiramente experenciada no aqui-agora. Dessa maneira, entre outras contribuições, a visão fenomenológica-existencial se faz importante, se considerada um embasamento teórico no lidar com perdas, pelo seu pensamento de que o "agora engloba tudo que existe" (PERLS apud FUKUMITSU,2004, p.12).
Em geral não se pode fazer nada quando alguma pessoa amada morre. Por outro lado, é importante entender que, embora não possamos fazer nada com as facticidades da vida, existe a liberdade (permeada pela possibilidade) de se fazer o que se quer e de escolher como se apropriar da situação propriamente dita (FUKUMITSU, 2004).
Ainda sobre a perda, Fukumitsu (2004, p.14) afirma que "perdas são experiências do nosso viver, experiências como inúmeras outras, que nos ensinam, transformam, deformam e formam".
Davis, C.G.; Wortman, C.B.; Lehman, D.R. e Prateia, R.C. (apud FUKUMITSU,2004, p.15) levantam as seguintes suposições clínicas: "As pessoas que confrontam perdas súbitas, traumáticas, inevitavelmente procuram um sentido de vida. Com o passar do tempo a maioria pode encontrar significado e encerrar o assunto. Encontrar significado significa ajustar-se".
Aramin (apud FUKUMITSU,2004), explora três temas principais que emergem quando acontece a situação de perda de um ente querido: choque, luto e depressão. Outro autor, Granader (apud FUKUMITSU, 2004), apresenta sete temas relacionados ao luto: raiva, perda de fé, perda da confiança no futuro, sonhos espirituais, fazer da morte uma amiga, convicção no destino, nova perspectiva da vida.
As variadas situações de perdas provocam uma demanda de aspecto emocional e relacional e a qualidade da elaboração está diretamente relacionada com a qualidade estabelecida com a pessoa e o objeto perdido. É importante entender que o luto é um processo, isso pode ser facilitador para a compreensão da dor das pessoas que lidam com as perdas. Por fim, a vida é uma constante reciclagem, a elaboração das perdas implica num processo de reorganização individual e relacional (FUKUMITSU, 2004).
A autora apresentou As Fases do Processo de Lidar Com as Perdas com o objetivo de organizar suas pesquisas sobre o luto, são:
2.2.1- O processo do luto: neste contexto, o respeito pela dor e pela situação é fundamental e vital para a sobrevivência. Faz-se pertinente compreender a dor como parte disso e, aceitar a nova condição, torna-se muito desafiante. É um processo de adaptação à perda. As reações podem ser: chorar, retirar-se dos lugares e evitar contato com os sentimentos culpando o corpo, criando doenças e sintomas.
2.2.2- O processo de cicatrização: Não existe um tipo de planejamento ou manual de saída para evitar a dor provocada pelo sofrimento do luto. Contudo, Saders (apud FUKUMITSU, 2004) propõe cinco características da fase curativa, a seguir:
2.2.2.1 - Alcançando um momento decisivo: é a percepção de um novo mundo que se apresenta a partir da sua retirada de um buraco existencial, passando a conviver com pessoas novas e rotinas diferentes que podem fazer a diferença em como perceber este mundo.
2.2.2.2 - Assumindo o controle: é necessário entender que cada pessoa é única na habilidade de controlar a sua vida. Assim, assumir a responsabilidade de decidir o que é melhor para si requer tempo, coragem e uma certeza de que é possível mudar.
2.2.2.3 -Redimensionando os papéis: as situações de perda exigem mudanças nos papéis familiares, profissionais, parentais e renunciá-los, é a tarefa mais árdua. Faz-se imprescindível criar novas possibilidades para desempenhar um novo papel.
2.2.2.4 - Formando uma nova identidade: é compreensível que o luto cause uma postura cética a respeito do poder interno, é uma sobrevivência apesar da dor. Os significados da vida advêm de ciclos do aprender e reaprender e da compreensão do quanto se quer mudar na vida.
2.2.2.5 - Centrando-se: é a busca do equilíbrio e da harmonia que auxilia na reestruturação da pessoa. É o cuidar da vida social, da relação com a família e com os amigos. Neste momento, se existe fé, a perda é transformação, é ela que dirá o sentido da perda.
2.2.3 - O processo de sobrevivência e recomeços: As lições de nossas perdas: é aceitar a vida na sua totalidade apesar das perdas, é acreditar nela com um começo, um meio e um fim, um aprender a desfrutar a vida novamente.
