ARTIGO

Eu e você somos um: implicações do ciúme na sexualidade feminina e nas relações amorosas da atualidade sob o olhar da gestalt-terapia.

We are one: Implications of jealousy in female sexuality in today's romantic relationships with the perspective of gestalt therapy.

Bruna Cabral Vianna Pinto

 

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Resumo

O presente trabalho teve como objetivo a investigação do ciúme dentro dos relacionamentos amorosos e suas possíveis influências para a sexualidade feminina, tendo por base a flexibilidade vivida nas relações da atualidade. Como fundamentação teórica foram utilizados conceitos dentro de uma perspectiva gestáltica. A partir de uma revisão histórica de como o ciúme foi experimentado em outras épocas, foram abordados alguns aspectos presentes ao longo do tempo que nos possibilitaram focalizar a tensão entre individualidade e conjugalidade na vida do casal contemporâneo. As disfunções sexuais foram contextualizadas dentro do universo da sexualidade feminina, fazendo possíveis correlações com o ciúme experimentado nos relacionamentos. Para finalizar, o exame de dois casos clínicos mostrou a manifestação do ciúme na sexualidade das clientes e os possíveis significados que este assumiu.

Palavras-chave: Sexualidade; Ciúme; Perspectiva Gestáltica; Casal Contemporâneo; Disfunção sexual.


Abstract

The present work investigates jealousy in today's flexible romantic relationships and its influences to female sexuality. Concepts from the Gestalt approach were assumed as the theoretical foundation. An historical perspective for the jealousy experience highlighted issues which lead us to focus on the individuality-conjugality tension of the contemporary couple.
Sexual disfunctions are contextualized within the female sexuality universe and correlated to the jealousy experience in a relationship. Two clinical case studies are presented to illustrate jealousy occurrence in patient sexuality and the possible meanings it can assume.

Key-words: Sexuality; Jealousy; Gestalt Perspective; Contemporary Couple; Sexual Disfunction.


Introdução

“Os ciumentos sempre olham para tudo com óculos de aumento,os quais engrandecem as coisas pequenas, agigantam os anões e fazem com que as suspeitas pareçam verdades”. (Cervantes)

De acordo com o senso comum, não é raro que se pense em ciúme como uma expressão de amor, de cuidado e de zelo a quem se ama. A idéia é retomada pela própria origem etimológica no latim zelúmen e no grego zelus, que significa zelo, receio (MACHADO, 1990). O dicionário Aurélio da língua portuguesa traz a definição de ciúme como:

Sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém; zelos. Emulação, competição, rivalidade. Despeito invejoso, inveja. Receio de perder alguma coisa; cuidado, zelo (FERREIRA, 1995, p. 154).

Nesta definição, aparecem aspectos importantes associados à experiência do ciúme: a dor provocada, a angústia, a possessividade e o temor da traição.

As primeiras manifestações de ciúme podem ocorrer já na primeira infância quando se ganha um irmão e o afeto e a atenção dos pais passam a ser divididos. Muitas pessoas não imaginam o amor sem ciúme e não se dão conta do quanto sua manifestação pode ser destrutiva. Ele é capaz de envolver o indivíduo num mar de fantasia e desconfiança que provoca muito sofrimento e angústia. As dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas, levando a pessoa à verificação compulsória destas.

Pretendemos por meio deste trabalho, investigar esse sentimento complexo, em particular seu aparecimento nos relacionamentos amorosos. Buscaremos inserir a questão do ciúme no âmbito da sexualidade feminina, tendo em vista a linha de pesquisa desenvolvida no IGT. Apresentaremos o material encontrado a partir de uma pesquisa bibliográfica, utilizando uma perspectiva gestáltica, apesar da escassez de trabalhos acerca do tema. Esperamos, nesse sentido, contribuir com a ampliação da produção de conhecimento e reflexões.

A relevância de seu estudo, em nossa opinião, se deve ao fato da constante presença do ciúme nos relacionamentos amorosos. Sendo capaz de gerar um mal-estar intenso, aparece com bastante freqüência na prática clínica, na qual podemos constatar seus reflexos na sexualidade feminina, levando em conta a flexibilidade vivida nas relações amorosas na atualidade.

Para abordarmos como o ciúme é entendido e experimentado na atualidade faz-se necessário observar como o tema foi visto ao longo da história, olhando para outras épocas e contextos. Em seguida, focalizaremos a tensão entre individualidade e conjugalidade na vida do casal contemporâneo. Partiremos para as disfunções sexuais contextualizadas dentro do universo da sexualidade feminina. E finalmente, examinaremos dois casos clínicos nos quais poderemos observar a manifestação do ciúme na sexualidade das clientes e os possíveis significados que este assume, assim como serão destacados alguns aspectos abordados ao longo do trabalho que nos chamaram mais atenção por terem surgido com maior intensidade nos atendimentos dos casos realizados.

A sexualidade e o ciúme: compreendendo seus significados ao longo da história

Acreditamos que o tema da sexualidade apareça vinculado a tantos outros, tais como amor, casamento, fidelidade. Desta forma, se torna necessário tratar destes para uma melhor compreensão de como se articulam e se implicam até mesmo para o entendimento de como as relações que vivenciamos na atualidade sofrem influência dos períodos anteriores.

No intuito de inserir a questão do ciúme no âmbito da sexualidade feminina, ele deve ser compreendido na atualidade a partir de como foi visto ao longo da história, olhando para outras épocas e contextos. Além disso, focalizar a tensão entre individualidade e conjugalidade na vida do casal contemporâneo também se tornará relevante para nosso estudo. Acreditamos que todos esses pontos terão grande serventia para examinarmos dois casos clínicos nos quais poderemos observar a manifestação do ciúme na sexualidade das clientes e os possíveis significados que este assume, utilizando uma perspectiva gestáltica.

Nunes (2006) afirma que o amor permanece sendo uma experiência buscada pela maioria das pessoas e o ciúme continua a se fazer presente. O tema aparece na literatura, desde a Antigüidade, através de mitos gregos e tragédias. Trata-se, portanto, de um sentimento atemporal que atravessa diferentes épocas.

Para a autora (op.cit), a experiência do ciúme nas relações amorosas entre um Thomem e uma mulher sempre existiu. Porém, assim como o amor, ocupou diferentes lugares na vida social, de acordo com o contexto e as concepções das diferentes épocas.

Pensando numa perspectiva histórica, a autora destaca o texto O Banquete, de Platão, sobre a natureza do amor. Trata-se de uma das marcas importantes da gênese histórica da concepção sobre o amor no Ocidente, onde é visto como um sentimento único, inconfundível, universal e intrínseco à natureza humana. (PLATÃO, 1972).

O casamento, na Grécia clássica, era compreendido como uma obrigação social em relação à coletividade, não sendo a felicidade pessoal um fator a ser considerado. A família do noivo recebia um dote para custear as despesas da esposa, tendo em vista que a mulher não tinha permissão para trabalhar (YALOM, 2002). Junto a isso, a relação sexual tinha sentido somente visando à procriação e não o prazer dos cônjuges (FOUCAULT, 1993).

Nunes (2006) aponta que a mitologia nos revela a perspectiva grega acerca do ciúme, como um sentimento inerente à natureza humana, representando um risco para quem o sente, de reagir com ira e violência, contra aqueles que se aproximarem de seu objeto de amor.

Passando aos tempos romanos, o relacionamento entre homens e mulheres passa por mudanças já que as qualidades pessoais ganham peso no momento da escolha do cônjuge. Quanto à relação sexual extraconjugal, há uma exigência de fidelidade dentro da relação conjugal. No entanto, os deslizes por parte dos maridos seriam tolerados pelas esposas. Nessa perspectiva, o ciúme do homem parecia exercer uma forma assegurar a fidelidade da esposa (YALOM, 2002).

A partir do século V, o Cristianismo apresenta-se em expansão quando a Igreja amplia sua influência com relação à organização das relações conjugais. A partir do século XII, a Igreja orienta que o casamento deveria ser monogâmico e indissolúvel, ao mesmo tempo em que a existência do desejo dos pretendentes era prioridade para estabelecer a união conjugal (YALOM, 2002).

Nunes (2006) assinala que um importante marco foi o surgimento do amor cortês. No séc. XII, desenvolvido por trovadores e poetas, o amor cortês trazia a idéia do cavaleiro que sentia desejo por sua dama e a ele renunciava para que fosse conservado (LÁZARO, 1996).

Caminhando no tempo, chegamos ao Renascimento. Se o ser humano dos tempos medievais não era ainda concebido um “indivíduo”, esse novo período faz com que este comece a se colocar no centro dos interesses e das decisões, sem que isso representasse uma rejeição dos valores religiosos. O período foi marcado pelo antropocentrismo, possibilitando ao homem a noção de “indivíduo” como unidade independente e consciente de si mesmo (FROMM, 1974).

A religião passava para segundo plano, enquanto o homem assumia papel central na vida social. Ao mesmo tempo, as relações amorosas também sofreram transformações, na medida em que o amor passa a ser considerado como desejável ao casamento (YALOM, 2002).

Ao homem da Renascença era possível maior autonomia na escolha amorosa, não mais condicionada aos interesses coletivos. A experiência amorosa deveria ser norteada pelo sentimento recíproco e preencher a necessidade de realização pessoal (LÁZARO, 1996). Com isso, o amor era visto como decorrente das boas experiências do casamento. Partindo disso, o ciúme era coerente pensando na manutenção da fidelidade conjugal (SANTOS, 1996).

Chegamos ao Iluminismo, movimento cultural que despontou no século XVIII. Começam a ser defendidas as idéias burguesas de liberdade política e econômica, por meio das quais todos os indivíduos possuíam de forma igualitária, direito à vida, à liberdade e à posse de bens materiais (FROMM, 1974).

A liberdade de escolha dos parceiros amorosos é proposta por esse movimento, assim como havia sido no Renascimento. Aos poucos, surge o indivíduo racional, numa perspectiva individualista de mundo. De acordo com Dumont (1985), o advento do capitalismo trouxe o individualismo que prega os interesses individuais acima dos coletivos. De acordo com essa lógica, homens e mulheres deveriam ser livres na escolha de seus parceiros amorosos.

A vinculação entre casamento e amor começa a se fazer presente, principalmente a partir da segunda metade do século XVIII. Os sinais de afeição e interesses em comum são considerados importantes para a escolha conjugal. No entanto, ainda era marcante a influência nas uniões por atributos que vinham associadas aos papéis sociais definidos para homens e mulheres (LÁZARO, 1996).

Com relação aos temas da infidelidade e ciúme, ainda imperava a desigualdade entre os sexos, na medida em que a um homem casado seria possível viver uma experiência amorosa, sendo realizado, preferencialmente, fora do casamento (YALOM, 2002).

Nunes (2006) assinala que o movimento literário presente na época foi o Romantismo, no final do séc. XVIII. Dotado de uma visão individualista de mundo, onde o indivíduo era considerado livre para escolher seus projetos, inclusive os amorosos. Desta forma, a vida amorosa começa a ser governada tendo por base seus próprios sentimentos e valores. O Romantismo valorizou um amor idealizado, eterno. Tal fato se refletiria no matrimônio, que seria resultado da escolha do companheiro ideal, de acordo com Branden (1988 apud NUNES, 2006).

Yalom (2002) destaca a convergência entre amor e desejo começando a ganhar mais espaço. O ciúme surge diante do temor pela perda do objeto de amor único e insubstituível. A busca amorosa passa a ser central na vida dos indivíduos e um ideal a se adquirir, associado ao alcance da felicidade.

