Pela
semente, pelo fruto, pela planta, nossa gratidão...
Artigo escrito por Lílian Meyer Frazão na ocasião do falecimento
da Gestalt-Terapeuta Thérèse A. Tellegen.
Lílian Meyer Frazão
Em 2 de
julho passado perdemos uma grande amiga e companheira: Pioneira em muitas coisas,
ela soube pacientemente semear, regar, esperar crescer, brigar com e pelas ervas
daninhas, aguardar o fruto, saboreá-lo, ver novas sementes se espalharem
formando um ciclo vital que a transcendeu...
Lembro dela arrancando de seu jardim em Boiçucanga o mato, as ervas daninhas.
Sempre preocupada que as plantas, as árvores, a grama, pudessem crescer.
Do seu jardim ela se orgulhava em dizer que a grama era mato catado na praia,
e mato cuidado virava grama. Creio que esta imagem a descreve bem: uma batalhadora
incansável.
Sua marca foi sempre o pioneirismo: formada em história em 1952 na Holanda
conheceu, ainda na Universidade, o movimento do Graal: um movimento religioso
leigo de mulheres que enfatizava a nível de intercâmbio internacional,
o papel da mulher na sociedade. Preparava-se para ir à África
trabalhar com mulheres de língua inglesa quando, atendendo a um apelo
do grupo brasileiro, veio coordenar o Centro de Estudos do Graal em São
Paulo, em 1956.
Aqui chegando apaixonou-se por nossa terra, nossa gente, nossas coisas, estabelecendo-se
para sempre entre nós.
O seu interesse pela Psicologia despertou aqui e cursou a PUC tendo se formado
em 1964.
Seu espírito irrequieto levou-a sempre a procurar o novo: fez estágio
em Paris para aperfeiçoar-se em grupos, participou do 1º grupo brasileiro
a fazer formação em Psicodrama; trabalhou em orientação
vocacional, em hospitais (Santa Casa e Hospital do Servidor Público de
São Paulo): foi diretora da clínica psicológica da PUC
de Campinas; fundou e trabalhou intensamente no GEPSA (Grupo de Estudos de Psicologia
Social e Aplicada); foi professora da PUC de Campinas, da Santa Casa, da USP
e do Sedes Sapientiae.
Em 1972 voltou encantada de Londres onde teve seu primeiro contato com a Gestalt-Terapia.
1973... pelos corredores da USP lá ia ela com um quadro de Ugarte debaixo
do braço iniciar uma aula.
Seus olhos azuis brilhantes, seu entusiasmo, sua energia me cativaram, e deste
primeiro contato nasceu uma amizade profunda, um companheirismo de vida.
1973... a vinda da primeira Gestalt-Terapeuta ao Brasil. Iniciativa sua. Apenas
o início de alguma coisa que ela jamais abandonaria. O que era Gestalt-Terapia
naquela época? Ninguém sabia. Era o novo, o diferente.
Sem dúvida foram seus esforços, seu espírito inovador e
batalhador que abriram portas e caminhos para a Gestalt-Terapia no Brasil.
Em 1976 fez uma primeira tentativa de dar um curso de Gestalt-Terapia no Sedes,
dentro do curso de Reich e Gestalt, juntamente com Tessy Hantschel, sua grande
amiga e companheira.
Posteriormente, em 1980, juntamente com Abel, Jean e comigo, passamos a dar
o Curso de Formação em Gestalt-Terapia novamente no Sedes, cujas
portas sempre se abriram ao novo e em 1981 fundamos o Centro de Estudos de Gestalt
de São Paulo.
Seu encanto, sua fé, sua irreverência, sua integridade pessoal,
seu pioneirismo, sua constante escolha pelo caminho do coração
não se revelaram apenas no seu trabalho. Conheceu e amou intensamente
Ugarte, seu companheiro de vida. Teve amigos os mais variados: poetas, pintores,
psicólogos, padres, caiçaras, funcionários... Onde quer
que tenha ido semeou, plantou, saboreou e dividiu frutos.
Por tudo isso amiga, pelo seu jeito alegre, simples de viver, nossa gratidão.