ARTIGO
Como vai a senhora?
Reflexões sobre as perdas e angústias da mulher madura
How are you doing,
madam? Reflections on midlife woman’s losses and afflictions
Mara Lilian de Souza
Monteiro
Resumo
Muito se tem estudado sobre a fase da maturidade feminina, principalmente por conta do aumento da expectativa de vida da população. Os censos recentes mostram que a população idosa vem crescendo e a maior parte dela é de mulheres. A integração maior da mulher na vida socioeconômica, desempenhando novas funções, faz com que passe a se destacar muito mais pelo que pode contribuir para a sociedade do que unicamente pelo fator biológico da reprodução. Muitos aspectos psicológicos acompanham os momentos difíceis pelos quais ela passa na maturidade, obrigatoriamente, ou como circunstâncias inesperadas de sua própria vida. O envelhecimento, o período do climatério e a expectativa da menopausa, a sexualidade, as perdas e separações, a solidão são assuntos freqüentes do universo feminino, gerando ansiedade e medo. Este trabalho aborda tais questões de forma objetiva, levando a uma reflexão sobre as próprias inquietações que elas provocam. Pode ajudar a avaliar caminhos e redimensionar o tempo.
Palavras-chave: Menopausa; Perdas; Angústias.
Abstract
There are many studies about maturity, mainly due to the growth of the expectation of life today. The advanced studies in Medicine, with new diagnostic and therapeutic resources concerning disease prevention and health maintenance, have enhanced gain in life quality. The present times also contribute to women’s larger economic and social integration. Nowadays women show up for what they really add to society and not for their fertility and childbearing years. Women in midlife have to cope with the physical and emotional symptoms of menopause. Important psychological aspects follow the difficult moments women undergo in the border dividing maturity and old age. Aging, decrease of libido, personal losses, retirement and loneliness are matters of great concern during the phase of climacterium, creating anxiety and fear. This paper reviews those issues and raises a point of reflection from the uneasiness they bring forth, helping women to evaluate their present time and trace the future.
Key words: Menopause; Losses; Afflictions.
Introdução
Em 1999, ao terminar o Curso
de Especialização em Psicologia Médica da UERJ, a menopausa
foi o tema escolhido para a minha monografia. Estava então com 50 anos,
aposentada pela Secretaria Municipal de Saúde e era uma das mais velhas
da turma, já vivendo e convivendo com os efeitos da fase da maturidade
na vida de uma mulher.
Meu trabalho
anterior mostrou vários aspectos da menopausa, focalizando também
as características clínicas, já que se tratava de um curso
ligado à Faculdade de Ciências Médicas. Na época,
após a análise da minha monografia, um dos professores sugeriu-me
que a condensasse, transformando-a em um artigo. Por circunstâncias diversas
e outros caminhos na vida, acabei por não fazê-lo. Oito anos e
algumas perdas bastante significativas depois, retomo de certa forma o mesmo
assunto, desta vez falando um pouco mais sobre as situações emocionalmente
dolorosas que costumam acontecer na fase do envelhecimento.
O tema agora
se apresenta em um trabalho sem maiores pretensões. Não é
uma pesquisa ou um estudo mais profundo onde se deseja comprovar algum ponto
de vista. Procura apenas apresentar as questões mais importantes e abordar
os conflitos pertencentes ao mundo das mulheres que chegam à famosa fase
dos “enta”.
Nessa idade,
a mulher olha para trás e vê que já possui uma história,
ao mesmo tempo em que se sente inquieta quanto ao futuro. Se, para muitas, esta
fase é o pedágio obrigatório para a reflexão sobre
como foi a primeira e como será a segunda metade da vida, para todas
essa passagem é muito sensível, marcada pelas primeiras rugas,
pela menopausa e suas transformações físicas, nem sempre
fáceis de serem encaradas no espelho. Os sentimentos que então
surgem são quase sempre dolorosos: a nostalgia do passado, a frustração
pelos projetos não realizados, a premência do tempo que parece
correr cada vez mais rápido, a dura realidade das perdas, a consciência
da morte, a solidão e tantos outros. Falaremos principalmente das perdas
mais importantes e dos sentimentos que acarretam.
A primeira
perda significativa que a mulher madura sofre é, sem dúvida, a
perda da beleza da juventude. O envelhecimento do corpo é inevitável,
apesar da área médica interessar-se cada vez mais pelo período
do climatério, trazendo-lhe mais apoio e orientação.
Mas a tristeza
pela perda do corpo jovem no climatério não vem sozinha. Outras
perdas podem acontecer nesta fase, como a aposentadoria do trabalho, a saída
dos filhos de casa, as separações conjugais e, como a mais dolorosa
de todas, a perda de entes queridos.
O envelhecimento
traz, portanto, vários lutos, se considerarmos todas as perdas às
quais estamos nos referindo: a juventude e a beleza do corpo, as ilusões,
os sonhos não realizados, as experiências amorosas fracassadas,
a separação dos filhos, o contato com a morte, todas elas trazendo
como conseqüência sentimentos negativos e até mesmo doenças.
Na prática
do atendimento a algumas mulheres mais velhas, em consultório ou no ambulatório
de uma instituição de caráter beneficente onde trabalho
como voluntária, percebo que, quando falam de envelhecimento, seus relatos
são acompanhados por sentimentos de impotência e desânimo,
como se não fosse possível realizarem mais nenhum de seus anseios.
A nossa existência
toda não deixa de ser um ciclo composto por etapas, onde em cada uma
ocorrem mudanças, previstas ou acidentais. Essas mudanças trazem
inerentes uma certa idéia de perdas, no sentido de que algo é
encerrado e uma nova etapa se inicia, com novos comportamentos a serem desenvolvidos.
A fase de maturidade
na vida da mulher, além de trazer importantes modificações
físicas, vem freqüentemente acompanhada de sentimentos de ansiedade,
tristeza e solidão. A famosa crise da meia-idade pode começar
a partir de qualquer um desses sentimentos, mas também pode se transformar
em uma etapa melhor e mais rica da existência. É a oportunidade
que a mulher tem para entrar em um contato mais verdadeiro com ela mesma, enriquecendo
corpo e alma, para poder usufruir melhor da vida que ainda tem pela frente.
Felizmente
o Brasil vem procurando seguir o modelo dos países mais desenvolvidos,
reformulando sua legislação e incluindo as pessoas de mais idade
no planejamento de sua política social, com novos projetos e formas de
atendimento.
A lei da vida
é a mudança e é por isso que a crise da meia-idade é
importante: pelo poder de provocar o desequilíbrio e então nos
obrigar a lançar mão de outras maneiras de lidar com a realidade.
Para as mulheres que aceitam o tempo de vida como uma oportunidade de enriquecimento e aprendizagem, o envelhecimento representa sabedoria.
Espelho,
espelho meu...
“Existe
alguma mulher mais bonita do que eu?”
“Sim”,
responde o espelho.
Cinderela,
Branca de Neve... A história infantil só não contou que
a rainha e a madrasta estavam no climatério e morriam de inveja das adolescentes
entrando no mundo romântico e lírico da boa forma.
Possuir uma
idéia clara do aparecimento e do desenvolvimento da fase do climatério,
conhecer suas características e seus sintomas mais importantes é
um pré-requisito relevante para uma compreensão melhor desse misterioso
processo chamado envelhecimento. E, principalmente, de como tudo isso repercute
emocionalmente na mulher.
A palavra climatério
é derivada do grego klimacton, que quer dizer “crise”, significando
período de crise ou mudança. O climatério é, na
realidade, um processo fisiológico que corresponde ao período
da vida da mulher durante o qual a produção dos hormônios
ovarianos (especialmente o estrogênio) e a função ovulatória
diminuem e desaparecem, acompanhadas geralmente de um número variável
de sintomas.
