ARTIGO

Relato de um estágio realizado com crianças em um Centro Educacional e de Assistência Social.

A report of internship conducted with children in an Educational and Social Care Center

Renata Nunes Pedras*; Sandra Melo de Andrade Fontoura Lúcio da Silva**; Regina Celia do Prado Fiedler***; Simone Ferreira da Silva Domingues****; Maria Aparecida Conti*****

Universidade Cruzeiro do Sul - São Paulo - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Esse trabalho tem por finalidade relatar uma experiência de atendimento coletivo com crianças, realizado por estagiárias do quinto ano do curso de psicologia, em um Centro Educacional e de Assistência Social na abordagem da Gestalt-terapia e Clínica Ampliada, no segundo semestre de 2013. O tema escolhido diante da demanda foi “Convivência”. Desenvolvemos diversas atividades lúdicas e de relaxamento que levaram à interação do grupo. Observamos que as atividades possibilitaram o rompimento dos estados de isolamento, ativaram laços sociais e comunicação, contribuindo assim para desencadear sentimentos de enraizamento e de melhor convivência em grupo.

Palavras-chave: Gestalt-terapia, Psicoterapia de Grupo, Clínica Ampliada, Criança.

 


ABSTRACT

This study aims to describe an experience of collective attendance with children conducted by trainees of the last year of Psychology Course. The study took place at an Educational Practice in a Large Welfare Center in Gestalt therapy approach and in the second half of 2013. The theme chosen according to the demand was "living together". We have developed several ludic and relaxing activities which led to group interaction. We have observed that the activities allowed the disruption of isolation states, activated social and communication links, thereby helping to trigger feelings of rooting and better group familiarity.

Keywords: Gestalt therapy, Group Psicotherapy, Amplified Clinic, Children.

 


1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um relato de estágio realizado com um grupo de crianças em situação de vulnerabilidade social em um Centro Educacional e de Assistência Social de formação complementar na cidade de São Paulo. Nesse espaço, as crianças participam de atividades que vão além da educação formal, realizando oficinas de balé, karatê, informática, música, entre outras.

A instituição atendida fica localizada em uma região da zona norte da cidade de São Paulo, em um bairro que foi considerado carente de serviços e assistência social com grande demanda de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. O trabalho desenvolvido na instituição ratificou o complemento dos trabalhos sociais, que almejam, em linhas gerais, mobilizar a família, com o intuito de prevenir a ocorrência de situações de riscos sociais, bem como o fortalecimento da convivência familiar e comunitária.

A administração deste Centro Educacional é gerida por Irmãs Carmelitas, que possuem como uma de suas missões a evangelização e o atendimento prioritário aos jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Por meio de entrevistas e visitas domiciliares buscam acolher as crianças e jovens com grande necessidade de assistência, muitas vezes, em função da ausência dos pais que trabalham fora, falta de atividades após horário escolar e melhora de integração social e familiar.

De acordo com a solicitação da responsável pela instituição, inicialmente nosso trabalho teria a finalidade de adaptar e socializar melhor um grupo de crianças que apresentavam dificuldades de convivência, para que pudessem usufruir do trabalho e aproveitar melhor o que a instituição oferece. Este foi o nosso ponto de partida para o desenvolvimento do nosso plano de estágio, tendo como referencial teórico a abordagem da Gestalt-terapia.

O atendimento baseado nesta abordagem valoriza o constante “vir-a-ser” no “aqui-e-agora” onde é possível lidar com os fenômenos que se apresentam. Nesse sentido e de acordo com Tellegen (1984), o ser humano é um ser em relação, é um ser inserido num campo organismo-meio, é um ser que age criativamente num meio, ajusta-se a ele e ajusta-o a si, numa infinita troca. O bom ajustamento é o chamado “ajustamento criativo”, ou seja, ele se baseia em um diálogo entre a novidade e a conservação, o que permite uma reestruturação, ou seja, permite que algo novo seja assimilado ao velho, gerando uma nova configuração. É através de ajustamentos criativos que a pessoa pode superar o que já não é funcional, sem negar a importância do vivido, mantendo-se um constante processo e em constante ampliação de sua autonomia, dentro das possibilidades que encontra em seu ambiente.

Perls, Hefferline e Goodman (1997) definem o ajustamento criativo como “um relacionamento entre pessoa e meio no qual a pessoa com responsabilidade contata, reconhece e lida com seu espaço de vida e se responsabiliza por criar condições que a conduzam ao seu próprio bem-estar” (p. 97). É o ajustamento criativo que permite a uma pessoa aproximar-se ao máximo que possa de contatos nutritivos e afastar-se, ao máximo que possa de contatos tóxicos, em sua perene busca pelo desenvolvimento de seus potenciais.

As técnicas norteadas pela Gestalt-terapia possuem como referenciais os processos de percepção, bem como as interações que as pessoas estabelecem com o meio, a forma como se autorregulam e organizam sua existência, almejando ampliar a Awareness (consciência integrativa) da pessoa de modo que ela possa ter uma maior consciência de si mesma e do ambiente.

Na Gestalt-terapia, com enfoque infantil, há uma possibilidade de reorientar as funções do contato (ver, ouvir, sentir, falar) de forma a apoiar seu desenvolvimento para que a criança experiencie suas potencialidades.

