ARTIGO
Os primeiros atendimentos de um psicólogo em formação: uma compreensão fenomenológico-existencial da narrativa
The first care of a psychologist in education: a phenomenological-existential understanding of narrative
João Henrique Cordeiro1; Deyseane Maira Araújo Lima2
CUEC - Centro Universitário Estácio do Ceará - Ceará, Brasil; IPHFC - Instituto de Psicologia Humanista e Fenomenológico do Ceará
RESUMO
Este artigo tem como objetivo fundamentar e investigar a clínica Fenomenológico Existencial com base na narrativa, procurando demonstrar que este modo textual é rico em interpretações, tanto de caráter epistemológico, quanto humano. Uma abordagem qualitativa do fenômeno da experiência dos primeiros atendimentos na clínica psicoterápica infantil e adulta de um estudante dos últimos semestres da graduação em Psicologia. Tem-se como questionamento central, investigar como se dá o encontro entre teoria e prática na clínica psicoterapêutica. Estes seriam indissociáveis um do outro? A experiência narrada pode se mostrar fonte de conhecimento sensível e profunda para o pesquisador, psicólogo ou estudante? A experiência do psicoterapeuta que foca seus esforços no jeito de ser da pessoa, este que está em constante movimento, acendendo e apagando centelhas vivenciais, aceitando e compreendendo o tempo de cada um como processo sensível e vital. Para tanto, considerando os textos atualmente disponíveis sobre estes temas, podemos acrescentar que este trabalho pode representar um papel importante na formação de estudantes e nos estudos continuados do profissional, pois traz temas centrais e relevantes da clínica Fenomenológico-Existencial para discussão e reflexão enquanto prática, a partir do empírico, do vivido. Utilizando o recurso do auto relato, tentando fazer uma aproximação poética entre teoria e prática, sendo o autor, tanto pesquisador quanto pesquisado. Em termos metafóricos, concluímos que, o estudo das abordagens humanistas na prática clínica se dá em uma via de mão dupla que não é separada por meio fio, os fenômenos se entrelaçam entre si formando e deformando dúvidas e significados relevantes ao processo que os move. O que para o terapeuta e o estudante muitas vezes se torna o maior desafio, e muitas dessas vezes o maior prazer de atender nesta clínica fenomenológica da existência.
Palavras chave: Auto Relato; Psicologia Existencial-Fenomenológica; Psicoterapia; Narrativa.
ABSTRACT
This article aims to support and investigate the clinical Phenomenological Existential based on narrative, seeking to show that this text is so rich in interpretations, both epistemological character, as human. A qualitative approach to the phenomenon of early care experience in psychotherapeutic clinical child and adult a student of the last semesters of undergraduate psychology. It has been a central question, investigate how the encounter between theory and practice in psychotherapy clinic. These would be inseparable from each other? The narrated experience may prove a source of sensitive and deep knowledge to the researcher, psychologist or student? The experience of psychotherapists that focuses its efforts on the way of being of the person, this one is constantly moving, lighting and putting out sparks experiential, accepting and understanding the time of each as sensitive and vital process. Therefore, considering the currently available texts on these issues, we can add that this work can play an important role in training students and continued studies of professional, it brings central and relevant topics of Phenomenological-Existential clinic for discussion and reflection as a practice from the empirical, the lived. Using the feature of self-reporting, trying to make a poetic approach between theory and practice, and the author, both as a researcher researched. In metaphorical terms, we conclude that the study of humanistic approaches in clinical practice takes place in a two-way street that is not separated by wire, the phenomena intertwine with each other forming and deforming doubts and relevant meanings to the process that moves. What the therapist and the student often becomes the greatest challenge, and often will be happy to meet this phenomenological clinic's existence.
Keywords: Self-Report; Psychology Existential - Phenomenological; Psychotherapy; Narrative.
1 INTRODUÇÃO
Estar diante de um paciente na clínica fenomenológica existencial é comumente descrito como uma experiência única, o que exige do terapeuta sua real presença naquele momento. As palavras, ditas ou não, expressões, emoções e estórias contadas no setting são o próprio combustível da relação terapêutica. É nesta relação que se atinge o objetivo principal da clínica, a possibilidade de o cliente experimentar os acontecimentos de sua vida de maneira autêntica. Esta característica da clínica pode ser o que motiva o psicólogo a ser congruente com seu próprio jeito de ser.
Ainda que, teoricamente, a escrita formal seja essencialmente usada para transmissão de conteúdo intelectual, o relato por sua vez, também não seria? Seja sobre o que o psicólogo sente na clínica ou uma situação cotidiana qualquer, o relato como principal fonte de dados seria suficiente para uma investigação mais aprofundada do fenômeno? Haveria espaço para o questionamento de como se dá a antítese entre teoria e prática antes de atender o primeiro paciente? Como esta antítese compõe a experiência da estreia na clínica psicoterápica? É intuito deste trabalho tentar aproximar o leitor da experiência de ser um iniciante na clínica para que a partir disso possa ser constatado os resultados acima buscados.
O objetivo geral deste trabalho é trazer na perspectiva de um auto relato a experiência de um aluno nos seus primeiros atendimentos no estágio clínico obrigatório na graduação, considerando o estilo textual narrativo como rico em conteúdo vivencial. Parte-se, portanto, do pressuposto que este trabalho esteja de acordo com a abordagem fenomenológico-existencial. Assim, os objetivos específicos deste convergem com a necessidade de experimentação da narrativa como fonte de dados para a investigação do fenômeno relator. Estes são: realizar um estudo acerca do método fenomenológico e da clínica fenomenológica na prática, compreender a experiência do psicólogo em formação, investigar a aplicação das teorias fenomenológicas existenciais nos processos clínicos.
O caráter qualitativo deste texto pretende tocar o leitor - o que para as abordagens fenomenológicas existenciais quer dizer - convidar a pessoa a estar presente, a compreender de forma autêntica o que se escreve. Portanto, destina-se o referido relato a escrita do vivido, de maneira que este possa ser produzido autenticamente. Assim sendo, tocar desde o leitor que inicia seus primeiros atendimentos, ao facilitar uma possível identificação com as mesmas angústias - no sentido da aceitação do jeito de ser de cada um – como também o leitor experiente na área, pois esta tem seus desdobramentos de forma infinita, e o crescimento pessoal não é possível sem a experiência de sentir a mudança no jeito de ser. E por fim, o leigo, que ao se deparar com este artigo possa saber que a pessoa no papel de terapeuta também é imperfeita, em aprendizado e em construção. Pretende-se compartilhar, de forma congruente, a experiência narrada do estudante comum, em seus atendimentos comuns na clínica escola (ROGERS, 1977, p 37).
É exatamente deste processo que se pretende falar neste artigo. Desta forma, divide-se o corpo deste texto em tópicos, afim de facilitar a compreensão didática das informações aqui citadas. Para que este possa ser compreendido em sua inteireza, é preciso primeiro deixar o leitor a par da base metodológica que alicerça este trabalho e epistemológica que fundamenta a clínica fenomenológica existencial e sua atuação na psicoterapia infantil e adulta. Este conteúdo é o que preenche respectivamente o segundo tópico, intitulado Pressupostos Metodológicos e o terceiro Bases Epistemológicas.