A palavra menopausa,
que também deriva do grego (menos = “mês” e pausis
= “pausa”), é definida pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) como a parada permanente da menstruação
em conseqüência da perda definitiva da atividade folicular ovariana,
ocorrendo, na maioria dos países industrializados, em torno dos 50 anos
de idade (48-52 anos).
O período
reprodutor da vida biológica da mulher começa com a primeira menstruação
(chamada de menarca) e vai até a menopausa, representada pela última
menstruação. O climatério inicia-se em torno dos 40 anos
e termina ao redor dos 65 anos. Neste período ocorre a menopausa. A data
de início do climatério, levando-se em conta os sintomas mais
gerais, é difícil de ser estabelecida. É mais seguro tomar
como referência a própria menopausa ou o começo da amenorréia
definitiva (falta de menstruação), que acontece entre os 45 e
50 anos, ainda que para algumas mulheres ocorra antes dos 45 e, para outras,
depois dos 50 anos. A menopausa é chamada de precoce somente quando se
apresenta antes dos 40 anos e tardia depois dos 55 anos de idade.
A partir dos
45 anos, então, a Natureza começa a retirar os hormônios
da mulher e, com isso, a fertilidade. Aos poucos, cessa a produção
do estrogênio secretado pelos ovários e a mulher perece perder
o seu brilho.
A fase do climatério,
entendido como um marco na vida feminina que denuncia o início do envelhecimento,
é um assunto essencialmente moderno. A mulher na menopausa não
é muito mencionada em pesquisas históricas e antropológicas,
não merecendo destaque nas sociedades antigas. Por que uma passagem tão
importante na vida da mulher é tão negligenciada? Seria pelo papel
inferior que desempenhava na sociedade? Por que ela não podia mais procriar?
Ou pela pouca perspectiva do tempo de vida? Parece que antigamente poucas mulheres
viviam além da menopausa.
A História
não registra ritos de passagem para marcar a menopausa, como acontece
com outros eventos, como o nascimento, a morte e outros acontecimentos que marcam
uma nova fase. A menstruação sempre esteve ligada a mitos e superstições
em diversas culturas. A Bíblia descreve um único rito relativo
ao período menstrual, que associa o fluxo sangüíneo à
impureza, tanto da mulher como daqueles que tiverem contato com ela (Levíticos
15, 19-28).
Quanto à
fase do envelhecimento, os estudos sobre épocas pré-históricas
trazem a idéia das avós como educadoras orais e contadoras de
histórias nas tribos. Parece que esse era o papel da mulher. Ela podia
acumular conhecimentos, beneficiando-se das experiências vividas, pessoais
ou passadas através das gerações anteriores. E, antes da
escrita, isto só era possível através da longevidade e
da memória dos mais idosos.
A Sociologia
e a Antropologia mostram que esse período de vida é experimentado
pelas mulheres de formas diferentes, segundo os critérios culturais que
definem a idade, a feminilidade, a sexualidade e o papel da mulher idosa. Apesar
da enorme variação nos conceitos de feminilidade, o papel que
a mulher assume em seus anos de fertilidade inverte-se após a menopausa.
A sociedade em geral tem idéia da mulher perdendo a feminilidade com
a sua fertilidade, ou a mulher na menopausa é simplesmente esquecida.
A posição
das mulheres alterou-se nos últimos tempos. Hoje as famílias são
menores do que costumavam ser. É possível fazer um planejamento
familiar através de métodos anticoncepcionais. As mulheres se
casam mais tarde, têm em média dois filhos e dividem o tempo entre
a casa e o emprego. Vivem, porém, uma vida que provoca ansiedade e conflitos
interiores, numa sociedade onde os valores femininos ainda não estão
totalmente definidos.
Assim como
na adolescência, o climatério é um fenômeno fisiológico
e a menopausa marca o fim dos ciclos menstruais que se iniciaram com a menarca.
As mudanças fisiológicas do climatério, assim como aquelas
que acontecem na adolescência, repercutem de forma mais intensa sobre
o organismo, produzindo sintomas que quase sempre requerem alguma indicação
médica em pelo menos 85% dos casos. É provável que o desequilíbrio
hormonal tenha a mesma importância, ainda que em sentido inverso, em ambas
as situações, mas devemos lembrar que, enquanto o da adolescência
acontece em um organismo jovem cheio de plasticidade, o do climatério
ocorre em um organismo em declínio, que já não a possui.
O estrogênio
é o hormônio básico da mulher. Sua produção
começa na adolescência, quando é responsável pelo
aparecimento dos sinais sexuais secundários e vai até a menopausa.
A ação deste hormônio feminino não está relacionada
apenas aos atos de procriar, amamentar ou relacionar-se sexualmente. Existem
receptores de estrogênio em vários tecidos, tais como ossos, pele,
sistema geniturinário, sistema cardiovascular e sistema nervoso central.
O estrogênio,
portanto, tem um papel decisivo na manutenção do equilíbrio
de muitos órgãos e funções do corpo, desde a administração
das gorduras, a conservação da elasticidade das paredes dos vasos
sangüíneos, a saúde do sistema nervoso, até a aparência
da pele e a textura dos cabelos.
Com a queda
dos níveis do hormônio, a gordura se distribui de forma pouco feminina.
As curvas que desenhavam a silhueta do corpo cedem lugar às retas. O
hipoestrogenismo leva à atrofia da pele e as mucosas, tecido abaixo dela,
perdem a concentração de colágeno. A pele, então,
fica mais seca e quebradiça, causando a formação de rugas.
Os ossos ficam sem cálcio e mais frágeis. As articulações
se desgastam. Aumenta o mau colesterol, diminui o bom e a mulher se torna mais
sujeita a enfartes e derrames. Os vasos sangüíneos, os seios e até
mesmo o cérebro sofrem prejuízos.
Há uma
ampla variação na freqüência com que as mulheres de
diferentes idades, níveis socioeconômicos e educacionais relatam
os sintomas associados ao climatério. Os estudos mostram que há
um aumento dos sintomas neurovegetativos ou vasomotores – as clássicas
“ondas de calor”, com ou sem sudorese – e uma variedade de
sintomas neuropsíquicos no período que se aproxima da menopausa.
Entre os sintomas
neurovegetativos, as ondas de calor ou fogachos constituem o sintoma mais característico
do climatério. Apresentam-se como uma sensação transitória,
súbita e intensa de calor nas partes superiores do corpo (tronco, pescoço
e face), seguida por sudorese, podendo ocorrer também palpitações.
Os fogachos podem interromper o sono e são considerados desagradáveis
pelas mulheres, principalmente quando ocorrem no ambiente de trabalho ou em
outras situações sociais.
“Estou quietinha lá no meu canto e de repente parece que acende o fogo. Quando começam aqueles suores, aqueles calores, todo mundo vendo o que eu estou sentindo, me sinto incomodadíssima, me sinto desprotegida. Eu não queria que ninguém visse que estou suando, me sentindo desconfortável, me sentindo mal.” Ciornai (1999)
Quanto à
origem fisiológica dos fogachos, há controvérsias, mas
considera-se que a insuficiência estrogênica também afeta
o centro termo-regulador no cérebro, diminuindo a temperatura. Esta queda
desencadeia um mecanismo de dissipação do calor com conseqüente
vasodilatação periférica, representada pela onda de calor
seguida de sudorese, com a finalidade de equilibrar a temperatura corporal.
Além
disso, é interessante observar que existe uma associação
importante entre insônia e onda de calor, comprovada por estudos experimentais.
