ARTIGO

Resenha sobre o livro: Gestalt-terapia integrada.

Roberta Ferreira Domingues


Gestalt-terapia Integrada é um trabalho realizado a quatro mãos pelo celebre casal de gestalt-terapeutas Miriam e Erving Polster, pertencentes à primeira geração norte-americana. Apesar de ser composto dessa maneira bastante particular, este primeiro livro escrito pelo casal, apresenta uma harmonia rara a trabalhos neste molde.

Composto a partir de palestras de Erving Polster e de discussões deste com Mirian Polster, o livro busca, como já sugere o título, criar uma integração maior entre os conceitos da abordagem gestáltica, o que se constituiu numa tarefa extremamente necessária na ocasião e que foi alcançada com bastante êxito pelos autores. A Gestalt-terapia, por ter se apropriado do conhecimento de diversas teorias e abordagens anteriores a ela, toma um aspecto pouco teórico, faltando assim, alinhavar todo esse conhecimento de maneira a compor uma estrutura com um delineamento mais preciso. É justamente a isso que vem o Gestalt-terapia Integrada, não só enumerando os principais conceitos da Gestalt-terapia (resistência, fronteiras, awareness e experimento, entre outros), como elucidando-os e também criando novos conceitos. Tudo isso, numa linguagem simples sem, no entanto, perder o objetivo teórico.

Seguindo este caminho e, ao mesmo tempo, mantendo sempre a diversidade do trabalho, o livro acaba por oferecer um amplo desenvolvimento sobre o que é a Gestalt-terapia, lançando mão inclusive de inúmeros exemplos clínicos.

Após uma breve introdução, se divide então em dez capítulos sendo, cada um, referente a um conceito específico. Não pretendo aqui, me estender na explanação do conteúdo de cada um destes capítulos, tarefa esta que cabe apropriadamente ao livro em si, mas chamo atenção para aqueles que me parecem mais importantes para o entendimento da Gestalt-terapia.

Logo no segundo capítulo os autores expõem um tema essencialmente desenvolvido pela Gestalt que é o tema da figura-fundo. Intitulado “A figura viva”, o capítulo explica a influência da motivação na percepção do ser humano, explicando assim o funcionamento da figura-fundo e ainda outra característica importante da percepção que é o fechamento, ou a tendência do indivíduo de perceber as figuras completas mesmo que o estímulo seja algo que contenha vazios.
Em seguida, temos dois capítulos que vão falar sobre o conceito de resistência, o primeiro, numa tentativa de explicar o que é a resistência e o seguinte, explicando separadamente quais seriam os principais canais de interação resistente. Destaco aqui, que estes canais são classificados pelos diversos autores da Gestalt-terapia de formas distintas, os Polster especificamente, classificaram-nos como introjeção, projeção, retroflexão, deflexão e confluência.

O outro conceito que surge é o de contato. Desenvolvido em três capítulos, tal conceito traz consigo a idéia de fronteira, a qual também é muito importante para que entendamos a Gestalt-terapia. Assim, o contato diz respeito à função que sintetiza a necessidade de união e de separação inerente ao indivíduo e a fronteira é justamente o que delimita este contato. Logicamente, ela pode ter várias formas, de acordo com a situação em que se aplica, podendo ser uma fronteira do eu, do corpo, uma fronteira de valor ou de familiaridade.

Mais adiante e também muito importante, está a exposição do conceito de awareness. O casal esclarece a importância de se estar aware para que a terapia seja desenvolvida com sucesso. No entanto, explicar o que significa awareness não se constitui numa tarefa fácil nem mesmo para o gestalt-terapeuta e neste caso, pode-se perceber que o esforço dos autores em realizar esta tarefa foi mais uma vez bem sucedido, tendo como resultado um capítulo de ótima qualidade sobre o tema.

Por último, expõe-se o conceito de experimento. Percebe-se também que, inicialmente, o livro vem estruturando a Gestalt-terapia e, à medida que essa estrutura vai sendo formada, vamos nos aproximando da experiência clínica em si. Portanto, este nono capítulo que abre a questão do experimento já se apresenta claramente perpassado pela clínica. O experimento é a tentativa de conexão entre o falar sobre e a ação, realizado no momento mesmo da terapia, em busca de uma integração entre aquilo que o individuo fala e o que ele realmente é enquanto age no mundo. O décimo capítulo encerra a obra com exemplos de experimentos diversos que são utilizados na Gestalt-terapia.

Após essa descrição, o leitor pode por si, avaliar o grande valor do trabalho aqui resenhado, não só para a sociedade gestáltica mas também, para aqueles psicólogos e estudantes que queiram se introduzir na Gestalt-terapia. Além disso, para aqueles que já desenvolvem a Gestalt-terapia, o Gestalt-terapia Integrada é um livro para acompanhar-lo em toda sua trajetória, seja transmitindo-o aos novos gestalt-terapeutas ou relembrando aquilo que ele propôs de melhor, uma integração dos conceitos da abordagem gestáltica.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

POLSTER, Erving & POLSTER, Miriam – Gestalt-terapia Integrada. São Paulo: Summus, 2001.