Oaklander (1980) acredita que cabe ao psicoterapeuta promover os meios que abrirão as portas e as janelas de seus mundos interiores, sendo necessário criar condições para as mesmas expressem seus sentimentos e tragam para fora tudo aquilo que estão mantendo guardados, de modo que, juntos, possam lidar com os conflitos atuais. O atendimento em grupo oferece um espaço para se experenciem mutuamente. E assim a criança, além de testar as possíveis formas de interação, poderiam assumir as responsabilidades por suas ações e experimentarem novos comportamentos.

Em relação às atividades que podem ser realizadas, as técnicas de trabalho em grupo, nessa abordagem, permitem que a criança possa se experimentar sendo ela mesma e, no relacionamento com o outro, ser o próprio objeto de trabalho. Sendo assim, na relação estabelecida com o grupo poderá vivenciar possíveis formas de "organizar" seus conflitos, aproveitando e reconhecendo vivencialmente no momento terapêutico sua fase de desenvolvimento com maior tranquilidade.

As técnicas lúdicas, de acordo com Antony (2012), exigem recursos emocionais e cognitivos, uma vez que permitem que se explorem novas alternativas e possibilidades, sendo muitas vezes divertidas, ajudando a promover a afinidade necessária entre o grupo. As técnicas de relaxamento, também conforme Antony (2012), ajudam o indivíduo a entrar em contato consigo mesmo, facilitando perceber-se, compreender seus sentimentos, visualizar imagens e outros conteúdos inacessíveis à consciência, e por meio destas acaba sendo possível criar condições, para que a criança possa vivenciar a liberdade de ser e contatar espaços ainda não explorados em si mesmas.

Para Oaklander (1980), em Gestalt-terapia, no “aqui-e-agora” da vivência terapêutica, o terapeuta experimenta a forma própria de a criança “estar-no-mundo”, compreendendo a sua maneira de vivenciar o espaço (seu corpo), o tempo (sua história), o outro (sua estranheza) e a obra (o seu fazer-se).

Uma nova modalidade de intervenção na área de saúde é a Clínica Ampliada. Envolve a compreensão multidisciplinar e multiprofissional sobre a necessidade identificada em cada grupo atendido. Essa proposição de uma compreensão mais abrangente envolve, por outro lado, ações também mais abrangentes que não apenas estipuladas pela prática clínica tradicional. Sendo assim, nessa abordagem é proposto uma nova modalidade de fazer a “Clínica”, envolvendo assim um novo fazer, por meio de um novo olhar acerca das relações que se estabelecem. Segundo Guarido e Campos (2001), “leva em conta toda a interação, o conflito e o convívio, todo o entorno do paciente, mobilizando-se para a busca de resultados no contexto social em que ele vive” (p.41).

A Clínica Ampliada propõe que o profissional de saúde desenvolva a capacidade de ajudar as pessoas, não só a combater as doenças, mas a transformar-se, de forma que a doença, mesmo sendo um limite, não o impeça de viver outras situações em sua vida.

Nessa direção o objetivo do presente relato é descrever uma experiência de atendimento coletivo, com crianças, realizado por estagiárias do quinto ano do curso de psicologia, tendo como referencial teórico a abordagem da Gestalt-terapia e a Clínica Ampliada.


2. MÉTODO

Essa experiência foi realizada no segundo semestre de 2013 e durou cerca de três meses. Foram realizadas, sequencialmente, duas entrevistas com a coordenadora da instituição, onze encontros com o grupo de crianças e uma entrevista devolutiva com a coordenadora.

O grupo foi formado por dez crianças, nove meninos e uma menina com idades entre seis e dez anos, tendo em média seis participantes em cada encontro. As crianças foram eleitas pela coordenadora por apresentarem dificuldades no relacionamento.

Após o contato com a coordenadora, iniciamos o trabalho com o grupo. Logo no inicio observamos a dificuldade de relacionamento. Sendo assim, definimos “Convivência” como tema norteador do nosso projeto de intervenção terapêutica.

Utilizamos inúmeras técnicas da Gestalt-terapia, o que segundo Ginger e Ginger (1995) só tem sentido se as mesmas são integradas em um método coerente e praticadas de acordo com a filosofia proposta. Assim, o essencial da Gestalt-terapia não está em sua técnica, e sim no espírito geral que a procede e que a justifica.

A Clínica Ampliada, segundo o Ministério da Saúde (2006), é um trabalho clínico diferenciado que visa resgatar o sujeito como foco principal de atenção, não minimizando suas dificuldades, como a própria doença, mas o aproximando a da família, valorizando o seu contexto. Um dos objetivos centrais é produzir saúde e aumentar a autonomia do sujeito nas relações estabelecidas com a família e a comunidade. Utiliza como meios de trabalho, a saber, a integração da equipe multiprofissional, a descrição de clientela e a construção de vínculo, a elaboração de projeto terapêutico conforme a vulnerabilidade de cada caso, e a ampliação dos recursos de intervenção sobre o processo saúde-doença.

Neste trabalho foram utilizadas técnicas lúdicas e de relaxamento para nortear as atividades com as crianças, de acordo com as proposições da Gestalt-terapia, apoiando-se na lógica da Clínica Ampliada. Pôde-se trabalhar com uma gama de opções lúdicas como jogos desenvolvidos pelos membros do grupo, pinturas, dramatizações e relaxamento (viagem imaginária), construções de histórias máscara de herói, fantoches, brincadeiras antigas como pega-pega, bata–quente, cabra cega, colagens, entre outros. Utilizou-se um arsenal de materiais: diferentes tipos de papéis (sulfite, crepom, cartolina), caneta hidrocor, lápis de cor, giz de cera, cola colorida, glitter, fantoches, bonecos e brinquedos diversos.