O quarto tópico, é denominado A Experiência Narrativa, e está dividido em subtemas voltados para o relato da experiência vivida pelo próprio autor deste artigo como estagiário da clínica escola do curso de psicologia. Onde cada subtema abordará uma dimensão teórica e experiencial específica. O sub tópico 4.1 traz dimensão da clínica fenomenológico existencial infantil e adulto como fenômeno desconhecido ao estudante do primeiro semestre de estágio; já o 4.2 terá como base a experiência ontológica da pessoa que é o estagiário de psicologia, suas angustias, anseios, aprendizados e evolução na clínica. Dito isto, finaliza-se o tópico quatro com o subtema 4.3 A Abordagem Fenomenológica Existencial, que procura investigar aspectos teóricos espontaneamente encontrados na prática clínica, não se tratando de técnicas, mas da experiência como devir da teoria e seus desdobramentos.
2 METODOLOGIA
Este artigo tem caráter qualitativo, o que, de acordo com Godoy (1995) é caracterizado pelo contato direto e prolongado com o fenômeno estudado. Levando em consideração que todos os dados, empíricos ou não, são relevantes, desde que sejam levantados durante a colocação do fenômeno em primeiro plano. Isso significa que não é importante para este trabalho qualquer tipo de mensuração ou quantificação dos dados obtidos.
Flick (2002, p. 48) define como aspectos da pesquisa qualitativa a “apropriabilidade de métodos e teorias, perspectivas dos participantes e sua diversidade, reflexividade do pesquisador e da pesquisa, e a variedade de abordagens e métodos na pesquisa qualitativa”. Essas características fundamentais categorizam qualquer trabalho com a perspectiva qualitativa, pois inferem a necessidade de uma abordagem humana que valoriza os fatos empíricos e que resgata a vivência como dado a ser trabalhado.
Com os termos “humano” e “vivência”, refere-se a uma dimensão do aspecto fundamental que torna a qualquer teoria válida. O fato de sua derivação ser de problemáticas vindas da experiência. Por tanto, considera-se a pesquisa qualitativa como chave para a compreensão do que, a princípio, não pode ser explicado racionalmente. Aquilo que Sartre (2005) conceitualiza como pré-reflexivo e Fonseca (1988) como o modo de Ser da autenticidade. Que são atitudes, na perspectiva empírica, dos quais só se tem acesso a partir dos trechos que trazemos em nossa experiência de vida, no presente.
O que realmente é relevante aqui é o “como”, e não o “por quê”. Com a frase anterior, afirma-se que a confiabilidade do método qualitativo se torna inquestionável para a proposta deste artigo. Tendo em vista que o relato vem de origem empírica e a reflexão feita a seu respeito é experimental. Ou seja, o que realmente será levado em consideração é o fenômeno processual tal qual é narrado.
Para além do caráter qualitativo, este trabalho pode ser definido como uma narrativa em formato de auto relato fundamentado pelo método de compreensão fenomenológico de investigação, caracterizada como “(...) aquela que conduz aos modos de aparecimento de um fenômeno à consciência intencional” (DECASTRO & GOMES, 2011, p 154). Isso quer dizer que o método fenomenológico aplicado à pesquisa qualitativa prioriza a observação do fenômeno, focando no processo e não na explicação ou significado.
Outra característica metodológica importante a ser citada neste trabalho é a fenomenologia, que, de acordo com Heidegger (2006) não se resume a uma corrente filosófica, nem tão pouco a um método, não fornece resultados nem conclusões. A função da fenomenologia na investigação cientifica será de compreensão e observação do fenômeno processualmente. Como ele se desdobrará durante sua aparição. Em outras palavras, pode-se identificar o método fenomenológico neste artigo como norteador do objetivo do texto. Aquele que irá compreender a narrativa como processo em andamento, com intensão de expor este fenômeno como único e fidedigno a forma pela qual se apresenta.
Para Ricoeur (1994) uma experiência vivida por qualquer pessoa se torna, em termos de tempo, pretérita. No entanto esta mesma situação pode nos ajudar a perceber o presente de forma diferente, e este movimento é continuo à medida que se vive a experiência. Narrar é transformar esta situação já vivida em experiência novamente. É tornar evidente o fenômeno tal qual se apresenta no aqui e agora. Ricoeur (1994, p 120) acredita que o Ser estará (...) “partindo da experiência de ser no mundo e no tempo e procedendo dessa condição ontológica em direção à sua expressão de linguagem”.
Partindo dessa compreensão da função da narrativa se busca demostrar os sentimentos e preocupações vividas durante os primeiros meses como psicólogo em formação. O relato terá como tema os primeiros atendimentos e as dificuldades encontradas durante o processo. A apresentação do relato será feita simultaneamente ao comentários teórico-formais durante o texto, assumindo um formato de recuo 4 com letra em itálico, para facilitar a discriminação do que é relato e o que teórico reflexivo. No decorrer do referencial teórico traz-se alguns questionamentos acerca da experiência na clínica escola a partir de relatos, que seguem um padrão de pessoalidade e congruência em síntese do que o autor sente em relação ao vivido.
A análise discursiva será utilizada nos comentários que acompanharão as narrações do tópico 4, A Experiência Narrativa, este que é considerado eixo central do trabalho. Análise discursiva é definida por Caregnato & Mutti (2006, p 680) como tendo “(...) a pretensão de interrogar os sentidos estabelecidos em diversas formas de produção, que podem ser verbais e não verbais, bastando que sua materialidade produza sentidos para interpretação (...)”. De forma integrativa, o texto trará recortes de um relato pessoal contaminante a fundamentação teórica relativa a estória narrada.
De acordo com Flick (2002) os elementos da narrativa irão surgir em torno de uma questão inicial que estimule o que virá a seguir. Essa questão norteadora abrirá espaço para a narrativa se desenvolver. Depois que esta primeira fase é investigada e detalhada é possível fazer um fechamento conclusivo, no qual serão abordados temas que não ficaram claros no desenvolvimento.
Por tanto, narrar é também criar. É experiência que se torna presente novamente ao Ser, evidenciando sua essência ao Outro. Dividindo dialogicamente a espontaneidade de viver. Temos na obra narrativa, acesso a experiência de alguém, espectador de seu relato, que se torna atemporal no momento que é contado, que vai para além do que temos apenas como significado. A vivencia de quem conta se torna a de quem lê, e sua essência é complementada pela do outro (RICOEUR, 1994)
No intuito de fornecer uma análise teórica no formato de discussão crítica e revisão de literatura das teorias fenomenológicos existenciais na psicologia. Serão referenciados livros clássicos e artigos que, através de leitura e fichamentos, utilizando o método fenomenológico de investigação, poderá ser facilitada a análise compreensiva dos temas de forma crítica e discursiva.
