Um breve histórico da Terapia Familiar Sistêmica
A Brief History of Family Therapy
Andrea Vogel
Resumo
Esse artigo pretende fazer um breve histórico da terapia familiar sistêmica. Inicio com uma contextualização do momento histórico em que surge e de suas principais bases teóricas. Em seguida descrevo seus principais momentos, a cibernética de primeira e segunda ordem, com suas características. Por último, retomo as primeiras pesquisas que deram inicio a terapia de família e como estas se desdobraram nas diversas correntes sistêmicas existentes atualmente.
Palavras-chaves: terapia de família; sistêmica; cibernética; teoria geral dos sistemas.
Abstract
This article intends to make a brief history of family therapy. I begin with a contextualization of the historical moment in wich it appears and it main theoretical basis. Then describe their key moments, the cybernetics oh the first and second order, with their characteristics. Finally, I return to the first research that gave early family therapy and how they unfolded in the various streams systemic currently exist.
Keywords: family therapy; systemic; cybernetics; general systems theory.
A idéia
de escrever esse trabalho surge de algo que vivi durante o meu curso de especialização
no IGT. Comecei o curso já com uma formação em Terapia
Familiar Sistêmica e com o contato com a Gestalt-terapia de família
me chamou muito a atenção o fato de a teoria sistêmica se
fazer tão presente no trabalho de gestalt terapeutas com famílias.
Percebi que essa pode ser considerada uma característica geral e não
somente desse instituto, como também ressalta Silveira (2005) e isso
me deixou muito curiosa e, ao mesmo tempo, confortável por já
ter algum conhecimento dessa teoria. Porém, pude perceber que o mesmo
conforto não era vivido pelas pessoas que estavam tendo um primeiro contato
com a teoria sistêmica, a qual parecia algo complexo e confuso, principalmente
pela sua multiplicidade de formas. Acredito que uma forma de se familiarizar
com essa multiplicidade é olhar para como foi se constituindo ao longo
do tempo e, por isso, faço esse breve histórico.
Direcionando-se
o foco para a Terapia de Família, é possível perceber quão
amplo e diversificado é esse território, desde, praticamente,
seu início. A Terapia de Família aparece em um contexto propício
para a busca de novas alternativas de compreensão e tratamento dos dilemas
humanos. Surge em um grupo constituído por profissionais de diversas
áreas, o que faz com que se inicie como uma polifonia, que se organiza
no sentido de explicar esses dilemas humanos dentro do contexto interacional
de relações.
Embora surjam
de bases comuns, a Teoria Geral dos Sistemas e a Cibernética, logo os
diferentes sistemas de crenças, envolvidos na elaboração
de teorias, resultaram em diferentes modelos de terapia familiar, caracterizados
por sistemas de inteligibilidade diversos. Com isso, surgiram as distintas escolas
de terapia familiar, com suas descrições, compreensões
e interpretações próprias, podendo divergir apesar de terem
os mesmos pontos de partida.
A Terapia de
Família surgiu nos Estados Unidos na década de 1950. Muitos fatores
contribuíram para o seu surgimento nesse país e nessa época,
dentre os quais podemos citar como sendo um dos mais relevantes o pós-guerra.
Os Estados Unidos viviam nesse momento a consolidação da expansão
que vinha ocorrendo desde durante a Segunda Guerra Mundial e transformações
que ocorriam em diversas áreas, como o aumento da industrialização,
a participação das mulheres no mercado de trabalho, novas tecnologias,
relações sociais modificadas, aumento do acesso à educação,
entre outras. Com todas essas transformações, o clima era de otimismo
e fé no futuro, o que favoreceu o aumento das famílias e a crença
de que a família era um lugar da felicidade (Ponciano, 1999).