Na década de 1960, em nosso país surgem os movimentos de contracultura. Nesse cenário, com a chamada “revolução sexual”, diversas transformações sociais ocorreram na medida em que buscava desarticular o pensamento oficial. Um ponto marcante foi a descoberta da pílula anticoncepcional como possibilidade do exercício mais livre da própria sexualidade o que favoreceu os relacionamentos amorosos (ARAÚJO, 2002).

Para Del Priore (2005), o movimento feminista universalmente se destacou, na medida em que os papéis que homens e mulheres dentro da relação deveriam ser rediscutidos, possibilitando que a imagem feminina de passividade pudesse perder força. Nesse período, as mulheres passaram a questionar seus papéis, lugares na sociedade e começaram a se engajar em questões políticas e sociais, que até então eram direcionadas somente aos homens.

Nesse cenário, a sexualidade dentro do relacionamento amoroso começa a ganhar autonomia, tendo um destaque para o prazer passando a ocupar o centro da relação (SANTOS, 1996). Yalom (2002) acrescenta a tais mudanças, a possibilidade de casais construírem uma experiência amorosa sem a necessidade de casar oficialmente e o esvaziamento do tabu da virgindade.

Em meados do século XIX, quando houve uma maior aceitação da liberdade individual e da manifestação da sexualidade, o ciúme é visto como expressão de um ataque à individualidade. Ao mesmo tempo, era coerente com o desejo de posse e consumo bem marcante na sociedade da época (SANTOS, 1996).

Pensar sobre a sexualidade, amor, casamento nos faz aproximar esses temas que sofrem mudanças ao longo dos tempos, como também pensar que muito do que é ensinado são idealizações adequadas a cada época e contexto.

Araújo (2002) assinala que a associação de amor, sexualidade e casamento é uma invenção burguesa. Sendo assim, o amor nem sempre foi encarado como retratam os filmes de Hollywood. Atualmente, torna-se necessária uma revisão das idealizações quanto a esse cenário, que ainda aparece em larga escala sendo o casamento algo a ser atingido, quando o amor e a sexualidade dão garantia de felicidade.

Foucault (1988 apud ARAÚJO, 2002) refere que a concepção moderna de sexualidade engloba uma série de fenômenos que abarcam diversos mecanismos. Dentre eles, biológicos, variações individuais, sociais, instituição de normas e regras. Portanto, a sexualidade trata-se de uma construção social. Ao mudar a sociedade, mudam também os valores e ideologias que estão na base dos dispositivos de controle das práticas e comportamentos sexuais.

Com o passar do tempo, o Romantismo sofre desgastes acarretando o enfraquecimento de alguns de seus ideais. Com isso, a noção de “amor eterno e insubstituível” perde força, enquanto surgem possibilidades flexíveis que permitem novos modelos familiares e de relacionamento na vida social, tais como casais casados e descasados, uniões liberais, famílias adotivas e uniões homossexuais. Desta forma, Bauman (2004) lembra que em meados do séc. XX é observada a perspectiva contemporânea de um relacionamento amoroso marcado pela fluidez e abertura.

Na contemporaneidade, a emancipação sexual conduz a uma maior igualdade na relação amorosa que passa a ser construída pelo casal e não somente a partir dos interesses sociais e coletivos (GIDDENS, 1991). Uma lógica individualista e materialista começa a permear os relacionamentos amorosos, na medida em que o casal contemporâneo encontra-se envolvido por valores como competitividade, individualismo e efemeridade (PLASTINO, 1996).

Na sociedade contemporânea, Foucault aponta que a sexualidade não pode ser mais encarada como um fenômeno natural, mas sujeita às influências sociais e culturais. A moralidade ou não das práticas sexuais é definida pela sociedade e a cultura. Desta forma, não podemos explicar as formas e variações da sexualidade sem levar em conta o contexto em que se formaram.

Bauman (2004) ressalta que diante da insegurança provocada pela flexibilidade da vida amorosa contemporânea as pessoas buscariam relações nas quais fosse assegurada a liberdade e o “espaço pessoal”, na perspectiva de ampliar a durabilidade da relação e a elaboração de projetos de futuro. Com isso, o autor assinala uma contradição: os indivíduos buscam valores como segurança e liberdade, cumplicidade e competição, intimidade e independência.

Nunes (2006) aponta que a experiência amorosa na contemporaneidade ainda não rompe em definitivo as concepções de amor romântico e sublinha que aquilo que hoje é visto no contexto das parcerias afetivo-sexuais, é que os indivíduos buscam vincular-se amorosamente, e ao mesmo tempo ficam presos a modelos e padrões que “coisificam” a si mesmos e aos outros. Desta forma, o amor e a sexo são vividos, nos dias de hoje, sem muita delimitação. Nunes (2006) defende que o ciúme nas relações amorosas contemporâneas pode ser pensado a partir da experiência daqueles incapazes de gerenciar uma circunstância na qual a insegurança entra em cena. A autora justifica a dificuldade a partir da necessidade dos parceiros serem responsáveis pela construção, desenvolvimento e manutenção de suas relações amorosas, sem as referências tradicionais de antes.

A autora destaca que no ciúme, a problemática se revela através de um comportamento em que a relação amorosa é vista de forma subjetiva através de um monitoramento incessante, chegando a gerar sofrimento psíquico. Toma por base que, no imaginário social, não há espaço para o “amor eterno” do passado, assim o indivíduo precisaria de proteção e segurança obtidas através do controle do outro. Portanto, o indivíduo contemporâneo pode encontrar-se perdido, não sabendo articular a liberdade que conquistou e o individualismo.

Nesse contexto, a fidelidade torna-se um valor a ser considerado para a manutenção da relação. Portanto, a necessidade da vigilância seria decorrente da flexibilidade da relação amorosa na atualidade (BAUMAN, 2004). Na tentativa de aplacar a insegurança e a ansiedade, esta vigilância pode exceder os limites das saudáveis estratégias de monitoramento psicológico da relação amorosa. Já aquele que é alvo do ciúme, apesar do sofrimento, se permite ficar numa relação amorosa onde exerce o papel daquele que está sempre sendo posto à prova. O indivíduo teria algum ganho em manter-se nessa posição por, de forma ilusória, escapar das inquietações geradas pela abertura e flexibilidade do amor na contemporaneidade. (NUNES, 2006) .

Nunes (2006) considera o ciúme inteligível dentro da lógica onde as relações parecem descartáveis, podendo o indivíduo sentir-se ameaçado e vulnerável. Numa cultura do consumo, a beleza e a valorização da estética aparecem de forma privilegiada, passando a ocupar um lugar importante nas relações sociais. Aqueles que não se enquadram ao modelo estético teriam potencializados os sentimentos de baixa auto-estima e insegurança, que dariam força ao ciúme, nas relações que vivenciam (LÁZARO, 1996). Lázaro (1996) explica que, no domínio da sexualidade, a busca do prazer erótico representa uma experiência que ganha valor social e legitimidade.

Ao invés dos laços de dependência entre os cônjuges, os ideais contemporâneos de relação conjugal enfatizam mais a autonomia e a satisfação de ambos. Para tanto, é necessário formar uma zona comum de interação, de uma identidade conjugal. Forma-se, portanto, uma tensão entre individualidade e conjugalidade na vida do casal contemporâneo. Isso se dá, pois os ideais individualistas estimulam a autonomia dos cônjuges, no que diz respeito à busca do crescimento e desenvolvimento de cada um. Ao mesmo tempo em que também está presente a necessidade de vivenciar a conjugalidade, os desejos e projetos do casal (FÉRES-CARNEIRO, 1998).

Singly (1993, apud FÉRES-CARNEIRO, 1998) ressalta que para a manutenção da relação conjugal, esta deve manter-se prazerosa e ter utilidade para os cônjuges. Enfatiza que a valorização dos espaços individuais pode implicar na fragilização dos espaços conjugais, da mesma forma como o fortalecimento da conjugalidade leva ao afrouxamento das individualidades.

Acerca do tema, Dias (2000) assinala que um dos grandes desafios para a construção do relacionamento conjugal está na busca pelo equilíbrio entre as demandas individuais e as necessidades conjugais. Quando os cônjuges percebem que há diferenças entre eles, criam esforços para demarcarem espaços próprios para expressão das individualidades, como também para viverem o que há de comum. Trata-se de uma tarefa não muito fácil, que demanda um esforço contínuo.

Acreditamos que após toda essa perspectiva histórica e já tendo embutida a tensão existente entre individualidade e conjugalidade, podemos seguir para as possíveis correlações entre ciúme, amor e sexualidade.

Giddens (1993 apud ARAÚJO, 2002) assinala que o amor romântico perde força com a emancipação sexual e a autonomia femininas. A intimidade foi modificada a partir da redução do controle sexual das mulheres pelos homens. Portanto, a estrutura do casamento pode ser revista e novos valores como amizade e companheirismo tendem a ser destacados como valiosos.


Ciúme e amor caminham juntos?

Luft (2004) assinala que as relações humanas incluem diversos laços amorosos e tendemos a buscar aquilo que não é possível: a fusão total. O partilhar completo, dentro de uma relação, não é atingido. Nessa perspectiva, o ciúme justamente apostaria nessa fusão, no “eu e você somos um”.

Gikovate (2006) é outro autor que investigou sobre o tema do amor e como ele permeia nossas relações. Seria este um sentimento generoso por excelência ou uma manifestação egoísta, na qual o outro existe para nos dar aconchego e prazer? Para melhor entender o que acontece, o autor assinala que um estado chamado “solidão” acompanha muitos de nós, despertando sensações de desamparo e abandono. Quando estamos sozinhos podemos vivenciar essa condição, e que algo nos falta. Desta forma, a aliança com outra pessoa nos daria a sensação de plenitude, como se não fôssemos inteiros e vivêssemos numa permanente busca pela completude.

De acordo com Gikovate (2006), duas pessoas não podem tornar-se uma, porém, “vende-se” essa ilusão e acabamos por aguçar nossas tendências possessivas e exclusivistas, sem percebermos o quanto passamos por cima da individualidade do outro. Para o autor aquele que consegue se reconhecer como unidade permite que se relacione com os outros mais facilmente, sem buscar em suas relações um remédio para a necessidade de aconchego. Tendemos à fusão romântica comum fenômeno quase biológico, quanto mais o outro for indispensável para nossa sobrevivência emocional, maior o controle que desejaremos estabelecer. Muitas das ações da pessoa amada nos fazem sentir únicos, especiais. O prazer que isso proporciona faz com que cresça o apego que temos por ela. Perder a pessoa amada implica na perda de tudo isso, acarretando insegurança pessoal, surgindo dúvida quanto a nosso valor real.

O autor destaca que, aqueles que possuem boa auto-estima toleram melhor a dor gerada pelas perdas amorosas. Sentem quando são privados do aconchego e da companhia de alguém com quem se sentem bem e protegidos, mas conseguem valorizar e aproveitar os momentos em que se dedicam aos projetos pessoais. À medida que são competentes para ficar consigo mesmos, precisam menos do outro como um paliativo para a dor do desamparo.

