MT 02: CLÍNICA CONTEMPORÂNEA - DOS DESENCONTROS AOS "BONS" ENCONTROS

Autores

  • Magda Zurba

Resumo

MT 02: CLÍNICA CONTEMPORÂNEA - DOS DESENCONTROS AOS "BONS" ENCONTROS Magda Zurba Nesta mesa estamos pensando sobre o papel da clínica contemporânea e, por conseguinte, o papel do próprio psicólogo clínico. Esse debate nos leva a reflexões para além das contribuições teóricas em si mesmas Precisamos lembrar que, na contemporaneidade, estamos em plena vigência da implantação de um novo modelo de saúde mental, não apenas no Brasil, mas em termos de mundo. Esse processo, concretamente iniciado com a reforma psiquiátrica italiana na década de 70, é resultante de inúmeras tensões epistemológicas sobre o modo de se entender saúde ou o que passou a se nomear como “saúde mental”. Este termo, ainda que insuficiente para remeter nosso olhar a totalidade do sujeito - pois o termo “mental” sugere mente como parte alheia ao corpo - acabou adquirindo significado em si. Historicamente o termo saúde mental acabou por agrupar em seu entorno os intelectuais e profissionais da saúde que combatiam o termo “doença mental”. Neste sentido, os grupos que propunham modelos de reformas psiquiátricas, protagonizados por Basaglia, salientavam a necessidade de “colocar a doença entre parênteses para que se pudesse tratar e lidar com os sujeitos concretos que sofrem e experimentam o sofrimento.” Neste mesmo cenário histórico, acresce-se a polêmica brasileira em torno do fato de que o psicólogo adentrou ao terreno das políticas públicas de saúde nas últimas décadas, junto à consolidação do SUS (Sistema Único de Saúde) – fato este que tem levado alguns psicólogos ao questionamento que tipo de clínica o psicólogo pode exercer no âmbito dessas políticas. Certamente que o histórico da queixa do paciente de políticas públicas e a chegada do pedido de ajuda a um psicólogo clínico, neste contexto de reforma psiquiátrica, assume uma configuração completamente diferente de duas décadas atrás. Por outro lado, a falta de posicionamento do psicólogo de que tipo de clínica podemos realizar em ambientes como postos de saúde, hospitais ou CAP´s, resulta em um prejuízo histórico na consolidação da reforma psiquiátrica no Brasil. O psicólogo não pode mais se furtar a assumir um papel clínico para o qual a sociedade o tem convocado: uma clínica ampliada, com olhar territorial – “território” no sentido dado por Milton Santos e presente na Estratégia de Saúde da Família. Esse olhar e manejo clínico exige atenção aos sistemas íntimos e redes sociais. Neste sentido, a gestalt-terapia nunca esteve tão contemporânea. O gestalt-terapeuta assume um protagonismo relevante, uma vez que nosso olhar sobre o contato e a constituição dialética de sujeito, nos leva a compreender o quadro psicopatológico na justa forma proposta pelas políticas públicas atuais: promover saúde mental é promover saúde total. Há muito que os gestalt-terapeutas trabalham para além de uma visão dualista mente-corpo, premissa hoje presente na implantação dos serviços substitutivos ao modelo manicomial. Entre outras coisas contribuições da gestaltterapia nesse cenário, podemos apontar a compreensão fenomenológico dos quadros psicopatológicos, a ênfase no contato como processo terapêutico, bem como a própria dialética presente no conceito de funções e disfunções. Assim, convidamos o gestalt-terapeuta a assumir sua posição histórica em exercer a clínica como ato político na construção de um modelo de saúde mental no Brasil - que segue se consolidando no bojo da reforma psiquiátrica.

Publicado

2014-09-19