Ao mesmo tempo,
a Segunda Guerra Mundial permitiu um ambiente intelectual diversificado com
a imigração da Europa para os Estados Unidos, de vários
profissionais de diversas áreas. Esses imigrantes levaram consigo suas
histórias e experiências vividas durante a guerra e esses acontecimentos
tiveram efeito importante sobre as disciplinas relacionadas com a saúde
mental. Isso porque, em situações de guerras a capacidade que
as pessoas costumam ter de possuir o controle sobre as próprias vidas
e destino parece ser posta à mercê de forças sobre as quais
elas não têm nenhum controle. Com isso, a consciência da
importância do contexto social sobre a vida dos indivíduos aumentou
rapidamente e adquiriu maior complexidade (Bloch e Rambo, 1998).
Paralelamente,
a união de psicanalistas judeu-europeus com psiquiatras militares norte-americanos
parcialmente treinados que retornavam aos Estados Unidos sem muita perspectiva
profissional, resultou no crescimento do movimento psicanalítico, o que
abriu as portas para terapias ativas que vieram suplantar a psiquiatria biológica
inicial. Em um curto período de tempo o movimento psicanalítico
dominou o cenário psiquiátrico norte-americano, ao mesmo tempo
em que começaram a surgir sinais de descontentamento com essa teoria.
Segundo Bloch
e Rambo (1998), o descontentamento com esse modelo teve origem em alguns pontos,
sendo os principais, o caráter limitado do modelo freudiano de desenvolvimento
psicológico feminino; as mudanças dos paradigmas nas ciências
sociais e naturais, o que inclui a física pós-einsteiniana, a
teoria da informação, a cibernética, a lingüística
e a teoria geral dos sistemas; a consciência dos limites das noções
de saúde mental e a tomada de consciência em relação
à importância do contexto, o que segundo os críticos estaria
em desacordo com a psicanálise, já que esta teria seu enfoque
voltado para a história passada, na experiência interna do individuo
expressa em seqüências intrapsíquicas.
Tentativas
de alargar as perspectivas do modelo psicanalítico, buscando construir
modelos que incluíssem as condições do ambiente como contexto,
surgiram dos próprios psicanalistas como Sullivan, Horney, Thompson e
Fromm-Reichman. Paralelo a essas tentativas havia grande insatisfação
com os tratamentos psicoterápicos com populações que vinham
sendo menos favorecidas com estes, como os pacientes esquizofrênicos e
delinqüentes. Todos esses fatores criaram condições favoráveis
para uma prática clínica sistemicamente orientada (Grandesso,
2000).
Assim, o trabalho
inicial centrado na família começou como pesquisa voltada, principalmente,
para famílias com pacientes esquizofrênicos e delinqüentes,
que não estavam se beneficiando dos tratamentos convencionais. As primeiras
e principais pesquisas direcionadas às famílias com pacientes
esquizofrênicos foram as realizadas por Gregory Bateson, Don Jackson,
Weakland, Haley, Bowen, Lidz, Whitaker, Malone, Scheffen e Birdwhistle, a maioria
descrita no livro organizado por Bateson et al. (1980) “Interación
familiar”. Já as pesquisas direcionadas às famílias
com delinqüentes tiveram seu marco inicial no projeto Wiltwick, realizado
por Minuchin, no início da década de 1960.
Segundo Grandesso
(2000), essas pesquisas representam o inicio de um novo campo que começava
a se desenvolver e que tinha como principal característica a mudança
de foco da prática terapêutica no indivíduo e processos
intrapsíquicos, para a família, com ênfase nas interações
entre seus membros. Diferente de outras correntes teóricas, como a psicanálise,
por exemplo, que tinha no seu início suas formulações centradas
em torno de um autor principal, esse novo campo começou a se desenvolver
com muitas influências, vindas de diversos campos e autores. As influências
mais marcantes na formação desse campo foram da Teoria Geral dos
Sistemas e da Cibernética.