Apesar de se considerar habitualmente que a insônia ocorre em conseqüência
do desconforto provocado pelos fogachos, parece que ela ocorre porque a falta
do hormônio, que afeta vários neurotransmissores e neuromoduladores
cerebrais (noradrenalina, dopamina, serotonina), também desregula o centro
de vigília e sono no cérebro.
Quanto aos
sintomas neuropsíquicos que aparecem na menopausa, sabe-se que o estrogênio
age no cérebro como um antidepressivo. O hormônio desempenha um
papel no estado emocional porque regula a atividade e os níveis de concentração
dos neurotransmissores cerebrais, especialmente a serotonina.
A insuficiência
do estrogênio diminuiria a serotonina, causando alterações
nas funções psíquicas. Mudanças de comportamento,
falta de memória, instabilidade emocional, humor deprimido e fadiga são
freqüentes no período próximo à menopausa.
“É ‘um golpe sujo’ da Natureza que, quando a saúde de uma mulher deveria ser a melhor, o ovário começa a falhar e as alterações hormonais complicam mais o quadro. As queixas do climatério ocorrem e tornam difíceis reações adequadas às mudanças sociais e muitas vezes, mesmo impossíveis. O oposto também é verdadeiro: as mudanças sociais, a necessidade de mudar os papéis, as alterações psíquicas também enriquecem o quadro de queixas do climatério.” Van Keep (1975 apud Monteiro, 1999)
Há mais estudos a respeito da natureza dos efeitos da falta de hormônio
sobre o organismo como um todo (células, tecidos, órgãos,
processos bioquímicos e físicos etc.) do que sobre a sua influência
nas funções psíquicas. Quanto aos sintomas que aparecem
na menopausa relacionados a este aspecto, não se pode dizer que sejam
causados apenas por um nível mais baixo de estrogênio. O efeito
sobre o psiquismo depende também de fatores ambientais, socioculturais
e individuais. O estilo de vida, como a prática de exercícios
físicos, a alimentação e a personalidade do indivíduo,
são aspectos que influenciam a interação entre o sistema
endócrino e as emoções. Além disso, o fator sociocultural
tem um papel importante nas expectativas sobre esse período da vida,
pois a sociedade, de maneira geral, valoriza a juventude enquanto o envelhecimento
é associado a um estado de inferioridade.
Além
de todos esses sintomas, o climatério também traz queixas relacionadas
ao funcionamento do aparelho genitourinário. Há receptores de
estrogênio e progesterona no aparelho urinário inferior e no assoalho
pélvico da mulher. A falta prolongada do estrogênio causa vários
sintomas, como a secura vaginal, dor nas relações sexuais e distúrbios
urinários, principalmente a incontinência urinária de esforço,
bastante constrangedora.
E, assim, a
mulher também responde mal ao desejo, pois esses sintomas acabam afetando
a sexualidade. A vagina perde a elasticidade, tornando-se progressivamente mais
estreita e seca, por diminuição da secreção glandular
e da quantidade de muco cervical. Isso afeta o interesse, pois transforma a
relação sexual em algo doloroso e desagradável. O fim da
atividade ovariana não anula o desejo, mas facilita bastante todo um
processo que acarreta queda na libido, redução do interesse e
das fantasias sexuais. E a mulher chega então à menopausa com
a idéia, que é reforçada socialmente, que esta fase é
um marco que determina o término de sua vida como uma mulher atraente,
capaz ainda de despertar paixão e desejo.
O estrogênio
também é responsável pela absorção e fixação
do cálcio nos ossos. O esqueleto adulto não é uma estrutura
inativa e sofre um contínuo processo de remodelagem no qual a reabsorção
e a formação óssea devem estar equilibradas. Quando a mulher
atinge os 40 anos de idade, a reabsorção começa a exceder
a formação óssea, aumentando bastante quando a menopausa
é atingida. A osteoporose é a mais comum das doenças metabólicas
do osso e afeta preferencialmente as mulheres no final de suas vidas. Caracteriza-se
pela deterioração do tecido ósseo e redução
da massa óssea, que pode chegar a níveis insuficientes para a
função de sustentação. A osteoporose torna os ossos
porosos e quebradiços e há um elevado risco de fraturas. Ela também
afeta as vértebras e os músculos do pescoço, do tórax
e das costas e a coluna da mulher pode “desabar” de 12 até
20 cm. A estatura diminui e algumas formam a chamada “corcunda de viúva”.
Outra função
importante do hormônio estrogênio é a proteção
que exerce contra as doenças cardiovasculares. O fato de que as mulheres
na meia-idade ou as mais idosas apresentam maior risco para a doença
cardiovascular após o início da menopausa é verdadeiro.
O efeito “cardioprotetor” dos hormônios sexuais femininos
pode ser atribuído à sua influência sobre o metabolismo
lipídico, vasos e coagulação sangüínea. Há
evidências de que os estrogênios são vasodilatadores, com
ação direta na célula muscular da parede arterial, diminuindo
a pressão arterial e aumentando o fluxo sangüíneo. Sem a
proteção do hormônio, que diminui na menopausa, aumenta
a taxa de colesterol total no sangue e o acúmulo de placas de gordura
nas paredes dos vasos sangüíneos (aterosclerose) e as mulheres têm
uma chance maior de sofrerem infarto ou outras doenças cardiovasculares.
A doença arterial coronária (DAC) predomina após a menopausa
e é, nos países ocidentais, uma das principais causas de morte
na população feminina acima de 50 anos de idade.
Por último,
a falta do estrogênio também tem influência no sistema nervoso
central, afetando a função cognitiva. Alguns estudos associaram
a falta deste hormônio por um período prolongado ao risco para
o desenvolvimento da Doença de Alzheimer, porque acomete mais as mulheres
do que os homens. Essa doença foi descrita pela primeira vez em 1906
por Alois Alzheimer e se caracteriza pela alteração da personalidade
e várias deficiências cognitivas, como a perda progressiva da capacidade
intelectual (memória, principalmente) e a inabilidade física dos
pacientes, que caminham para um estágio final de dependência parcial
ou total para as atividades diárias. A Doença de Alzheimer desperta
atualmente um grande interesse por conta de sua alta e crescente incidência,
principalmente após os 65 anos de idade. Como há evidências
dos efeitos benéficos do estrogênio no sistema nervoso central,
atuando na função, no crescimento e reparo dos neurônios,
pode-se supor que o estrogênio venha a ser um fator importante para a
prevenção da Doença de Alzheimer.
O climatério,
portanto, traz mudanças metabólicas e hormonais marcantes na vida
feminina que repercutem de forma diferente de uma mulher para outra. Cada uma
vive essa fase de acordo com o nível de maturação psicossexual
conseguido em sua evolução desde a juventude. Assim, a lei não
é igual para todas. O climatério pode ocorrer de forma branda
ou mesmo assintomática, o que não significa ausência de
problemas. Por outro lado, as mulheres podem apresentar um quadro sintomático
com características comuns para algumas e pessoais para outras, sempre
havendo um certo grau de desequilíbrio ou tensão psíquica.
Mas, com certeza, após a menopausa, o organismo feminino terá
de se adaptar à falta dos hormônios.
A Medicina
nos últimos cem anos venceu diversas doenças, aumentou a longevidade
e conseguiu ganhar da Natureza em vários aspectos. A terapia de reposição
hormonal é um dos avanços mais importantes para a sexualidade
e a manutenção das funções do corpo, do psiquismo
e da saúde geral da mulher. A mulher atual é bem diferente de
nossas avós. Ela não aceita que seu corpo seja tão agredido
pela Natureza, tornando-se disforme e disfuncional. Sua auto-estima e auto-imagem
dependem muito de como seu corpo se apresenta e funciona.
