ARTIGO
Gestalt-Terapia: Metodológica da Atualização
- Performática improvisativa da performação figura e fundo,
performática da forma, performática da ação, do
contato, performática da atualização.
Gestalt-Therapy: update methodologic - improvising performatics of the performation image and canvas, shape performatic, action performatic, of contact, update performatic.
Afonso Henrique Lisboa da Fonseca
Escola Experimental de Psicologia Fenomenológico Existêncial, Alagoas, Brasil
Resumo
A questão central da Gestalt-Terapia é a questão da 'ação'
('Contato'). Entendendo-nos como seres eminentemente ativos, a metodologia e
a ética da Gestal'terapia se direcionam para a experimentação
da ação, para a experimentação da atividade da atualidade
existencial do cliente, a partir de sua própria avaliação
organísmica, e de seu próprio interêsse e excitação,
no interêsse e excitação da pontualidade da dialógica
inter humana com o gestatal'terapeuta. É a performance da ação
como processo de performação de figura e fundo, dado, em seus
momentos, ao nível da compreeensão, ao nível do modo compreensivo
e estésico, estético, de sermos, que permite a criação
e a superação. De modo que a metodológica da Gestal'terapia
caracteriza-se pelo privilegiamento de um performática da ação,
a partir da própria estética da auto regulação organísmica
do cliente. Caracteriza-se, assim, como o privilegiamento da dialógica
inter-humana entre o terapeuta e o cliente, e como uma estética performática
da ação.
Palavra–chave: Gestalt; Processo de formação
de figura e fundo; Dialógica; Inter Humano; Estésico; Estética;
Performance; Perfeição.
Abstract
The central issue in Gestalt-Therapy is the issue of action ('Contact'). Understanding
ourselves as eminently active beings, the methodology and the ethics oof Gestal'therapy
is directed toward the experimentation of action, toward the experimentation
of the activity of the existential actuality of the client, from his own organismic
evaluation, and from his own interest an excitation, in the interest and excitation
in the punctuality of the inter human dialogic with the gestal'therapist. It
is the performance of action as process of performation of figure and ground,
given, in its moments, in the level of comprehension, in the level of the our
comprehensive, estesic, esthethic, way of being which permits creation and superation.
The methodological of Gestal'therapy thus is caracterized by the priviledging
of a performatic of action, from the esthetics of the organismic self regulation
of the client. It is caracterized though as the priviledge of the dialogic between
therap ist an client, and as a performatic aesthetics of action.
Keywords: Gestalt; Process of formation of figure an ground;
Dialogics; Inter Human; Aestesic; Aestethic; Performance; Perfection.
O
logos metódico da Gestalt-Terapia é o da criação
de condições inter humanas, por parte do gestalt-terapeuta, na
relação com o cliente, para a potencialização do
retorno, e para o desenvolvimento da habitualidade do retorno, por parte do
cliente, ao modo de sermos da ação, da atualização
de possibilidades. Criação de condições, por parte
do terapeuta, para a potencialização do retorno do cliente ao
improvisativo modo per-form-ático da ação,
da potência, e da ação, do contato, da atualização,
da interpretação fenomenológico existencial.
Ou seja, o logos metódico da Gestalt-Terapia se centra na criação
de condições para a recuperação, e para o desenvolvimento
da habitualidade, na vida do cliente, da alternância,
natural e organísmica, entre (1), de um lado, os modos de sermos
da não ação, do não contato; modos de sermos
não atualizantes (como o modo reflexivo e o modo comportamental
de sermos da não ação e do não contato);
e (2) do outro lado, o nosso modo ativo de sermos,
nosso atualizante, modo contactante, que é,
essencialmente, fenomenológica e existencialmente form-ativo;
no sentido do processo psicológico compreensivo (nunca explicativo),
vivencial, da formação compreensiva de figura e fundo. Modo de
sermos eminente e especificamente performativo,
performático e atualizante.
Para entendermos o logos metódico da Gestalt-Terapia, necessitamos,
pois, de uma clareza da concepção de Contato. Em especial
de Contato como característica da Ação.
E necessitamos de uma clareza da concepção de Ação,
como desdobramento e atualização experimentais*
de possibilidades. Inerentes, estas possibilidades, à vivência
do modo fenomenológico existencial de sermos. Necessitamos de uma clareza
de compreensão deste nosso processo da Ação e
do Contato, como processo de formação de figura e
fundo. Como um processo fenomenológico existencial, eminentemente
ativo; em que a forma emerge, e se forma, a partir da vivência
de possibilidades características, que impregnam a vivência, de
nosso modo fenomenológico existencial de sermos.