Este artigo está a par de toda e qualquer diretriz constituinte na resolução Nº 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde. As fases desta pesquisa estão de acordo com as normas de pesquisa envolvendo o ser humano. No entanto, por se tratar da utilização de um narrador que é o próprio o autor da pesquisa, atesto no corpo deste trabalho em afirmação dita na primeira pessoa que uso da minha fala como base de dados informais com caráter poético e expressivo. Não constituindo relevância de dados científicos de caráter quantitativos.
Os livros utilizados foram selecionados de acordo com percurso do próprio autor durante a graduação em psicologia. Além, é claro, de artigos atuais encontrados em algumas pesquisas em revistas cientificas claramente referenciadas no final do texto e sites especializados como Scielo.com para fundamentação metodológica e epistemológica desta pesquisa. É importante citar que a linha epistemológica que se segue indica um método fenomenológico de compreensão, não irá focar em uma abordagem clínica em especial, mas sim, nas abordagens fenomenológico-existenciais.
3 BASES EPISTEMOLÓGICAS
Neste tópico será feita uma breve contextualização das ciências de base fenomenológico existenciais, sua história, evolução, objetivos, e alguns dos principais conceitos facilitadores para compreensão do tópico 4 e seus subtítulos. É preciso levar em consideração que para evitar uma possível repetição ou fadiga que a quantidade de conceitos apresentados neste artigo possa causar ao leitor, opta-se por dividir esta tarefa entre os demais tópicos, onde serão pouco a pouco apresentados à medida que o texto vai sendo destrinchado.
Por fenomenologia existencial-humanista Heidegger (2006) entende um método de ir ao encontro de uma relação autêntica. Uma clínica que não prioriza o terapeuta e nem o cliente, mas sim a relação entre os dois e o mundo. Fenomenologia vem do termo “fenômeno” que quer dizer “o que aparece”, ou mesmo “faísca” para os antigos gregos, e que unido ao termo “logos”, que vem de razão, ou compreensão, temos algo similar a “compreensão do que aparece”. Assim, esta fenomenologia de que se fala anteriormente - juntamente de outros autores como M. Heidegger, J. P. Sartre, A. H. Fonseca, entre outros - é denominada como o estudo da relação de uma consciência com o mundo, que não podem existir separadamente um do outro, mas somente em sincronia com o meio.
Existencialismo é um movimento intelectual que surge a partir do pós-guerra, depois de duas grandes guerras mundiais. O mundo - a Europa principalmente – teve sua população dizimada no conflito, lares, costumes e famílias foram separados. Era uma época de desesperança e sentimento de incapacidade. O existencialismo surge como força intelectual voltada para alcançar as vítimas dessa devastação, com Sartre (2005) vem com a ideia de que o homem é responsável pelo que faz com o que fazem dele, e que este, é livre para exercer sua liberdade diante das possibilidades que lhe são postas pelo meio.
Assim, mediante as cicatrizes deixadas pela guerra, o existencialismo se mostrou um aliado para alicerçar algo mais que a reconstrução dos prédios demolidos, mas a própria vontade das pessoas de se reerguer diante do luto e do intelectualismo da filosofia tradicional cartesiana, de acordo com Marcondes (2001) como a mais utilizada pelos pensadores da época. O existencialismo de Sartre (2012) em sua essência psicológica se fundamenta pelo pensamento fenomenológico proposto por Edmund Husserl (2008) em seus últimos escritos, e posteriormente organizado e incrementado para criticar a filosofia cartesiana - que era popularmente a essência da filosofia moderna - por Martin Heidegger (2005) que, em seus escritos, resgatou a filosofia dos pré-socráticos, nietzschiana, brentaniana, entre outros, para fundamentar uma nova proposta fenomenológica que dá espaço para o que se tem hoje como Psicologia Existencial-Fenomenológica (FONSECA, 2006, p 36).
A fenomenologia como método e modo de pensar da filosofia contemporânea e das psicologias de base humanista é caracterizada pela visão descrita por Buber (2010) de homem dual, ou seja, que é contrária a ideia cartesiana de mente e corpo coexistindo separadamente. Na visão de homem da fenomenologia proposta por Husserl, Heidegger e Sartre este existe em sua relação com o mundo algo indivisível. Logo, a consciência não faz sentido sem o mundo objetivo e vice-versa.
Um dos conceitos mais importantes para se entender esta visão fenomenológica da natureza humana é o princípio da intencionalidade concebido por Brentano (2009) partindo do princípio que toda consciência é consciência de alguma coisa. No entanto, este “alguma coisa” tem caráter ontológico que nos remete a uma interpretação do mundo dito físico pela filosofia moderna como indissociável do conhecimento epistemológico. Husserl (2008), entenderá como natureza, ou pensamento natural, aquilo que é da ordem da explicação e que é concebido como categorização do Ser, apropriação das situações vividas para explicá-las através da linguagem, no qual, o próprio pensamento dualista cartesiano serviria como exemplo.
No entanto, de acordo com a filosofia de Heidegger (2006) e posteriormente resgatada por Sartre (2005), a existência precede a essência, logo, a noção de que o entendimento do mundo é algo da ordem da explicação fica para trás, pois o que é vivenciado pelo homem é criação e não pode ser resgatada da maneira em que lhe foi unicamente experiênciada, e que, somente através de uma compreensão fenomenológica do que restou naquele Ser sobre sua experiência, poderá ser acessado para que a experiência se torne conhecimento. A isto Husserl (2008) chamou de pensamento fenomenológico.
Elwald (2008) conta que os fundadores do movimento intelectual existencialista na França foram Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Maurice Merleau-Ponty e se utilizaram desta linha de pensamento fenomenológica inaugurada por Husserl e reestruturada por Heidegger para organizar suas ideias de que a existência estaria em constante invenção e que não seria possível a criação de uma ciência das essências para uma psicologia do Ser.
“O homem não tem, portanto, uma essência determinada, mas ele se faz em sua existência. Entretanto, o homem é também um ser marcado pela morte e pela finitude e, por isso, ao buscar essa identidade absoluta, está condenado ao fracasso” (MARCONDES, 2001. p. 156).
O “Existencialismo é um Humanismo”, de autoria de Sartre (2012), é uma obra consagrada por dar vasão do pensamento existencial como integralmente pertencente à filosofia, admitindo uma visão de homem que é livre e responsável por suas ações. “Existencial” conta com o recurso da liberdade. Liberdade esta, que foi definida por Spinoza (2010) como a capacidade inata do ser humano de efetuar sua natureza independente das forças externas. Deixando claro aos participantes do processo que as atitudes são libertadoras, e suas consequências, o que definirá se o indivíduo tem proporção o suficiente em sua essência para suportar o assédio de tais forças. Em outras palavras se é possível manter sua existência ativa diante das adversidades que a vida lhe apresenta.
É diante deste referencial, que podemos compreender a epistemologia do trabalho do Psicólogo na clínica fenomenológica existencial. Ao se tratar de fenomenológica atem-se ao fenômeno, ao que é superficial, pragmático, momentâneo do encontro terapêutico. Aquele conteúdo que não se poderá resgatar como se apresentou, sobrando apenas o que se consegue trazer dele no momento em que o cliente se relaciona com o terapeuta e vice-versa.