A TRH (Terapia
de Reposição Hormonal), que repõe no organismo da mulher
os hormônios estrogênio e progesterona que ela deixa de produzir
quando não menstrua mais, já está incorporada ao repertório
da mulher de meia-idade. Já figura até na canção
popular, na voz de Rita Lee: “Vestida para matar em pleno climatério
/ A velha senhora só vai ficar mocinha no cemitério / Chega de
derramamento de sangue / Quem disse que útero é mangue / Progesterona
urgente”.
A mesma geração
que ganhou de presente o precioso recurso da pílula anticoncepcional,
que permitiu fazer sexo sem o temor da gravidez indesejada, ganhou a possibilidade
de passar pela menopausa sem os desconfortos que muitas mulheres enfrentaram.
Usar ou não, é uma decisão pessoal. Mas ter à disposição
um recurso a mais é sempre bom. As queixas mais clássicas da fase
do climatério, como as ondas de calor, sudorese, irritação,
taquicardia, depressão, insônia, dor de cabeça, melhoram
muito e algumas até desaparecem com a administração de
hormônios a curto prazo.
Quando o objetivo
é a prevenção de doenças que podem surgir mais tarde,
a TRH deve ser mais prolongada, reduzindo o risco de fraturas ósseas
devido à osteoporose e de problemas cérebro-vasculares, como o
acidente vascular cerebral (AVC) e o enfarto do miocárdio.
O tratamento
dos sintomas do climatério com hormônios começou em 1942,
quando os estrogênios surgiram pela primeira vez no mercado americano.
A posição anteriormente assumida pelos médicos, na qual
o climatério seria apenas uma fase fisiológica na vida da mulher,
não exigindo assim um tratamento específico, foi substituída
por uma atitude de assistência integral aos aspectos somático e
psíquico. A oferta, pela indústria farmacêutica, de substâncias
hormonais de fácil emprego, grande efeito e boa tolerância, permite
à mulher atual, nessa fase, ter melhores condições de adquirir
um equilíbrio psico-endócrino-sexual, não precisando mais
temer tanto a tão propalada fase “negativa” da menopausa.
Vale a pena
lembrar, ainda, que o medo de possíveis riscos da utilização
da TRH (aparecimento de tumores malignos, principalmente) e de seus efeitos
colaterais (aumento de peso, por exemplo) contribuiu para aumentar a crença
na eficácia dos recursos da Medicina alternativa para o tratamento do
climatério. A Homeopatia vem crescendo cada vez mais e tem preferência
dentre esses recursos. Já existem vários medicamentos homeopáticos
freqüentemente usados para a diminuição dos sintomas.
Sob a orientação
de seu médico, primeira figura de referência em quem costuma depositar
dúvidas, temores, incertezas e angústias, a mulher pode seguir
um plano de tratamento preventivo ou curativo, específico e elaborado
para suas necessidades individuais e capaz de atenuar os efeitos indesejáveis
de muitos sintomas desta fase.
O objetivo
deste trabalho, como já foi dito, não é enfatizar o aspecto
clínico da fase madura da vida da mulher. Porém, o relato “panorâmico”
das principais características do climatério feminino torna-se
importante pela relação entre os efeitos impactantes de seus sintomas,
tanto no organismo como na auto-estima da mulher, e a perda da juventude e da
beleza na chegada da menopausa.
Com o avanço
científico e tecnológico nas sociedades ocidentais, a qualidade
de vida melhorou, a expectativa de vida aumentou e também o interesse
pela velhice. Mas a imagem jovem continua sendo mais valorizada. A pessoa mais
velha fica à parte, é aquela que “já era”.
O relato de
uma cliente mais velha, queixando-se da traição do marido, ilustra
bem esse conceito: “Você acha mesmo que eu ainda consigo arrumar
um namorado nessa idade? Já estou velha para isso. Quando eu era mocinha,
tinha um corpo bonito. Os rapazes da rua falavam do meu corpo. Eu arranjava
um namorado atrás do outro...”.
As mulheres
costumam relacionar o poder da sexualidade, a vitalidade, a atividade, a alegria
e os momentos mais felizes de suas vidas à época em que eram jovens
e bonitas. São educadas desde cedo para cuidarem de sua aparência,
muitas vezes de uma forma exagerada, acreditando que o valor da feminilidade
está na juventude, porque é na juventude que se encontra a força
da atração sexual.
O mito da beleza
jovem é uma opressão e o universo feminino tem consciência
disso. A mulher ainda é julgada pela juventude e a dificuldade em aceitar
as rugas não nasce à toa, mas é gerada por um padrão
cultural poderosamente cruel. A diferença é que, hoje, mais que
suas avós, as mulheres estão mais conscientes dessas imposições
herdadas de fora e se preparam mais para resistir a elas.
Na época
da madrasta má e da rainha invejosa, não havia reposição
hormonal, cirurgia plástica e psicoterapia. Na nossa sociedade de agora,
temos que estar sempre felizes, saudáveis, bem sucedidos, jovens e belos.
Não há lugar para a fragilidade e para a feiúra num mundo
cada vez mais competitivo. Aumenta a quantidade de academias de ginástica
que, com atividades e aparelhagens cada vez mais aperfeiçoadas, tornam-se
verdadeiros templos de culto à perfeição do corpo. Numa
economia de mercado, a indústria da beleza também tem seu espaço.
Na época em que as mulheres consumiam com o dinheiro do marido e sob
a autorização dele, compravam produtos para o lar, para as crianças,
para a família. Agora, muitas trabalham fora e têm o seu próprio
dinheiro, comprando produtos de uso pessoal. A indústria de cosméticos
está milionária e as mulheres têm à disposição
cremes que prometem fazer milagres em seus rostos e em suas silhuetas. De modo
semelhante, a cirurgia plástica vem se tornando cada vez mais aperfeiçoada,
corrigindo possíveis defeitos do corpo. Surge a Medicina Estética,
uma especialização que atualmente atrai um grande número
de médicos (especialmente os dermatologistas) buscando novas técnicas
de reparação para as imperfeições, sem o temido
uso do bisturi.
A falta dos
hormônios trazida pelo climatério é implacável com
a mulher que colocou todo o seu potencial no “espelho”. Chega a
hora da verdade. A vida exige de nós o desenvolvimento de nossos potenciais
humanos. Quem ficou nadando na superfície, agora corre o risco de se
afogar. Numa sociedade como a nossa, que cultua o corpo esteticamente correto,
a beleza traz privilégios. A chegada da meia-idade propicia a vingança
das mulheres menos privilegiadas na estética, mas que desenvolveram outros
potenciais e armazenaram recursos no passado. Aquelas que apostaram apenas na
imagem e na silhueta, sem precisar lançar mão de outros talentos,
sentem-se confusas. Têm muita dificuldade para expressar seus sentimentos
mais profundos, pois só aprenderam a mostrar o superficial. São
sexual e afetivamente insatisfeitas, reclamam dos maridos, mas não fazem
absolutamente nada para mudar seu roteiro de vida. E é nesse contexto
que muitas vezes se instalam as doenças.
As mulheres
mais velhas que desempenham atividades profissionais gratificantes têm
mais oportunidade de reforçar sua auto-imagem e auto-estima. Nas profissões
que privilegiam o intelecto, a sabedoria e a criatividade, elas são mais
valorizadas com o passar dos tempos: políticas, advogadas, educadoras,
médicas, terapeutas, escritoras. Nas profissões que privilegiam
a aparência, a estética, o físico, como as atrizes, modelos,
manequins e atletas, e também nas atividades e funções
que perdem a importância com o decorrer do tempo, como ser mãe
24 horas por dia, as mulheres sofrem mais depressões e distúrbios
com a chegada da menopausa.