E, para entendermos o logos metódico da Gestalt-Terapia, precisamos
entender a performance como o próprio processo
performativo fenomenológico existencial de atualização
de possibilidades. Um processamento sempre, eminentemente e especificamente
ativo, e compreensivamente vivido; eventualmente motor.
Através do qual, a partir da vivência de suas potências,
as possibilidades, vividas fenomenológico existencialmente, transitam
de um estado de pré-compreensão, para se constituir compreensivamente:
(a) meramente como compreensão. Ou seja, de modo meramente
compreensivo de sermos; ou
(b) na ação compreensivamente motora, ação
inextrincavelmente compreensiva e motora; ambas especificamente fenomenológicas
e existenciais, naturalmente.
O Contato é característica de precisão qualitativa
e expressiva da Ação.
É a qualidade da ação que tangencia efetiva, e otimamente,
e se anima, das emergências e desdobramentos vivenciais, fenomenológico
existenciais, das potências da possibilidade vivida. E que, ação,
efetivamente, portanto, toca, inovativa e potentemente (encantadoramente),
a dimensão do mundo, das coisas, da vida: dos modos de ser,
acontecidos, coisi-ficados. Quer dizer, o contato é característica
da ação, que transita da potência do possível à
dimensão das coisas, da vida, e modos de ser acontecidos de um modo esteticamente
inovativo —, engendrando e criando o novo, a novidade.
O Contato se caracteriza, assim, na vivência fenomenológica, estésica,
estética, como o tangenciamento compreensivo ótimo
da possibilidade e de seu desdobramento. Tangenciamento que permite
e potencializa a sua ótima expressão estética
na ação.
Eminente e especificamente compreensiva, a Ação
se dá, desta forma, como a atualização de possibilidades
especificamente compreensiva que se constitui originariamente, e esteticamente,
como processo de formação de figura e fundo fenomenológica
e existencialmente vivido. Constitui-se, desta forma a ação,
como o processo fenomenológico existencial de atualização,
de desdobramento, da potência de possibilidades.
No modo fenomenológico existencial de sermos, a possibilidade
nos é dada, anteriormente à sua plena apreensão compreensiva,
como pré-compreensão.
A partir desta condição de pré-compreensão,
a partir de sua própria força, de sua própria potência
como possi-bilidade, a possibilidade fenomenológica existencialmente
vivida, fenomenologicamente, vivencialmente, se desdobra, se atualiza
— sempre de modos pré-compreensivos, e progressivamente
compreensivos, vivenciais, fenomenológicos, existenciais.
Desdobra-se vivencialmente, assim, a possibilidade vivida, em ação,
atualização, mais ou menos contactantes.
Ação, Cont-ato. Que podem se dar, assim, como
observamos, como ação e como contato:
(1) meramente ao nível da compreensão,
minimamente motores: meramente compreensivos, assim;
ou
(2) que podem se dar, se desdobrar, ao nível da ação,
atualização, contato,
compreensivos e motores.
Performance
Todo este per-curso vivencial, fenomenológico,
e existencial, "subjetivamente" vivido, da atualização
— atualização meramente compreensiva, ou compreensiva
e motora —, todo este processo da ação, e do contato,
é o que podemos chamar de Performance. Per-cursar
vivido, mais, ou menos, vívido vivido, fenomenológico existencial;
psicológico, nesse sentido.
É, assim, um per-curso vivenciado — a performance
—, que parte da vivência da pré-compreensão da
possibilidade — da vivência da pré-compreensão
da pré-forma, e pré-formação
compreensivas da possibilidade; da pré-formação
da forma, da pré-compreensão
—, e direciona-se no sentido da compreensão,
da vivência compreensiva, da
ação. Do desdobramento compreensivo da possibilidade.
Que pode se dar de um modo meramente compreensivo,
ou de um modo compreensivo e motor.
Todo o processo — todo ele, pré-compreensivo,
e sequencialmente compreensivo, e eventualmente motor
—, é o que podemos entender como, e chamar, de performance.
Performance aí entendida, naturalmente, específica
e inteiramente, como, e do ponto de vista, da vivência fenomenológico
existencial — "subjetiva". E, naturalmente, entendida,
aí, sem nenhuma conotação quantitativa, ou de eficiência.
Mas especificamente do ponto de vista fenomenológico existencial qualitativo,
poiético.
De modo que a ação, a atualização,
o contato, são especificamente performáticos,
neste sentido vivencial; própria e especificamente fenomenológico
existencial. Sentido, vivencial, no qual a forma ativa, a atividade
da formação, se constituem, em emergência compreensiva,
a partir de um fundo pré-compreensivo. Neste sentido, a performance
pode ter qualidades de uma performance meramente fenomenológica existencial
compreensiva, ou pode ter qualidades de uma performance que, simultânea
e sinergicamente, é fenomenológica e existencial,
compreensiva e motora... Sempre improvisativa.