A discussão feita pelo autor sobre o amor esbarra na análise do ciúme. Gikovate destaca que há várias formas de se sentir ciúme, sendo um sentimento referente ao risco de perda de alguém com quem nos relacionamos, medo de que com este vão também as regalias ou por temor à solidão. Aqueles que, com maior freqüência, sentem mais ciúme não são, via de regra, os que amam mais intensamente, mas os que mais temem perder o parceiro, o que denota medo de lidar com frustrações e perdas práticas de diversos tipos. Para o autor, o ciúme não comporta nada de construtivo, pois é um sentimento que nos faz tentar limitar os direitos da pessoa à qual estamos ligados, apesar de ser disseminado que é exercido em nome do amor.

Um tema fortemente ligado ao ciúme é a traição. O autor refere o sentimento de sentir-se traído como um dos elementos que compõe o ciúme. Este teria relação com a ofensa à vaidade, o que determina a sensação de humilhação:

Em suas manifestações mais singelas, o ciúme tem importante correlação com a humilhação, com uma ferida na vaidade, com a sensação de ser tratado com descaso e inferioridade, de ter sido preterido, trocado por alguém mais interessante. (GIKOVATE, 2006, p. 134).

Desta forma, o desejo de exclusividade é algo bem recorrente. O desinteresse da pessoa amada ou a nossa substituição por outra provoca grande desconforto:
O amor depende da admiração, de modo que uma queda na nota que recebemos provocará uma alteração negativa no sentimento do amado. Ou seja, a situação amorosa é vivida com uma instabilidade absoluta; os sentimentos poderão se alterar de uma hora para a outra (GIKOVATE, 2006, p. 153, 154).

O autor assinala que a insegurança é tamanha a ponto de muitos lançarem mão de recursos diversos para exercer controle sobre a pessoa amada, através de escutas telefônicas e contratação de detetives particulares, a depreciação do parceiro na intenção de rebaixar sua auto-estima e até mesmo a violência física. Aqueles mais controladores são os que mais criam condições para que ocorra maior temor, já que ao se sentir reprimida de forma exagerada, a pessoa amada tenderá a ter menor admiração pelo parceiro.

O ciúme estaria associado a alguma forma de medo ou insegurança, como se houvesse desconfiança de seu próprio valor. Pensando num relacionamento amoroso, poderia haver prejuízo da resposta sexual do casal caso o ciúme fosse intenso, levando à perda de liberdade do pensar e do agir do parceiro (MARZANO, 2008).

Feldman (2005) assinala que pessoas inseguras podem encontrar uma falsa segurança na medida em que provocam insegurança no companheiro, através da sedução de outras pessoas de forma explícita, ameaças de traição e até mesmo vivendo envolvimentos amorosos paralelos.

Gikovate (2006) considera que não se deve correlacionar a intensidade do ciúme a do amor, acreditando que tudo depende da forma como cada um lida com suas inseguranças. Portanto, aquele que busca provocar ciúme na pessoa amada, para se certificar do sentimento que esta nutre pode iludir-se quanto ao caráter genuíno desse sentimento, ou se é mais uma questão de medo da perda, dos privilégios associados ao parceiro.

O autor encontra variações no que diz respeito ao desejo sexual e o ciúme. Refere que podem ocorrer inibições sexuais completas quando um percebe que seu parceiro manteve um relacionamento sexual com alguém ou pretendia isso. Porém, há casos em que a desconfiança ou a certeza do fato pode potencializar o desejo sexual.

Gikovate lança como hipótese que o seu aumento seja decorrente da competição com o (a) rival, isso despertaria o empenho de quem foi ou correu o risco de ser traído(a), demonstrar que é melhor que ele. A pessoa enciumada apresentaria maior vigor sexual do que em outras situações. Ao ser percebido isso pelo parceiro, é possível inventar contextos para fazer aflorar o seu ciúme, buscando estimular o desejo sexual. Já a redução do desejo sexual seria proveniente dos sentimentos de raiva, mágoa e humilhação que o parceiro nos despertaria ao percebermos a ameaça dele expressar interesse por outra pessoa.

A partir disso, encontramos relações amorosas nas quais o desejo sexual pode ser potencializado ou reduzido/inibido a partir do ciúme. Poderemos constatar isso, na última parte de nosso trabalho, quando examinaremos dois casos clínicos nos quais é observada a manifestação do ciúme na sexualidade das clientes e os possíveis significados que este assume. Por hora, buscando pensar em como o ciúme pode funcionar dentro das relações amorosas, partiremos para o segundo capítulo onde abordaremos alguns pressupostos teóricos que nortearão nosso trabalho e as disfunções sexuais como expressão daquilo que é vivenciado pelo casal e que não compete somente à mulher.

Engessados pelo Ciúme: expressão de fronteiras rígidas

Goldenberg (2004) aponta que as relações amorosas contemporâneas são marcadas pela flexibilidade, liberdade, pluralidade e independência pessoal. Portanto, é gerado um conflito na medida em que esses aspectos são obrigados a coexistir com o ciúme também presente nas relações. Buscando pensar em como o ciúme pode funcionar dentro das relações amorosas, faz-se importante abordarmos alguns pressupostos teóricos que nortearão nosso trabalho.

Zinker (2001) assinala que o estabelecimento de fronteiras atribui um significado a um conjunto de fatos ou de experiências e permite ao casal diferenciar-se de seu ambiente, da mesma forma como as fronteiras no sistema dão significado aos subsistemas e permitem sua diferenciação. O autor procura traçar fronteiras em torno dos fenômenos para melhor compreender suas relações complexas. Zinker considera o casal um sistema ou ainda um subsistema dentro da família, onde seus membros influenciam-se mutuamente.

O processo de mudança exige capacidade de fazer contato . Caso não haja obstáculos na fronteira, torna-se possível fazer contato com o novo, e promover a descoberta e a transformação, pontuou Perls (1951 apud SILVEIRA, 2007). Polster & Polster (1979) definem o contato pela função de união e separação de partes diferentes. Há o encontro de seres diferentes para depois se separarem já modificados.

Silveira (2007) assinala que são muitos os modelos e a instabilidade das uniões afetivas do mundo contemporâneo, demandando que as fronteiras conjugais sejam flexíveis. São elas as responsáveis pelo contorno necessário para compreender o casal como um sistema, os membros do casal como subsistemas e mediam o contato com outras pessoas ou com outros casais.

A constante indiferenciação caracteriza os relacionamentos doentios, onde os envolvidos na relação apresentam distúrbios de contato. Segundo Tellegen (1984), um deles pode expressar um excesso de rigidez, ou o outro uma extrema permeabilidade, acarretando isolamento ou a perda de diferenciação e identidade.

Quando a fronteira do “nós” tem fluidez e permeabilidade razoáveis, cada um se une como casal e se separa para exercer suas individualidades. Desta forma, permite um bom funcionamento do casal, na medida em que consigam fazer encontros saudáveis na fronteira do “eu” e na fronteira do “nós”, diz Silveira (2007). Portanto, ao pensarmos num contexto em que o ciúme excessivo está presente podemos considerar que este promove fronteiras mais rígidas e impede um bom funcionamento desse casal, originando dificuldades dentro e fora da relação. Na formação de um casal, existe a união de histórias diferentes, fazendo surgir uma nova totalidade.

As pessoas que se escolhem passam a funcionar num estilo diferente, com linguagem própria, seguindo um ao outro. Os limites pessoais são ultrapassados numa aliança que se faz fértil e desafiadora. Personalidades diferentes, com diferentes habilidades para viver o mundo, unem-se para construir algo maior, e assim vão compor uma nova fronteira, a fronteira da conjugalidade (SILVEIRA, 2007, p. 10).

Conforme Silveira (2007), a vida a dois implica na construção de uma nova linguagem e regras que definem as peculiaridades do casal. Uma relação criativa favorece uma maior clareza entre o que é do âmbito pessoal e o que é do âmbito conjugal. Promove um movimento que permite a vivência da individualidade com as questões pessoais, como também a parceria, o “viver com”.

Os casais que vivem em meio a situações inacabadas podem não conseguir superar os obstáculos que encontram no decorrer da vida em comum, transformando-se em um relacionamento patológico. O investimento em mudanças é impossibilitado pela incapacidade de perceberem as diferenças com relação ao que foi vivido em relações anteriores, como também a dificuldade de se desapegarem das vivências passadas, ficando o relacionamento paralisado. O casal fica com a percepção presente contaminada com os fantasmas do passado, o que os leva a trazerem para a esta relação experiências passadas que não tiveram resolução, acarretando o desgaste no relacionamento atual e outros desdobramentos prejudiciais.

Silveira (2007) aponta que há casais que desenvolvem patologias complementares. Formam-se pares que representam papéis cristalizados, tais como vítima e algoz, protetor e protegido, etc. Podendo oscilar entre os papéis citados, quando cada um ocupa em dado momento um deles. Aquele que vive numa relação onde é extremamente controlado pelo ciúme do parceiro, se mantém nesse lugar e permite assim, que o outro atue como controlador, fazendo o par controlador e controlado. Tal quadro nos remete ao conflito interno entre “dominador” (top dog) e “dominado” (under dog) proposto por Perls (1977), no qual o “dominador” exerce o papel do exigente, punitivo e autoritário. Enquanto que, o “dominado” desenvolve uma grande habilidade em fugir das ordens do “dominador”. O primeiro avalia que ele detém a razão, ao mesmo tempo em que o último atua de forma manipuladora, usando de desculpas, sedução ou se defendendo. Portanto, a manutenção dos papéis é resultado de ganhos que aquele que ali permanece obtém na medida em que ocupa tal lugar, apesar de tais ganhos coexistirem com sofrimento e mal-estar.

A relação pautada no ciúme costuma ser repleta de angústia e sofrimento. Diante dessa ligação, torna-se inconcebível admitir a dependência já que significaria a percepção do outro separado de si e o conseqüente reconhecimento deste para uma série de gratificações pessoais. Silveira (2007) assinala que nesse tipo de aliança perversa, é possível acompanhar a inveja, a competição desenfreada, o ódio e a violência bem evidentes.

A autora nos lembra que a Gestalt-terapia valoriza a relação estabelecida entre os membros de um casal, na qual se destacam aspectos mais saudáveis ou mais patológicos. Ao falar sobre fronteira, ressalta a Teoria de Campo de Kurt Lewin (1973). Ele definiu campo a partir de várias regiões (sociais, intrapessoais, interpessoais, físicas) que estariam demarcadas por fronteiras. Lewin descreveu o campo psicológico e social como um conjunto de forças que atuam no presente formando uma rede de relações entre as partes. A fronteira teria a função de promover diferenciação e a interdependência dos elementos. Portanto, podemos dizer que toda experiência do indivíduo pode sofrer alterações conforme o campo em um dado momento.

Após as noções de campo e de fronteiras, podemos pensar a sexualidade e seus entraves a partir do ciclo de contato , ou melhor, com os mecanismos de bloqueio de contato. Isto porque podem ocorrer perturbações de origem interna ou externa que provocam interrupções no seu curso. Diante da impossibilidade de satisfazer uma de suas necessidades e realizar bom contato ou de poder optar pela evitação deste, o organismo se vê obrigado a recorrer a estratégias que assegurem sua integridade e sua sobrevivência. Esses mecanismos de defesa podem representar um ajustamento criativo enquanto não criam uma cristalização. Perls (1985) assinala que uma série de confusões pode levar o indivíduo a ser incapaz de distinguir entre si e seu meio, o que levaria à neurose. Esta seria uma manobra realizada como defesa, na busca de manter o equilíbrio e a auto-regulação em ocasiões nas quais sente que as probabilidades estão todas contra ele.