A técnica utilizada para brincar permite que a criança possa sentir-se mais livre, ampliando seus conhecimentos e também sua percepção em relação ao outro, aumentando assim sua autoestima e com isso podendo lidar melhor com o estresse e as experiências traumáticas.

Oaklander (1980) ressalta que tais técnicas, que envolvem o brincar de forma mais livre, desenvolvem novos recursos emocionais e cognitivos, uma vez que interagir, dialogar no próprio fazer com as novas ou velhas formas de brincar que se configuram no “aqui-e-agora” em cada encontro, permite que se explore novas alternativas e possibilidades numa realidade alternativa (simbólica).


3. RESULTADOS

Os focos conflitivos vivenciais identificados e trabalhados na relação grupal foram: convivência em grupo, expressões do que era mantido oculto (implícito), bloqueio dos canais perceptivos.

Inicialmente o grupo apresentava dificuldade de convivência, de aceitar limites, atitudes agressivas, dificuldade para se expressar e conduzir as atividades. Encontramos um grupo fragmentado, havia pouca troca, as crianças não conseguiam reconhecer um ao outro e apresentavam comportamento agressivo generalizado como uma forma de evitar contato com as estagiárias e com os colegas.

No grupo, também foi possível observar que as crianças queriam impor suas vontades, na tentativa de vencer individualmente a situação a qualquer custo. Algumas saiam da sala durante a atividade e não retornavam e outros simplesmente preferiram não participar das atividades, isolando-se no canto da sala ou até mesmo tentando agredir o colega fisicamente. Falavam em tom muito alto ou baixo, algumas nem se expressavam, evitavam contato visual, apresentavam uma postura corporal curvada, e não respeitavam as regras estabelecidas inicialmente para contribuir para convivência em grupo.

Em uma das atividades, as crianças utilizaram papel, tesoura e elástico para a criação de máscaras e tiveram que montar uma história em que todos participassem, também utilizaram os materiais E.V.A., papelão e cola para a montagem de porta-retratos.

Outras atividades foram, "Estátua", "Mímica", "Vivo ou Morto", "Corre cutia", "Batata-quente", "Pega-pega", "Estourar bexigas" e "Cabra-cega". No relaxamento, nós guiávamos as crianças por meio de sua imaginação contanto uma história, pedindo que elas escolhessem com quem elas gostariam de vivenciar esse momento e trouxessem, no final, algo especial que tivessem encontrado em sua jornada.

Já para as atividades de desenhos, após discussões em supervisão, os temas eram selecionados, sendo estes, "Algo que gostassem ou lembrassem o outro", "Algo que representasse o que eles haviam aprendido nos encontros", "O que estavam percebendo no momento" e "O mundo das coisas legais".

No sentido de descrever mais pontualmente o trajeto percorrido, estaremos descrevendo três momentos (primeiro, sexto e último encontro) desse processo, com o detalhamento do tema, técnica e procedimentos adotados.

No primeiro encontro, o nosso objetivo foi conhecer o grupo e definir um tema para as próximas atividades. As estagiárias se apresentaram e em seguida pediram que as crianças fizessem o mesmo, pois por serem de idades diferentes algumas não se conheciam. Duas crianças verbalizaram não querer participar e quando as estagiárias informaram que a presença não era obrigatória, as mesmas cruzaram os braços, fizeram caretas, mas mesmo assim se apresentaram. Uma delas sacudiu a cabeça em sua vez, indicando não querer falar, mas quando uma das estagiárias pediu, por favor, e disse querer conhecê-la, a mesma disse em voz baixa seu nome e idade.

Após as apresentações, foi dada uma folha em branco a cada criança e explicado o que deveria ser feito, ou seja, um desenho de algo que gostasse ou se lembrasse. Ao término, o resultado gráfico ficou disponível no centro do círculo. Todas as crianças conseguiram desenharam algo que gostavam, mas não mencionaram o outro e se ignoraram ao longo da atividade, apenas interagiram em função da necessidade da troca de materiais. Quando havia conflito para compartilhar algum material agiam prioritariamente de forma agressiva, exigindo o mesmo e o tirando do colega, sem nenhum limite de espera. Palavras, como por exemplo, ”por favor," ou "obrigado" não faziam parte do repertório vivencial do grupo. As estagiárias tiveram que intervir e estabelecer como uma das regras ser proibido machucar o colega de propósito.

Diante desta dificuldade pontual de interação o tema "Convivência" foi selecionado como eixo norteador das atividades vindouras e nos guiou para os próximos encontros. Pouco a pouco, à medida que o grupo foi acontecendo, cada criança revelou sua forma de agir com o mundo e aprendeu paulatinamente a conviver com as formas das demais, bem como com o grupo.

Já no quinto encontro o grupo já demonstrava um movimento diferenciado. Era possível perceber uma sutil mudança, pela forma como gradativamente foram aceitando, com entusiasmo, cada proposta oferecida pelas estagiárias. Mudanças significativas já ocorriam, como por exemplo, ao entraram na sala cumprimentavam a todos, conversavam entre si sem chegarem a se agredir.