Eminente e especificamente performáticos e improvisativos, neste sentido,
a atualização, a ação, o contato
—, a vivência metodológica da Gestalt-Terapia é, portanto,
específica e eminentemente, performática, per-form-ativa,
im-pro-vis-ativa.
Na medida em que, o que interessa do cliente é a performance da atualização
das possibilidades que lhe são emergentes, ativas, presentes e atuais
na pontualidade dos momentos de sua atualidade existencial: a ação,
o contato, como performance do desdobramento,
da atualização compreensiva, ou
compreensiva e motora, das possibilidades que lhe
são emergentes.
Daí que se constitui a metodologia da Gestalt-Terapia como uma Teatralização
performática das possibilidades emergentes como atualidade e atualização
fenomenológicas existenciais do cliente.
Num momento, e para um, é a dor de uma perda específica; para
outro é a configuração da insatisfação; para
outro é a saudade; para outro é a tristeza; para outro é
o desespero desvairado; para outro é o desespero manso; para outro é
a dúvida, a incerteza, a vivência de finitudes, a vivência
do sem saída...
Condições
metodológicas em Gestalt-Terapia para a potencialização
da performance da atualização, da ação,
do contato
Performática, fenomenológico existencial,
por definição —, a partir das pulsões e
prepotências de suas próprias possibilidades atuais
—, a vivência do cliente da Gestalt-Terapia tem como potencializadoras
a disposição per formaativa, a performance relacional,
dialógica, e igualmente vivida e fenomenológico existencial,
de um gestalt-terapeuta fenomenológico existencial e, igualmente, performático.
Para tal, e como tal, desta forma, em seu desempenho metodológico, na
dialógica inter humana de sua relação
com o cliente, o gestalt-terapeuta privilegia o modo de sermos eminente e especificamente
empírico, experimental,
e poiético — num sentido fenomenológico
existencial. Processo que se dá e desdobra de um modo eminente e especificamente
improvisativo, na pontualidade dialógica do encontro inter humano
com o cliente.
Assim, o gestalt-terapeuta privilegia a sua relação
inter humana (Buber, 1982) com o cliente, a partir de uma disposição
fenomenológico existencial empírica e
experimental. Disposição que privilegia, portanto,
a prêt-potência e desdobramento, pré-teórico,
pré-reflexivo, do possível, fenomenológico existencialmente
presentes, tanto como vivência sua, como enquanto a vivência do
cliente. E como dialógica entre ambos.
Só assim o terapeuta pode sugerir ao cliente que privilegie, no âmbito
de seu trabalho psicológico, a vivência de seu modo fenomenológico
existencial de ser. De modo que ele permita e privilegie a vivência da
emergência, e do desdobramento, das possibilidades ativas em sua atualidade,
e a atualização, fenomenológico existencial; os seus processos
de atualização, meramente
compreensivos, ou compreensivos e
motores, e os seus processos de superação.
Só assim ele pode sugerir ao cliente uma disposição que
é fenomenológica existencial empírica, experimental,
e poiética, com relação às possibilidades presentes
na vivência fenomenológica de sua atualidade existencial. Só
assim o terapeuta pode acompanhar e interagir de um modo interativa e inter-humanamente
dialógico, empírico, experimental, provocativo, e poético,
com o cliente.
De modo que podemos entender que — da mesma forma que se preconiza a vivência
de um modo fenomenológico existencial performático da ação
e do contato para o cliente, na dialógica de sua inter humana inter
ação com o terapeuta, em Gestalt-Terapia —, preconiza-se
uma idêntica disposição para o gestalt-terapeuta, na vivência
do logos metódico da abordagem.
É importante entender que esta disposição é
empírica e experimental, num sentido especificamente fenomenológico
existencial, além do que poiética, e inter humanamente dialógica.
E é importante entender, naturalmente, o que isto significa.
Como observamos, a Atualização — dimensão
humana fundamental para a concepção e método das abordagens
fenomenológico existenciais de psicologia e psicoterapia, notadamente
a Gestalt-Terapia e a Abordagem Rogeriana —, a atualização
se refere à ação propriamente dita. Ou seja,
ao ato, que é, especificamente, como observamos, a vivência
fenomenológico existencial de possibilidades, e do seu desdobramento
performático.
Atualidade se refere, portanto, a aquilo que é ato,
atual. Ação, atualização.
Atualidade é a qualidade daquilo que é ato.
Ou seja, a vivência que é vivência de possibilidade, e vivência
do desdobramento de possibilidade, fenomenológico existencialmente vividas.