Tomando por base os mecanismos de evitação de contato teorizados por Perls (1985), trabalharemos aqui com a Introjeção, Projeção, Confluência e a Retroflexão, buscando possíveis associações entre eles e o que se dá em relações comprometidas pelo ciúme. Estes mecanismos foram eleitos por estarem presentes de forma marcante nos dois casos clínicos que serão discutidos no capítulo 3.

A Introjeção é o mecanismo pelo qual “pegamos emprestado”, incorporamos formas de agir e pensar, atitudes, princípios que não são nossos (GINGER, 2007). Pode gerar distorções e dificuldades em viver as experiências, pois se torna falho o reconhecimento do que é da própria pessoa ou o que pertence ao outro.

A Projeção seria a busca por fazer o meio responsável pelo que se origina na própria pessoa, havendo o deslocamento da barreira entre nós e o meio, exageradamente a nosso favor, de modo que seja possível negar e não aceitar as partes de nossa personalidade que consideramos difíceis (PERLS, 1988). O autor destaca que o mecanismo é comum aos casos em que a paranóia está presente. O indivíduo tende a desconfiar e acusar os outros, a partir de sua própria agressividade projetada.

Os Polsters (1979) assinalam que a Projeção é comum ao indivíduo que não é capaz de aceitar seus sentimentos e ações, pois acredita não dever sentir ou agir desse modo. A partir disso, aquele que projeta nega o que é seu e o atribui à outra pessoa.

Cavalcante (1997) assinala que o ciumento pode não se satisfazer com as provas materiais que busca e o liberam da desconfiança. Ao mesmo tempo em que alimenta aspectos irreais para fortalecer a própria desconfiança, o autor aponta que o ciumento pode depositar no parceiro seus sentimentos de menos-valia e inferioridade. A relação pode chegar a um grau tão significativo ao ponto do ciumento se desligar de seus investimentos mais significativos para viver através das necessidades e da vida de seu parceiro, construindo uma relação de dependência quase que absoluta.

Passando à Confluência, esta ocorre quando o indivíduo não identifica uma barreira entre ele e seu meio, quando sente que ele próprio e o meio são um só; as partes e o todo são indistinguíveis entre si. De forma cristalizada, o indivíduo não consegue fazer contato com ele mesmo pelo fato de se ver ligado fortemente aos outros sem diferenciar o que é seu do que é deles. Na confluência patológica a pessoa tende a exigir semelhanças e recusa quaisquer diferenças, como se o parceiro(a) fosse sua extensão (PERLS, 1988).

Encontramos uma relação extremamente confluente quando o parceiro atende as exigências do outro, se submetendo ao que este determina. Poderíamos inserir o ciúme nesse tipo de relação, na medida em que tal sentimento provoque grau considerável de sofrimento. Portanto, é comum em situações em que o contato se dá com dificuldades.

Para finalizar a exposição dos mecanismos de evitação, trazemos a Retroflexão, que pode ser observada quando o indivíduo trata a si mesmo como gostaria de tratar outras pessoas. Ao invés de dirigir suas energias para fora, na tentativa de provocar mudanças no meio que satisfaçam suas necessidades ele as investem nele mesmo, colocando-se como alvo do comportamento. Em geral, quem retroflete se culpabiliza e se arrepende do que faz. Isso porque se enxerga inadequado e sem satisfação em suas relações com o meio. Com o propósito de evitar frustração, corrige e revisa várias vezes o que já fez (PERLS, 1988).

Polster & Polster (1979) apontam que pode ocorrer um desdobramento da Confluência para a Retroflexão. Isso ocorre quando um dos parceiros viola a Confluência. Consumada a transgressão, se sente responsável por punir-se como compensação. O indivíduo pode punir a si mesmo, provocando o isolamento, humilhando-se ou não atribuindo a si valor nenhum. A culpa é um dos sinais de que a Confluência foi perturbada.

Já vistos os conceitos trazidos pela Gestalt que nos apoiarão em nossas reflexões, partiremos para as disfunções sexuais contextualizadas dentro do universo da sexualidade feminina.

Disfunções sexuais: o que elas têm a dizer?

Nosso propósito em tratar aqui das disfunções sexuais se deve à presença de uma delas (Vaginismo) em um dos casos clínicos que será apresentado em nosso capítulo final, quando pensaremos os reflexos do ciúme na sexualidade feminina.

Vivemos em um país tropical no qual a cultura privilegia o sexo e o bom desempenho. Ao mesmo tempo, somos herdeiros de uma educação que não favoreceu que a sexualidade pudesse ser um assunto levantado sem muitos entraves. Desta forma, não é tão simples tratarmos de dificuldades sexuais por vergonha, medo do julgamento ou preconceito. Dentre as dificuldades sexuais, estaremos nos referenciando nesse trabalho às disfunções sexuais, dentre as quais as mais comuns no universo feminino são o Vaginismo, a Anorgasmia e a Frigidez. Muito mais importante que o nome de cada uma delas, é o sentido do sintoma que cada uma representa, o que ele quer expressar. O sofrimento causado é muitas vezes um complicador em suas vidas, seja em suas atividades rotineiras ou na qualidade de seu relacionamento com o(a) parceiro(a). Sendo a maior parte dos casos de origem psicológica, a terapia pode auxiliar na compreensão da grande ansiedade gerada, o que dificulta ainda mais a superação do quadro. O caminho da terapia visa criar condições para que a pessoa possa ampliar o autoconhecimento, aprendendo como faz para construir tal sintoma, passando a ter mais curiosidade acerca de seu próprio corpo, ampliando o seu conhecimento sobre o mesmo. O trabalho terapêutico é desenvolvido no intuito de favorecer a comunicação do casal, compreendendo melhor a cobrança por um bom desempenho e auto-exigência excessivos, além de desmistificar as curas milagrosas ou fantasiosas sobre o prazer sexual e estimular expectativas mais realistas. Até porque, o sexo não é perfeito como nos filmes e tem características particulares para cada um.

A Gestalt-terapia procura olhar o indivíduo como um todo, numa perspectiva holística, considerando o contexto em que este se insere. Ao falarmos de sexualidade feminina não temos como descartar a implicação do companheiro/parceiro nesse contexto. Partindo de uma abordagem relacional, esse par é afetado e sofre conjuntamente.

De acordo com Aguiar (2005), o ser humano é relacional, se desenvolvendo na e a partir da relação. Desta forma, acreditamos que aquilo experienciado dentro da relação amorosa pode estar reverberando na sexualidade e não se trata de algo isolado, como se essa mulher comportasse algo a ser tratado. Portanto, apesar de ser usada a nomenclatura “feminina” para designar o tipo de disfunção sexual, é um sintoma que “aparece” na mulher, mas que pertence ao casal e ao que foi construído em sua relação.

Na terapia é relevante compreender o processo em que se deu a instalação e manutenção dos sintomas e a percepção de que existe um sentido para a sua permanência e a partir daí abrir a possibilidade de novas criações. O trabalho vai de encontro ao que mobiliza a cliente e a forma como esta interage com essa mobilização. Justamente, por considerar a singularidade de cada um, o material que é trazido durante as sessões pela cliente deve ser considerado ao invés de nos fixarmos em diagnósticos pré-estabelecidos.

Assim como já foi visto, nossa sociedade passou por diversas mudanças com relação a encarar e vivenciar a sexualidade. Ainda hoje, vivemos tensões e ambigüidades com relação ao tema. Valores e práticas coexistem e geram conflitos, na medida em que a repressão do passado duela com a atual liberdade e pode implicar em conseqüências danosas para a sexualidade.

Barbalho (2005) assinala que a sexualidade é um marcador de saúde individual e conjugal e que os casais apresentam padrões de relacionamento, nos quais os parceiros podem inibir ou facilitar a expressão da sexualidade um do outro. A partir disso, a qualidade de relacionamento do casal seria determinada também através da qualidade de sua vida sexual.


Mello (2004) nos diz que a masculinidade e a feminilidade são códigos redefinidos constantemente, mas que se embasam na delimitação de padrões de valores adequados para cada sexo. Ressalta a possibilidade de romper com normas de comportamentos e valores nas relações de gênero. Isto ocorre na medida em que essas relações possam ser questionadas, tendo em conta que as transformações sociais possibilitaram a ressignificação dos papéis. Como relações de gênero, a autora entende: “[...] são aquelas onde se estabelece uma hierarquia entre as pessoas envolvidas de acordo com o significado que se atribui, dentro dessa relação, ao que seja masculino ou feminino” (MELLO, 2004, p. 36).

Oddone [2005?] assinala a grande confusão de papéis que vivemos na atualidade. Até mesmo os meios de comunicação estimulam uma “guerra dos sexos”, gerando prejuízos razoáveis. Dentro disso, Rocha [2005?] destaca lançando mão da Teoria de Campo de Lewin:

A premissa básica dessa teoria é que o comportamento é função do campo e da realidade em que ele ocorre. Isso significa compreender que os comportamentos de gênero que se desdobram em papéis, funções e práticas sexuais são resultados do trabalho da cultura na produção de diversos comportamentos generificados a partir de um dado contexto social. Isto implica em dizer que não dá para compreender o gênero olhando apenas a pessoa sem observar o papel da cultura (do campo) na construção de masculinidades e feminilidades (ROCHA, [2005?], p. 214-215).

A seguir, temos o propósito de trazer a visão da Medicina em paralelo às reflexões da Gestalt-terapia de forma a enriquecer nossa discussão e não reproduzir o discurso médico. Compreendemos a importância da visão de homem em sua integralidade e complexidade. Portanto, não deve ser priorizada uma visão em detrimento da outra e sim conhecer o que cada uma delas tem a nos contar de forma a tirarmos proveito para o aperfeiçoamento de nosso trabalho como terapeutas.

Masters & Johnson ([1966?] apud PARISOTTO, 2008) na década de 60, estudaram as modificações corporais durante o ato sexual. Denominaram Ciclo da Resposta Sexual Humana o conjunto de alterações fisiológicas que ocorre durante a atividade sexual. Helen Singer Kaplan ([1978?] apud PARISOTTO, 2008), uma psiquiatra que estudou largamente a motivação sexual, complementou o ciclo com a fase inicial denominada Desejo .

Ciclo da Resposta Sexual Humana

Fonte: Figura disponível em: http://www.abcdocorposalutar.com.br/artigo.php?codArt=467.

Acesso em: março de 2008.

Vejamos cada uma das fases, segundo os pesquisadores:

Desejo

Segundo Kaplan (([1978?] apud PARISOTTO, 2008) o desejo corresponde à primeira fase do ciclo, na qual as fantasias, pensamentos eróticos, ou visualização da pessoa desejada despertam a vontade de ter atividade sexual. O desejo é uma experiência subjetiva que incita a pessoa a buscar atividade sexual. Em termos cerebrais, há mensagens neurofisiológicas que motivam a busca por sexo. No cérebro, o hipotálamo é o responsável pela ativação e inibição da necessidade sexual. Além do sistema de endorfinas e hormônios, há neurotransmissores envolvidos na questão do desejo.

As fantasias sexuais muito comuns nesta etapa podem ajudar os parceiros a focalizar seu corpo e suas sensações, sendo uma possibilidade de incrementar a relação sexual com criatividade (HEIMAN & LOPICCOLO, 1992). Além disso, a resposta sexual satisfatória estaria ligada a uma série de condições pessoais e da parceria amorosa, tais como um bom funcionamento orgânico e uma relação de companheirismo, que permita ao casal a cumplicidade necessária à execução do ato sexual (BARBALHO, 2005).