A autora relata como experiência própria do luto a necessidade de outras estratégias que a auxiliaram no processo de aceitação:
Dessa forma, é perceptível que assim como todas as fases do processo de lidar com as perdas, como a própria contribuição da vida pessoal autora, considera-se válida este estudo, haja vista que o ser humano não está imune independente do que seja e quem seja.
2.3 - O Ciclo do Contato
"O contato é um movimento transformador de junção, de síntese, que permite a realidade se fazer e se refazer sobre si mesma num processo nunca acabado, porque o contato, como unidade de transformação, tende a ampliar-se ao infinito pelas possibilidades que tem de adquirir novas propriedades a cada instante" (Ribeiro,1997, p.17).
Segundo Ribeiro (1997) o ciclo do contato deve ser considerado um sistema dinâmico, relacionado a mudanças em que o "Self" (sistema de contato organismo-ambiente) assume esta função. Assim, um não existe sem o outro, ambos estão ligados com o mundo e com o ambiente. Este ciclo possui as seguintes características: Nove formas de resistências; Nove formas polares a estes mecanismos como Fatores de Cura; O ciclo encerra um programa, uma "Gestalt"; A mudança é uma função de contato de interação entre pessoa-mundo e bloqueio-fator de cura; e O Self está no centro do ciclo, é por onde os comportamentos se revelam. A partir disso, os fatores de cura, são chamados pelo autor de: fluidez, sensação, consciência, mobilização, ação, interação, contato final, satisfação, retirada. Eis a representação dos Fatores de Cura e do Ciclo de Contato, e posteriormente, as conceituações de cada uma concomitantemente:
Fluidez: é um novo movimento, é uma renovação a partir da localização própria no tempo e espaço, é onde há a criação e a recriação da própria vida.
Sensação: é o estar atento aos sinais do corpo onde a pessoa sente e procura novos estímulos.
Consciência: é o estar atento ao que acontece em volta, dar-se conta de maneira clara e reflexiva e perceber-se recíproco com pessoas e coisas.
Mobilização: existe a necessidade de mudança, de exigência, de expressar o que sente sem ter medo de ser diferente dos outros.
Ação: é a responsabilização pelos próprios atos, sem medo.
Interação: Não se espera nada em retribuição. É sentimento de estar e relacionar com o outro como uma forma de perceber-se como pessoa.
Contato final: é o reconhecimento de si mesmo como a própria fonte de prazer, faz-se o que gosta e o que quer sem intermediário. Os relacionamentos pessoais são diretos e claros.
Satisfação: é a percepção de um mundo saudável em que o prazer e a vida podem ser co-divididos como uma forma de crescimento.
Retirada: é a percepção do que é meu e o que é do outro. É ser fiel a si mesmo e aceita o outro quando lhe convém.
Ribeiro (1997) defende que, mesmo que uma determinada pessoa consiga interromper o ciclo, em qualquer lugar, existirá um ponto interrompido que será o local onde a energia se bloqueará e apontará a neurose.
Os mecanismos neuróticos (de defesa) se opõem ao livre desenrolar do ciclo de contato e são numerosas as "Gestalts" inacabadas, logo, os ciclos são interrompidos por perturbações de origem interna ou externas ao sujeito que não permite o desenvolver do self. Esses mecanismos de evitação do contato podem ser saudáveis ou patológicos, dependem da sua intensidade, maleabilidade e oportunidade. Os principais mecanismos são:
Fixação: é o apego excessivo justificado pelo medo de ser surpreendido por uma nova realidade. Neste contexto, existe o sentimento de incapacidade que induz a pessoa a permanecer em coisas e emoções.
Dessensibilização: é o entorpecimento diante de um contato, dificultando o estímulo da pessoa. É a diminuição sensorial do corpo que causa a perda do interesse por novas e intensas sensações.
Deflexão: é o evitamento do contato sem qualquer direção, como os sentimentos de incompreensão, não valorização por parte dos outros e sempre desconhece os motivos pelas quais as coisas acontecem na vida.
Introjeção: é aceitação de normas e opiniões de outros por medo da mudança e por isso prefere-se a rotina e situações controláveis. Existe o desejo de mudança, mas delega a outros as decisões da sua vida.
Projeção: é a atribuição ao outro, de coisas que não gosta em si mesmo. Ao sentir-se ameaçado, pensa demais antes de agir e identifica nos outros dificuldades e defeitos semelhantes ao seus.
Proflexão: é a manipulação do outro para receber o que precisa. É o desconhecimento de si como uma forma de nutrição e por isso, necessita do outro para a satisfação de sua necessidade.