A Teoria Geral
dos Sistemas foi desenvolvida por Ludwig Bertalanffy desde a década de
30, buscando desenvolver leis que explicassem o funcionamento de sistemas gerais,
independentes de sua natureza. Era também, uma tentativa de aplicar princípios
organizacionais a sistemas biológicos e sociais (Rapizo, 1996). Bertalanffy
se uniu a um biomatemático e um fisiologista e criaram o Centro de Estudos
Superiores das Ciências do Comportamento, que mais tarde se tornou a Sociedade
de Pesquisa Geral dos Sistemas, com o objetivo de desenvolver estudos sobre
sistemas teóricos que fossem aplicáveis a mais de uma das disciplinas
tradicionais da ciência.
Segundo essa
teoria, existem princípios e leis que se aplicam a sistemas em geral,
independente de seu tipo particular, da natureza de seus elementos e das relações
que atuam entre eles. A busca por princípios universais aplicáveis
aos sistemas em geral, obteve como resultado três propriedades que estariam
presentes em sistemas. Resumidamente,
a primeira delas é a totalidade, que se refere ao fato de todos os sistemas
serem compostos de elementos interdependentes e em interação;
a segunda é a relação, que diz respeito às estruturas
básicas dos elementos e ao modo como eles se relacionam; por último
a equifinalidade, que é a característica de o mesmo estado final
poder ser alcançado partindo de diferentes condições iniciais
e de diversas maneiras. Para definir essas propriedades, essa teoria operou
o deslocamento da ênfase no conteúdo para a estrutura (Ponciano,
1999).
A palavra cibernética
vem do grego kybernetes, que significa piloto, condutor. Tal palavra foi escolhida
pelos criadores da cibernética, Wiener, Rosenblueth e Bigelow, para nomear
o campo do conhecimento que se ocupa da teoria do controle e da comunicação
na máquina e no animal. Ao escolherem esse nome, gostariam que fosse
associado às máquinas que pilotam os navios, por estas serem as
primeiras e mais bem desenvolvidas formas de feedback, conceito central de sua
teoria. À medida que suas idéias foram apresentadas, outros cientistas
se interessaram e perceberam claramente a analogia entre o funcionamento do
sistema nervoso e o funcionamento das máquinas de computação.
Com o desenvolvimento de pesquisas e sua importância para a guerra, visto
que a construção de máquinas computadoras era essencial
naquele momento histórico, em 1946 aconteceu a primeira de uma série
de conferências dedicadas ao tema do feedback como promoção
da Fundação Josiah Macy, em Nova York (Vasconcelos, 2003).
A essa conferência
seguiram-se outras reuniões fechadas para não mais que 20 pesquisadores,
que permitia um rico intercâmbio entre eles. Assim o arcabouço
conceitual da cibernética foi construído nas “Conferências
Macy”, o que possibilitou que emergisse como ciência da inter e
da transdiciplinaridade, reunindo cientistas de diversas áreas e países,
como Wiener (matemático), Bateson (antropólogo), McCulloch (neurofisiólogo),
Von Foerster (físico), Rosenblueth (biólogo), Piaget (psicólogo,
epistemólogo), Lorenz (etólogo), M. Mead (antropóloga),
entre outros (Rapizo, 1996). Já na primeira dessas conferências,
Gregory Bateson e Margaret Mead, ambos antropólogos, os principais representantes
dos cientistas vindos das ciências humanas, apontaram, dentro de uma revisão
do arcabouço conceitual das ciências sociais, a necessidade de
os teóricos se inspirarem nas concepções da Cibernética.
Assim, um dos temas abordados nas conferências era o da comunicação
no sistema social, em cuja dinâmica os processo de feedback tem importante
papel (Vasconcelos, 2003).
O conceito
de feedback ou retroalimentação se refere a mecanismos e processos
pelos quais os sistemas funcionavam com o objetivo de manter sua organização.
Segundo a teoria cibernética, os sistemas operavam de acordo com um propósito
ou meta cujo alcance era garantido por mecanismos de controle e regulação,
que garantiam a veiculação da informação sobre quaisquer
desvios do padrão de funcionamento esperado para alcançar a meta.