Podemos destacar que alguns fatores costumam ser relevantes no que diz respeito à disposição feminina dentro do referido Ciclo da Resposta Sexual: sentir-se desejável, perceber sua capacidade de sedução e o interesse que consegue despertar no parceiro, sentir-se feminina. Tais fatores implicam em dificuldades e frustrações de acordo com aquilo que é vivido e como é vivido pela mulher. Pensando na experiência da maternidade ou da menopausa, por exemplo, é fato que há alterações hormonais e mudanças em seu corpo. Como isso será vivido? Chegará ao ponto de não sentir-se mais “feminina”? E com relação aos padrões que se espera do corpo, visando à estética, tão cobrada hoje em dia? Terá essa mulher um alto padrão de exigência, chegando ao ponto de ser um padrão irreal? Portanto, são fatores que fazem parte de uma lógica na qual estamos mergulhados, na atualidade. E quanto aos tabus ou crenças a respeito da sexualidade? Qual educação e referências recebeu acerca do assunto? O quanto elas influenciam e até onde criam conflitos no momento em que a mulher se vê podendo viver uma relação sexual?

Pensando no acumular de funções que a mulher tende a viver e na pressão a que socialmente estamos sujeitos, os episódios de estresse não são incomuns. Tantas responsabilidades, atividades a serem realizadas dentro de prazos curtos. A mulher pode acabar por não conseguir viver o aqui - agora, pois carrega para o universo íntimo os problemas e as tensões rotineiras. Como respeitar seus próprios limites e estabelecer prioridades? Como impedir que o corpo sofra essa tensão e funcione de modo a estar disposto ao contato sexual satisfatório? São muitas perguntas para as quais não há respostas certas. Devemos lançá-las no intuito de assinalar que, cada caso merece atenção e curiosidade para a compreensão do que está em jogo. Portanto, são inúmeros os fatores que podem estar atuantes no campo e devem ser considerados com cautela.

Tendo por base o Ciclo de Contato, recorremos a Ginger (2007) quando este coloca uma primeira fase, o pré-contato, a qual representaria um tempo suficiente para emergir a necessidade, o desejo. Dentro do referido contexto, o pré-contato pode ser entendido como o próprio desejo sexual. O autor assinala que a ausência do pré-contato ou seu prolongamento denotaria um “disfuncionamento” psicológico ou social.

Acreditamos que as funções de contato se tornam importantes, na medida em que o casal seja capaz de explorá-las e perceber que as mesmas são recursos que podem ser usados para tornar possível uma relação sexual satisfatória. Conforme Polster & Polster (2001), são elas: olhar, ouvir, tocar, falar, mover-se, cheirar, provar. Entre as funções de contato, o toque costuma ser privilegiado, assim como o contato visual. Porém, acreditamos que os demais também podem ser interessantes, até porque a privação de um dos sentidos nos leva a potencializar os demais e ter experiências diferenciadas.

Excitação Sexual

Masters & Johnson (19[66?] apud PARISOTTO, 2008) destacam que a excitação sexual é a fase em que o corpo passa a responder fisiologicamente frente aos estímulos que dispararam o desejo sexual. A fase de excitação sexual é, basicamente, o preparo do organismo para o ato sexual. Tanto o corpo da mulher quanto do homem passam por modificações fisiológicas durante a excitação sexual. Vale lembrar que os homens tendem a se excitar mais a partir de estímulos visuais, enquanto que para as mulheres parece ser mais importante a preparação do ambiente, o bem-estar emocional e uma relação de segurança. Portanto, são bem particulares os fatores que estimulam cada um.
Gikovate (2006) ressalta a diferença na natureza sexual do homem e da mulher, explicando que o desejo visual é bem maior nos homens. Já as mulheres, mostram-se excitadas ao se sentirem desejadas.

Uma dificuldade nessa fase nos levaria a perguntar o que vive essa mulher para que seu corpo não esteja tendo condições de preparar-se para seguir adiante naquilo que anseia, tendo em vista que a fase anterior (Desejo) foi possível.

Orgasmo

O Orgasmo, segundo Masters & Johnson ([1966?] apud PARISOTTO, 2008) representa a obtenção de prazer quando ocorre a liberação total das tensões antes retidas, acompanhada de uma contração muscular rítmica. Nos homens observa-se a ejaculação. Nas mulheres, devido à diminuição da capa de gordura, há maior contato com as terminações nervosas que levam ao prazer, podendo haver maior sensibilidade.

Dolto (1996) explorou a questão referente à sensação que as mulheres experimentam após o orgasmo e ressaltou que a harmonia da relação e o clima de espontaneidade são quesitos básicos para a entrega amorosa que supõe a exploração do potencial erótico de todo o corpo, sem a focalização exclusiva na manipulação dos órgãos genitais e a exigência do orgasmo.

As disfunções sexuais estão relacionadas a uma perturbação no desejo sexual e nas alterações psicofisiológicas que caracterizam o ciclo de resposta sexual, causando sofrimento e insatisfação não só na pessoa, como também no parceiro. Segundo o DSM-IV (2008), uma Disfunção Sexual caracteriza-se por uma perturbação nos processos que compõem o Ciclo de Resposta Sexual ou por dor associada com o intercurso sexual. Os transtornos da resposta sexual podem ocorrer em uma ou mais dessas fases descritas acima.

Podemos pensar as disfunções sexuais a partir de dificuldades ao longo do Ciclo de Contato. Os Polsters (2001) apontaram que as pessoas administram sua energia de modo a obter um bom contato com seu ambiente ou para resistir ao contato. Caso seus esforços sejam em vão, entra em cena uma série de sentimentos perturbadores. A partir disso, torna-se necessário redirecionar essa energia por diversos modos que reduzem a possibilidade da interação plena de contato com seu ambiente.

Os mesmos autores assinalam que estar aware significa voltar-se para si mesmo e perceber o que faz, o que sente e deseja. Para tanto a pessoa deve identificar o que acontece consigo. Portanto, a awareness seria a forma de manter-se atualizado com o próprio eu. Focalizar a própria awareness manteria a pessoa absorvida na situação presente.

Zinker (2001) coloca que somos capazes de agir somente quando nosso interesse é investido de energia. Podemos ir à busca daquilo que desejamos quando a awareness está energizada o suficiente, possibilitando um contato claro na fronteira entre o eu e o meio e proporcionando um senso de satisfação, resolução e fechamento. Podemos pensar, então, a energia separada da awareness, gerando dificuldades na relação amorosa. Essa energia bloqueada pode surgir através de sintomas físicos, entendidos como expressão de sentimentos, caracterizando os quadros das disfunções sexuais.

Em seguida, trataremos brevemente de alguns quadros específicos em mulheres, que se encontram incluídos nas disfunções sexuais que mais causam danos à sexualidade pelas implicações que têm nos relacionamentos amorosos vivenciados por elas.

a) Anorgasmia

A característica essencial do Transtorno Orgásmico Feminino, pelo DSM -IV é um atraso ou ausência persistente ou recorrente de orgasmo, após uma fase normal de excitação sexual. Trata-se da queixa sexual feminina mais comum e pode ser mais freqüente nos primeiros anos de atividade sexual.

O DSM–IV reconhece que as causas da anorgasmia são principalmente psicológicas, envolvendo conflitos a respeito da sexualidade, falta de conhecimento do próprio corpo e sensações, dificuldade na intimidade e comunicação do casal. Devem ser investigados problemas clínicos como possíveis causadores, tais como anormalidades na forma da vagina, acidentes que atingem a medula espinhal ou alterações hormonais.

b) Frigidez

A frigidez é classificada pelo DSM- IV como “Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo”. Caracteriza-se pela falta de desejo e de qualquer resposta sexual, Portanto, seria decorrente de uma dificuldade localizada na primeira fase do Ciclo da Resposta Sexual. Neste caso a mulher não consegue atingir a fase de excitação sexual. Essa terminologia tem sido empregada para definir este quadro em mulheres que não demonstram nenhum interesse em sexo ou que ficam completamente "frias" ao toque erótico. Essas mulheres costumam apresentar prejuízo na condição de elaborar fantasias sexuais, assim como falta de desejo para iniciar a atividade sexual. Geralmente, a frigidez resulta da combinação de fatores de categorias diferentes: orgânicos, culturais ou sociais e psicológicos.

c) Vaginismo

De acordo com o DSM –IV o Vaginismo é uma contração não voluntária da musculatura da vagina, que ocorre quando a pessoa imagina que possa vir a ter um ato sexual ou em sua tentativa, impedindo a penetração. A mulher não consegue controlar o movimento de contração, apesar de até querer o ato sexual. Também podem aparecer sinais de pânico, como náuseas, suor excessivo e falta de ar quando a pessoa tenta enfrentar este medo, aproximando-se de seu parceiro.

Segundo o DSM –IV o Vaginismo pode ser conseqüência de uma educação rígida que provocou muitos tabus sexuais, gerando conflitos psicológicos, conseqüência de traumas sexuais (estupro ou abuso sexual) ou de experiências sexuais anteriores que tenham causado sofrimento físico ou culpa. Na medida em que a penetração é buscada, acentua-se a dor e a frustração por não ser bem sucedida. No entanto, a mulher pode manter as outras fases do ciclo sem prejuízo caso não seja tentada ou prevista a penetração. O DSM–IV ainda assinala ser necessário uma investigação para eliminar a suspeita de causas orgânicas, como os desequilíbrios hormonais, nódulos dolorosos ou infecções nos genitais.

Pensando a partir dos mecanismos de evitação de contato, podemos pensar na Retroflexão como pertinente aos casos de Vaginismo. Na medida em que, ao invés de dirigir suas energias para fora, na tentativa de provocar mudanças no meio que satisfaçam suas necessidades a mulher as investe nela mesma. Desta forma, a energia contida não se move para a ação necessária. Segundo os Polsters (2001):

Na retroflexão, a interação com o eu dividido precisa ser reenergizada com consciência, pois o impulso para contatar o outro está seriamente obscurecido. O modo de identificar onde a batalha está ocorrendo é prestar atenção ao comportamento físico do indivíduo. A luta em curso pelo controle do corpo da pessoa fica aparente quando se examina a postura, os gestos ou os movimentos (POLSTERS, 2001, p. 99).

Acreditamos que com os conceitos lançados até agora, poderemos partir ao final de nosso trabalho, onde examinaremos dois casos clínicos nos quais poderemos observar a manifestação do ciúme na sexualidade das clientes e os possíveis significados que este assume.

Olhando para a clínica

Os atendimentos clínicos costumam ser uma chance de apreciarmos como algumas pessoas se mostram com dificuldades de fazer um bom contato, por meio das evitações e bloqueios. Destacaremos nesse capítulo dois atendimentos, nos quais os nomes se mostram alterados, para ilustrarmos o quanto o ciúme pode ser expresso de formas diferenciadas e gerar prejuízos na vida de quem o sente como também a quem é destinado. Traremos os conceitos já trabalhados nos capítulos anteriores, de forma a inseri-los nos casos clínicos.

Sendo o ciúme um sentimento complexo e que possui muitas facetas, costuma ser difícil estabelecer um limiar que separe a manifestação normal da patológica. Podemos pensar em quando o ciúme deixa de ser uma manifestação tolerável? O sofrimento psíquico talvez seja uma medida adequada, embora subjetiva, já que anuncia quando a situação passa a causar mal-estar intenso. As clientes aqui referidas chegaram à terapia com essa queixa e puderam evidenciar os desdobramentos que suas relações tiveram, na medida em que foram pautadas no ciúme.