Quanto a noção de clínica existencial fenomenológica infantil, Aguiar (2014, p 42) considera como essencial para uma relação terapêutica:
“A aceitação da criança exatamente como ela é, o respeito pelo seu tempo e pela sua capacidade de resolver seus problemas, o não direcionamento de suas ações ou conversas, o estabelecimento de um sentimento de permissividade e o desenvolvimento de uma sólida relação de confiança entre criança e psicoterapeuta são os princípios básicos dessa nova forma de compreender e trabalhar psicoterapeuticamente com a criança.”
Desta forma, pode-se concluir que clínica infantil é um lugar onde o cliente pode se sentir acolhido para ser ele mesmo, falar o que der vontade e buscar, sem medo de errar, novas formas de expressão. Essa descoberta de si próprio facilita para criança a comunicação de seus sentimentos, e consequentemente seu desenvolvimento como pessoa, suas relações e seu papel como Ser atuante na sociedade.
Oaklander (1980) trará em seu Descobrindo Crianças diferentes formas de expressão no formato de recursos terapêuticos de pintura, modelagem, fantasia. Esse é o alfabeto das emoções da criança, pois de acordo com Papaglia (2000) ela está em desenvolvimento psicomotor, cognitivo e pessoal, ainda não tendo tantos recursos quanto um adulto amadurecido e com bastante experiência de vida.
Axline (2005) considera importante ressaltar que mesmo que a criança consiga expressar seus sentimentos de forma saudável, os adultos, muitas vezes não estão dispostos a ter um olhar compreensivo, acolhedor e de aceitação. Isso destaca a importância da clínica fenomenológica infantil na vida da criança que está passando por dificuldades na escola ou em casa, pois possibilita o espaço para que consiga se descobrir como pessoa, se identificar como alguém com defeitos e habilidades únicas capazes de serem expressas de diversas formas.
4 A EXPERIÊNCIA NARRATIVA
A riqueza de detalhes e de possibilidades que a narrativa traz em seu texto deve ser compreendida através de um olhar atento e acolhedor. No entanto, não se pode deixar de lado as características da investigação fenomenológica do qual fundamentamos a análise que permeia o relato que faço a seguir. A parte narrativa do texto foi surgindo enquanto o autor pensava nas experiências vividas no último ano do curso de graduação, quando se insere na clínica escola e atende seus primeiros clientes, facilitações de grupos terapêuticos e psicoterapêuticos, entre outras atividades.
A compreensão narrativa vem antes da explicação histórica, portanto, a experiência narrativa é também histórica, afirma Ricoeur (1994). Isso quer dizer que o texto narrativo é entendido como experiência, como ação, é anterior a qualquer tipo de análise interpretativa. É geradora de sentido e criativa a medida que é presente. O evento narrado é irrepetitível, é único, no entanto, a forma que o acessamos é presente. Pois suas contingências históricas são passadas, mas ecoam na experiência do indivíduo, o constituem à medida que são reinventadas em sua própria história.
Por tanto, mais vale, para compreensão narrativa, um pedaço velho e desgastado de papel com quatro frases simplórias e sem contexto aparente, do que um estudo sistemático e estatístico a respeito do acontecimento em questão. Pensar nisso, pode nos remeter a pensar compreensão narrativa como intrinsecamente ligada a relação dialógica de Buber (2010, p 92) “O homem é tanto mais uma pessoa quanto mais intenso é o Eu da palavra-principio Eu-Tu, na dualidade humana de seu Eu. ” Com esse trecho Buber exalta o Eu como indivíduo afirmador de vontade, causador de causos, criador, no entanto, tão somente através da relação com o outro e com o mundo, ou seja, na relação Eu-Tu.
O contrário disto seria viver no passado, nas contingencias residuais do que não foi passado pelo filtro histórico interpretativo da relação Eu-Isso. Desta forma, Buber (2010) definirá a importância da relação dialógica Eu-Tu e da relação explicativa do Eu-Isso. Viver em apenas uma delas seria impossível e não representaria uma existência autentica. Ricoeur (1994, p 142) partilha deste pensamento quando diz em seu Tempo e Narrativa “ (...) se o vivido passado fosse-nos acessível, não seria objeto de conhecimento porque, quando era presente, esse passado era como nosso presente, confuso, uniforme e ininteligível. ”
Com esse pensamento, ambos os autores defendem que a existência autentica necessita da intercalação de modos de Ser, Eu-Tu e Eu-Isso, de presente e passado. História e estória. Para Fonseca (1988, p 69) a vida, enquanto é experienciada, é trágica e:
“(...) se dá na vivencia pontual do instante. Seja do instante como experiência ou objetivação individual, seja do instante como experiência ou coletiva. É o trágico da vivencia do limite que é aceito e vivido, no reconhecimento do esgotamento em si do instante, em sua multiplicidade própria. Esgotamento este que é, sempre e sempre, condição de possibilidade do retorno da vida.”
A tragicidade só acontece durante a estória, a vivencia de autenticidade, e é ativadora de emoção, de sentido, da própria vivencia, como um devir, a eterna metamorfose do Ser. Por isso ela não se repete, está para além do computável, só acontece uma vez e se transforma para acontecer outras formas. Esta é a configuração da vivencia fenomenológica existencial, é um eterno vir a ser.
4.1 A Clínica Fenomenológico-Existencial
De acordo com Aguiar (2014) a psicoterapia infantil de base existencial humanista surgiu a partir de diversos autores e abordagens, entre eles a Abordagem Centrada na Pessoa e a Gestalt-Terapia. A autora faz uma viagem através da história da infância e da família, onde a partir da consolidação da família nuclear e da psicologia cientifica, foi possível pensar na criança como um adulto bem-sucedido em potencial. Levando então pesquisadores a buscar entender a infância como uma fase da vida humana com características singulares, e não como um adulto em miniatura, como muitos acreditavam na época.
Um exemplo interessante seria o que Aldous Huxley traz em sua obra Admirável Mundo Novo, clássico do início do século XX que fala sobre a separação da humanidade em castas a partir de habilidades oriundas de modificações genéticas e comportamentais feitas desde antes do bebê nascer até o momento de assumir a função social que lhe fora designada. Escrito na década de trinta Huxley faz uma crítica as descobertas cientificas e a sociedade de sua época. Avanços na área da psicologia experimental, neurologia e psiquiatria inventavam uma nova forma de ver o ser humano (Schultz & Schultz, 1981, p 28)
O exemplo que Huxley nos traz, narra a história de muitas gerações através de uma fábula futurista. As descobertas cientificas influenciaram na própria formação da família, e nas expectativas dos pais para com suas crianças, tornando muitas vezes os filhos como catalizadores dos sonhos não realizados por seus pais. Foi nesse contexto que surgiram as primeiras clínicas infantis de psicoterapia, se assemelhando também com o que temos na atualidade com família e criança como projeto de realização.
Para Aguiar (2014) foi no contexto psicanalítico que se encontrava o berço da clínica psicoterapêutica infantil. Freud com o caso do pequeno Hans e as fases de desenvolvimento psicossexual, Melanie Klein e o brincar como forma de expressão da criança e seus escritos sobre afetividade, Winnicott com suas contribuições sobre a relação da criança com o ambiente ao seu redor, além de tantos outros que viriam posteriormente.
