MC 10: CORPO E "SINTOMA" - REVISITANDO O SUJEITO PSICOLÓGICO PARA ALÉM DO DUALISMO CARTESIANO

Autores

  • Magda Zurba

Palavras-chave:

CORPO, SINTOMA, DUALISMO, CARTESIANO

Resumo

O presente mini-curso foca na perspectiva holística que a gestalt-terapia proporciona ao olhar clínico, compreendendo a leitura de “sintomas” a partir da integração do sujeito em suas polaridades e em processo homeostático. A metodologia será apoiada em duas estratégias básicas: (a) exposições teóricas dialogadas com os participantes; (b) atividades práticas de vivências gestálticas/corporais. A proposta espera que os participantes compreendam o processo de produção e manutenção dos sintomas, considerando que “saúde mental” – termo amplamente empregado na atualidade - e “saúde corporal” não são distintas. Desde o ponto de vista da cultura e do funcionamento dos sistemas íntimos, podemos entender o “sintoma” como o ajuste criativo circunstancial do sujeito, contudo, essa descrição de sintomas pode variar quando levamos em consideração os aspectos da dialética da ontologia do ser social: singular, particular e universal. Alguns aspectos abordados durante o mini-curso promoverão a reflexão sobre a intervenção do profissional dito “de saúde mental” no âmbito das políticas públicas de saúde, bem como o papel do psicólogo clínico em qualquer contexto da relação dialógica, a partir de uma leitura fenomenológica de psicopatologia e percepção do corpo. Neste sentido, a “queixa” do paciente pode ser entendida como genérica (do ponto de vista teórico em seus aspectos disfuncionais). Mas, enquanto o paciente é o porta-voz do sintoma, relatará sua dor como “ser humano”, singular e único, haja vista problemas somáticos graves, como aqueles exemplificados no campo da psico-oncologia. Por vezes, as intervenções pontuais, os prontuários, a entrevistas, etc.. parecem perder todo o sentido no âmbito da universalidade – universalidade esta que a psicopatologia clássica historicamente pretendeu atingir. Por outro lado, é justamente na ação sobre o singular que encontramos os sentidos da particularidade e da universalidade: no discurso, na vestimenta, na linguagem corporal, enfim, nos modos de subjetivação presentes na clínica. A partir das contribuições da abordagem gestáltica, podemos entender que o “sintoma” não é isento de história. Ou seja, a “saúde” – expressa aqui em vários sinais corporais e emocionais - tem uma história na vida cotidiana das pessoas e das comunidades. Esta concepção, contudo, nada tem a ver com a idéia cartesiana dualista (corpo/mente). Antes o contrário. Os modelos de intervenção da gestalt-terapia contribuem na compreensão do sintoma como elemento de uma totalidade (não dual). Os conceitos de organismo e de autoregulação nos permitem compreender os “sintomas” no campo dos ajustes criativos e da homeostase Enfim, entendemos que saúde é uma resultante de um permanente exercício dialético onde os sujeitos produzem e reproduzem a si mesmos e as suas condições de existência. Justamente neste processo de “vir a ser” do homem em sua vida cotidiana, talhado nas veias da intersubjetividade (sistemas íntimos, trabalho família, comunidade, etc) se trama a constituição de sujeito e corpo, aspectos sobre os quais deve recair o olhar clínico.

Publicado

2012-09-06