Retroflexão: é o desejo de ser como as outras pessoas desejam. O sentimento de arrependimento é comum por se considerar inadequado às ações que pratica. É o inimigo de si mesmo.
Egotismo: é o colocar-se como o centro de tudo e ter o total controle do mundo externo. É a imposição de vontades e desejos próprios e o desprezo dos desejos alheios.
Confluência: é a dependência do outro. Não sabe diferenciar o que é seu e o que é do outro com o objetivo de ser semelhante aos demais.
III – MÉTODO
A partir de um atendimento individualizado no hospital da Santa Casa de Misericórdia do Pará, foi realizado um estudo de caso com uma paciente de 18 anos de idade submetida a aborto induzido por infecção aos 6 meses de gestação.
IV – ANÁLISE
Como forma de melhor analisar e obter uma interação entre os assuntos mencionados anteriormente, propomos analisar o Ciclo do Contato (formulado pela Gestalt-Terapia) e o processo de luto em uma visão fenomenológica, juntamente a um caso fictício, de forma que seja possível identificar o surgimento dos mecanismos de defesa e de cura, além do contexto de luto vivenciado. A paciente, com nome fictício Rosa, possui 18 anos, está "casada" há três anos com um rapaz. Soube que estava grávida aos 4 meses de gestação. Mas, por conta de uma infecção, precisou ser submetida ao aborto induzido aos 6 meses de gestação.
Precisou interromper o curso técnico de enfermagem e cuidava da mãe que estava recém-operada, e que para chegar até ela precisava subir escadas e que, por isso, o marido reclamava muito e acabavam brigando, deixando-a muito aborrecida e com dores, mas que mesmo assim, não procurava ajuda.
Parto: Antes do parto, disse que sentiu o seu bebê mexer e que no setor PPP ouviram os batimentos cardíacos dele. Na sala de parto, disse que se incomodou muito com a grande quantidade de estudantes observando tudo. Relatou que fez muita força para expelir o feto, mas que isso só aconteceu depois que uma médica introduziu uma espátula lhe causando muita dor. T. disse que se não fosse esse procedimento, talvez o seu bebê estivesse vivo. Relatou que não quis olhar para o bebê por medo de estar deformado, pois lembrou-se de um feto em decomposição achado perto da sua casa. T. passou por uma curetagem antes de ir para a enfermaria. Sua mãe que acompanhou o parto disse que o feto estava todo bem formado.
Principais sintomas, sinais e sentimentos correlatos na gravidez: informou que seu bebê se movimentava bastante quando ela estava "em paz" (sic), como se fosse uma comunicação dele aos carinhos que ela fazia na barriga.
Principais sintomas, sinais e sentimentos correlatos no parto: T. relatou que a médica a enganou dizendo que não iria sentir tanta dor e que sentiu a mão do feto encostar na sua perna e isso a agoniou bastante, mas que mesmo assim não quis vê-lo.
Principais sintomas, sinais e sentimentos correlatos no puerpério: revelou que sente tanta saudade que ainda sente a sua barriga mexer e isso a deixa muito chorosa.
Relação paciente/equipe médica: T. informou que nas suas idas e vindas na instituição foi atendida por seis médicos ao todo e não sabe o nome de nenhum. Mas que todas às vezes foi atendida rapidamente e que do dia anterior até o momento da entrevista não havia recebido visita de nenhum médico.
Relação paciente/equipe de saúde: Paciente revelou que algumas técnicas de enfermagem são "grossas" (sic).
Nível de informação acerca de seu estado de saúde: T. informou que até o momento não recebeu nenhuma informação a esse respeito.
Expectativa/adesão ao tratamento: Relatou que ao saber da gravidez, fez pré-natal e tomou todas as medicações recomendadas e que logo compraria o enxoval da criança.
Significado e vínculo com o bebê: T. revelou que o seu bebê faria parte de uma nova geração da família e que colocaria o nome Talison para combinar com o do sobrinho Alison. Mas, que ele não morreu, ele virá numa próxima gravidez.
CONTEXTO ATUAL (Período que foi realizada a entrevista)
Estressores: T. disse que gostaria de receber a visita de seu pai, mas a sua mãe impede.
Contexto atual: reconhece que precisa recuperar a sua saúde para voltar a cuidar da mãe que está recém-operada.
História/dinâmica familiar: Sua mãe engravidou também aos 18 anos e é separada de seu pai. T. mora próximo da mãe. Seu marido trabalha numa panificadora.