Destacaremos alguns aspectos já trabalhados anteriormente que nos chamaram mais atenção por terem surgido com maior intensidade nos atendimentos dos casos realizados. São eles:

a) Tensão entre conjugalidade e individualidade
b) Padrão de comportamento do casal
c) Mecanismos de evitação de contato
d) Ciúme e sexualidade: aguça ou inibe?

Para relatar os casos escolhemos situar alguns tópicos que consideramos significativos como: Tempo de atendimento, Queixa inicial, Vida familiar e afetiva, “Recortes” do processo terapêutico e Avaliação do processo terapêutico.

Caso "Vênus"

Nome: Vênus (parceiro amoro: Saturno)

Tempo de atendimento - O atendimento teve início em maio de 2007, e continua até o momento do desenvolvimento de nosso trabalho com 38 sessões realizadas.
Relato breve do caso:

Queixa inicial - Vênus chegou à terapia com a queixa de que a intensidade e importância que seu ciúme assume em seu cotidiano, provocam tamanho sofrimento não apenas em sua vida, mas também na daqueles que a cercam.

Vida familiar e afetiva - Vênus possui 44 anos, é divorciada, com três filhas. Saturno possui 56 anos, é divorciado, com dois filhos. Vênus e Saturno mantêm uma relação de namoro há cerca de três anos em que freqüentam as respectivas casas e possuem bastante liberdade para participar da vida da família do parceiro. Vênus reside com as filhas. Saturno reside só.

“Recortes” do processo terapêutico - No contato com Vênus, pude perceber sua maneira afetuosa de se relacionar. Mostrava-se cuidadosa e preocupada em estar atrapalhando, “roubando” meu tempo, assim como relatava episódios vividos fora da terapia. Alguns deles eram relativos a experiências vividas com sua mãe e o ex-marido. Ambos faziam reforçar a idéia de que Vênus só conseguia despertar interesse no outro por meio de favores e não por seu próprio valor.

Vênus se reprovava por sentir e expressar seu ciúme, não encontrando formas mais “adequadas”, segundo ela. Muitas vezes, se via intrigada por banalidades, mas acabava se machucando (e também ao outro) por conta disso. O ciúme era visto por ela como um recurso para controlar o outro, gerando sentimentos de ambivalência e vergonha. Sofreu traições por parte do ex-marido e iniciou o relacionamento com Saturno, a partir de uma traição do mesmo. Considera-se desprestigiada por conta disso.

O casamento com o pai de suas filhas rendeu diversas traições cometidas pelo ex-marido, além de cenas de depreciação e exposição às quais o ex-marido lhe submetia.

Ele sempre insinuava que Vênus estava num “nível” abaixo dele. Nesse aspecto, o ex-marido atuava da mesma forma como a mãe de Vênus, já que esta escutava que se aproximavam dela por interesse, com se não fosse capaz de ter valor para os outros. Vênus levou para a relação atual, situações inacabadas, mostrando dificuldade em perceber as diferenças com relação ao que foi vivido na relação anterior, ocasionando um desgaste no relacionamento atual e outros desdobramentos prejudiciais.

Vênus parece deixar a situação caminhar de tal forma que seu ciúme fique potencializado. Percebe quando Saturno, de forma precavida, evita participar de situações nas quais ele se veja enciumado. Vênus não se vê capaz de fazer o mesmo. Diz invejar a capacidade do companheiro em se desprender ou não monitorar seus passos e até mesmo, estimulá-la a fazer atividades que justamente poderiam causar ciúme nele. Avalia ser uma forma infantil de reagir, segundo ela como uma “menina mimada”.

Nunes (2006) assinala que a inveja é um sentimento que parece acompanhar o ciúme, na medida em que o ciumento sofre com a capacidade do parceiro despertar algo de positivo nas demais pessoas. Não teria a capacidade de se posicionar diante da vida e de si mesmo de uma forma tão saudável quanto o parceiro.

Partiremos agora para explorar os aspectos mencionados acima e que serão abordados ao longo da evolução dos casos clínicos.

a) Tensão entre conjugalidade e individualidade

Saturno, por muitas vezes, deixa de estar com amigos ou fazer atividades independente de Vênus devido ao seu ciúme. O tempo necessário para dar atenção aos filhos parece ser compreendido por Vênus, mas esta logo questiona Saturno com relação a seu interesse em estar com ela, pois avalia que o namorado não se empenha em “se dividir” o suficiente para também estar ao seu lado. Saturno, por sua vez, não devolve os questionamentos com relação ao tempo que Vênus reserva às filhas ou a qualquer atividade que realize sem o namorado.

O casal parece estar com dificuldade em manejar a individualidade na conjugalidade, na medida em que há um desnível no desejo de querer estar com outros (família, amigos, ou até mesmo só). Vênus considera que é necessário reservar um tempo para suas atividades e também para ficar sozinha, mas não consegue usufruir desses momentos. A rigidez de Vênus chama atenção quando em relação à flexibilidade de Saturno, já que este lida melhor com essas questões.

A expansão da individualidade para homens e mulheres possibilitou diferentes aspirações e projetos de vida para ambos, fazendo coexistir papéis públicos/ privados, gerando conflitos entre o que se vê como atribuição de homens e mulheres dentro do casamento. O que existe é uma pluralidade, diversidade e flexibilidade e não mais o antigo molde de casamento. Ao entrar num relacionamento, o casal contemporâneo buscaria a igualdade. Porém, desenvolver um relacionamento totalmente igualitário torna-se difícil, demandando uma negociação constante e uma conscientização dos papéis de gênero internalizados (FÉRES-CARNEIRO, 1998).

Os aspectos contemporâneos da relação amorosa podem ter relação com o ciúme, na medida em que esses ideais trazem a necessidade de autonomia dos pares. O casal parece não lidar bem com essa demanda. Além disso, a flexibilização do valor moral da fidelidade pode estar interferindo no ciúme de Vênus. Esta coloca que foi traída pelo ex-marido, tendo iniciado sua relação com Saturno a partir de uma traição. Ou seja, ela vê o novo lugar que a cultura oferece para a fidelidade e se angustia com isso, talvez sendo esse um dos sentidos do seu ciúme.

b) Padrão de comportamento do casal

Podemos observar papéis cristalizados neste casal, sendo que Vênus e Saturno se complementam. Estes formam o par controlador e controlado, estando cada um numa posição que traz ganhos e prejuízos. Aquele que se sujeita a viver essa relação sendo alvo de ciúme mantém-se nessa posição por ter algum ganho em “ser controlado” pelo parceiro, apesar de aparentar ir contra a situação. Portanto, é relevante compreender o que representa ser controlado e o que representa controlar, para cada um.

As perdas são claras: mal-estar e sofrimento. No caso de Vênus, os ganhos se referem a fazer a manutenção de ocasiões em que recebe afagos, mimos, se vitimizando e gerando ciúme em Saturno.

Vênus acreditava que compartilhar sentimentos e impressões é algo benéfico dentro da relação, enquanto Saturno parecia evitar compartilhar suas dúvidas e aflições, na medida em que isso colocaria em risco a “estabilidade” do relacionamento.

c) Mecanismos de evitação de contato

Na incapacidade de se realizar um bom contato entram em cena os mecanismos de defesa. Na medida em que estes criam uma cristalização, acarretam danos às relações. Existem vários tipos mecanismos evitação de contato conforme comentamos no capítulo 2, mas estaremos aqui ressaltando aqueles que fazem sentido para este caso.

Em geral, aquele que usa a Retroflexão se culpabiliza e se arrepende do que faz. Isso porque se enxerga inadequado e sem satisfação em suas relações com o meio. Com o propósito de evitar frustração, corrige e revisa várias vezes o que já fez (PERLS, 1988). Vênus não perdoa a si mesma pelo controle e verificação daquilo que possa atestar a infidelidade de Saturno, mas admite ser difícil se conter.
Vênus usa da Projeção como mecanismo, na medida em que mensura as coisas a partir do que ela pensa, sente ou acredita. Acaba distorcendo e se assombrando pelos fantasmas do passado quando permite que as lembranças de seu ex-casamento atuem sobre o relacionamento atual.

Enredados por (re)vivências antigas, que se misturam com as novas, eles não podem perceber suas distorções e contaminações. O que era um engajamento amoroso transforma-se em guerra conjugal, que se faz em torno das vivências de incompreensão, de injustiça e traição, porque não há correspondência entre o concebido e o percebido. Quando o casal depara-se com essas situações, vê-se impedido de transformar a relação (SILVEIRA, 2007, p. 11 ).

Pensando em ver a si mesmo sem valor, podemos pensar a expressão do ciúme associada a alguma forma de medo ou insegurança. Fazendo um paralelo com o que afirmou Gikovate (2006), o ciumento buscaria constante reafirmação de seu próprio valor, tendendo a julgar que não é tão importante e nem amado o suficiente. Com isso, Vênus poderia estar projetando em Saturno seus sentimentos de menos-valia e inferioridade.

Com relação a possíveis Introjeções, Vênus parece perseguir um ideal de relacionamento e não consegue perceber o que há de competências no funcionamento do casal. A experiência vivida na família de origem acaba por influenciar a conduta e crenças dela com relação à união. Era o pai que contornava e abafava os excessos (cobranças) e o autoritarismo da mãe, assim como Saturno faz com Vênus.

O discurso da mãe de Vênus, de que ela só é capaz de atrair a atenção dos demais quando pode fazer algo pelo outro, acaba sendo reproduzido por ela. Na medida em que se esforça demais para fazer pelo outro, acreditando que somente assim será amada. Chega a verbalizar que é assim que tudo deve funcionar.

e) Ciúme e sexualidade: aguça ou inibe?

Nunes (2006) assinala que a necessidade de competir e se pôr à prova seria proveniente da insegurança pessoal, podendo se dirigir, inclusive, para possíveis rivais, o que levaria a uma comparação e uma tentativa de superá-los. Gikovate (2006) é outro autor que associa o aumento do desejo sexual em situação de ciúme à competitividade. A criação de contextos de ciúme teria finalidade de estimular o desejo sexual.

Certa vez, Vênus deixou-se apanhar por Saturno chegando em casa vestida de forma provocante. Divertiu-se ao ver o namorado questionando onde ela tinha ido e mostrando-se desconfiado ao saber que Vênus tinha visitado uma amiga desconhecida por ele. A cena de ciúme do namorado rendeu momentos de prazer para Vênus, fazendo-a sentir que ele a amava e se importava com ela. Posteriormente, o casal aproveitou na intimidade o que a “brincadeira” de Vênus conseguiu provocar, vivendo a relação sexual de forma mais prazerosa e intensa. Portanto, no presente caso o ciúme serviu para aguçar a sexualidade, pois promovia encontros do casal repletos de desejo e vitalidade, após situações em que havia grande expressão de ciúme.

Avaliação da Terapia - Ao longo de nosso trabalho terapêutico, ao falar sobre sua vida no momento, se tornou possível uma tomada de consciência. Vênus percebeu que não precisava mais estar presa àquilo vivido por seus pais. Suas introjeções não precisavam ser determinantes em sua vida, possibilitando romper com paradigmas fortemente embutidos e reforçados pela mãe, tais como “só se aproximam de você por aquilo que você possa fazer pelo outros” ou “você não pode me superar, enquanto mãe”. A partir desta nova compreensão começou a buscar ativamente fazer coisas por ela mesma, para sua própria satisfação, em oposição ao fazer “para” e “pelos” outros, ao avaliar que seus ganhos não compensavam em manter-se nessa posição. Buscou novas possibilidades de viver isso, reconhecendo os ganhos de também poder viver o seu oposto.