Assim, havendo um desvio, mecanismos de mudanças corretivas desses desvios
eram desencadeados, permitindo a volta ao funcionamento habitual do sistema.
Dessa forma a retroalimentação negativa, ou feedback, forneceria
a informação do desvio, sempre que houvesse algum, permitindo
ao sistema neutralizá-lo para manter o seu propósito enquanto
organização homeostática. Essa regulação
do sistema visa manter a sua sobrevivência controlando os distúrbios
que o atingem, impedindo que ocorram mudanças além de um nível
limite, que possa modificar a sua organização (Grandesso, 2000).
A cibernética
evoluiu enquanto teoria e o momento descrito é conhecido como primeira
cibernética. A segunda cibernética surge com a introdução
do conceito de morfogênese, feita por Maruyama (1968). Segundo esse autor,
além da sobrevivência dos sistemas depender de sua capacidade de
manter o equilíbrio e organização apesar das modificações
do meio (morfoestase), um sistema vivo necessita, também, modificar sua
organização básica para se adaptar às situações
do meio. Dessa forma, o mecanismo chamado por ele de morfogênese, funcionava
com seqüências que amplificavam o desvio, fazendo com que o sistema
conseguisse sobreviver adaptando-se às condições externas.
Esses dois momentos, a primeira e segunda cibernéticas constituem a Cibernética
de Primeira Ordem, que evoluiu para o que conhecemos como Cibernética
de Segunda Ordem.
Segundo Rapizo
(1996), o interesse que a cibernética despertou em cientistas das áreas
humanas a levou a deslocar-se do estudo de máquinas artificiais para
o estudo de sistemas que não podem ser organizados de fora, os sistemas
auto-organizadores. Ao mudar o foco para esses sistemas, noções
como a de autonomia e auto-referência foram ressaltadas. Com isso, as
noções clássicas da Cibernética de Primeira Ordem,
como circularidade, informação, regulação, entre
outras, abriram espaço para outras, tais como a desordem, complexidade
e coerência, desenvolvidas por cientistas como Humberto Maturana, Heinz
Von Foerster e Ilya Prigogine. Essa nova conceituação teórica
foi denominada por Ilya Prigogine como Cibernética de Segunda Ordem.
Para Vasconcelos
(2003), essa passagem da Cibernética de Primeira para a de Segunda Ordem
representa uma mudança paradigmática nas ciências como um
todo, com o surgimento do que ela denomina cientista novo-paradigmático,
ressaltando a mudança que ocorre no cientista e não na ciência
como algo independente. Nesse novo paradigma alguns pressupostos básicos
da ciência tradicional são substituídos, a partir de problemas
que surgem no limite dessa ciência. Dessa forma, as dimensões da
simplicidade, da estabilidade e da objetividade, são substituídos
pela complexidade, instabilidade e intersubjetividade, ou objetividade entre
parênteses.
Essas teorias
influenciaram o campo da Terapia de Família no seu início e continuaram
a influenciar o seu desenvolvimento, havendo modificações que
ocorreram paralelamente em ambas. Em um primeiro momento o principal responsável
pela aproximação entre a Teoria Geral dos Sistemas e a Cibernética,
e a área “psi” é o antropólogo Gregory Bateson,
que veio a ser o grande mentor do que se tornou a Abordagem Sistêmica
na Terapia de Família.
De acordo com
Witteazaele e Garcia (1995), Bateson começou a se interessar pelo fenômeno
da comunicação no inicio da década de 30, quando constatou
através de observações dos Iatmul, na Nova-Guiné,
que a maneira como os indivíduos se comportam depende das reações
dos que os cercam. Para ele, a psicologia não deve ter como único
foco o funcionamento intrapsíquico, mas sim a rede relacional da pessoa.