“Descobrir que elas eram afetadas pelo que os adultos diziam ou faziam não fez que estes mudassem totalmente seu comportamento com relação a criança, porem legitimou a possibilidade de determinado adulto, o psicoterapeuta, agir e falar de modo específico com ela a fim de que isso trouxesse algum benefício terapêutico. A forma que esse agir e falar adquiriu ao longo do desenvolvimento da psicoterapia infantil é congruente com as perspectivas de ser humano e de funcionamento não saudável próprias de cada abordagem ".(AGUIAR, 2014, p 32).
Foi só então que se pôde ter espaço para trabalhar a relação terapêutica com crianças através de outras formas de relação terapeuta-cliente, as terapias existenciais-humanistas. Um exemplo de publicação é o Dibs: em Busca de Si Mesmo de autoria de Virginia Axline, que, através de um texto narrativo traz diversos recortes dos encontros psicoterapêuticos com o menino Dibs. Este texto transcorre numa perspectiva fenomenológica, pois, tenta retratar de forma não sistemática e não diretiva, ou seja, a experiência é apenas transcrita, a estória que os dois viveram na clínica contada através das palavras de ambos conforme fora gravada, e a terapeuta traz o significado que atribui a esta vivencia através dos seus comentários.
Este artigo se estrutura de forma parecida. É fenomenológico pois, é narrativo, se concretiza a partir da experiência descritiva de forma bruta. Conforme emerge e toma conta do autor ele re-experiencia o que lhe é acessível no momento que escreve, não como um filme ou viagem no tempo, mas como a própria experiência, o próprio momento recordado, só que em outro momento, o agora (RICOEUR, 1994, p 143). Para Sartre (2004) a experiência presente é a própria existência, que pré-reflexivamente vai constituir o Ser em si mesmo a todo momento que interage com o mundo e que lhe é passivo de interação. Essa interação tem a experiência como algo que não pode ser entendida por conhecimento, por isso o chama de “PRÉ”-reflexiva, vem antes da análise que se faz ao ocorrido, do pensar sobre, da experiência de ponderar.
Dessa forma, traz-se a própria estória narrada sob a dimensão ontológica do Ser. A vivência clínica, acadêmica e pessoal de um estagiário do curso de Psicologia que dá seus primeiros passos na vida profissional. Aliando sempre o texto narrativo a teoria que combine de forma respectiva a passagem.
Na instituição que estuda o autor, os estágios obrigatórios começam a partir do 8º semestre e perdura até o 10º (final do curso). Ao inscrever-se chegou à clínica no momento em que um grande projeto estava para eclodir, mesmo sem saber disso ainda, o relato a seguir vem com o intuito de aproximar o leitor a este fenômeno, facilitar a compreensão do que é para o autor a até então desconhecida e inesperada clínica fenomenológica-existencial.
“Ao iniciar a clínica me senti feliz e confiante, pois havia chegado no lugar que poderia ter a prática do que estudava há quatro anos. Mas a medida que o dia do meu primeiro atendimento chegava percebi que tantos estudos não haviam me preparado para o que estava por vir. Eu poderia ter um plano antes da sessão, mas sabia que o que realmente importava era a experiência vivida com meu cliente naquele momento único. Se eu possibilitaria que ele fosse ele mesmo, porque eu também não poderia ser eu mesmo? Existe uma linha que separe o terapeuta do cliente? Se o espaço é do cliente, o que me torna digno de fazer parte dele?”
“Para uma surpresa maior ainda, meu primeiro cliente foi uma criança de três anos de idade.”
“Nunca tinha me aprofundado na clínica infantil e não sabia exatamente o que faria, através desta indecisão conclui que a melhor maneira de descobrir seria me abrindo para as possibilidades do encontro, me tornar autentico em admitir que aquela situação era novidade para mim. E foi assim, esta foi a “técnica” que usei em meu primeiro atendimento. Através dela percebi que meu cliente sentia o mesmo, nunca houvera estado com um psicoterapeuta, e esta experiência era nova para ele também. Pudemos assim viver o momento e nos conhecer melhor.”
Fonseca (2006) entende Gestalt-Terapia, Abordagem Centrada na Pessoa, Psicodrama, entre outras abordagens caracterizadas como humanistas, para ele, como também para Boris (2013) e Moreira (2007) se caracterizam como fenomenológico-existenciais. A não diretividade, compreendida na relação terapêutica nessas abordagens é para além de uma mera interpretação, ou análise do cliente. A relação terapêutica estará em constante contato com o jeito de ser do cliente e do terapeuta, e o respeito e aceitação incondicional, para com sigo e com o outro, será o foco. A congruência que Rogers (1977) define como uma forma de entrar em consonância harmônica ao próprio jeito de ser da pessoa enquanto expressa seus sentimentos, vontades e opiniões. Na clínica, para que o cliente se sinta confortável para isso, é preciso que o terapeuta seja congruente. E isso, faz toda a diferença.
“Após a sessão, me deparava com uma folha em branco com linhas dispostas sob a lauda que serviriam para receber meu relato sobre a experiência que acabara de viver. Como iria escrever algo ainda tão vivo em mim, sentia que ainda não havia fechado meus sentimentos sobre o que acabara de acontecer, como se fosse isso e ainda mais. Após alguns minutos sentado olhando para o papel e tentando encontrar as palavras certas para descrever a sessão comecei a escrever.”
“Não conseguia pensar em outra forma que não fosse descrever a sessão, as aparências mostradas pelo cliente, desde antes de entrar até a sua saída, o jeito que olhava para mim, para a sala, os brinquedos que escolhia, as brincadeiras que brincava. Uma infinidade de informações se condensavam através daqueles simples cinquenta minutos e para quem não sabia o que escrever o desafio se transformou no de resumir a gama de fenômenos que me deparei ao me abrir na clínica para outra pessoa.”
Sartre (2004) conduzirá seu ensaio sobre a ontologia do Ser, o renomado, O Ser e o Nada, sob a perspectiva que os processos da consciência intencional de Husserl estão em toda relação do homem com o mundo, mas esta intenção está mais para o Nada do que para um ente, com isso quer dizer que o homem é um Ser mundano, mas precisa do Nada para que este mundo possa tomar forma.
Para entendermos melhor isto, pense numa bela pintura feita com tinta óleo, uma casa rústica sobre a colina, montanhas no horizonte e um ponto de luz no canto superior direito. Para que a noção de distância possa existir aos olhos humanos é preciso camadas de cores gradualmente saturadas, depois disso, suas formas vão sendo acrescentadas e suas respectivas cores dispostas na tela gradualmente conforme a saturação da cor para cada distância. O Nada poderá ser identificado no momento que as formas ainda estão sendo tomadas para dar a quem olha a noção de distanciamento da paisagem. O não reconhecimento da forma se mostrará como o gatilho que dá início ao processo de reflexão do qual entendemos a relação com o com mundo. Podemos ver, ouvir, tocar, sentir, mas a verdadeira experiência está, naquilo que vem antes do entendimento, do reconhecimento. Aquilo que é desconhecido.
