ARTIGO
Depressão em Gestalt-Terapia
Depression in Gestalt therapy
Mônica Araújo Rodrigues Elisiário
Resumo
A Gestalt-Terapia
é uma escola de psicoterapia que tem o propósito de investigar
e trabalhar com o ser humano em situações de impedimentos das
possibilidades de crescimento e transformação criativa na sua
relação com o mundo. O indivíduo com depressão encontra-se
só, fragmentado, sem referência, geralmente rejeitado pela família
e pelo mundo, sem amigos e sem perspectiva de trabalho, devido às condições
sociais e culturais envolvidas na trama da vida por ela vivida, esses fatores
repercutiram e repercutem em seu processo de subjetivação.
Palavras-Chave: Depressão; Abandono; Desemprego; Rejeição;
Família.
Abstract
The Gestalt
therapy is a school of psychotherapy that has the purpose of investigating and
working with the human being in situations of impediments of the possibilities
for creative growth and transformation in their relationship with the world.
The individual with depression is only, fragmented, without reference, generally
rejected by the family and the world, without friends and without prospects
of work, because the conditions involved in social and cultural fabric of life
lived by it, these factors pass and impact on the process of subjectivation.
Keywords: Depression; Abandonment; Unemployment; Rejection;
Family.
A configuração da pessoa que se encontra em estado de depressão
nos deixa vislumbrar, segundo Emílio Romero, uma trama intrincada de
relações onde ela vivencia seu drama, criando e tecendo uma teia
que se enrola e se desenrola. Dentro de tal cenário, ela, como personagem
central nem sempre age por si, pois, mesmo sendo a autora da referida trama,
ela mesma é “tramada” e se deixa tramar por outros. Sua “performance”
é reduzida e se sente presa nessa teia, de forma profunda e quase inexorável,
a ponto de sentir que sua liberdade de movimentos vivenciais se reduz a muito
pouco; mas, por outro lado, ainda que possa parecer paradoxal, ela também
pode sentir e agir ainda como ser humano suficientemente livre e único,
capaz de tecer verdadeiramente sua trama e seu drama existencial, não
importando o quanto seja arrastada ou levada por forças estranhas e fora
de sua vontade, nesta ou naquela direção.
O ser humano
dispõe de todo material necessário para enfrentar a vida, e para
tanto, precisa conscientizar-se das suas condições, utilizando
o self, que é o sistema pelo qual o organismo fará contato no
campo organismo/meio através do processo de formação figura/fundo
durante o ajustamento criativo.
“É inconcebível um método não estar a serviço de uma teoria, que nos ajuda a colocar o ser humano dentro de uma compreensibilidade, permitindo-nos vê-lo na sua relação com o mundo”. (RIBEIRO, 1999, pág. 51)
Os três
elementos que compõem o pano de fundo da vida de um sujeito para a construção
da subjetividade, junto às suas necessidades individuais, seu projeto
de vida, no sujeito deprimido são:
1. Suas vivências antigas ou anteriores
2. As situações vivenciais pendentes e inacabadas
3. O fluxo da experiência de sua vida presente.
Antes de toda e qualquer investigação biológica, psicológica
ou sociológica, será necessário fazer uma investigação
sobre a interação Campo = organismo/ambiente, observando o funcionamento
dessa fronteira de contato, facilitando a integração da diversidade
subjetiva (pensamento, ação, movimento e fala). A compreensão
e integração de tudo isso poderá facilitar uma integração
holística, levando a uma awarenes (uma forma dele experienciar, estar
em contato com esse campo/indivíduo/meio com total suporte sensório-motor-emocional-cognitivo
e energético.) e à consciência emocional. (PERLS, 1997)
Esse todo, denominado campo, é o espaço vital constituído
pela totalidade dos fatos coexistentes, envolvendo a pessoa, o meio e o momento
em que ela vive. Nada fica de fora. Tudo é incluído desde que
ocorra com a pessoa em questão.
O sujeito é uma construção sócio-histórica,
o trabalho passa a ser “uma via de subjetivação porque é
tomado como valor essencial para a inserção social” (Foucault
apud Fonseca, 1995). A falta de trabalho, portanto, seria causa de sofrimento
psíquico, uma vez que o sujeito, dentro das condições sócio-históricas
atuais, só se confere identidade social se estiver empregado. Mesmo trabalhando,
se não tiver um registro profissional, ele não se sente “empregado”,
e conseqüentemente, está excluído da força de trabalho,
inútil e desnecessário ao sistema.