Estando interessado no estudo da comunicação, Bateson participou
das “Conferências Macy”, quando entrou em contato com a Cibernética
e, conseqüentemente, com o conceito de feedback negativo que lhe serviu
como uma ferramenta explicativa apropriada para o estudo dos fenômenos
interacionais. A forma como as informações são decodificadas,
estruturadas e organizadas pelos indivíduos no contato com seu meio ambiente,
tornou-se o foco de suas pesquisas, assim como uma característica da
comunicação que pode engendrar uma situação paradoxal.
Assim, ele se propôs estudar quais os possíveis efeitos sobre o
comportamento dos indivíduos ao surgirem paradoxos no decorrer das trocas
de informações.
No final da
década de 40 Bateson chegou a São Francisco e em 1952 obteve financiamento
para uma pesquisa intitulada “O estudo do papel dos paradoxos da abstração
na comunicação”. Para realizar esse projeto reuniu uma equipe
de jovens pesquisadores formada pelo engenheiro químico John Weakland,
o estudante de comunicação Jay Haley e pelo psiquiatra William
Fry. A pesquisa se desenvolveu em um hospital para ex-combatentes (Veterans
Administration Hospital), próximo a Palo Alto, onde teve como objeto
de estudo o discurso aparentemente sem nexo dos esquizofrênicos. Donald
D. Jackson, psiquiatra, foi convidado por Bateson para fazer parte da pesquisa,
que aos poucos se transformou em um estudo sobre a esquizofrenia (Witteazaele
e Garcia, 1995).
Os membros
da equipe passaram a estudar como os pacientes e suas famílias se comunicavam
e essas observações juntamente com as reflexões teóricas
deram origem à teoria do “duplo vínculo”. Com essa
teoria, pela primeira vez foi proposta uma explicação da esquizofrenia
relacionada ao fenômeno interpessoal, como um problema de comunicação
surgido no interior do sistema familiar. Com essa visão sistêmica
da doença mental, definindo-a como um distúrbio da comunicação,
a perspectiva terapêutica sofre modificações fundamentais.
Dessa forma, a teoria do duplo vínculo é considerada um marco
importante do início da terapia de família, já que ao mudar
a explicação sobre a doença mental esses pesquisadores,
mesmo sem ter essa intenção no início de suas pesquisas,
começam a pensar formas de modificar a comunicação dessas
famílias, tornando-se, assim, terapeutas.
A publicação
dessa pesquisa foi um sucesso e foram apresentados orçamentos para a
continuidade de pesquisas sobre a esquizofrenia e em 1959, Jackson funda o Mental
Research Institute (MRI), em Palo Alto. Bateson, que nunca se interessou pela
psicoterapia ou pela própria esquizofrenia, não chega a participar
desse instituto, que tinha como foco principal de suas pesquisas, nesse momento,
o desenvolvimento de técnicas de mudanças. Jackson formou sua
própria equipe, trazendo o psiquiatra Jules Riskin a assistente social
Virginia Satir e concentrou seus estudos na aplicação das novas
idéias sobre a doença mental em técnicas que visavam diminuir
o sofrimento. Assim, “a história do MRI torna-se a história
da evolução de uma concepção da terapia sistêmica”
(Witteazaele e Garcia, 1995 p.185), na qual o objeto da terapia não é
mais o portador do sintoma, mas toda a sua família.
John Weakland
e Jay Haley se unem ao MRI com o final do projeto que desenvolviam com Bateson,
porém desde essa época já se interessavam muito pelo trabalho
que estava sendo desenvolvido pelo hipnoterapeuta Milton Erickson e se dedicavam
cada vez mais ao estudo das técnicas terapêuticas utilizadas por
ele. Essa influência diferenciou consideravelmente o seu trabalho do desenvolvido
em um primeiro momento da terapia sistêmica. Apesar de serem membros do
mesmo instituto, Jackson e Satir se mantiveram na linha da terapia de família
sistêmica, pelo menos até a influência de Erickson se fazer
presente o suficiente para motivar um projeto de pesquisa que levou à
criação do Centro de Terapia Breve (CTB) em 1967. O projeto se
propunha a responder a seguinte questão: como seria possível conceber
uma teoria da mudança no quadro de uma teoria explicativa interacional
do comportamento?