Foram realizadas duas atividades nesse encontro, a primeira foi um relaxamento, onde foi solicitado que cada criança deitasse em seu colchonete, da forma mais confortável possível, e fechasse os olhos. Em seguida foi lançada uma música e as estagiárias guiaram a imaginação das crianças para um passeio na praia, solicitando que escolhesse uma pessoa para acompanhá-la. No final dessa viagem deveria trazer de volta algo especial que encontrou no caminho.

Três crianças queriam pegar dois colchonetes, mas foram impedidas pelas demais, que disseram que não poderiam, afinal não tinham colchonetes sobrando. Duas se recusaram a devolver o colchonete e houve uma breve luta de colchonetes, mas ficou claro que nenhuma das crianças tinha como objetivo ferir o outro. Outra criança que não participava deste embate chamou as estagiárias e quando as mesmas pediram que as crianças parassem e guardassem os colchonetes o pedido foi acatado. Assim sendo, a terceira criança com o colchonete extra o devolveu, mas passou a correr pela sala e se recusou a participar da atividade, mesmo com as estagiárias e os colegas expressando o desejo de sua participação. Ela se recusou e saiu da sala.

No final dessa primeira atividade, as estagiárias solicitaram que cada um contasse com quem fizera a viagem e o que trouxera consigo. As crianças viajaram com um amigo ou membro da família e trouxeram consigo novos amigos ou um brinquedo que gostavam. Apenas uma das crianças foi sozinha e foi a que encontrou mais amigos em sua imaginação.

Na segunda atividade, os colchonetes foram alinhados, um ao lado do outro e uma bexiga foi entregue para cada participante. As estagiárias pediram para que todos enchessem, sem estourar, e ajudaram a amarrar as bexigas. Em seguida, perguntaram o que poderiam fazer com as bexigas. Diante das sugestões, na primeira parte da brincadeira, todos deveriam correr até os colchonetes e tentar estourar a bexiga o mais rápido possível, com o corpo. Já na segunda parte, eles deveriam formar duplas e estourar a bexiga entre seus corpos. Para o encerramento, por iniciativa das próprias crianças, recolherem os restos das bexigas que estavam no chão e jogaram no lixo. Sendo assim, foi entregue uma bexiga vazia para cada participante e esclarecido que havia hora e lugar para brincar. Ou seja, a bexiga que estavam ganhando não deveria ser estourada no Centro ou em qualquer lugar que pudesse atrapalhar outra pessoa. Posteriormente as estagiárias foram informadas que não houve nenhum incidente envolvendo as bexigas.

No último encontro foi possível encontrarmos outro grupo, muito diferente daquele que se apresentou no início do nosso processo. Crianças que agora podiam potencializar sua criatividade, respeitando sua condição, mesmo com ajustes situacionais diante das mudanças em sua rotina, ampliando sua possibilidade de ser e estar no “aqui-e-agora”.

A atividade inicialmente planejada foi um desenho, mas as crianças, após debater entre si, decidiram que preferiam uma brincadeira diferente e pediram que fosse alterada. As estagiárias concordaram e disseram para escolhem a brincadeira. O grupo novamente debateu e decidiu pela brincadeira “Cabra-cega”.

No encerramento, as estagiárias perguntaram ao grupo o que havia aprendido ao longo dos encontros e as respostas foram similares. As crianças disseram que haviam aprendido a respeitar mais o colega e a brincarem juntos como um grupo.

As mudanças de comportamentos puderam ser observadas a partir do nono encontro. Um dos pontos revelados foi à aproximação ocorrida entre eles, “puderam ser mais amigos e se aproximar mesmo sendo de salas diferentes dentro da instituição”, frase essa proferida no último encontro. Observamos que o grupo pode construir um espaço de convivência no qual passou a ter sentido e importância à experiência de cada um.

Dessa forma, as atividades desenvolvidas possibilitaram por meio da relação estabelecida entre o grupo e as estagiárias, e com a utilização de técnicas específicas e adaptadas à necessidade do mesmo, a promoção da inserção de todos numa rede de troca, onde a figura do psicólogo pôde ser também incluída e os significados das experiências puderam ser compartilhados. Ao propiciar o suporte para que as crianças pudessem se conhecer e pensar acerca de suas possibilidades através das brincadeiras as atividades cumpriram a função de devolver ao indivíduo o caráter de poder conviver em grupo.

Na entrevista devolutiva, realizada com a coordenadora, a evolução do grupo foi compartilhada, assim como as atividades desenvolvidas durante os encontros e o objetivo do trabalho. Em seguida, foi sugerido, além da manutenção do trabalho desenvolvido, que tanto os educadores, como os pais sejam futuramente beneficiados com a realização de atividades que contemplassem um espaço de escuta e acolhimento vivencial.


4. DISCUSSÃO

A formação deste grupo se deu a partir da escolha realizada pela instituição, em função da queixa inicial que era a dificuldade para a convivência. A partir desta queixa e por meio da observação participativa, realizada nos dois primeiros encontros, estabelecemos um projeto de intervenção terapêutica que se deu pela identificação dos focos conflitivos vivenciais observados no próprio grupo.

A intervenção infantil demandou técnicas e atividades lúdicas que tinham sempre uma finalidade, porém não estávamos fechadas para um resultado esperado, isto implica dizer que os recursos teciam um objetivo experiencial, tais como favorecer o relacionamento entre os integrantes do grupo, avaliar habilidades perceptivas, cognitivas, emocionais, sociais, dentre outros. Não deveriam visar a uma determinada mudança, seja qualquer que fosse. Estávamos abertas para possibilitar um momento de troca e de reconhecimento da existência de cada integrante do grupo, respeitando, mesmo com todas as adversidades iniciais a idiossincrasia de cada participante.