“Embora tenha relatado todos aqueles questionamentos que me fiz antes e depois do meu primeiro atendimento, estive a todo o momento me sentindo calmo ao experiênciar aquele momento. Tanto que os atendimentos subsequentes correram de forma também espontânea, muito embora diferentes, já que eu havia feito uma série de estudos sobre a clínica gestaltica com crianças.”
“A partir daí minha postura passara a ser diferente, algumas atitudes permaneceram, como a atitude fenomenológica, o respeito e aceitação do jeito da criança ao se apresentar a mim como uma pessoa, as vezes insegura e assustada. Já outras coisas eu mudei, principalmente se tratando do planejamento das próximas sessões, do qual eu acabava direcionando muito durante a sessão coisas que só aconteceriam na próxima.”
“A partir dessas mudanças pude sentir mais confiança da criança por mim, pois era uma forma de respeitar seu tempo, suas escolhas e vontades. Me senti desta forma mais livre a aceitar as imprevisibilidades que a clínica pode ter, o que alimentou ainda mais minha paixão por ela, este aspecto aparentemente desorganizado, mas, no entanto, totalmente estruturados na relação, na compreensão, no diálogo.”
Na clínica de Rogers (1977) o direcionamento das sessões se dá através de encaminhamentos, no qual, o terapeuta apenas propõe recursos que podem vir a ser ricos futuramente. Acontece que não é uma questão que seja estática, com data e hora marcada, o tempo de cada um varia de pessoa para pessoa e é função do terapeuta respeitar, seja quanto tempo demorar. Da mesma forma se dá a clínica fenomenológico-existencial
Outra forma de recurso terapêutico não diretivo poderia ser o que Oaklander (1980) propõe em seu Descobrindo Criança. Diversos recursos terapêuticos que podem ser utilizados na clínica independentemente da idade dos pacientes já que estimulam a expressividade e criatividade. Um exemplo seria os recursos de fantasia, no qual a pessoa é convidada a relaxar e fechar os olhos, para que se imagine dentro de uma história com o roteiro brevemente diretivo, mas com um desfecho pessoal para cada um. Com este tipo de recurso é possível trabalhar a capacidade expressiva a partir da imaginação, a noção corporal em alguns casos, e estimulação da espontaneidade.
Boris (2013) fala de outro aspecto importante a ser tratado ao se falar de clínica fenomenológica existencial, que é a contribuição da Gestalt-Terapia proposta incialmente por Fritz Perls e posteriormente difundida por outros autores que contribuíram para a noção dialógica de relação terapêutica que tanto trabalhamos para alcançar. A Gestalt-Terapia traz a noção organismica do self que define as relações como dialógicas a priori, onde a consciência é intencional, e ao exercer sua força sobre outra consciência temos o que Perls, Hefferline & Goodman (1997) chamaram de awareness, estado presentificado do Ser para com o mundo, parecido com a relação Eu-Tu proposta por Buber (2010).
“Awareness é sempre uma abertura para aquilo que se apresenta materialmente, tal não significa que a awareness seja tão-somente um movimento de transcendência em direção a uma nova configuração material, e assim por diante. Em cada abertura, em cada transformação, aquilo que se realiza é muito mais do que uma passagem para uma nova ordem material. Realiza-se, também, a experiência de uma unidade que é a unidade de nós mesmo como algo sempre em transformação.” (MÜLLER-GRANZOTTO & MÜLLER-GRANZOTTO, 2007, p 181).
Portanto, podemos entender que a Gestalt-Terapia se baseia na noção do ser humano que está no mundo, não só como figura, nem somente como todo, um fundo. Acaba por se configurar como ambos, pois cada parte (figura) é diferente da soma uma das outras, e é isso que podemos definir como o fenômeno da clínica, ele não vem dentro de um pacote, ele o é e vem acompanhando de todo um contexto (fundo). Esta noção está sob pena da própria inteireza do ser-no-mundo e vice-versa, o que também poderíamos denominar como o que Heidegger (2006) chamou de Dasein.
4.2 O Psicólogo em formação
Este tópico é direcionado aos primeiros questionamentos do início da trajetória do autor como psicólogo em formação. Como a prática vivencial eclode como aprendizado? Como a experiência pré-reflexiva da relação dialógica se torna conhecimento e bagagem teórica para o presente – o agir – e os horizontes de possibilidades se desdobra em criação? São algumas das questões que permeiam seus relatos como psicólogo em formação.
“Depois de muitos atendimentos na clínica individual infantil, chega a hora de iniciar os grupos terapêuticos com as crianças e com os pais, o que se mostrou um novo e maior desafio para mim.”
“Se sentir no controle de uma situação é confortável e tranquilizante, no entanto no atendimento psicoterápico a falta desta sensação pode assustar ao psicólogo de primeira viagem. Assim como no meu primeiro atendimento individual os primeiros grupos se mostraram também como mar de possibilidades pelo encontro de tantas forças diferentes. Olhar para os seus membros e imaginar que cada um tem sua história e seu jeito de ser. Tanto no grupo infantil quanto no de pais meu pensamento principal era sempre o mesmo: como diferenciar quando o grupo está desconfigurado, inautêntico, e quando as diferenças seguem seus rumos e dançam entre si como diferentes formas de expressão?”
Para Boris (2013, p 125) o objetivo principal do psicoterapeuta de grupo é “estabelecer relações com e entre os membros grupais, obtendo dados acerca das questões vivenciadas por estes. ” Ou seja, facilitar grupos terapêuticos é criar vínculos para que os outros participantes se sintam à vontade para fazerem o mesmo uns com os outros. Desta forma, a configuração do grupo vai naturalmente ficando exposta à medida que cada um se expressa e se mostra como é.
Rogers (1977) trará como fundamentos básicos para a criação do vínculo na relação terapêutica três princípios básicos: aceitação incondicional, empatia e congruência. Através destes princípios será criado o laço de respeito e acolhimento do jeito de ser do cliente e este aprenderá consequentemente a receber o jeito do terapeuta.
“Rogers, Fonseca, Domício, Roger e Frederico Rômulo foram, e ainda são, meus professores de processos grupais, me ensinaram de várias formas diferentes, nas manhãs de leitura solitária, sala de aula, na mesa do bar, nos grupos vivenciais e em diversas outras ocasiões da vida. Se não fosse a experiência teórica e vivencial que passei com estes profissionais e amigos não conseguiria compreender os processos de um grupo o suficiente para me permitir lançar-me na experiência. Isso por que, esperar a vez do outro, no seu tempo, do seu jeito, foi sempre algo difícil para mim, e por muitas vezes bati de frente com eles por este mesmo motivo. Estar na clínica, com meus clientes, em psicoterapia individual e em grupo, foi uma experiência nova e marcante. Ainda mais porque, ainda não havia conseguido processar tudo aquilo que meus professores tanto se esforçaram para ensinar.”