Ao ficar mais
velha, a mulher se torna diferente fisicamente da menina e da bonita jovem que
era antes. O que fazer agora? A sociedade em geral desfavorece o envelhecimento,
a mídia glorifica a juventude e a beleza, ambas implicitamente associadas.
E a mulher se vê então em um dilema: ou se submete à tirania
desse modelo jovem e vai ficar eternamente frustrada na tentativa de querer
ser o que não pode ser mais, ou cobra seu direito de ser aceita como
de fato é, com a beleza e o charme que a maturidade lhe confere. O corpo
mudou, mas o coração ainda pode se manifestar, transformando cada
experiência em motivo de palpitação e sobressalto, como
uma adolescente de 15 anos. As perdas existem e podem aumentar com o passar
dos anos. Voltar atrás é impossível. O envelhecimento é
uma continuação do nosso desenvolvimentos, é mais uma etapa,
que poderia ser chamada de “envelhescência”.
Pode-se ficar velho em qualquer idade, quando se é passivo e conformado. Ou aproveitar esse momento da vida para uma profunda reflexão, podendo surgir decisões de acomodação definitiva ou mudanças radicais. A mulher que se prende às regras da sociedade, que só valoriza a juventude, recusa o passar do tempo. Torna-se velha devido à sua auto-imagem, seu comportamento e sua inatividade. Aquela que assume como projeto progredir tentará sair de seu passado e aproveitar esses anos para viver da melhor forma que for capaz, perseguindo novos projetos, colhendo vivências com equilíbrio, realismo e, se possível, com alegria. E sem temer as esplendorosas jovens de 20 anos, porque seu território é outro!
As
outras despedidas
Não
há dúvida de que o primeiro contato que a mulher tem com o seu
próprio processo de envelhecimento é quando um dia olha-se no
espelho e percebe que algo está diferente, em sua silhueta ou em seu
rosto, sob a forma de umas gordurinhas ou de umas rugas indesejáveis
e que pareceram surgir de um dia para o outro! Do ponto de vista emocional,
as mudanças físicas afetam bastante a mulher. As formas do corpo
se modificam, o ganho de peso é quase sempre inevitável e as rugas
aparecem. Assustada, ela se pergunta: “Como vou ficar?”, “Estou
parecendo a minha mãe?”. O medo de perder os atrativos físicos
e a dificuldade para aceitar essas mudanças naturais leva algumas a adotar
cuidados cada vez maiores com a aparência. Fazem cirurgias plásticas,
regimes alimentares rigorosos, tratamentos de rejuvenescimento, tentando retardar
ou mesmo anular o envelhecimento, o que até agora só é
possível nos filmes de ficção científica. Além
de tudo, não podemos esquecer que vivemos numa sociedade onde os atrativos
físicos e o corpo jovem são muito valorizados.
A perda da
beleza da juventude, de um corpo esteticamente correto, é, portanto,
o desafio inicial que a mulher enfrenta ao começar a envelhecer, em conseqüência
das transformações fisiológicas da fase do climatério.
Outros eventos perturbadores podem surgir.
A expectativa
de vida aumentou nos últimos tempos, mas a idéia de que o climatério
seja o começo do fim ainda existe. Na verdade, é uma fase de perdas
e encerramentos, confirmada pelos relatos nos consultórios dos profissionais
de saúde.
Com a chegada
da menopausa, vem a perda da capacidade de procriar, de ser fértil, geralmente
acompanhada pela idéia de perda também da feminilidade. Há
uma imagem perturbadora entre as mulheres de que a mulher mais velha perde a
feminilidade e a sexualidade, junto com a fertilidade. A identidade feminina
fica ameaçada. Já que não pode ser mais mãe, não
pode ser mais desejável para os homens. Só a mulher jovem e atraente
tem desejo sexual, a velhice é “assexuada” e o sexo numa
idade mais avançada não é natural, visto até como
algo capaz de gerar preconceito. A inapetência sexual, portanto, pode
ter origem em sensações físicas desagradáveis durante
a relação sexual (dor, falta de orgasmo), na auto-imagem negativa,
na queda da auto-estima, no desinteresse ou indisponibilidade do parceiro (devido
ao divórcio, viuvez), além dos mitos que pesam sobre a mulher
nessa idade: “Sou velha demais para isso!”, “Sexo, para quê?
Eu não posso mais ter filhos!”.
Mas a feminilidade
e o sexo não terminam com o envelhecimento e, embora não haja
mais a paixão febril da juventude, o sexo pode tornar-se expressão
de companheirismo e intimidade, muito mais rico em seu significado real do que
nas experiências anteriores. O que se perde em quantidade, pode-se ganhar
em qualidade. Apesar das mudanças fisiológicas que ocorrem a partir
do climatério e de algumas doenças que acometem as pessoas mais
velhas (como a hipertensão, a diabetes e outras) que podem interferir
no desempenho sexual, há sempre a possibilidade de experimentar uma grande
satisfação emocional e transformar a relação sexual
numa atividade prazerosa.
A mulher teme
ainda em relação ao seu companheiro. A questão muitas vezes
não é a perda da capacidade sexual, mas a perda do poder de despertar
o desejo, já que julga não possuir mais atrativos. Por outro lado,
o companheiro muitas vezes não toma mais as iniciativas sexuais porque
também não é mais capaz de agir da mesma forma de quando
era mais jovem. Muitas vezes a mulher observa também que o seu companheiro
não parece estar envelhecendo tão rápido quanto ela e ainda
está atraente e fértil. A mulher se sente injustiçada e
entram em cena sentimentos de culpa, rejeição, ciúmes,
capazes de trazer problemas ao relacionamento do casal.
A falta de
entendimento e compreensão pode levar à busca de soluções
fora do casamento. Para a mulher, a perda do amor por abandono ou traição
traz uma dor devastadora e inconsolável, onde mágoa e sentimentos
de rejeição se misturam à inconformidade. O homem sente-se
pressionado a encontrar uma parceira mais jovem, atraente e interessada em estimulá-lo,
e esta não é a solução. Se o homem também
for capaz de descobrir e compreender as necessidades do seu próprio corpo
em envelhecimento, poderá se sentir aliviado e tentar “acertar
o passo” com a sua companheira antiga. Juntos podem alcançar a
maturidade, reforçando os vínculos de um modo adequado.
Há uma
outra perda significativa, embora não atinja a todas as mulheres, que
se refere ao término do período de trabalho fora de casa –
a aposentadoria. Este é ainda um problema maior para os homens, pois
o sentido do trabalho sempre foi psicologicamente diferente para homens e para
mulheres. O trabalho do homem sempre o definiu de modo mais completo do que
o da mulher. Essa diferença psicológica vem diminuindo bastante
com a entrada de um número cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho,
mas o trabalho dos homens continua sendo menos opcional por questões
culturais. E embora nem todas as mulheres desta geração tenham
trabalhado fora de casa, ao deixar o emprego pela aposentadoria, isto também
pode ser enfrentado como uma perda.
O trabalho
é o esteio da identidade social. O fato de termos um local de trabalho,
um círculo de colegas para manter contato, uma tarefa para confirmar
nossa competência, um salário relacionado ao valor dessa competência,
uma descrição profissional, ao nos afastarmos de tudo isso parece
que ficamos privados de nossa justificativa social. O aposentado geralmente
perde status e auto-estima. E embora muitos aproveitem para viajar, iniciar
novos projetos, passar mais tempo com a família, realizar antigos sonhos,
trabalhar voluntariamente, ainda assim podem se sentir, segundo os padrões
atuais, socialmente “inúteis”.