No grupo, inicialmente estabelecemos limites e ajustamos algumas regras de boa convivência para que pudéssemos realizar o trabalho terapêutico com a aplicação de técnicas, tendo o brincar como uma expressão dos pensamentos e fantasias. No início, diante da dinâmica observada, houve a necessidade da criação de regras pontuais, tais como a não agressão a um colega e da apresentação de uma estimativa de como seria o cronograma das atividades, para diminuir a ansiedade entre as crianças e consequentemente os conflitos.

Para Figueiredo (2004), é por meio das atividades que as crianças aprendem regras, limites e obtêm objetivos claros, de forma voluntária e poderosa. O autor ainda ressalta que elas são motivadas por meio de processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades e não apenas para “passar o tempo”. Após reconhecerem a rotina estabelecida, as crianças passaram a ansiar pelo o que seria realizado e posteriormente a cobrar de nós, estagiárias, o cumprimento dessa rotina, como e também passaram a opinar sobre as futuras atividades.

Nesse trabalho, a conscientização e a percepção do outro foram constantemente trabalhadas. Algumas crianças sentiram dificuldade em perceber o espaço coletivo e apresentaram um padrão de comportamento adquirido que acabou destacando-se na vivência em grupo. Em alguns encontros as crianças com tais dificuldades retiravam-se da sala para ir tomar água ou ir ao banheiro e não retornavam mais ou ainda negavam-se a participar da brincadeira permanecendo isoladas em um canto da sala até o término das atividades.

Podemos citar como exemplo a situação de uma criança, que no início dos encontros, permanecia do começo ao fim embaixo de uma mesa, em um dos cantos da sala e quando chamávamos para brincar dizia: “Eu não quero!", mas quando percebia que a atividade era animada demonstrava arrependimento e solicitava às estagiárias que pudesse participar das brincadeiras no próximo encontro.

Nos dias de hoje as crianças são muito exigidas em função do mundo em que vivemos. Devem sempre ser boazinhas, falar outras línguas, praticar esportes, tirar boas notas, ser obedientes e eficientes naquilo que fazem. Sempre ocupadas com as atividades que precisam cumprir, acabam tendo pouco tempo para brincar, jogar, chorar, brigar. Elas não conseguem ser o que são, isto é, crianças, e sobrecarregam-se, muitas vezes, para serem aceitas pelo outro.

Observamos que ao entrarem no espaço terapêutico, e perceberem que poderiam agir de uma forma diferente ao aprendido no dia-a-dia na instituição, ou seja, sem criticas, as crianças começaram a agir com mais naturalidade, algumas começavam a correr, outras a falar alto e algumas sentavam ou deitavam e relaxavam o corpo.

O excesso de responsabilidade nessa fase do desenvolvimento humano pode ser colocado como obstáculos, pois nem sempre o individuo consegue se adaptar a ele. A criança pode se perder em meio a tantas informações e requisições, utilizando-se de alguns comportamentos como agressividade, medos, enurese, angústia, dificuldade escolar, falta de limites, entre outros. Entre as crianças do grupo observamos a agressividade em relação ao colega, medo de dizer o que pensava ou agir como desejava, dificuldade em agir conforme os limites estabelecidos pelas atividades e angústia quando solicitados a darem opiniões.

Na atividade de desenhos, com tema "algo que gostassem", em um determinado encontro, quando as estagiárias sugeriram que cada um falasse sobre o seu próprio desenho, observou-se que uma criança ao ser interrogada ficou muito envergonhada, respondendo: “Eu não quero falar, eu não sei explicar sobre o meu desenho”. Mas após o incentivo dos colegas e das estagiárias, o mesmo conseguiu explicar, com poucas palavras, do que se tratava seu desenho e disse: “É o BEN 10, e eu pintei de verde porque essa é a cor dele no desenho e minha cor preferida”. Nesse momento observamos que o incentivo e a aproximação do grupo favoreceu a criança que no início dos encontros sentia dificuldades para se expressar.

Algumas crianças que agem de forma agressiva podem ser rotuladas de rebeldes, desobedientes, rudes, entre outros nomes, mas sabemos que às vezes a criança é vista como agressiva quando está simplesmente manifestando raiva. Para Oaklander (1980), os atos agressivos não são sempre atos verdadeiros de expressão da raiva, mas “desvios dos sentimentos reais” (p.233).

Nesta mesma atividade que envolvia "algo que gostassem", alguns colegas riram do amigo que desenhou figuras desconhecidas, Eles diziam rindo: “Seu desenho é estranho, você usou caneta azul e não desenhou nada com nada”. Neste momento, as estagiárias sugeriram que todos os colegas primeiramente escutassem a explicação do amigo e assim poderiam compreender melhor o que ele havia desenhado. Então ele, muito animado levantou-se e começou a contar sua história imaginária que envolvia heróis e vilões com finais felizes de vitória aonde a batalha era preenchida com personagens que ele mesmo havia criado. E ainda disse: “Eu criei tudo e por isso os personagens são meus”. Observamos que nesse momento o grupo se fortaleceu. Poderiam continuar a repetir o comportamento aprendido na convivência diária, ou seja, criticar e ridicularizar a produção do colega. Ou experimentar outra forma de relação. E foi o que ocorreu. Os canais perceptivos foram abertos e o que antes era algo incompreendido pelo grupo passou a fazer sentido para todos. O grupo pode se comunicar se aprender com o colega.