De modo que, quando falamos de atualidade, não nos referimos
a um recorte de tempo cronométrico — que é a dimensão
do tempo coisificado, mecânico, calculativo... Com atualidade,
referimo-nos à própria vivência fenomenológico existencial
da temporalidade própria e especificamente inerente à
ação. Ou seja, inerente e específica à atualização.
A temporalidade vivencial, fenomenológico existencial, inerente e específica,
que a atualização da possibilidade em questão, sua vivência
e desdobramento, instauram e determinam.
Da mesma forma, quando falamos de Presente, também não
nos referimos a um recorte de tempo cronométrico. Mas, especificamente,
a este modo de sermos que instala e desdobra uma temporalidade própria
e específica, singular e intransferível. A temporalidade da vivência
da possibilidade e da vivência de seu desdobramento. Vivências que
se dão especificamente como ação. Que são
ato-ais, atuais, portanto. O presente, na verdade, é
um modo de sermos. Um modo característico da vivência da ação.
Atual, portanto.
O termo Pres-ente se refere ao modo 'não coisa' de sermos
— refere-se, especificamente, ao modo fenomenológico e existencial,
dialógico, de sermos. Impregnado este da vivência pré-compreensiva,
e compreensiva, de possibilidades, e de seus desdobramentos em ação,
atualização...
O Presente se refere, portanto, ao nosso modo atu-al de sermos,
a nossa atu-alidade à ação, que é especificamente
fenomenológico existencial, e dialógica. O presente,
o nosso modo, portanto, de sermos presentes, atuais, não
é da ordem da coisidade, não é da ordem da realidade, não
é da ordem das relações de causalidade, nem da ordem das
relações sujeito objeto, não é da ordem da utilidade;
e não é, portanto, da ordem do prático, nem da ordem do
pragmático.
O presente, a atualidade, é empírico, não
teorético, num sentido fenomenológico existencial. Nem é
comportamental.
O presente se caracteriza especificamente, também, como experimental.
Que é a aquiescência, e ativa cumplicidade, com a
implicação inerente a sua vivência e desdobramento,
como desdobramento da atualização de possibilidade vivida, como
desdobramento da ação. A afirmação da afirmação,
como diria Nietzsche.
Poiético
No caso da Gestalt-Terapia, e das abordagens fenomenológico existenciais
de psicologia e de psicoterapia, é fundamental a consideração
pelo modo poiético de sermos.
Desde Aristóteles, temos a considerar os modos teórico,
prático e poiético de sermos.
O modo poiético de sermos diz respeito ao modo de sermos da
produção criativa. A partir da vivência fenomenal de possibilidades,
e de seus desdobramentos na ação; através do processo da
vivência e atualização de possibilidades, através
do processo da ação, do contato. Os modos teórico
e prático de sermos dizem respeito a um rompimento da imediaticidade,
e da implicação fenomenológico existencial, inerentes
à vivência do modo poiético de sermos. Pré-reflexivo,
pré-conceitual. Vivido, fenomenológico.
Na pontualidade da vivência, potencialmente ativa, de nosso modo fenomenológico
existencial de sermos, estamos, de imediato implicados. Somos cúmplices,
de nossas possibilidades e de nossos devires, de nossas possibilidades e possibilitações.
De nossas possibilidades e atualizações.
Não ‘temos’ possibilidades e devires: somos possibilidades
e devires. Ontologicamente, fenomenológico existencialmente, somos cúmplices,
'cumplicados', implicados, em nossas possibilidades e devires.
Podemos nos negar, mas, ontologicamente, somos e devimos assim. Daí que
a existência, como observou Nietzsche, pode se dizer ser aquilo que
se auto supera indefinidamente. Condição que não nos
ocorre em nossos modos teorético, e prático
de sermos.
O modo teórico de sermos — reflexivo, conceitual,
explicativo — se caracteriza maiormente pela ruptura desta implicação,
pela ruptura da imediaticidade desta implicação compreensiva com
a possibilidade, que é característica da pontualidade momentânea
de nosso modo vivencial, fenomenológico existencial, dialógico,
de sermos. No caso do nosso modo teorético de sermos esta ruptura é
ex-plicativa, é a ex-plicação; diversa
da implicação, cum-plicação, vivenciais
características da vivência fenomenológico existencial de
nossas possibilidades e possibilitações, características
do modo de sermos de nossa atualidade e de nossa atualização.
A explicação pode se construir como mediação
conceitual, re-flexiva, teorizante. Que se origina especificamente do afastamento
do vivido, e pela re-flexão sobre os resultados poiéticos da atualização
vivencial.