Parece que
as mulheres têm uma capacidade maior de formar laços, de curtir
afetos, de se reunir em grupos. Como diz Silveira (apud Silveira, 2000), “sofrem
suas perdas, preocupam-se com doenças, choram a morte de entes queridos,
estudam, namoram, dançam, participam de passeios, gostam de festas, fazem
ginástica, desenvolvem atividades domésticas, filantrópicas,
culturais e religiosas”.
Assim, ao deixarem
de trabalhar, as mulheres ocupam-se viajando sozinhas, em pares ou em grupos,
divertindo-se, conhecendo coisas e lugares novos, cultivando interesses, travando
novas relações e até voltando a estudar. Enfim, interagindo
e progredindo.
Quando sabemos
que no mundo todo as pessoas mais velhas costumam ser desvalorizadas de várias
maneiras, torna-se cada vez mais difícil lutar contra esse processo de
desprestígio. Deixar de trabalhar pode contribuir para essa idéia
de desprezo, pois a aposentadoria não deixa de ser a perda de uma posição
na sociedade, de um sentido produtivo para nossa existência.
Para aquelas
que já tiveram uma longa história de perdas mal resolvidas, a
aposentadoria pode reviver antigos temores e sofrimentos. Porém, mesmo
sem essa história, a perda da renda e do status, o isolamento e o tédio
podem causar problemas. O fim do trabalho é um exílio, se não
houver nada para absorver os interesses e as energias das pessoas. A preocupação
em promover atividades de lazer ou oferecer oportunidades de ocupação
para as pessoas mais velhas é recente em nossa sociedade, falando em
termos de um planejamento político-social. A meia-entrada para cinemas
e teatros, a gratuidade para meios de transporte, a ginástica ao ar livre
nas praças, são iniciativas relativamente recentes que tentam
contribuir para tornar um pouco mais agradável a vida das pessoas que
procuram ocupar seu tempo livre, principalmente as mais desfavorecidas economicamente.
A falta do
trabalho, que pode significar um período de liberação de
compromissos, de despreocupação com horários e exigências
profissionais, de procura de lazer, também pode acarretar reações
negativas. Os sentimentos de improdutividade e solidão, além de
eventuais dificuldades econômicas, muitas vezes causam transtornos psíquicos.
Williams (apud
Monteiro, 1999) observou que os transtornos emocionais que aparecem na fase
da menopausa são mais graves em mulheres que antes dela já mostravam
personalidades neuróticas e até pré-psicóticas;
assim, a falta do estrogênio por si só não causaria transtornos
emocionais, e sim apenas desencadearia potencialidades já latentes. O
climatério, então, liberaria muitos sintomas antes controlados,
levando as mulheres a viver velhos conflitos inconscientes, temporariamente
reprimidos ou sufocados, relacionando-se mal com o mundo externo. De qualquer
modo, a forma pela qual a mulher vinha estruturando ao longo do tempo a sua
vida parece influenciar profundamente o aparecimento ou não de conflitos
e conseqüentes problemas emocionais nesta fase, como a depressão.
A depressão
pode surgir como uma resposta inadaptada à perda. Atualmente, a depressão
é considerada um transtorno psiquiátrico de humor, caracterizado
por diversos sintomas psíquicos e somáticos que ocorrem em conjunto
e modificam os traços psicológicos e de comportamento habituais
da pessoa. Na população em geral, o início dos quadros
depressivos ocorre por volta da terceira e quarta décadas da vida e atinge
mais mulheres que homens numa proporção de 2:1. A depressão
pode se apresentar de várias maneiras e também ser classificada
de acordo com o contexto do seu aparecimento.
Dentre os fenômenos
depressivos mais comuns relacionados à fase da maturidade, destaca-se
a “síndrome do ninho vazio”, que é um tipo de depressão
causada pela saída do último filho de casa e pode ocorrer entre
homens e mulheres. Muitos pais sentem a partida dos filhos como um alívio
ao invés de um fator de tensão. No entanto, esse fato pode ser
vivido psicologicamente como uma perda que exige grande quantidade de energia
para atenuar a dor. Se não forem desenvolvidas atividades compensatórias,
principalmente pela mãe, a depressão pode ocorrer, como conseqüência
de um sentimento de inutilidade, de que tudo se “esvaziou”.
O casal pode
voltar a concentrar suas energias em si mesmo. E sentir-se feliz, até
um pouco aliviado com isso. Missão cumprida! Juntos, criaram os filhos
que, por sua vez, foram morar sozinhos ou formaram suas próprias famílias,
abandonando a casa dos pais. Os filhos saíram de casa e o vazio deveria
ocupar a alma com um gosto de mel e não de fel. Mas é o que acontece
com vários casais.
A mulher é
muito identificada com o papel de mãe e no momento em que restam juntos
apenas ela e o marido pode ser que se deparem com um “estranho no ninho”
ao seu lado. O convívio torna-se pesado. O estado de ânimo é
desvitalizado. A tristeza é o afeto dominante. A capacidade de valorizar
e apreciar a vida encontra-se gravemente avariada. E o corpo passa a vestir
os sofrimentos. É a famosa “solidão a dois”, onde
cada um cuida de sua vida e seus afazeres independentemente, sem se importar
com os sentimentos do outro. Cada um fica com a sua dor, com seus pensamentos
e nada é partilhado.
Faz parte da
Natureza da mulher compartilhar sentimentos e esse abismo na comunicação
acaba muitas vezes causando a ruína do casamento. Esse rompimento, principalmente
na fase da maturidade, é difícil e doloroso, normalmente encarado
como fracasso, como falência de um projeto em comum.
A perda da
pessoa amada pelo fim do casamento pode ser tão sofrida e lamentada como
a perda pela morte de um dos cônjuges, com a diferença de que a
separação provoca mais raiva que a morte, além de, é
claro, ser opcional. Mas o sofrimento, a saudade e a falta podem ter a mesma
intensidade, assim como os sentimentos de culpa, autocensura e abandono. A separação
e a viuvez podem causar a sensação de perda até da própria
individualidade, da imagem de si própria.
O preço
da separação, tanto o físico como o emocional, pode ser
maior que aquele imposto pela morte de um dos cônjuges. Chegar ao fim
do luto também pode ser mais difícil, pois o problema da separação
é que ambos estão vivos – embora o casamento não
exista mais – e isso faz com que a pessoa lamente a perda de alguém
que não morreu, além de trazer também brigas e discussões
freqüentes sobre os bens, filhos e sentimentos de ciúme e fracasso.
Separar-se
do companheiro na meia-idade é uma perda que pode se transformar em um
grande desafio. Ao romper as amarras que a prendiam a uma união infeliz,
a mulher terá que enfrentar muitos obstáculos, como a solidão,
a dificuldade para encontrar um outro parceiro da mesma faixa etária
(os homens mais velhos procuram as mulheres mais jovens), suas crenças
e valores morais e a pressão social. Apesar dos avanços que a
nossa sociedade já realizou quanto à valorização
do papel da mulher, ainda existe um certo preconceito “camuflado”
em relação à mulher sozinha. Ela sai para trabalhar fora
e realizar suas tarefas, mas o sistema ainda cobra a presença do casal.
Ao ficarem sozinhas para enfrentar tudo isso, algumas se acomodam. Outras “vão
à luta”.
A cicatrização
emocional desse processo pode ser lenta e gradual. Envolve dor e sofrimento,
sentimentos de culpa e abandono, longos períodos de abstinência
sexual e às vezes muita dificuldade na retomada da vida em parceria,
julgando não ter mais ânimo para novas buscas e experiências
no campo afetivo. Entretanto, para aquelas que vencem essa etapa (muitas vezes
contando com diversos tipos de ajuda), a sensação de se tornarem
libertas propicia a chegada de novos companheiros, de novas uniões que
possam suprir necessidades e acrescentar riquezas ao amor maduro.