“Na hora de começar a primeira sessão grupal, e ver todos sentados esperando que eu fale. A única coisa que me vinha à mente foi justamente o que lhes disse: “este é o espaço de vocês, podem falar o que desejarem, estamos aqui para ouvir e dividir nossas experiências mutuamente. ” Dizer estas palavras foi libertador para mim, como se me tirasse toda pressão de direcionar e indagar o grupo, e finalmente entendi aquela experiência como cada um de nós entrando em contato com um organismo independente, o grupo.”
Para Fonseca (1988) cada pessoa no grupo tem seu próprio processo individual, é autônomo e independe do facilitador. Isso quer dizer que o movimento do grupo precisa ser espontâneo, a facilitação serve para que esta interação seja possível.
“O grupo e as pessoas atualizam-se em processos organicamente naturais de objetivação. E é na interação assumida com essas objetivações que o facilitador efetivamente facilita, que se coloca como parceiro no processo da descoberta e da criação da realidade grupal e como parceiro mais ou menos presente da elaboração e descoberta das realidades individuais dos participantes” (FONSECA, 1988, p 96).
Por isso, os grupos vivenciais são ricos em experiências de compreensão e aceitação do jeito de ser do outro, é um exercício pelo qual a pessoa pode aprender a se sentir pertencente a um processo livre e espontâneo que, em escala micro, são os grupos vivenciais, e macro, o meio que si vive, relações extramuros, o mundo.
Para Boris (2013) grupos vivenciais se configuram por fases que tem começo, meio e fim. A facilitação terapêutica possibilitará um acompanhamento especializado do movimento que o grupo vai tomando à medida que acontece, propõem a utilização de recursos terapêuticos no formato de experimentos com a intenção de confrontar e expressar as diferenças e papeis de cada um. Assim, o (s) facilitador (es) funcionam mais ou menos como amplificadores da consciência dos membros do grupo, no sentido fenomenológico de consciência que é presente e, muitas vezes, sofre bastante interferência de evitações e dificuldades individuais dos participantes.
“Dia após dia ganhava mais experiência com atendimentos individuais e como facilitador de grupo vivencial na clínica escola, o que me trazia cada vez mais questões a respeito do meu próprio ser, a pessoa que eu e o mundo estávamos constantemente reinventando.”
“Sem sombra de dúvida, a ajuda mais direcionada que tive para isso foi da minha terapeuta que, com sua empatia, aceitação e paciência me possibilitou um local de acolhida, no qual pude entrar lentamente em contato com novas versões de mim, renascidas das cinzas das experiências que vivia. Que, por diversas vezes, não consegui assumir o papel de cliente para evitar me entregar a verdades tão dolorosas que me assombravam. Tomar consciência de mim mesmo desta forma, abriu-me os olhos para um novo mundo, onde há o encontro, onde a vontade do outro é diferente da minha e que, às vezes, minhas atitudes se mostram impotentes, não por isso, me tornando menos do que sou.”
Para Sartre (2005) o Ser nunca estará livre de estar passivo a modos de ser que não o tenham como causa a priori, no entanto, esta condição tem por si só uma condição, que é a existência. Assim, o Ser é passivo ao outro, mas essa passividade só existe perante sua própria existência, o que é única e primordialmente de responsabilidade de escolha individual. “Quaisquer que sejam minhas condutas, sempre posso fazer convergir dois pontos de vista, meu e do outro” (SARTRE, 2005, p 104).
Isso quer dizer que a pessoa que está no mundo vive em uma dimensão que não é só sua, mas também do outro, ou seja, das contingencias que o mundo lhe apresenta durante sua vivência e de suas ações diante delas. De acordo com Buber (2010) não faz sentido falar do Ser sem o Outro, pois o Eu sem estar inserido na relação dialógica não valida sua existência em si, apenas como uma mera definição essencial daquilo que se passou, que é vivido. Por isso, a formato que o Ser se apresenta como dasein é durante relação dialógica Eu-Tu, formato que entende a existência como consciência presentificada, intencional, awareness.
Sartre (2005) chamará de existencialismo a corrente de pensamento humanista que vê o homem como o que ele faz com o que fizeram dele. Em termos lógicos, isso o torna coautor de sua própria existência, a julgar pelas interferências do mundo, no entanto, se faz como protagonista ao atuar livremente por entre estas contingências que lhe são impostas não tirando a responsabilidade que possui por suas próprias escolhas.
Diante disto, podemos concluir que o homem é o “Ser-no-Mundo” de Heidegger (2006) e sua existência só faz sentido quando afirmada sua escolha diante das possibilidades que o mundo apresenta, por Sartre (2005), poderia se dizer que exercer sua liberdade é projetar-se ao presente e a criação de sentido é relacionar-se dialogicamente com desconhecido e suas consequências.
4.3 A Abordagem Fenomenológico-Existencial
“Se reflito depois que ajo, ajo depois que sou tocado, e o ciclo permanece o mesmo, como ei de ser eu mesmo novamente, já que nada mais sou que o choque enigmático de infinitos outros Eus, e o descanso eterno deste para me deixar mudar-me essencialmente aquilo que em mim acredito existir.”
Para encerrar este raciocínio acerca do jeito de ser de cada um, da relação dialógica, e da reflexão do vivido, direciono este tópico a abordagem Fenomenológico Existencial e as suas bases epistemológicas. Como a Psicologia, ciência da relação do homem com o mundo, torna a visão fenomenológica da filosofia de Edmund Husserl seu principal recurso metodológico e se desdobra por entre o existencialismo de Frederick Nietzsche e Jean Paul Sartre em sua visão de homem que é condicionalmente livre.
Para Karwowski (2005), Husserl pretendia criar um método que servisse não só para a psicologia, mas também para todas as outras ciências. Este que seria fenomenológico, que implica na redução fenomenológica antes de qualquer interpretação. Para compreender os fenômenos Husserl (2008) usou a redução fenomenológica - partindo do pressuposto que o homem e o mundo em si próprios não se caracterizam como fenômenos, mas como entes - para demonstrar que apenas a partir da consideração destes como pertencentes a uma ordem ontológica da experiência que podemos transcender para o leibenswelt, ou mundo da vida.
Ainda para Husserl (2008) seria necessário suspender todo conhecimento do fenômeno investigado que seja apriorístico, ou seja, pertencente a uma cadeia de sentidos pré-existente ao investigador. Desta forma a redução fenomenológica passa por três instancias subsequentes: a redução psicológica, ou epoché, onde o investigador põe sua carga conceitual entre parênteses e se volta ao fenômeno, no qual poderá entrar em contato com a segunda fase da redução chamada eidética onde o investigador se depara com a essência do fenômeno, caracterizada por sua característica mínima e indivisível de sua existência. Por fim, Husserl denominou como redução transcendental a fase que leva a investigação dos fenômenos a um novo patamar, o relacional, no qual a essência não faz sentido sem a experiência, e se cria uma relação de interdependência entre estes.