Rompida assim a imediaticidade da im-plicação com vivência
de possibilidade e com o seu desdobramento na ação, rompida esta
cum-plicidade com a potência do possível e com a sua atualização,
pode se constituir e se dar a ex-plicação, a re-flexão,
agora teóricas. Impotentes, podemos dizer. Importantes em seus momentos
próprios, mas que não podem substituir a precedência e a
importância ontológicas da imediaticidade e implicatividade
características da vivência poiética, do vivido fenomenológico
existencial, caracteristicamente prenhe de possibilidades e de atualização,
de possibilidades de superação.
Freud não explica? Numa abordagem fenomenológico existencial
não se explica nada. Nosso interesse é o que acontece como e ao
nível da vivência fenomenológico existencial, que é
da ordem da implicação compreensiva com o possível,
com a ação e seus desdobramentos.
O prático, o modo prático de sermos, se caracteriza,
também, por uma ruptura com esta implicação,
cum-plicação, compreensiva com a possibilidade pontualmente
vivida em nosso modo fenomenológico existencial de sermos, com a ação
com a atualização. O vivido fenomenológico existencial
dialógico, que é vivência de possibilidade e de ação,
atualização, dá-se em um modo de sermos que não
o modo de ser das relações de causa e efeito, da dicotomização
sujeito-objeto, e está igualmente fora do moído de sermos das
relações de utilidade, e da funcionalidade com o acontecido.
A ação, a atualização são
poiéticas. Nem teoréticas nem práticas. E se caracterizam
pela vivência presencial e implicativa da possibilidade e de seus desdobramentos.
Ainda que tenham originalidade e força estética e criativa, ainda
que revolucionem o acontecido, não têm o compromisso com a utilidade
ou com a funcionalidade, que é característico do prático,
ou do pragmático.
Assim, ao contrário, podemos dizer que a ação, a atualização,
o processo da atualização de possibilidades, são característica
e eminentemente despropositados, gratuitos, disfuncionais, inúteis, mais
ou menos inconvenientes, em seus processos produtivos, poiéticos. Ainda
que impregnados do gozo da atualização, e das forças estéticas
de sua originalidade. Que implicam sempre a superação das aporias
da finitude do acontecido.
Assim, o modo prático de sermos está pautado pela utilidade
e pela ação funcional, em relação ao princípio
de sobrevivência. Enquanto que o modo poiético de sermos não
é da ordem do uso e da utilidade. Orienta-se pela superação,
e não pela conservação. Da mesma forma que não é
da ordem da dicotomização sujeito-objeto, da ordem da causalidade,
nem mesmo da ordem da realidade — na medida em que é específica
e eminentemente da ordem do possível e da possibilidade;
e da atualização — da realização,
e não da realidade...
Dialógico
A abertura para o dialógico, o privilégio da dialogicidade,
“fazem parte do DNA da Gestalt-Terapia”, a partir das influências
diretas da Filosofia do Diálogo e do Dialógico,
de Martin Buber.
O dialógico se refere ao modo ontológico de sermos, o
modo fenomenológico existencial, e de atualização de possibilidades.
A este modo Buber designou de Eu-Tu. E é o modo de sermos alternativo
ao modo de sermos Eu-Isso, característico da vida e do mundo
coisificados, da objetualidade, do uso, e da causalidade, da factualidade.
Pois bem, o modo Eu-Tu, dialógico, de sermos envolve
a possibilidade, da relação dialógica, Eu-Tu:
(1) com a natureza não humana;
(2) na esfera da relação com os seres humanos; e
(3) na esfera da relação com o sagrado.
O modo de sermos da relação Eu-Tu pode se dar na relação
com um outro humano, com um outro de natureza não humana, ou na relação
com o sagrado, ou pode se dar na relação com a outridade
do si mesmo, como a alteridade em nós do Ser, como fonte de
possibilidades. Em todos os casos, a relação dia-lógica,
a relação Eu-Tu, se constitui como um âmbito
(dia) de sentido (logos) compartilhado. Que, ainda que seja de
ordem vivencial, fenomenológico existencial, e não envolva a dicotomização
sujeito-objeto, o uso e a utilidade, e a causalidade, se constitui como uma
tensão da relação com a alteridade de um Tu.
Este âmbito de sentido, compreensivamente compartilhado, se constitui
como o dia-logos. Na esfera do humano chamamos a relação
que se constitui como dialógica inter humana de esfera inter
humana do dialógico, ou da relação Eu-Tu.
Todo o processo da ação, da atualização, é
dialógico.
O dialógico se dá como vivência fenomenológico existencial,
que traz, em si, a vivência da implicação com a alteridade
do possível, que é um tu, e com o seu natural desdobramento.
Toda vivência e atualização vivencial de possibilidades
são assim dialógicas, na medida em que envolvem a constituição
de um âmbito de vivência, de sentido compartilhado, com uma alteridade.