Entre todas
as perdas significativas que a mulher madura enfrenta e que provocam sentimentos
de dor e tristeza, nada pode ser mais doloroso do que o contato com a morte,
com a finitude da vida. A fase da menopausa não é só vista
como sinalizando o término dos atributos femininos. Muitas mulheres a
encaram como um marco do início de uma fase de declínio em direção
à morte, tão temida em nossa cultura. Ao envelhecer, abandonamos
aquela sensação de imortalidade e onipotência próprias
da juventude. Vem a preocupação com o tempo que resta, com aquilo
que ainda pode ser feito, porque não se tem mais todo o tempo do mundo.
É preciso aproveitar, planejar e resgatar o que ainda é possível.
Muitas mulheres só tiveram coragem para romper amarras pessoais e lançar-se
em novos caminhos na fase da maturidade.
“Por outro lado, a sensação de proximidade com a morte, que ‘daqui pra frente é só pra baixo’, que vivi muito intensamente antes, também reformulei internamente, inclusive em relação à dor da separação dos filhos crescidos. De repente você chegar em casa e a casa estar do jeito que você deixou quando saiu, de repente você ser dona do seu tempo é uma coisa muito boa, te dá mais espaço para buscar coisas boas.” Ciornai (1999)
Muitos casamentos se desfazem na meia-idade porque também há uma
urgência de “fazer ou morrer”. Atualmente, a separação
ou divórcio de um casal não é tão mal visto, desqualificando
a pessoa para a aprovação da sociedade. Os desejos internos têm
prioridade e, agora que os filhos cresceram, quando não há mais
amor, interesses em comum e expectativas de mudança, vem a vontade de
libertação e até a busca por outras relações
onde a gratificação emocional possa ser melhor. O tempo está
passando depressa. É agora ou nunca!
A consciência
da morte acaba ficando, portanto, muito presente na crise da meia-idade. Essa
consciência parece que surge primeiro com o envelhecimento mesmo, que
mostra que já entramos na segunda metade da estrada da vida, ou também
pode surgir a partir de uma doença, de um acidente ou da morte de alguém
muito próximo.
É na
fase madura da vida que as pessoas costumam ficar mais seriamente doentes, perder
os pais idosos ou o companheiro de tantos anos. Sob o golpe do diagnóstico
de uma doença grave, ao saber que se pode morrer em breve ou perder a
pessoa amada, as coisas em volta parecem não ter mais sentido. Os estudos
identificam a perda de um membro próximo da família como o fato
mais estressante da vida. Nenhum acontecimento vital é capaz de causar
mais reações emocionais nas pessoas e naqueles que a cercam.
Quando falamos
de envelhecimento, falamos também da morte, que é inevitável.
Ninguém gosta de perder, é natural não querer perder nada,
nem saúde, nem afetos, nem pessoas amadas. Mas a realidade é outra
e “cada passagem de estágio no ciclo de vida é uma pequena
morte, existindo perdas e ganhos nessas épocas de mudança, assim
como na morte propriamente dita.” Carter e McGoldrick (apud Groisman,
2003). A perda é uma condição da vida. Dói muito.
Algumas pesquisas sobre a dor da perda de uma pessoa amada dizem que em qualquer
tipo de morte “não existe perda que não possa levar a um
ganho”. Embora a maioria de nós preferisse, com certeza, desistir
do ganho se pudesse desistir da perda, a vida não oferece essa opção
a ninguém.
A forma como
a dor pela perda de um ente querido pode se manifestar depende de muitos fatores:
da idade da pessoa que perde, da idade de quem perdemos, do quanto se está
preparado para isso, de como a pessoa sucumbiu à morte, do apoio dos
outros à volta. Na maturidade, todos nós já possuímos
um “acervo” de vida e a extensão da dor vai depender principalmente
da nossa história ao lado da pessoa que morreu, o significado dela em
nossa vida e da nossa própria história individual de amor e de
perdas.
Em sua obra
Lamento e Melancolia, Freud (apud Viorth, 2005) diz que a lamentação
pela morte da pessoa que amamos é um processo interior difícil
e lento, extremamente doloroso. A dor passa a ser não um estado, mas
um processo.
A primeira
fase desse processo, mesmo que a morte tenha sido anunciada antes, é
de choque, apatia e descrença, como se não se pudesse acreditar
no que está acontecendo. O choque pode ser menor que o alívio
quando se convive mais tempo com a ameaça da morte, mas o fato de que
alguém que amamos não existe mais é algo além do
que podemos aceitar. Mesmo no caso das doenças fatais, quando o maior
choque é saber o diagnóstico, e embora, algum tempo antes da morte,
exista uma preparação de “luto antecipado” com todos
os rituais da enfermidade, é muito difícil assimilar a idéia
da perda de um ente querido.
Vale lembrar
que, no caso de pais idosos, as mulheres mais velhas tornam-se, na família,
as cuidadoras principais, mesmo que tenham irmãos ou outras pessoas próximas.
Nem sempre há condições financeiras para se contar com
a ajuda de profissionais (enfermeiros, acompanhantes, empregados domésticos)
e a mulher muito comumente é quem se encarrega de tomar conta dos pais
idosos quando se tornam mais dependentes, mesmo quando não se encontram
seriamente doentes. Costumamos ouvir afirmações como “é
a filha mulher quem fica mesmo” ou “ele só aparece de vez
em quando, de visita, não está nem aí para a mãe”.
Cuidar faz parte da natureza feminina e parece que a sociedade determina que
esse é um papel exclusivamente da mulher. Claro que há exceções,
mas são raras. A “injustiça” na divisão das
tarefas de cuidar dos pais idosos (quando há possibilidade disso acontecer
e outras pessoas não ajudam) torna-se uma questão capaz de gerar
muitos conflitos. A mulher fica sozinha, cansada, sobrecarregada de atividades,
abrindo mão de sua vida pessoal, de seus próprios afazeres, de
seus objetivos e de seus sonhos. Isso a faz sentir-se ainda mais desvalorizada
numa fase de sua vida na qual a sua auto-estima já é tão
ameaçada. Por outro lado, é um momento propício para o
surgimento de desavenças entre os membros da família, com a eclosão
de sentimentos como raiva, culpa e mágoa, muitas vezes ligados a situações
mal resolvidas no passado.
Ainda em relação
às fases do processo de dor pela perda de um ente querido, muitos outros
sentimentos podem surgir. Começando com o choque, passando pela incredulidade,
negação, dor aguda, raiva, culpa, idealização da
pessoa que morreu e tantas outras reações, o luto pode chegar
a um “fim”. E mesmo assim, quando pensamos que estamos mais recuperados
e adaptados à situação de perda e que o luto acabou, ainda
sofremos as chamadas “reações de aniversário”,
onde as lágrimas, a saudade e a tristeza profunda aparecem nos dias que
marcam o nascimento, a morte da pessoa que se foi ou em outras datas especiais.
Vale lembrar que a morte pode ter efeitos prejudiciais sobre a saúde
mental e física de quem perdeu alguém querido, como o aparecimento
de doenças e alterações de comportamento. Surgem as depressões
e vários outros distúrbios mentais.
Mesmo as mulheres
que não sofrem da “síndrome da viuvez”, que é
um quadro depressivo possível de acontecer nessa fase, sentem uma dolorosa
desorientação. A morte do companheiro põe fim a uma unidade
social que é o casal, impõe novos papéis e obriga a enfrentar
uma terrível solidão. Já a morte dos pais idosos parece
ser mais suportável.