Oaklander (1980) cita também em sua obra, que crianças com características agressivas sentem necessidade de fazer o que fazem como um método de sobrevivência. A autora vai além e arrisca afirmar que pais e professores partem do pressuposto que um distúrbio na criança provém de uma fonte especifica – “que algo definido dentro dela faz com que aja desta forma” (p.234). No grupo, as crianças que inicialmente agiam de forma agressiva, lentamente passaram a alterar suas formas de agir, de modo que pudessem interagir adequadamente com os colegas. Essa mudança ocorreu após o entendimento e aceitação do que seria realizado, dos limites propostos e aceitos pelo grupo e essencialmente pelo vínculo estabelecido conosco.

Mesmo que a atividade em grupo com criança seja estruturada, ou seja, com um planejamento prévio do que será realizado nas sessões, contemplando as etapas de começo, meio e fim, é importante que o terapeuta esteja aberto, flexível, e potencialize sua capacidade criativa.

Os acontecimentos no grupo não necessitam ser idealizados por quem o conduz, conforme Oaklander (1980), o que importa é o que acontece, a cooperação grupal (ou a falta de cooperação), a paciência ou a impaciência de uma criança e assim por diante. Não devemos priorizar o que as crianças mostram por meio apenas das palavras, das brincadeiras ou dos conflitos trazidos, pois o que interessa é a forma como elas atuam a cada atividade proposta, em cada encontro, e a forma como elas se relacionam entre si, como conseguem lidar com as situações novas, como usam seus corpos no espaço, como usam suas vozes, como se movimentam e se expressam ou mesmo se interrompem através das atividades.

Durante as atividades, as estagiárias tiveram a ideia de compartilhar, no final de cada encontro, tudo o que haviam aprendido de bom e de não tão bom, o que poderia ser repetido e qual a sugestão de brincadeira eles poderiam oferecer. Este momento foi muito construtivo, pois o grupo pode participar e cada integrante citava suas próprias ideias de brincadeiras, demonstrando muita alegria e animação, sendo até difícil para as estagiárias acompanhar a fala e a ordem de cada um na hora de opinar. Todos queriam falar ao mesmo tempo dizendo: “A gente pode brincar de pega-pega na semana que vem?”, "Não, eu quero brincar de esconde-esconde, mãe da rua, pode ser queimada?”. As estagiárias tentaram atender aos pedidos de cada um dos integrantes como forma de melhorar a interação, participação e aumentar o interesse e autoestima das crianças.

Em relação às atividades que podem ser realizadas, as técnicas de trabalho em grupo permitem que as crianças possam se experimentar sendo elas mesmas e, no relacionamento com os outros, possam "organizar" seus conflitos vivenciados internamente, aproveitando a fase de desenvolvimento com mais tranquilidade.

Pelo vínculo de confiança que se estabeleceu entre o grupo e as estagiárias, as crianças puderam participar das atividades com expectativas agradáveis. Elas podiam entrar sabendo quais expressões poderiam usar, com o que poderiam brincar, outras vezes chegaram com algo que desejassem contar sobre alguma situação que lhes tinham acontecido desde o último encontro. Cabe ao psicoterapeuta planejar as atividades, contribuindo para que os encontros sejam realizados, mas é necessário que esteja aberto e flexível à necessidade do grupo. Nesse sentido, o vínculo acaba sendo construídos no próprio encontro.

Foi possível notar ao longo dos encontros, que muitas vezes as crianças chegavam mais à vontade para a atividade, pois compartilhavam com as estagiárias o que haviam feito no final de semana com seus familiares, quais desenhos tinham assistido ou lugares que haviam passeado. Em uma das atividades, por exemplo, uma criança disse às estagiárias: "Esse final de semana eu joguei muito vídeo game com meu pai, porque ele estava de folga do trabalho. Será que não podíamos ter vídeo game aqui também nos nossos encontros?". Então a estagiária explicou que embora o vídeo game fosse muito divertido, não era possível ter um na instituição, mas eles poderiam criar alguma brincadeira que fosse parecida com as de um jogo de vídeo game.

Por meio do lúdico, do brincar, a criança consegue explorar seu mundo, compreender e assimilar as regras, absorvendo esse mundo de maneira gradativa e tolerável. Ademais o brincar é proveitoso para a criança para vários propósitos, pois além de ser divertido e ajudar a promover a afinidade necessária entre o grupo, permite que os medos e as resistências iniciais sejam gradativamente reduzidas.

Ao observar o processo das brincadeiras, foi possível identificar sua forma particular de se expressar, o que escolhe o que aceita o que evita, e seus estilos particulares. O modo de brincar conta sobre sua forma de ser na vida. Até mesmo as agressões, os conflitos que ocorrem, assim como as habilidades do grupo e de cada criança revelam um pouco mais sobre cada um e como foram na coletivamente. Nas atividades lúdicas, as crianças naturalmente acabam se ajustando de acordo com a percepção de si e do outro, descobriram igualmente a força física que poderiam usar para não ferir o colega menor, o que não dizer para desaminar o colega e prejudicar a diversão, entre outros aspectos da relação grupal para tudo ocorresse bem.