Foi possível que se tornasse capaz de determinar seus limites, se respeitando e não mais permitindo que a mãe invadisse sua vida e ditasse regras e a desvalorizasse. Por extensão, houve reflexos nas relações no âmbito profissional, onde antes era extremamente demandada pelos colegas para resolver problemas ou ceder quando ela mesma não estava de acordo. Começou a reagir de forma mais fiel às suas possibilidades e desejos do que às exigências do meio ou à intenção de querer agradar ou ter aprovação dos outros.

A auto-estima mostrou-se mais elevada, permitindo uma valorização de si mesma e o reconhecimento de seus atributos e competências. A própria relação construída entre nós permitiu à Vênus considerar que é possível desenvolver relações baseadas no afeto que ela consegue provocar no outro e não a partir da crença lançada pela mãe e reafirmada pelo ex-marido de que o que está em jogo são interesses. Com isso, experienciar seu ciúme já não era tarefa tão intensa e assustadora como antes, conseguindo se expressar de forma mais satisfatória e sem causar tantos prejuízos para a relação com o namorado. Até mesmo os relatos de situações nas quais experimentou o ciúme começaram a diminuir, na medida em que se permitia viver outras coisas que assumiam maior importância para ela (avanços vividos nas relações familiares, por exemplo).

Vale ressaltar que a terapia ainda está sendo realizada até o desenvolvimento do presente trabalho.

Caso “Ártemis”

Nome: Ártemis (parceiro amoroso:Orion).

Tempo de atendimento - O atendimento durou cerca de 5 meses, no total de 11 sessões. O motivo atribuído à interrupção pela cliente foi dificuldades financeiras, pois estava prestes a se formar na faculdade e seus pais não mais iriam ajudá-la em seus gastos.

Relato breve do caso:

Queixa inicial - Ártemis possui 22 anos, solteira, sem filhos. Ártemis chegou à terapia com a queixa de dificuldades na comunicação com seus pais e amigos. Mostrava-se, segundo ela, impaciente e até mesmo agressiva. Dizia que ninguém a compreendia e desconsideravam seus problemas, a exigindo demais.

Vida familiar e afetiva – Residia com os pais e o irmão mais velho, a quem não eram feitas tantas cobranças pelos pais, segundo a percepção de Ártemis. Apreciava a relação de seus pais, buscando constituir sua família através dessa referência, pois entendia que seria uma forma de assegurar a construção de uma relação feliz e satisfatória. Namorava há cerca de dois anos Orion, 25 anos, solteiro, sem filhos. A relação era permeada pelo ciúme do namorado e conflitos na sexualidade do casal. Ártemis se cosiderava bem sociável, com muitos amigos de quem falava de forma bem afetuosa.

“Recortes” do processo terapêutico – Em nosso contato, Ártemis se mostrava ansiosa ao falar, o que gerava em mim certa dificuldade em acompanhá-la. Talvez a família e amigos pudessem ter a mesma experiência que eu, de achar confuso escutar Ártemis. Estaria ela reproduzindo na terapia aquilo que fazia com os demais? Ao longo das sessões, constatei que sim. Ela tinha dificuldade em ser clara e expor aquilo que realmente interessava a ela, o que complicava a relação com os outros.

Somente ao final da quinta sessão, Ártemis mencionou dificuldades durante a relação sexual com Orion e até mesmo episódios em que teria sido forçada a manter relações com ele, apesar de imensa dor. Até então, contava sobre o ciúme do namorado, mas deixava de lado a sexualidade do casal. Ao falar sobre os sintomas, mencionou sobre uma falta de freqüência às consultas ginecológicas, mas que iria retomá-las para investigar possíveis causas orgânicas do que estava vivendo. Busquei esclarecer para ela que o que relatava me parecia ser um quadro de Vaginismo. Ártemis já havia lido algo a respeito e tinha se identificado.

Na sessão seguinte, era como se não tivesse comunicado nada daquilo a mim, por mais que eu tivesse facilitado para que o assunto voltasse. Após algumas desmarcações e faltas conseguiu retomar a terapia de forma freqüente, abordando outros temas importantes para ela sem retornar ao tema do Vaginismo.

Partiremos agora para explorar os aspectos mencionados acima e que serão abordados ao longo da evolução dos casos clínicos.

a) Tensão entre conjugalidade e individualidade

Orion fazia diversas exigências, a controlando, cerceando sua liberdade, ao ponto de fazer com que passasse por uma mudança radical tanto de postura como de visual. Ártemis foi capaz de alterar o estilo de suas roupas e se adequar ao tempo que poderia ficar ao lado de amigos, imposto pelo namorado. Os desejos e necessidades de Ártemis não conseguiam ser respeitados pelo namorado nem por ela mesma.

A fronteira comum ao casal mostra-se rígida, sendo muito difícil cada um se unir como casal e se separar para exercer suas individualidades. O casal ficou carente de encontros saudáveis, impedindo um bom funcionamento e acarretando dificuldades dentro e fora da relação.

Pensando nos aspectos contemporâneos da relação amorosa, assim como no caso “Vênus”, o casal parece não lidar bem com a demanda de autonomia dos pares, o que poderia estimular o ciúme de Órion. A tentativa de controle de sua namorada poderia representar um efeito da flexibilização do valor moral da fidelidade que vivemos na atualidade.

b) Padrão de comportamento do casal

Barbalho (2005) assinala padrões de comportamento, nos quais se evidenciam estados de submissão e dominação, falta de intimidade, podendo minar a sexualidade. Tais idéias mantêm relação ao que ocorria entre Orion e Ártemis. Esta acreditava que somente da forma imposta pelo namorado é que seria amada. Ártemis era seduzida pelo discurso de que “representava o ar que ele respirava” e para tanto, sentia-se poderosa, mas não poderia falhar ou decepcioná-lo, pela grande responsabilidade que aceitou assumir. Esse era o preço que pagava por manter-se no papel de “controlada” pelo ciúme do namorado.

d) Mecanismos de evitação de contato

Os Polsters (1979) assinalam que as relações baseadas na Confluência são tidas “entre duas pessoas que concordam em não discordar” (p. 95), apesar de uma das partes poder não estar ciente do que está implicado nesse acordo. No caso de Ártemis e Orion encontramos uma relação desse tipo, quando o parceiro atende às exigências do outro, se submetendo ao que este determina e ganhando desse outro uma retribuição para justificar seus esforços, como uma via de mão dupla. O ciúme de Orion o levava a fazer exigências que são cumpridas por Ártemis, que era recompensada, sendo atribuído a ela um poder muito sedutor, assim como já foi mencionado ao falarmos sobre o padrão de comportamento do casal.

Podemos também pensar na Retroflexão como pertinente ao caso em questão, a partir da manifestação de um quadro de Vaginismo desenvolvido por Ártemis.

Na medida em que, ao invés de dirigir suas energias para fora, na tentativa de provocar mudanças no meio que satisfaçam suas necessidades ela as investe nela mesma. Desta forma, a energia contida não se move para a ação necessária e gera considerável estresse. Ártemis era uma jovem com planos para a vida profissional, que gostava de compartilhar momentos com os amigos e sua família. No entanto, acabou por concentrar-se predominantemente em sua relação com Orion que já apresentava entraves há tempos. Ártemis encontrava-se imobilizada sem ter idéia de como poderia ajudar essa relação a se tornar mais satisfatória e já se encontrava afastada dos demais pontos importantes de sua vida.

Os Polsters (1979) apontam que pode ocorrer um desdobramento da Confluência para a Retroflexão. Isso ocorre quando um dos parceiros viola a Confluência, assim como se quebra um contrato. Consumada a transgressão, se sente responsável por punir-se como compensação. O indivíduo pode punir a si mesmo, provocando o isolamento, humilhando-se ou não atribuindo a si valor nenhum. A culpa é um dos sinais de que a confluência foi perturbada. Assim foi vivenciado por Ártemis, na medida em que fez um movimento na busca por maior liberdade e autonomia: voltou a usar roupas que gostava, mas tinham sido censuradas pelo namorado, estar com amigas em atividades sem ele, além de fazer novos amigos. Ao mesmo tempo em que tinha satisfação de poder realizar tudo isso, sentia um mal-estar. É como se o “acordo” antes estabelecido entre o casal tivesse sido quebrado.

Pensando nas introjeções de crenças, valores, atitudes, modos de agir e sentir, encontramos as experiências vividas na fronteira de contato de forma inadequada. Desta forma, parece não haver espaço para que a pessoa reconheça o que é dela mesma (PERLS, 1985). Tendo isso por base, Ártemis não conseguia pensar numa forma particular de se relacionar amorosamente baseada nos próprios desejos e interesses, buscando repetir o modelo dos pais, por considerar uma possibilidade de vida bem satisfatória. Com isso, havia um desgaste para achar um parceiro que proporcionasse a ela tantas vantagens e prazeres, assim como entendia que havia entre seus pais.Nessa busca excessiva, acabava por se envolver com rapazes e obter quase que o oposto do almejado: um companheiro com exigências desmedidas e falta de respeito a seus limites.

d) Ciúme e sexualidade: aguça ou inibe?

As imposições e exigências as quais se deixava submeter em sua relação com Orion, geravam implicações prejudiciais a sua sexualidade. Isso ocorria na medida em que Ártemis vivia uma série de restrições e adaptações ao que estava bom para o outro, sem avaliar seu bem-estar ou suas vontades. Frente às cenas de ciúme do namorado, acatava o que ele desejava e se submetia às suas exigências mesmo que contrariasse a si mesma. O ciúme de Orion exercia um controle sobre Ártemis e foi um fator considerável para o desenvolvimento de um quadro de Vaginismo, o que tornou inviável a prática de relação sexual satisfatória para o casal. A dificuldade que parecia, na concepção de Orion, ser exclusivamente de Ártemis e não do casal, fez com que o ciúme do namorado aumentasse, pois acreditava que ela não estava disposta a ter relação sexual por estar interessada em outra pessoa.

Após uma briga com Orion, é consolada por um antigo e grande amigo. O episódio resultou numa relação sexual entre eles. Ártemis se surpreendeu ao constatar que conseguiu levá-la adiante, tendo muito prazer. O envolvimento com o amigo não teve continuidade, e Ártemis acabou retomando o namoro com Orion.

Uma das questões trabalhadas na terapia era como Ártemis estava lidando com sua vaidade. Percebeu que não tinha mais prazer em cuidar-se, e que não mais aparentava ser uma pessoa feliz e determinada. Começou a sentir profundo mal-estar por isso. Foi então que após quase dois anos vivendo o namoro com Orion, ver abalada sua feminilidade foi a “gota d’água” para mobilizá-la a sair dessa relação que ela mesma começou a avaliar como “doentia”. A partir disso, trazia cada vez mais relatos nos quais ela mesma era priorizada. Anteriormente, não passava uma só sessão sem mencionar Orion e as preocupações que tinha em não poder contrariá-lo. Suas preocupações com essa relação já não eram tão fortes e se desviavam para outros âmbitos de sua vida (profissional, por exemplo). Pouco mais tarde, Ártemis interrompeu a terapia alegando dificuldades financeiras.