Relações afetivas / amorosas: T. disse que gosta muito da mãe, do pai e do marido, mas que eles não se entendem e isso, a deixa muito "estressada" (sic).
Crenças religiosas: É evangélica.
Auto-conceito / auto-imagem / auto-estima: relatou que se acha uma pessoa muito explosiva e estava muito pior quando grávida. Negou-se a tomar banho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente artigo, foi possível uma visão mais prática do desenvolvimento do processo do ciclo de contato, da manifestação dos mecanismos de defesa, além da elaboração do luto e suas possíveis fases na vida de uma pessoa. Essa articulação de processos foi importante para futuramente identificarmos e intervimos de forma organizada e clara sobre qualquer situação que envolva um dos assuntos citados, de tal forma que a pessoa seja considerada na sua singularidade, no seu ritmo, na sua forma de ser no mundo, além das estratégias para transformar o que está sendo disfuncional em funcional. É a partir desse entendimento do ciclo do contato que podemos compreender aonde e de que forma a pessoa está paralisada ou com dificuldades, buscando com isso a compreensão de si mesmo, a responsabilidade por seus atos e o fechamento de "gestalten" antes abertas. Também existe a situação do luto, que em muitos casos não são bem elaborados ou discutidos, o que dificulta para o fechamento de "gestalten". O luto vai se apresentar de várias formas na vida de uma pessoa, e é importante que a pessoa visualizasse um possível crescimento e mudanças diante tais experiências. Por fim, podemos dizer que o estudo de caso no espaço hospitalar público, alcançou o objetivo proposto, pois contribuiu ao facilitar o aprendizado e reflexão dos princípios da Gestalt-Terapia e ao promover raciocínio teoria-prática de estudantes de Psicologia e interessados em uma área, no caso hospitalar, onde ocorrem variadas situações de luto e morte. E a partir desse artigo outros temas podem ser estudados e discutidos futuramente, tais como: A preparação dos profissionais de saúde para lidarem com situações de luto, a importância do psicólogo hospitalar como promotor de saúde, o preconceito dos profissionais para com as mulheres que sofreram aborto, entre outros temas possíveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DARTIGUES, André. O que é a fenomenologia?.Trad: Maria José J.G. de Almeida: São Paulo:Centauro,2003.
FUKUMITSU, K.O. Uma visão fenomenológica do luto: um estudo sobre as perdas no desenvolvimento humano. Campinas: Livro Pleno, 2004.
MARCELLO, Guilherme Conti. Breves considerações sobre fenomenologia e psicologia. 2009. Disponível em: <http://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/article.php?articleID=506> . Acesso em: 03 Mar. 2012.
_______. Origem e conceitos básicos da fenomenologia. 2009. Disponível em: <http://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/article.php?articleID=514>. Acesso em: 03 Mar. 2012.
RIBEIRO, Jorge Ponciano. O Ciclo do contato. São Paulo: Summus, 1997.
_______. Gestalt-terapia de curta duração. São Paulo: Summus, 2009.
NOTAS
* Leane Valente de Oliveira: Acadêmicas do 8º semestre do curso de Psicologia da Universidade da Amazônia – (UNAMA). Especialização em Arte Terapia (FIBRA) e Orientação Profissional.
** Marília Zara Gentil de Oliveira: Acadêmicas do 8º semestre do curso de Psicologia da Universidade da Amazônia – (UNAMA). Mestra em teoria e pesquisa do comportamento (UFPA); Especialista em Terapia e Orientação Familiar (UNAMA) eResidente de Psicologia na Saúde da Mulher e da Criança (UEPA-FSCMPa)
*** Edilza de Aguiar Lobato: Psicóloga, com especialização em Psicologia Clínica, Psicologia Organizacional e do Trabalho, Mestranda em Psicologia na Universidade Federal do Pará, atuante em clínica - Gestalt-Terapeuta, e em Psicologia Organizacional e do Trabalho, área na qual presta consultoria. Professora Orientadora da disciplina Teoria e Técnicas Psicoterápicas Gestalt.
Endereço para correspondência
Leane Valente de Oliveira:
Endereço eletrônico: leanevalente@hotmail.com
Marília Zara Gentil de Oliveira:
Endereço eletrônico: marilia_zara@hotmail.com
Edilza de Aguiar Lobato:
Endereço eletrônico: edilzalobato@outlook.com
Recebido em: 21/11/2017
Aprovado em: 20/04/2018