Caracteristicamente, os momentos da vivência da Gestalt-Terapia são
momentos da vivência da implicação com a alteridade de possibilidades
e seus desdobramentos, que se constituem no modo fenomenológico existencial,
compreensivo, de sermos. No vivencial, vivemos os outros e as nossas questões
como possibilidades, como tus, que atualizamos na sua expressão,
atualização. O outro é sempre um possível,
um tu. Podemos vivenciá-lo comportamentalmente, podemos vivenciá-lo
conceitualmente, como acontecido. Ou podemos atualizá-lo, quando
o vivenciamos atualmente em sua presença, ou seja, em seu modo de ser
de pré-coisa, em nosso modo fenomenológico existencial, dialógico,
de ser.
Fontes seminais das atitudes de criação de condições
para a potencialização da performance atualizativa por
parte do cliente e do gestalt-terapeuta na interação gestáltica
Como dissemos no início, o sentido metodológico da Gestalt-Terapia,
de uma abordagem fenomenológico existencial de psicologia e de psicoterapia
(e isto vale para a Abordagem Rogeriana), é o da criação
de condições, para o cliente, para a potencialização
de sua performação, de sua performance atualizativa fenomenológico
existencial, no sentido do processo ontológico de sua regeneração
fenomenológico existencial e auto superação.
Essas condições, que se cristalizaram como concepção
e método da Gestalt-Terapia, e, em geral, da psicologia e psicoterapia
fenomenológico existencial, vêm de uma longa tradição
no desenvolvimento da Civilização Ocidental. De um modo certamente
arbitrário, podemos remontá-la aos Gregos pré-socráticos,
aos médicos hipocráticos, em seu privilégio do corpo, do
vivido e dos sentidos; e em sua busca do privilégio de um certo empirismo.
Esta tradição passa certamente por um certo Aristóteles.
Aquele que se dedicou à constituição de uma metodologia
de estudo da consciência a partir da mesma metodologia das ciências
naturais.
Ou seja, uma metodologia empírica; um empirismo da consciência.
A abordagem da consciência em sua própria vivência, e não
a partir de premissas teoréticas... ou práticas...
Com isso, Aristóteles cria a Fenomenologia (da tradição
dita de Brentano).
Brentano resgata Aristóteles, e cria e desenvolve a sua tradição
da Fenomenologia moderna. Nietzsche resgata a perspectiva de valorização
do corpo, do vivido, e dos sentidos, dos pré-socráticos, como
perspectiva de afirmação existencial, de atualização,
auto-superação, e criação.
Em certos sentidos importantes, o Expressionismo assume essa perspectiva
da vivência e afirmação da vivência fenomenoativa
existencial como estilo de elaboração e de produção
artísticas. De um modo específica e característicamente
performáticos.
Por influência de todas essas vias se constitui o essencial das concepções
e método das psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais.
Em especial da Gestalt-Terapia e da Abordagem Rogeriana.
Perls
Com toda a sua atitude expressivamente vagabunda, Perls foi, sem dúvida,
tão genial quanto ele pensava ser. Conectou mundos, mentalidades. O incrível
mundo artístico, cultural e científico de Berlin do início
do Século XX ao início dos anos 30 (a Berlin anterior à
primeira e segunda guerras) —, com Nova York dos anos 50 e 60, com a Flórida,
com San Francisco, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Fortaleza, Paris,
Barcelona, Madri... E o resto do mundo.
E o que trazia Perls da experiência européia? Dos momentos alegres
e geniais, e dos momentos da experiência da desagregação
e do terror?
Um sentido profundo de que vida é facilmente desperdiçada
de um modo tolo. Um sentido profundo e radical de que a vida não é
para ser desperdiçada... E, seguindo a Dilthey, a Buber, a Nietzsche,
ao Expressionismo..., vida, para ele, era a vida efetivamente vivida
como atualidade e presença; vivência
originária de consciência, pré-reflexiva, pré-conceitual,
nada tendo de prática e pragmática, prenhe de possibilidades,
de possibilidades de ação, e de atualização. De
criação.
Parecia trazer gravadas na testa as consignas do Expressionismo. E do outro
Fritz (o Nietzsche): a verdade não é teórica; existência
não tem dentro. (...) Pois vamos lá, experimenta-te, mas não
quero ouvir falar de outra verdade que não seja autorizada pela experiência...
Qualquer problema humano só pode ter uma solução experimentalmente...
Perls trazia profundamente marcado o sentido experimental do perspectivismo
nietzscheano, que era uma marca do Expressionismo e do meio intelectual
e artístico da Berlin daquela época. Além do mais, é
como se tivesse gritado alto e em bom som para Freud e os psicanalistas: Para
o inferno com todas as explicações!!! Podem ficar com todas elas,
ou ir juntos!!!