Pode-se ter tido oportunidade de dizer adeus, de expressar amor e gratidão, terminar assuntos não resolvidos, conseguir uma espécie de reconciliação, mas não há como não sofrer perante a morte. A dor é importante, mas o luto não deve nos paralisar por muito tempo para o que ainda existe de vida em torno de nós. O envelhecimento é uma fase mais vulnerável aos efeitos prejudiciais que o luto pode trazer para a saúde física e mental. Porém, a recuperação gradual das dificuldades que a perda acarreta trará certamente de volta a energia, a esperança e a capacidade para ter prazer e investir na vida.
Buscando saídas
Como já foi dito antes, este trabalho surgiu a partir de uma monografia
sobre a fase da menopausa na vida da mulher, apresentada ao final de um curso
de especialização em Psicologia Médica. Procuramos, desta
vez, refletir mais sobre as perdas diversas que a mulher enfrenta na maturidade
e suas conseqüências emocionais.
A primeira
perda importante a ser encarada é a perda da beleza da juventude quando
o envelhecimento começa a se manifestar. Embora não tenha sido
o tema principal, o climatério mereceu destaque, por ser uma fase extremamente
marcante na vida da mulher. As modificações orgânicas, responsáveis
pelos primeiros sinais de envelhecimento do corpo, referem-se a fenômenos
fisiológicos que acontecem no organismo feminino neste período.
Procuramos trazer alguns conceitos e explicá-los de uma forma clara,
menos profunda em conteúdos médicos, para que pudessem ser facilmente
compreendidos.
A menopausa
pode ser comparada, pelo seu sentido, à menarca ou primeira menstruação
que ocorre na puberdade. Na adolescência, a menstruação
e a manifestação dos traços físicos característicos
do sexo feminino significam que a partir daquele momento a menina pode assumir
papéis de adulto, como o de esposa e mãe. Isso mobiliza, de certa
forma, uma ansiedade de separação total das possibilidades do
tempo de criança. No climatério também existe um processo
semelhante. A vivência psicológica que a mulher tem do envelhecimento
pode estar ligada a uma ansiedade de separação de uma vitalidade
eterna e da idéia de nunca ficar velha. A dificuldade para suportar essa
separação acarretaria, então, conseqüências
emocionais importantes nesse período, que às vezes são
expressadas até por fenômenos somáticos.
Antigamente,
o valor da mulher era predominantemente determinado pela sua função
de reprodução e pelo seu papel social de mãe, que davam
continuidade à família. Na sociedade moderna, a função
biológica é apenas mais um aspecto de valorização
social e identidade pessoal. A mulher de hoje participa ativamente da sociedade,
tem uma profissão, desenvolve outras atividades fora de casa. A mulher
menopausada não se expressa mais como fêmea reprodutora, mas sua
criatividade agora está direcionada para a mulher como um ser social.
O que acabou é a possibilidade de gerar filhos, e não o seu potencial
para criar coisas novas.
Falamos das
outras tantas perdas possíveis na meia-idade, sendo as mais dolorosas
as relacionadas à morte. Com o envelhecimento, homens e mulheres começam
a ter consciência de que a vida tem um fim e de que um dia a morte vai
ter que ser enfrentada. Aquilo que parecia tão distante ficou mais próximo,
aparece o sentimento de mortalidade, de finalização. Os filhos
cresceram, não precisam mais de tantos cuidados ou até já
saíram de casa. O marido ou companheiro também está vivendo
a sua “idade do lobo” e sai em busca, muitas vezes, de companheiras
mais atraentes e de novas aventuras. Os próprios pais, mais idosos, começam
a ficar doentes, dependentes ou morrem. E a mulher começa a pensar que
ela também está acabando... São questões pesadas
emocionalmente, permeadas por sentimentos de desalento, dor, tristeza, sentimentos
negativos e sombrios.
Como fica,
então, a senhora madura, ainda não tão idosa, ao enfrentar
tudo isso? O envelhecimento com certeza traz mudanças, obrigando a mulher
a se adaptar para atingir um novo equilíbrio.
Até
a geração passada, a mulher se submetia às ordens do marido.
Hoje ela evoluiu, mudou muito e, a partir dos 40 anos de idade, quando começa
a perceber os primeiros traços de envelhecimento, a mulher se questiona:
“Quem sou eu?”, “O que quero fazer agora da minha vida?”,
“O que fiz até agora é suficiente?”.
A maturidade
pode ser uma fase de recomeços bem rica em experiências. É
hora de viver a guerreira, a exploradora, a aventureira e até, quem sabe,
a líder. Desenvolver mais o prazer do sexo, deixando de lado o romantismo
exagerado. Afinal, é menopausa e não “sexopausa”.
A fase da “Bela Adormecida” já passou, quando esperava ser
acordada pelo príncipe encantado. Mas cada mulher pode ser despertada
de uma forma diferente, a partir de uma desilusão amorosa, da perda de
um ente querido, das próprias mazelas do envelhecimento ou até
mesmo pelo encontro com um verdadeiro príncipe desencantado (oportunidade
raríssima). Ainda pode surgir uma paixão no outono / inverno dos
50 anos...
A mulher madura
tem muito tempo para constatações e interrogações
que, junto com as vivências de dor, possibilitam transformações
que rompem com o estado de acomodação. Esse exercício de
contato profundo consigo própria passa, sem dúvida, pela solidão.
É na maturidade que ela aparece mais fortemente e a maneira como cada
uma vai lidar com a solidão é uma das tarefas desta etapa da vida,
aprendendo a conviver consigo mesma, conhecendo-se melhor, valorizando mais
os acontecimentos.
A mulher de
agora está mais livre para aproveitar o seu tempo, para pensar mais em
si mesma. É mais introspectiva, questiona seus valores e se pergunta
se ainda dá tempo para mudar alguma coisa em sua vida, pois agora está
mais consciente do limite que lhe resta.
A senhora madura
procura uma terapia, procura ajuda psicológica quando sente que não
está dando conta sozinha de seus problemas. Não se aposenta tão
cedo ou trabalha voluntariamente em instituições sociais, faz
cursos, busca respostas nos livros, nas religiões, conversa com as amigas
(e amigos), tem muito mais coragem que os homens de mudar sua vida, de terminar
um casamento quando este não a preenche mais.
A geração
que chega ao climatério agora está de fato mais jovem. As mulheres
se sentem mais jovens de espírito, com mais possibilidades na vida e
começam a cuidar mais da aparência. Caminham, fazem ginástica,
vão ao médico, fazem terapia de reposição hormonal
da mesma forma que antigamente tomavam pílula anticoncepcional para não
engravidarem.
Não
só as que têm um nível socioeconômico favorável
podem tentar mudar a sua vida na fase do envelhecimento. O próprio governo,
interessado em mudar a qualidade de vida das pessoas nessa faixa etária,
elabora projetos e oferece atividades mais acessíveis e até mesmo
gratuitas. Já existem as “Universidades da Terceira Idade”,
as aulas de ginástica ao ar livre nas praças dos bairros, os programas
de saúde da mulher nos hospitais e postos públicos e oportunidades
também de lazer para o público de mais idade.
A maturidade
é um período de muitas mudanças. O problema é aprender
a administrá-las. Toda mulher já viveu uma história que
pode ter sido gratificante ou cheia de dificuldades. A capacidade de lidar com
isso, de mobilizar seus recursos internos, é o que vai contar na hora
de enfrentar a meia-idade.
Refletindo
a partir de suas próprias inquietações, surgem decisões
de acomodação definitiva ou mudanças radicais.
A mulher madura deste novo milênio ganhou autonomia e condições de equilíbrio para enfrentar a crise do envelhecimento com dignidade, sabedoria e feminilidade, sem medo da transição e arriscando-se em novas formas de estar na vida.
Referências
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Mara Lilian de Souza Monteiro
E-mail: maralilian@oi.com.br
Recebido em:
13/06/2008
Aprovado em: 04/09/2009