Segundo Castel (1998) “o trabalho é como um suporte privilegiado
de inscrição na estrutura social. Dessa forma, quando o indivíduo
encontra-se impedido de trabalhar, ação que na sociedade atual
se vê impedido de pertencer a um grupo social, fato que causa forte sofrimento
psíquico”. Como coloca Forrester ”não é o desemprego
em si que é nefasto, mas o sofrimento que ele gera.” (1997, p.10)
Diante de tal sofrimento, uma intervenção se faz pertinente pela
possibilidade de contribuição na minimização do
seu sofrimento: faz-se necessária a reconstrução de um
projeto de resignificação subjetiva, apontando novas formas de
inserção/inscrição social de tal forma que este
sujeito em depressão, possa escapar dessa ótica individualizante
e, saindo dela, o reveja e se situe de forma resignificada na problemática
do trabalho/emprego/desemprego. Assim, poderá sair da camisa de força
a que se submete dentro de uma lógica excludente e perversa, onde não
há possibilidade de mudança social.
Quanto às condições de sociabilidade no tempo vivido, o
indivíduo com depressão, demonstra--se fragilizado, desesperado
diante da impossibilidade e de sua impotência. Teme a repetição
de sua própria história e não consegue ver que “o
sintoma pode criar uma situação de rotina que leva o indivíduo
a recolher-se pelo medo do fracasso, ainda quando, objetivamente, ele tem condições
de sucesso.” (Ponciano, pág. 114)
No indivíduo em depressão deve-se encorajá-lo na promoção
de tentativas de reencontrar seu centro de equilíbrio, facilitando tal
percurso, de todos os modos possíveis e a ele disponíveis. Isso
se tornará possível através de uma resignificação
permanente de modos adequados de existir, de tal forma que ele encontre seu
verdadeiro sentido existencial, sua realidade mais íntima, encorajado
a sentir prazer em olhar para si mesmo e se reconhecer como pessoa.
A experiência humana se realiza através do contato e da relação.
Viver é contato e isto se dá no processo contínuo da reciprocidade
em que o homem e o mundo através de uma relação complexa,
paradoxal, mas rica, se transformam.
Enquanto ser relacional, no contato nos coloca em processo vivenciai, em permanente
busca de nós mesmos e da nossa realização.
O princípio central da idéia de crescimento psicológico
é a teoria da mudança: ou seja, a mudança não ocorre
simplesmente por uma pessoa querer ser diferente e direcionar-se para isto,
mas, antes, por ela investir em si própria e em sua condição
existente no presente. A mudança ocorre quando a pessoa se torna o que
é, e não quando ela tenta se tornar aquilo que não é.
Também acontece a mudança, se a pessoa dedica seu tempo e esforço
para ser o que é estar totalmente investida de suas posições
atuais.
Perls definia a saúde e a maturidade psicológicas como a capacidade
de emergir do apoio e da regulação ambiental para o auto-apoio
e para uma auto-regulação. Isto significa dizer que o indivíduo
tem que interagir constantemente com o meio. O ponto fundamental e essencial
dessa interação indivíduo/meio é a seleção
dos relacionamentos com meio, propiciando ao indivíduo um desenvolvimento
que se dá de um apoio ambiental à independência pessoal.
Fazer a caminhada rumo ao resgate da subjetividade do sujeito é uma proposta
de busca de compreensão e clareza sobre seu universo, seus valores, medos,
crenças, como percebe sua vida esfacelada, fazendo com que ele se veja
como unidade e não mais como indivíduo esfacelado e fragmentado.
Dar-lhe condições de perceber que a permanência na dor é
corrosiva e que, à medida que se como organismo fluido e capaz de auto-realizar-se,
estará mais próximo de si mesmo e de sua plenitude. Levá-lo
à busca de outra realidade que o faça sentir-se sujeito e não
mais uma vida assujeitado e desvalorizado enquanto ser humano e cidadão.
“Enfim, é resgatar esta singularidade na compreensão do
sujeito, abrindo em todos os vetores que sustentam seu mundo os vislumbres de
sua subjetividade”. ( ROMERO, 2004)
“Como ser de possibilidades, o homem é novo a cada momento que passa, e ele se torna possível e viável quando, olhando suavemente para dentro de si mesmo, se percebe mais belo, mais inteligente, mais capaz e livre do que se imaginava”.
(...)
“Não basta ensinar às pessoas a descobrir as causas de suas desgraças. É preciso ensiná-las a conviver eficazmente com sentimentos de esperança e de transformação”.(Jorge Ponciano Ribeiro)
Referências
CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica
do salário. Petrópolis: Ed.vozes, 1998.
FORRESTER, V. O horror econômico. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista,1997.
FOUCAUT, M. A arqueologia do Saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 4 ed.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1985.
GINGER, Serge e Anne ginger. Gestalt, Uma Terapia do contato. 4ª ed. São Paulo: Summus Editorial Ltda, 1995.
PERLS, Frederick S. HEFFERLINE, H. GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo, Ed. Summus, 1997.
RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-Terapia de Curta Duração. São Paulo: Summus Editorial, LTDA, 1999.
ROMERO, Emílio. O encontro de si na trama do mundo. Della Bídia Editora. 1ª ed. São José dos Campos, SP, 2004.
Endereço para Correspondência:
Mônica
Araújo Rodrigues Elisiário
E-mail: monikelisiario@yahoo.com.br
Recebido em:
09/03/2009
Aprovado em: 26/06/2009.