“Estou na frente dele, e agora? Farei uma redução fenomenológica? Como ter lido tanto não me preparou para esse momento? Será que pensar assim é a solução? – Não era, então comecei a experiênciar, e não tardou até que toda teoria não estava mais atuando como figura, mas completava o cenário da minha consciência, cada vez mais presente, meu paciente já não era mais ente, era pessoa. Na hora não notei, mas estava pondo em prática meus estudos, no entanto, não sei – e ainda bem – onde fica a fronteira entre o vivido e o vivencial, estes se completam entre a relação dialógica e reflexão. Meus estudos nada mais eram que um exercício, repetido em diversas séries que prepararam meu espirito para o encontro autêntico. Treinaram minha empatia, me ensinaram a respeitar e aceitar o jeito de ser meu e o Outro. Fazendo então da clínica o palco da vida. Onde as experiências vividas ali seriam serviriam para a vida fora, e vice-versa, e na verdade isso tão pouco importava, o aprendizado maior seria o do espaço, mas o de se viver, de ser autêntico, independente das condições que a vida lhe trouxer, nas condições que o espirito lhe permitir, pois é assim, que se deixa existir”.
Todo este tópico deságua em dois conceitos específicos, o primeiro deles é o modo de ser vivencial, pré-reflexivo, do qual Fonseca (2006) denomina como modo de ser da ação, esta que não necessariamente se caracteriza como percebida e funcional, tem na verdade um caráter desproposital e espontâneo, sendo considerado pelo autor como a dimensão da criação. Isso quer dizer que a existência para a psicologia existencial fenomenológica é impulsionada por uma multiplicidade de forças que abrem o plexo de possibilidades citado por Afonso (2006) como escolhas sendo feitas constantemente numa relação descrita por Buber (2010) como relação dialógica.
O segundo é o mundo vivido, a práxis em seu modo reflexivo, a análise do vivido, ou que Fonseca (2006) chama de modo de ser da coisa, ou mesmo o que Buber (2010) denomina como relação eu-isso. Que para ambos os autores se completa com a relação dialógica, formando assim o ser que está em constante mudança em sua relação com o mundo. No entanto, esta relação não é totalmente dialógica, e muito menos reflexiva, uma permeia a outra numa relação de codependência entre pré-reflexão e reflexão.
"Então é isso. Não tem como a resposta estar mais clara. Diante dos meus olhos de terapeuta, há olhos de humano, que só enxergo quando sob seu reflexo vejo olhos de outro humano. A clínica é a experiência da vida comum, e seus desdobramentos são comuns. No entanto, um comum que não se desdobra com naturalidade na vida cotidiana, mas clama por socorro, corre no labirinto de sofrimento psíquico, angustia, tédio em busca de uma saída para se tornar expressividade. Algumas vezes é possível que o jeito de ser seja, outras é muito difícil, mas algo é certo, ele sempre existe, está sempre lá para aparecer. Eu luto a mesma luta, todos os dias, porque então querer ser diferente? O saber teórico mascara o verdadeiro ser, pois intima o espirito a permanecer-se acuado por traz da grande farsa que é acreditar que quando se pensa, se existe."
Com tudo, pode-se concluir que “(...) dá no mesmo embriagar-se solitariamente ou conduzir os povos” (SARTRE, 2005, p 764), pois a natureza da vontade do homem se dá à medida que este tem consciência do seu próprio objetivo, do seu projeto de ser. Por isso, a linha de convergência entre o vivido e o vivencial não será o fenômeno abrasador para a compreensão do Ser e seus processos no mundo, mas sim o próprio caminho deste como possibilidade de sentido. Sua luta para se tornar o que é, diante do que Nietzsche (2012) chamou de força dionisíaca de se mostrar como é. Levado pelo caminho não tão consciente do amor fati eterno retorno
5. CONCLUSÃO
Antes de abordar o texto como um possível resultado a problemática, é preciso referir-se a alguns pontos conceituais que não puderam ser abordados neste artigo. Foi falado sobre a clínica fenomenológico-existencial, a pessoa que é o Psicólogo em formação e a abordagem fenomenológico existencial em si sob olhar da narrativa como fonte de dados constituinte de força de sentido. Diante disto, pode-se presumir que, o que foi escrito neste artigo sobre qualquer um destes temas é meramente introdutório, e que seria possível futuramente um trabalho ainda mais detalhado e extenso sobre cada uma dessas dimensões.
Outro detalhe é sobre o conteúdo histórico e epistemológico que, em suma, vem bastante abreviado devido a limitações argumentativas justificadas pela proposta principal deste trabalho. Por exemplo, seria possível, em outro momento, fazer outros textos com ênfase na história da perspectiva fenomenológico-existencial na psicologia ou sobre a narrativa na investigação dos fenômenos psicológicos. Ou seja, uma ampla variedade de possibilidades de futuros temas pode surgir de um único relato narrativo, e suas compreensão teórica pode ser constantemente reinventada.
Quanto à problemática deste artigo definida na introdução e constantemente abordada – mesmo que indiretamente – no corpo do texto, foi possível perceber que não há uma fronteira que possa definir o momento em que a teoria contrapõe a práxis. A forma mais aproximada de chegar a esta conclusão seria pensar na teoria como indissociável da prática, no qual uma iria complementar a outra. Parecido com a noção Eu-Tu e Eu-Isso de Buber (2010) e a noção de modo de ser da compreensão e da explicação de Fonseca (2006). É justamente nessa codependência de modos de ser que surge a dimensão da clínica fenomenológico-existencial como um ponto de partida para a vivencia de sentido da relação autentica do homem com o mundo e suas possibilidades.
Com este trabalho pôde-se se constatar a importância da narrativa na investigação fenomenológico-existencial. Sua característica não estruturada, redireciona a interpretação explicativa da teoria sistemática e dá espaço para uma ampla compreensão do leque de significados que um mesmo fenômeno pode trazer. Paul Ricoeur (1994, p 88) entenderá a narrativa como “enraizada numa pré-compreensão do mundo e da ação: de suas estruturas inteligíveis”. E isso justifica a importância da narrativa na investigação dos fenômenos, considerando que seus “(...) traços são mais descritos que deduzidos” sua essência é mimética, estando para além a da explicação teórico racional.
Sendo assim, conclui-se que é devido a esta abertura compreensiva de sentidos que se pode possibilitar uma investigação a uma fonte inesgotável de fenômenos existente em cada aparição da expressividade de uma pessoa.
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NOTAS
1Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário
Estácio do Ceará. Formação pela Escola Experimental
de Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial, Gestalt-Terapia
e Abordagem Rogeriana, ministrada pelo prof. Afonso Fonseca de 2013 a 2015.
2Psicóloga. Formação em arte terapia.
Formação em Gestalt-Terapia. Formação em Gestalt-Terapia
com crianças e adolescentes. Especialista em Educação
Inclusiva e Educação a Distância. Mestre em Psicologia.
Doutora em Educação. Integrante do Instituto de Psicologia Humanista
e Fenomenológica do Ceará. Professora da graduação
e pós graduação em psicologia
Endereço para correspondência
João Henrique Cordeiro
Endereço eletrônico: jonerique@gmail.com
Deyseane Maira Araújo Lima
Endereço eletrônico: deyseanelima@yahoo.com.br
Recebido em: 20/06/2016
Aprovado em: 11/10/2016