Mini-Curso 16: Gestalt-terapia como experiment-ação: corpo, ato e transgressão.

Tema
Gestalt-terapia como Experiment-ação: corpo, ato e transgressão.
Objetivos
1- discutir o caráter experiencial do trabalho psicoterápico em Gestalt-Terapia, buscando ampliar seu significado e discutir seus fundamentos, constituindo o ato terapêutico como um campo de experiência estética; 2- construir relações entre experimentação, corporeidade e transgressão, tendo como fundo a fenomenologia de Merleau-Ponty; 3-Promover um diálogo entre a experimentação na Gestalt-terapia e nos trabalhos de Lygia Clark;

Conteúdo
1- Da subjetividade à intercorporeidade: elementos da ontologia do Ser Bruto de Merleau-Ponty
Desenvolveremos um recorte das propostas merleau-pontyanas, colocando-as em diálogo com as noções de campo organismo-ambiente, ajustamento criativo e agressão. O filósofo dedicou sua obra ao tema das relações entre homem e mundo, buscando uma compreensão que partia do mundo da experiência, de um a priori da correlação sujeito-objeto. Situou o corpo como consciência e desenvolveu um viés de pensamento que desembocou em uma ontologia do Ser Bruto.
2- Do espaço à espacialização: a introdução da experiência a partir da implicação corporal do espectador no ato artístico de Lygia Clark
Lygia Clark partiu da vocação da arte moderna de unir arte e vida e desenvolveu um trabalho peculiar fundamentado na transformação do espaço em espaço-tempo, inserindo o público no contexto da obra e propondo a experimentação como forma de acesso à totalidade. Suas obras envolviam as pessoas em um processo vivencial, se colocando como um campo de experiência. Discutiremos sua trajetória que aponta para a experiment-ação como ação intercorporal produtora de significados que permite a ressignificação da existência.
3- O fundo da experiência gestáltica: o fundo estético e o fundo fenomenológico
Mapearemos as relações da gestalt-terapia com a arte e a estética a partir da história do envolvimento pessoal de três dos principais formuladores da gestalt-terapia: Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman. Consideramos que suas experiências pessoais com a arte constituem um fundo estético de onde partem as experiências da Gestalt-Terapia. Tais elementos históricos e conceituais nos permitam mapear e traçar alguns contornos de um corpo teórico que tem como importantes referenciais, para a apreciação da forma ou gestalt, os critérios estéticos. Consideramos que a vivência com a arte constituiu um fundo que dirigiu o olhar dos fundadores da gestalt-terapia para o viés fenomenológico
4- Gestalt-Terapia como experiment-ação: ressignificando.
Articulamos as noções de campo, corporeidade, forma e significação como dimensões constitutivas da experiment-ação. Discutimos as dimensões do ato psicoterápico como um campo de experiência produtora de significações. Discutimos a noção de desajustamento criador – proposição terapêutica que introduz na situação uma diferença que provoca a implicação corporal do cliente com a experiência imediata no contexto psicoterápico.

Natureza da abordagem filosófica, teórica ou técnico-metodológica
O trabalho toma como referenciais principais a proposta do livro Gestalt-Terapia, de Perls, Hefferline e Goodman, a fenomenologia e a ontologia do ser bruto de Maurice Merleau-Ponty

Metodologia do curso
Exposição dialogada com utilização de slides

Bibliografia
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