Uma atmosfera segura e de aceitação na experiência lúdica pode ser alcançada por meio do estabelecimento e aceitação das regras e, ainda, pelo respeito conquistado com aqueles que não queriam se manifestar em algum momento das atividades. O estabelecimento de limites, mesmo na atmosfera de aceitação, foi necessário, pois envolveu alguns aspectos importantes no tocante ao contexto concreto das sessões, como o tempo de duração, regras para não danificar equipamentos utilizados, não cometer excessos em relação ao colega, entre outros.

O desenho foi uma técnica que contribui muito para esse processo. Por meio dos desenhos a criança conseguiu expressar o que pensava e sentia, trouxe à tona as emoções por intermédio do mesmo e da fantasia envolvida em sua elaboração. Sendo assim, os desenhos tiveram como objetivo levar a criança a expressar o seu sentimento, desenhando, por exemplo, sobre o seu cotidiano, o que costumavam assistir na televisão, ou ainda o que costumavam fazer com seus pais, como brincar de bola no quintal, jogar vídeo game, e assistir desenhos animados, expressados através dos desenhos.

Antony (2012) ressalta que o uso terapêutico das técnicas expressivas por meio do desenho permite à pessoa dar forma (traduzir) e vislumbrar imagens que cria, que refletem seu interior, sendo assim símbolos de seus sentimentos, percepções e imagens internas, muitas vezes indizíveis. Oaklander (1980) complementa que essas técnicas, aliadas a boa vontade do terapeuta, evitando interpretações e julgamentos, podem possibilitar o estabelecimento de contato com qualquer criança, e ajudá-la efetivamente. Em nosso processo os desenhos foram variados, desde "bonecos palitos", até elaborações complexas representando outro mundo com diversos personagens.

Outras técnicas como atividades envolvendo máscara, fantoches ou outros materiais que permitam que a crianças se coloque no lugar de outra pessoa, são destinadas a permitirem que a mesma aprenda a criar soluções para problemas, pois através da escolha do personagem, a criança o incorpora e vai enfrentando desafios de acordo com a história criada. No grupo pode-se também observar uma criança que, inicialmente, não apresentava um repertório de conversa e interação e, durante a atividade envolvendo máscara, pode se expressar com mais liberdade e interagir melhor com o grupo de forma espontânea.

É possível perceber diversas características nas histórias criadas pelas crianças, algumas puderam interagir sozinhas, outras conseguiram desenvolver uma estória com um objetivo em comum. Suas habilidades ficavam expostas durante a atividade de forma mais livre sem a responsabilidade de serem elas mesmas. Elas expuseram sobre si mesmas, sobre o mundo e como conseguiriam enfrentar seus possíveis problemas. Suas habilidades e dificuldades também puderam ficar evidentes.

Em um dos encontros, cada criança montou uma máscara do personagem que quisesse e pedimos que criassem uma história e a encenassem. Uma das crianças rasgou sua máscara, no início da atividade, dizendo que não gostou do que desenhou, mas os colegas se uniram para convencê-lo de que seria divertido e desejavam sua participação. Todos os personagens desenhados nas máscaras eram heróis em suas histórias de origem, mas as crianças se uniram e se dividiram em vilões, heróis e princesa para montarem a história que desejavam.

As técnicas de relaxamento facilitam o entrar em contato do indivíduo consigo mesmo, facilitando perceber-se, compreender seus sentimentos, visualizar imagens e outros conteúdos inacessíveis à consciência, além do próprio relaxamento. Em nosso processo, foi solicitado à criança que se deitasse confortavelmente e mantivesse os olhos fechados. A estagiária guiando a atividade falava de forma pausada e suave, dirigiu o participante até o seu espaço próprio, e pediu para que todos respirassem e expirassem utilizando a imaginação. Esta técnica pode ser utilizada para conhecer o mundo da criança, explorando suas motivações e significados. No grupo, a maioria das crianças conseguiu expressar o que sentiram e perceberam durante o processo, seja seguindo as orientações das estagiárias, como também relatando o imaginou no final da mesma.

A Gestalt-terapia é uma corrente psicológica que sustenta que o organismo vive em função da manutenção do diferente, sendo pela assimilação desse diferente que o organismo cresce e se desenvolve. O contato é feito pela troca com o meio, permitindo assim a mudança. O diferente não é introjetado de forma passiva pelo organismo, mas é assimilado, respeitando as características em um processo de ajustamento criativo. O terapeuta deve experenciar e compreender a forma do “estar-no-mundo” da criança, seu papel acaba sendo o de um facilitador, aliado aos demais profissionais, com o objetivo de restaurar a capacidade plena de auto regulação da criança, incentivando seu poder criativo e recuperando seu desenvolvimento saudável no contexto do qual ele faz parte.