Fritz Perls adquiriu o sentido profundo de que, comparadas com a compreensão
característica do vivido fenomenológico existencial, impregnado
de possibilidade, de potência de ação, e atualização,
de criação, as explicações são apenas
uma casca vazia, como diria Fink. Fritz obteve o sentido profundo de
que não havia ponte entre a explicação e a compreensão
(como disse Tkuan Soho, o mestre zen de Musashi, não existe explicação
que possa levar à compreensão...). E que o poder da compreensão
só poderia se dar por evidência direta, na primeira pessoa, e pelo
risco vivencial empírico da experimentação fenomenológico
existencial (como dizia o professor e amigo, o suave e sorridente Kaniki Sato,
é difícil explicar a uma pessoa o gosto de sardinha, né?
Mas dá uma sardinha para a pessoa comer. E nunca mais ela esquece o gosto...).
Este prazer pelo risco do desdobramento da possibilidade, da potência,
fenomenológico existencialmente vivida, na atualização,
na ação, este prazer pelo risco da tentação, da
tentatividade, de uma empírica da compreensão, e pela atualização
experimental, esta apuração de uma perícia fenomenológico
existencial afirmativa, que já era característico do perspectivismo
nietzscheano, Fritz traz para a psicoterapia e para o trabalho psicológico
com a sua Gestalt-Terapia.
Nietzsche
Frederich Nietzsche teve uma influência profunda no desenvolvimento
conceitual e metodológico das psicologias e psicoterapias fenomenológico
existenciais. Sua compreensão profunda do valor do homem avali-ativo,
da existência como intrinsecamente avali-ativa; sua valorização
do homem instintivo e artístico. O seu perspectivismo. O seu resgate
do sentido do trágico. Suas considerações sobre o modo
esquecido de ser do vivido (Nietzsche), e sobre tudo a sua radical
disposição experimental compuseram, não só o caldo
de cultura no qual se desenvolve a Gestalt-Terapia dos princípios do
Século XX, mas, em particular, importantes aspectos de suas concepções
e métodos. O meio cultural nos quais viveram e cresceram os Perls era
profundamente influenciado pela presença de F. Nietzsche, que morrera
poucos anos antes. O Expressionismo, movimento artístico que
se desenvolveu na Alemanha, nos finais do Século XIX e início
do Século XX, e que influenciou profundamente a Fritz Perls, em particular
pelo teatro expressionista de Max Rheinhardt, que ele freqüentou desde
a adolescência, também foi profundamente influenciado pelas perspectivas
de Nietzsche, que começavam então a se desdobrar na Alemanha e
na Europa.
De modo que as concepções e perspectivas de Nietzsche têm
um importante papel na constituição das concepções
e métodos, estilo, e ethos da Gestalt-Terapia, no sentido da constituição
de condições para a performática da ação,
da atualização que ela propõe para o cliente.
Buber
Os Perls privaram de uma convivência muito próxima com Martin
Buber. Laura Perls foi aluna de Buber, e muito próxima no movimento
de revitalização da cultura Judaica na Europa, que Buber liderava,
influenciado de um modo importante pelas perspectivas de Nietzsche. As concepções
de Buber eram muito importantes para as perspectivas de uma psicoterapia fenomenológico
existencial, e são facilmente incorporadas pela Gestalt-Terapia. Na última
parte de seu livro Do Diálogo e do Dialógico (Buber,
1982. pp 133-71) Buber sumaria as condições que propiciam a relação
inter humana, o inter humano, a relação eu-tu especificamente
entre humanos. E estes elementos, tais como Buber os coloca, são extremamente
importantes para as concepções e métodos da Gestalt-Terapia.
A relativização da dimensão do meramente Social,
e o privilégio do Inter humano; o privilégio do ser,
em relação aos modos de ser do parecer; a presentificação
do outro; a abertura em detrimento da imposição,
na relação inter humana; a conversação
genuína... Todos eles elementos fundamentais do favorecimento da
momentaneidade do eu-tu inter humano.
As idéias seminais de Buber sobre o Diálogo (a relação
eu-tu) e o dialógico, o esclarecimento do papel ontológico,
ontogênico, libertador e regenerador do modo de sermos que ele chamou
de relacional, eu-tu, em alternância com o modo de sermos
eu-isso, têm um papel fundamental para as concepções
e métodos da Gestalt-Terapia.
Rogers
Last but not least, temos a contribuição de Carl Rogers.
