EDITORIAL

 

Marcelo Pinheiro da Silva*

IGT - Instituto de Gestalt Terapia e Atendimento Familiar – Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Endereço para correspondência

 

Estamos fechando o ano de 2016 com o 25º número da IGT na Rede.  Este foi um ano difícil para o Brasil e para nosso mundo como um todo. No Brasil os escândalos ligados a corrupção se sucederam de forma dramática. A crise econômica se aprofundou ainda mais. Nossa geração ainda não havia passado por uma crise destas proporções. Mesmo nos tempos da hiperinflação ou da crise do petróleo as dificuldades não chegaram ao ponto que experimentamos na atualidade. Os níveis de desemprego e os indicadores de recessão só se intensificam. Muitos pagarão com a própria vida por esta crise.  Os descaminhos políticos trouxeram desdobramentos nefastos. Levaremos anos para superar as consequências destes atos.

O Brasil, perplexo, se viu dividido diante das investigações que apontaram a responsabilidade de ídolos e símbolos da esperança de muitos de nós.  A máxima futebol e política não se discute, nunca esteve tão em alta. Amigos se desentenderam em função da discussão destes temas, principalmente quando estas discussões se davam através das redes sociais.

No Rio de Janeiro, com o término das Olimpíadas, estamos assistindo a uma rápida desmobilização das forças policiais nas comunidades carentes, com isso, voltamos a escutar rotineiramente, em grande parte da cidade, o som de tiros. Os cariocas não tinham a menor saudade desta melodia.  Este é mais um exemplo de falta de vontade política, vontade de fazer o que é para o bem comum.

A nível global tivemos uma escalada no terrorismo.  As guerras civis mudaram o mapa populacional de diversos países. Dentro deste contexto a Europa se viu tensionada, a união europeia foi colocada em cheque.  Estamos assistindo um fortalecimento de discursos nacionalistas e xenófobos ao redor do globo terrestre, as urnas têm demonstrado isto.

As fronteiras entre nações estão se tornando mais rígidas.  Como já nos foi ensinado, “quanto mais rígidas são as margens de um rio mais violentas são suas águas”, existe uma relação direta entre a rigidez das fronteiras e a violência das forças contidas pelas mesmas e esta relação se dá nos dois sentidos: Quanto maiores as forças, mais fortes precisam ser os limites e quanto mais fortes os limites maiores os acúmulos de tensão.  O que podemos esperar deste movimento?

Estamos diante de uma série de exemplos de situações em que os interesses pessoais de curto prazo sobrepujaram as buscas de desenvolvimento a longo prazo.  Estas práticas trazem ganhos rápidos porém de curta duração. A longo prazo as consequências são destrutivas. O ser humano é um ser social.  Olhar apenas para o próprio umbigo não traz um desenvolvimento coletivo, este, o único capaz de gerar equilíbrio e desenvolvimento sustentável consistente e duradouro.

Nos impressiona a forma como manobras “políticas” geram efeitos em grandes grupos, como mentiras repetidas diversas vezes terminam tomando ares de verdade. Já dizia Raul Seixas: “um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Um sonho que se sonha junto é realidade” e pessoas matam e destroem umas às outras em função destas realidades, muitas vezes inventadas de forma deliberada em função de interesses inconfessos.

Estes fenômenos sociais merecem um estudo cuidadoso. É impressionante como narrativas extremamente bizarras, muitas vezes terminam sendo acolhidas por pessoas ingênuas como sendo a realidade última. A ingenuidade das massas e a forma como pessoas perversas conseguem manipular estas massas sempre nos impressiona e tem nos intrigado de forma especial nos últimos tempos.

Percebemos que temos muito que aprender com os acontecimentos que vem assolando nossas sociedades. Espero que possamos no futuro tirar proveito, coletivamente, dos aprendizados que estas situações têm a oferecer.  Dentro do possível, no momento correto, no universo que nos cabe atuar, pretendemos contribuir para esta possibilidade de aprendizado.

 

Marcelo Pinheiro da Silva
Editor Chefe da revista virtual IGT na Rede.

 

Notas

* Psicólogo Marcelo Pinheiro CRP nº 05/16.499 Gestalt-terapeuta, Mestre em Psicologia Social (UERJ), especialista em psicologia clínica pelo CRP, especialista em psicologia organizacional pelo CRP, especialista em atendimento de casal e família na abordagem sistêmica (I.T.F.- RJ),  coordenador do curso Especialização em Psicologia Clínica - Gestalt-Terapia (Indivíduo, Grupo e Família), editor chefe da Revista Virtual IGT na Rede, coordenador do Centro de Documentação da Gestalt-Terapia Brasileira e sócio-fundador do IGT. Presidiu o XIV Congresso Internacional de Gestalt-Terapia Rio 2015.

 

 

Endereço para correspondência:
Marcelo Pinheiro da Silva
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Recebido em: 29/12/2016
Aprovado em: 29/12/2016