Em nosso papel como psicoterapeutas estagiárias pudemos observar algumas temáticas conflitivas experenciadas e observadas como reflexo das relações parentais, sociais de convivência o que para Gestalt-terapia refere-se ao contato da união/separação e da dependência/independência dessas crianças. Pudemos concluir também que o espaço de expressão e reflexão de sentimentos proporcionados por essa experiência foi satisfatório e pôde causar impacto na vida dos integrantes do grupo, causando-lhes mudanças positivas, pois aprenderam a reagir de diferentes formas frente a mesma situação, sendo que antes sempre reagiam com agressividade, como também começaram a reconhecer o outro e buscar formas de se aproximarem e evitarem conflitos. Cabe ressaltar que duas crianças demonstraram maior dificuldade para interagir em grupo e foram encaminhas para psicoterapia individual.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando a prática vivenciada nos atendimentos com o grupo de crianças em um centro educacional, foi possível observar a aproximação entre a clínica gestáltica e o modelo de Clínica Ampliada, visto que ambos preconizam o indivíduo em sua unicidade, constituído por dimensões objetivas, do contexto histórico-cultural, e as subjetivas, tais como as experiências vividas, os desejos e as expectativas de futuro. Esta constituição de indivíduo, denominada subjetividade, faz-se na ação sempre no “aqui-e-agora”, nas relações familiares, escolares, amizades, afetos, sonhos, fantasias, dentre tantas outras ações que geram novas experiências que virão a constituir subjetividade, num constante “vir-a-ser”.

Especificamente com o grupo trabalhado observamos que as atividades possibilitaram o rompimento com estados de isolamento, ativaram laços sociais e de comunicação, contribuindo para desencadear sentimentos de enraizamento e de melhor convivência em grupo.

As crianças atendidas tinham em comum a convivência em um mundo árido, com pouca troca e reconhecimento afetivo. Foi possível observar, nos encontros, um distanciamento nas relações com seus pais. Ressalta-se a importância da participação dos responsáveis pelas crianças, no decorrer do trabalho, para que as intervenções possam ser mais satisfatórias no desenvolvimento de autoconhecimento e das relações dialógicas, tendo em vista que a família é um dos elementos de grande influência no campo holístico da criança, considerando-se as dimensões do contexto histórico-cultural na constituição da subjetividade.

Acredita-se que para o bom desenvolvimento da clínica infantil, o setting terapêutico deve estabelecer um ambiente de respeito mútuo, segurança e confiança entre as crianças e o terapeuta, favorecendo, assim, a valorização de suas potencialidades e, ao mesmo tempo, o estabelecimento de regras e limites que estão presentes na convivência social.

 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTONY. S. M. R. Gestalt-terapia: cuidando de criança,teoria e arte. Curitiba: Juruá, 2012.

CARDOSO, C. L. Um estudo fenomenológico sobre a vivência de família: com a palavra, a comunidade. Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutoramento em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

FERNANDES, M. B. Gestalt e crianças: crescimento. Revista de Gestalt. São Paulo, v. 4, p. 63-74, jan. 1995.

FIGUEIREDO, M. M. A. Brincadeira é coisa séria. Revista Online Unileste, (Jan./Jun.). Disponível em: <http://www.unilestemg.br/revistaonline/volumes/01/sumario>. Acesso em: 25 ago. 2004.

FRAZÃO, L. Pensamento diagnóstico processual: uma visão gestáltica de diagnóstico. Revista do II Encontro Goiano de Gestalt-Terapia, São Paulo, v. 2, p. 27-31, 1996.

GUARIDO, E. L.; CAMPOS, F. C. B. Clínica Ampliada é prática do psicólogo na saúde pública. São Paulo: Múltipla, 2001.

GINGER, S., GINGER, A. Gestalt: uma terapia do contato. 2. ed. São Paulo: Summus, 1995.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Acolhimento nas Práticas de Produção da Saúde. 2 ed. Brasília: DF, 2006.

NUNES, A.; PEDROSO, S. A busca da criança em Gestalt-Terapia. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Psicologia) – Associação Catarinense de Ensino. Joinville, Santa Catarina, 2012.

OAKLANDER, V. Descobrindo crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. 8 ed. São Paulo: Summus, 1980.

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. São Paulo: McGraw-Hill, 2009.

PERLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

RIBEIRO, J. P. Gestalt terapia: O processo grupal – Uma abordagem Fenomenológica da Teoria de Campo e Holística. São Paulo: Summus, 1994.

SPINK, M. J. P. A psicologia em diálogo com o SUS – prática profissional e produção acadêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.

______. Psicologia da saúde: a estruturação de um novo campo do saber. In: CAMPOS, F. C. B. (org). Psicologia da Saúde: repensando práticas. São Paulo: Hucitec, 1992.

TELLEGEN, T. A. Gestalt e Grupos: uma perspectiva Sistêmica.> São Paulo: Summus, 1984.

 

 

Endereço para correspondência
Renata Nunes Pedras
Endereço eletrônico:renatanunespedras@gmail.com
Sandra Melo de Andrade Fontoura Lúcio da Silva
Endereço eletrônico:msilva.sandra@gmail.com
Regina Celia do Prado Fiedler
Endereço eletrônico:reginafiedler@uol.com.br
Simone Ferreira da Silva Domingues
Endereço eletrônico:simone.domingues@cruzeirodosul.edu.br
Maria Aparecida Conti
Endereço eletrônico:maconti@usp.br

Recebido em: 02/02/2014
Aprovado em: 30/06/2014

Notas

* Psicóloga formada na Universidade Cruzeiro do Sul, atua como Psicóloga Clínico em clínica particular.
** Psicóloga formada na Universidade Cruzeiro do Sul, atua como Psicóloga Clínico em clínica particular.
*** Doutora em Psicologia Social PUCSP, atua como professora na Universidade Cruzeiro do Sul.
**** Doutora em Psicologia da Educação - PUC-SP. coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul.
***** Doutora em Saúde Pública - FSP-USP atua com Psicóloga Clínica e Pesquisadora Ambulim-IPq-HC-FMUSP.