Evidentemente que Carl Rogers desenvolveu a teoria, o método e a experimentação
de uma outra abordagem. Mas uma abordagem igualmente fenomenológico existencial,
dialógica. Características essenciais à concepção
e método da Gestalt-Terapia. Mais que isto, a potencialização
da atualização é um elemento fundamental comum
à Gestalt-Terapia e à Abordagem Rogeriana. Foi, ele próprio,
Rogers, profundamente influenciado não só pelas idéias
da Psicologia da Gestalt de Max Wertheimer, mas pela própria Gestalt-Terapia
de Fritz Perls.
Rogers foi um experimentador profundo e original das concepções
e métodos de uma abordagem fenomenológico existencial dialógica,
empaticamente compreensiva, da terapia diádica, e do trabalho com grupos.
É certo que ele e Fritz Perls emergem de contextos distintos, formam
"panelinhas" distintas em suas abordagens, e formulam diferentes premissas
de concepção e método. Aproximam-se muitíssimo no
método, já que ambas as abordagens se configuram como metodológicas
da atualização, que se caracterizam em suas vivências
metodológicas fenomenológico existenciais, poiéticas, e
não em sua teoria, ou em uma prática. O método
de Perls entendido a partir da ótica do contato, e o de Rogers
a partir do que ele chamou de Tendência Atualizante.
Têm teorias diferentes, mas é importante observar que suas metodologias
são fenomenológico existenciais empíricas, não teorizantes,
portanto. O que os aproxima metodologicamente, da mesma forma que, não
por acaso, os aproxima da perspectiva metodológica e ética de
um Brentano, de um Nietzsche, e de um Paulo Freire.
Sem sectarismos, assim, as experiências e experimentações
de Carl Rogers e seu grupo podem ser extremamente úteis à Gestalt-Terapia,
e vice-versa. Evidentemente que eles têm teorias diferentes. Mas, em termos
de uma abordagem fenomenológico existencial não podemos nos ater
ao teórico. É na formulação, desenvolvimento e experimentação
do método que podem ser encontradas as identidades, e onde se encontram
as grandes riquezas. Isto é particularmente importante no que concerne
ao trabalho com grupos.
Por fim, em termos da concepção e método da criação
de condições para a performance fenomenológico existencial
do cliente no setting do trabalho psicológico e psicoterapêutico,
nunca é muito remontar ao empirismo fenomenológico de Brentano.
Sua contribuição é nesse sentido fundamental. E nesse sentido
não é muito dizer que a Gestalt-Terapia e a Abordagem rogeriana
são abordagens brentanianas.
Por outro lado, nunca é muito mencionar, também, a mediação
fundamental que se configurou como o Expressionismo. Com algumas cautelas,
evidentemente, não é muito dizer que as abordagens fenomenológico
existenciais de psicologia e psicoterapia configuram em suas concepções
e métodos abordagens especificamente expressionistas de psicologia
e de psicoterapia.
Assim, em termos de concepção e método da Gestalt-Terapia,
e da psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial, é interessante
compreender e privilegiar a concepção de ação,
a concepção de contato, a concepção de
atualização, a concepção de performance
fenomenológico existencial, a concepção de dialógica,
de poiese e de experimentação fenomenológico
existencial.
São dimensões fundamentais de suas concepções e
metodologias.
REFERÊNCIAS
BUBER, Martin. Do Diálogo e do Dialógico. São
Paulo, Perspectiva, 1982.
FONSECA, Afonso H. L. Experimentação. perspectivações
acerca da experimentação fenomenológico existencial.
http://www.geocities.com/eksistencia 2008a.
___________________. Experimentação. Brentano. Perspectivações
acerca da experimentação fenomenológico existencial.
http://www.geocities.com/eksistencia 2008b.
___________________. Experimentação. Nietzsche. Perspectivações
acerca da experimentação fenomenológico existencial.
http://www.geocities.com/eksistencia 2008c.
___________________. A experimentação em Gestalt Terapia.
Perspectivações acerca da experimentação fenomenológico
existencial. http://www.geocities.com/eksistencia 2008d.
NIETZSCHE, F. Do valor da história para a vida. In: Nietzsche. Os Pensadores.
São Paulo, Abril, 1985.
________________________________________
* Experimentais no
sentido específica e eminentemente fenomenológico existencial.
Nunca no sentido da Psicologia Experimental, ou no sentido científico.
v. Perspectivações acerca da Experimentação Fenomenológico
Existencial. Experimentação. Experimentação: Brentano.
Experimentação: Nietzsche. Experimentação: Gestalt-Terapia.
In http://www.geocities.com/eksistencia
Endereço para correspondências
Afonso Henrique Lisboa
da Fonseca
E-mail: affons@uol.com.br
Recebido em:
10/03/2009.
Aprovado em: 02/07/2009.