A equipe foi
formada por Watzlawick, Weakland, Jackson e contou com uma pequena participação
de Haley. Apesar do interesse de todos, o MRI estava passando por uma crise
importante havia um tempo e seus membros se mudaram para outros locais, ficando
a equipe resumida a Fisch, Weakland e Watzlawick para dar continuidade à
pesquisa. Jackson morreu em seguida, Satir se tornou diretora do Instituto de
Esalen e Haley se uniu a Minuchin, na Filadélfia (Witteazaele e Garcia,
1995). Dessa forma, o local que concentrava os principais estudos sobre o desenvolvimento
de uma terapia de família deixou de ser o único e alguns de seus
membros formaram outros centros, levando a bagagem teórica e prática
que haviam construído em conjunto. É dessa forma que surgem as
variações da terapia de família sistêmica, a partir
de uma base comum. Assim, a partir de uma fonte comum hoje podemos encontrar
uma grande variedade de teorias e práticas consideradas Terapias de Família
Sistêmicas, tais como a Terapia
Estratégica, a Estrutural, entre outras.
No Brasil,
mais especificamente, no Rio de janeiro segundo Ponciano (1999), a Terapia de
Família só surge nos anos 70, com 20 anos de atraso em relação
aos Estados Unidos. O seu início nos anos 70 se deve a alguns fatores
como, a insatisfação crescente com os tratamentos convencionais
em hospitais psiquiátricos, a expansão da psicanálise,
das teorias de grupo, os trabalhos feitos por assistentes sociais com as famílias
e a criação de centros de atendimentos que trabalham com crianças
e adolescentes valorizando a participação da família. Segundo
essa autora, os primeiros profissionais brasileiros que tiveram formação
em Terapia de Família fizeram seus cursos em outros países, principalmente
nos Estados Unidos, trazendo para o Brasil as novidades que encontraram.
No Rio de Janeiro
a Terapia de Família foi encontrando seu espaço aos poucos, começando
com grupos informais formados por terapeutas de família que haviam feito
sua formação fora do país e por outros profissionais interessados
no assunto, em duas universidades, a UFRJ e a PUC. É a partir desses
encontros que surgem os primeiros cursos de formação, um na própria
UFRJ e outro em uma instituição particular, o CEFAC. Ainda segundo
Ponciano (1999), é importante observar que os terapeutas de família
do Rio de Janeiro, de um modo geral, seguiram as transformações
ocorridas nas escolas terapêuticas fora do Brasil, principalmente nos
Estados Unidos e Itália. A necessidade do contato com ouros países
é ainda muito marcante, o que permite que os terapeutas cariocas acompanhem
as mudanças ocorridas fora, através de contato com esses profissionais
no exterior ou mesmo no Brasil.
Encontramos muito pouco material escrito sobre a história da Terapia de Família no Rio de Janeiro, porém sabemos que esse contato com o exterior e o acompanhamento das teorias existentes lá, é uma característica marcante desse campo nesta cidade e a mesma variedade de Terapias de Família existentes fora do Brasil, também pode ser encontrada aqui.
Referências
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VASCONCELLOS, M.J.E. Pensamento Sistêmico: O novo paradigma da ciência. Campinas, SP: Papirus. 2002.
WITTEAZAELE, J.J., GARCIA, T. A abordagem clínica de Palo Alto. In ELKAIN, M.. Panorama das Terapias Familiares. Vol.1. São Paulo: Summus. 1998
Endereço para correspondência
Andrea Vogel
E-mail: andreavogel@uol.com.br
Recebido em:13/12/2010
Aprovado em:02/06/2011