No presente caso, o ciúme serviu para inibir a sexualidade na medida em que o casal já não conseguia estabelecer relações sexuais satisfatórias o que, por sua vez fazia aumentar o ciúme de Orion como numa retroalimentação.

Avaliação da Terapia - Ao longo do processo terapêutico Ártemis descobriu maneiras de comunicar-se de forma mais eficiente, sem deixar suas vontades e necessidades de lado. Percebeu o quanto a ansiedade lhe atrapalhava e gerava dificuldade na compreensão daqueles com quem se relacionava. Essa descoberta se iniciou na própria relação terapêutica, quando ela reproduzia a forma confusa e acelerada em expor os problemas e conflitos e despertava em mim também a confusão e distorção daquilo que desejava expressar. Ao perceber que minha compreensão sobre o que me contava não se mostrava precisa, foi capaz de avaliar que não dependia só de mim o entendimento do que ela sentia e precisava. Ela também deveria se empenhar em expressar de forma mais clara e simples seus sentimentos e reflexões. A partir da construção desse vínculo de confiança e sentindo-se acolhida é que Ártemis ampliou para outras relações as formas mais ajustadas de comunicação e percebeu os ganhos disso. Na seqüência, parou de se vitimizar e alegar que seu irmão tinha preferências e facilidades ao se relacionar com os pais e percebeu o quanto ela mesma criava entraves para usufruir daquilo que os pais tinham para oferecer.

Como já foi mencionado, enxergar sua vaidade sendo preterida ao ponto de ter abalada sua feminilidade, provocou em Ártemis uma disposição para investir sua energia de forma mais satisfatória: retomou atividades (cursos, atividade física) que a faziam sentir-se melhor e valorizada, resgatou amigos que estavam afastados e assumiu responsabilidade por aquilo que decidia fazer de sua vida, ao invés de culpar a família por suas dificuldades.


Trabalho na Terapia

A relação terapêutica torna-se importante, pois é nela em que será trabalhada a percepção da cliente com relação à responsabilidade sobre suas escolhas, alcançando dentro de seu próprio tempo e possibilidades, uma atitude mais autônoma e auto-sustentada. A abordagem da Gestalt-terapia é baseada no indivíduo em relação com os demais e não isolado ou destacado de um contexto onde está inserido.

Ao falar de sexualidade não temos como descartar a implicação do companheiro/parceiro nesse contexto. Podemos destacar alguns aspectos que são comuns aos casos que envolvem o tema e que podem ser abordados na prática psicoterápica, lembrando que cada caso é singular e deve ser cuidadosamente conduzido e pensado:

- Trabalhar com o casal, quando possível . Verificar seu funcionamento, observando seus pontos de entrave e ressaltando suas competências.
- Favorecer a comunicação do casal, auxiliando-o a identificar e manifestar suas dúvidas e dificuldades.
- Cuidar para que o casal esteja mais à vontade com a própria sexualidade, reservar mais tempo para a expressão sexual, eliminar as pressões da atuação que podem bloquear o bom andamento da relação.
- Desmistificar as curas milagrosas ou fantasiosas sobre o prazer sexual, proezas sexuais, estimulando expectativas mais realistas. Até porque, o sexo não é perfeito como nos filmes e tem características particulares para cada um.
- O terapeuta deve estar atento para o padrão de relacionamento que se estabelece entre os parceiros, padrão este que pode fazer emergir as disfunções sexuais. Auxiliá-los a perceberem qual é a dinâmica de seus mecanismos de defesas e seus possíveis significados.
- Colaborar no enriquecimento da awareness para que o sistema (casal) funcione de forma mais fluente.

Retomando os casos clínicos, as clientes puderam experimentar a satisfação e o bem-estar obtidos a partir das mudanças geradas quando o equilíbrio é buscado. Foram capazes de fazer contato com elas mesmas e com o mundo, priorizando seus próprios interesses. Enxergando a si próprias, descobrindo suas reais necessidades puderam digerir adequadamente as experiências vividas. A manutenção dos sintomas foi enfraquecida já que puderem escolher modos de agir e sentir mais saudáveis, além do fato das crenças e valores introjetados não terem mais a mesma proporção em suas vidas. A terapia possibilitou que as clientes pudessem fazer escolhas mais adequadas para si, além de promover o autoconhecimento e poder discriminar o que é importante para elas. A partir disso, ganharam disposição para investir no necessário à consolidação de seus projetos de vida.

Observamos diversos aspectos durante os dois atendimentos e buscamos apresentar aqueles que se tornaram destaque para nós, tomando por base a proposta de nosso trabalho. A duração da terapia bem diferenciada em cada caso (somente o segundo se mantém até hoje) foi um fator relevante para reunirmos um material satisfatório. De toda forma, acreditamos que ambas as clientes evoluíram em seus processos, obtiveram ganhos e foram capazes de mudanças importantes.


Considerações finais

Com este trabalho nos foi possível inserir a questão do ciúme no âmbito da sexualidade feminina. Para tanto, buscamos olhar para outras épocas e contextos com o fim de compreendê-lo na atualidade.

A discussão sobre o ciúme nos despertou inquietações, na medida em que o tema é pouco explorado dentro da literatura gestáltica, no entanto, com grande repercussão na clínica. Nossos estudos permitiram verificar o quanto esse sentimento é perturbador quando em níveis elevados, partindo do princípio que os novos papéis atribuídos a homens e mulheres na contemporaneidade fazem com que estes se relacionem amorosamente num contexto que demanda que as fronteiras conjugais sejam flexíveis, mas ocasiona a redução da segurança. Vimos, então, que se torna uma tarefa difícil construir uma relação de confiança. O ciúme nas relações amorosas contemporâneas pode surgir como possibilidade para tentar lidar com a abertura das relações, quando esta gerar angústia e instabilidade.

Ao focalizarmos a tensão entre individualidade e conjugalidade na vida do casal contemporâneo, foi possível verificar que este encerra na sua dinâmica, duas individualidades e uma conjugalidade. Cada casal constrói seu modelo de ser casal, definindo a existência conjugal e determinando seus limites. Observamos que uma grande dificuldade está em conviver com uma conjugalidade e, ao mesmo tempo, formar uma história de vida conjugal a partir de duas percepções do mundo, dois projetos de vida, duas identidades individuais. Concordamos com Zinker (2001) quando este sugere que o casal seja visto como uma terceira entidade, a do relacionamento, diferente de cada um dos cônjuges. Segundo ele, os eventos dentro e entre os sistemas são multidimensionados e os processos não são só lineares, existindo em níveis diferentes.

Ao longo de nosso trabalho, utilizamos alguns conceitos da Gestalt-terapia por ser uma abordagem que se fundamenta a partir da situação existencial do cliente. Procurando auxiliá-lo a ampliar a consciência sobre seu próprio funcionamento, sobre como ele age ou como se bloqueia em sua tentativa para alcançar seu próprio equilíbrio. Desta forma, foi possível verificar que aquilo experienciado dentro da relação amorosa pode estar reverberando na sexualidade e não se trata de algo isolado, como se essa mulher comportasse algo a ser tratado. Esse reflexo pode desencadear os quadros de disfunção sexual. Averiguamos que são inúmeros os fatores que podem colaborar para o surgimento de tais quadros, sendo importante observar com cuidado a dinâmica do sistema conjugal, na qual se destacam aspectos mais saudáveis ou mais patológicos. Identificamos que há casais que desenvolvem patologias complementares, originando pares que representam papéis cristalizados. A apresentação breve de alguns quadros de disfunções sexuais explicou-se pela necessidade de ilustrar o Vaginismo, presente em um dos casos clínicos tratados no capítulo final.

Procuramos ressaltar que a constante indiferenciação caracteriza os relacionamentos doentios, onde os envolvidos na relação apresentam distúrbios de contato. A partir disso, abordamos alguns mecanismos de evitação para pensarmos o ciúme e a sexualidade feminina, na medida em que se mostram de forma disfuncional e cristalizada. Trabalhamos com a Projeção, Confluência, Introjeção e a Retroflexão, buscando possíveis associações entre eles e o que se dá em relações comprometidas pelo ciúme. Com isso nos foi possível perceber que o ciumento pode projetar no parceiro seus sentimentos de menos-valia e inferioridade, na medida em que o ciúme esteja associado a sentimentos de insegurança ou medo. O risco maior é de mensurar as coisas a partir do que se pensa, sente ou acredita e acabar gerando distorções.

Observamos que a Introjeção pode estar presente na medida em que projetamos aquilo que foi por nós “engolido”, sem fazer distinção que aquele conteúdo não é “nosso”. A falta de compreensão disso acarreta mal-estar na medida em que nos submetemos a cumprir ou buscar a qualquer preço algo que não foi elaborado a partir de nossos próprios desejos e necessidades, mas sim do que foi “emprestado” por outros. A Confluência também é possível na medida em que o casal que funciona tendo por base o ciúme, pode estabelecer uma relação pautada numa espécie de acordo implícito, nem sempre claro para ambas as partes. Cada um se submete a não ferir as vontades ou exigências do outro para a manutenção dessa relação. Observamos que a Retroflexão foi bem característica nas circunstâncias em que um sentimento de culpa se fez presente. O mecanismo é decorrente da quebra (realizada pelo parceiro do ciumento) da Confluência ou devido ao arrependimento causado pelos excessos de controle e verificações comuns a alguns ciumentos daquilo que possa atestar a infidelidade do parceiro.

Ao examinarmos dois casos clínicos foi possível verificar a manifestação do ciúme na sexualidade das clientes e os possíveis significados que este assume, podendo aguçar ou inibir a sexualidade do casal. No primeiro caso, verificamos que o ciúme poderia estar relacionado com a competitividade despertada a partir da presença ou suspeita de um rival. Este deveria ser “superado” pelo ciumento. Se tratando da inibição da sexualidade, o ciúme teria um efeito contrário, assim como o segundo caso clínico foi representativo de um tipo de ajustamento neurótico (Retroflexão) por sua associação ao quadro de Vaginismo desenvolvido pela cliente. O quadro teve um simbolismo relativo ao que o ciúme foi capaz de promover negativamente na sexualidade do casal. Na medida em que, ao invés de dirigir suas energias para fora, na tentativa de provocar mudanças no meio que satisfizessem suas necessidades a cliente a investia nela mesma. A energia mostrava-se contida, sem se mover para a ação necessária, gerando considerável estresse.

Foram também assinalados os ganhos obtidos com o processo terapêutico das clientes mencionadas, sinalizando que é possível desenvolver um trabalho satisfatório frente a questões tão complexas e intensas. Tornou-se possível às clientes reverem seus projetos e repensarem as formas como suas vidas são direcionadas, sem preterirem seus desejos e necessidades em prol de buscar agradar o meio e dele receber aprovação.

Esperamos, com esse trabalho, contribuir com a ampliação da produção de conhecimentos e reflexões. Além de estimular o desenvolvimento de mais material como forma de enriquecer o estudo sobre o ciúme, sentimento que pode mostrar-se tão poderoso e destrutivo nas diversas relações caso atinja níveis consideráveis, tendo aqui apontado que suas expressões estão presentes amplamente no âmbito amoroso.


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Endereço para correspondência


Bruna Cabral Vianna Pinto

E-mail: brunacabrallvp@yahoo.com.br


Recebido em: 11/09/2009
Aprovado em: 07/12/2009