Ingrid Robinson Canedo
Esta proposta de trabalho atende a uma demanda crescente de pessoas, em sua
maioria mulheres na terceira idade, que por mudança na vida conjugal
e aposentadoria, necessitam resgatar sua capacidade de trabalho.
Grande parte destas mulheres foi produtiva por longos períodos, auxiliando
seus maridos no sustento do lar. A baixa salarial ocasionada pela aposentadoria,
assim como a falta de apoio do cônjuge, mobiliza-as a inserir-se novamente
no mercado de trabalho.
Este texto tem por objetivo a reflexão sobre as possibilidades de ampliação
da Orientação Profissional para esta faixa etária, enfocando
este grupo específico de pessoas.
INTRODUÇÃO
A Orientação Profissional na Terceira Idade é
um campo de estudo que vem sendo discutido e refletido por alguns autores.
O tema, envelhecimento e aposentadoria são desenvolvidos por Maria Alves
Bruns e Antônio Abreu (1997), no seu texto, “O Envelhecimento: Encantos
e Desencantos da Aposentadoria”.
Neste texto, através de um estudo com pessoas aposentadas, os autores
estabelecem certos pontos de discussão, que vou tentar reproduzir para
justificar a necessidade de um aprofundamento técnico e metodológico
na Orientação Profissional, para esta faixa etária.
Inicialmente os autores mencionam que a maioria dos sujeitos entrevistados fala
de escolhas profissionais que não trouxeram comprometimento e realização
pessoal:
“ Ao expressarem que não fariam as mesmas escolhas profissionais,
estão evidenciando quanto o trabalho executado foi desagradável,
foi um fardo deixado à margem do caminho... Esta posição
permite verificar que a insatisfação com o trabalho localiza-se
não só nos problemas referentes à remuneração
e condições sociais e políticas específicas de cada
profissão, mas sim a escolha propriamente dita. ” (BRUNS &
ABREU, 1997, p. 25)
Neste pequeno trecho, retirado do artigo acima, fica evidente como as escolhas
profissionais são, em sua maioria, desvinculadas das reais motivações
dos indivíduos. Observa-se que o adulto, ao entrar na aposentadoria,
não consegue visualizar nenhuma forma de inserção social,
que possa trazer-lhe futuramente algum tipo de satisfação pessoal.
Na minha prática, enquanto orientadora, fica claro que opção
profissional, estabilidade financeira e realização pessoal não
caminham juntos. Muitos profissionais estabilizados financeiramente não
vivenciam o trabalho enquanto produção de prazer e possibilidade
de crescimento pessoal.
A escolha de uma profissão envolve uma multiplicidade de fatores e cada
vez mais, a sociedade valoriza o aspecto econômico e o status social em
detrimento da realização pessoal e do compromisso que o indivíduo
possa ter com sua prática profissional.
Sabe-se que o trabalho na vida de um indivíduo envolve, no mínimo,
oitenta porcento (80%) de sua rotina diária, e que uma “práxis”
compromissada é a propulsora de um bom desempenho profissional. Entretanto,
para que exista uma “práxis” comprometida é fundamental
que a vida laborativa seja vivenciada com um momento de criação
e crescimento pessoal, onde o produto desta ação seja a expressão
das reais potencialidades do indivíduo e produza neste, um sentimento
de compromisso com o social e consigo próprio.
Um estudo realizado por Bruns (1992), citado neste texto, fala da grande desarticulação
entre teoria e prática, formação acadêmica versus
mercado de trabalho e falta de informação, o que leva os jovens
a realizarem escolhas desvinculadas de suas reais possibilidades e potencialidades.
Isto produz projetos de vida, que segundo Bruns e Abreu (1997), levam a um “descomprometimento
do ser” e a uma certa “anestesia e despersonalização”
onde originalidade e comprometimento tornam-se palavras inexistentes.
Na nossa sociedade cada vez mais as escolhas são feitas a partir de motivação
e estímulos exteriores, ex. : a carreira que exige menos pontos no vestibular,
a profissão que dá melhor retorno financeiro... Tudo em detrimento
do compromisso com a própria ação e com o que está
possa realizar.
A chegada da terceira idade, com ela a aposentadoria, pode revelar-se não
apenas um momento de angústia e decepção mas também
de reflexão sobre a trajetória profissional. Através da
construção de novos projetos, o sujeito poderá, quem sabe,
vivenciar novas formas de ser, resgatando a relação trabalho –
prazer.
A construção desse novo projeto contudo não é vista
muita das vezes, por estas pessoas, como algo possível e realizável.
Bruns e Abreu (1997) colocam como a experiência da aposentadoria e a possibilidade
de pensar projetos futuros está intimamente ligada as formações
ideológicas de cada indivíduo e ao significado e sentido que o
trabalho teve em sua existência:
“ Algumas formações discursivas revelam que o trabalho é
experienciado de um modo desprazeroso, um esforço, uma obrigação.
Para estes sujeitos a aposentadoria representa um alívio ao desconforto
de 25, 30 anos de trabalho... A materialidade dessa exaustão pode ser
identificada pela ausência de reelaboração de projetos,
de um lançar adiante que dê sentido à existência após
a aposentadoria... ” (BRUNS & ABREU, 1997, p. 29).
Com a chegada da aposentadoria o sujeito fantasia a possibilidade de independência
- “fazer o que se quer” e dentro deste projeto qualquer forma laborativa
não se encaixa. Desta forma o trabalho de reorientação
profissional tem que romper inicialmente com alguns estereótipos ou cristalizações
ideológicas: “trabalho é monotonia, “não vejo
a hora de me aposentar e aproveitar a vida”, “trabalho é
para relógio”. Assim fica evidente a importância da reorientação
profissional nesta etapa de vida, como um momento em que o indivíduo
poderá repensar as escolhas realizadas e quem sabe, criar projetos onde
o trabalho possa ser percebido como uma possibilidade real “de construção
do ser humano” (BRUNS & ABREU, 1997).
Lucchiari (1997), no seu texto “Re-orientação Profissional
apoio em época de crise” descreve a reorientação
como um “escolher de novo”. Escolha esta que, segundo a autora,
envolve a integração da identidade vocacional - profissional com
a história pessoal e familiar do sujeito.
Cabe aqui mencionar alguns dos conceitos da teoria de Super (1957) que norteiam
e explicitam o trabalho de orientação na terceira idade, que pretendo
realizar, já que acredito que a função do orientador será
a de estimular o comportamento exploratório vocacional, que foi ativado
ou não pelo adulto na adolescência, no momento da primeira escolha,
e que necessita ser novamente estimulado.
Para Super (1957) o comportamento exploratório vocacional refere-se:
“As atividades mentais ou físicas efetuadas com o propósito
mais ou menos consciente, um desejo de eliciar informações sobre
nós mesmos ou nosso ambiente, ou de verificar ou chegar a uma base para
conclusão ou hipótese que nos ajudará na escolha, preparo,
entrada, ajustamento ou progresso em uma ocupação”. (In:
LASSANCE, 1997, p. 5).
Com isso Super define o comportamento exploratório
como a capacidade do indivíduo em colocar-se a prova, ou melhor, a sua
auto-avaliação sobre o que ele pode ou não desempenhar,
de que forma e com que propósito. Esta descoberta envolve uma série
de ações que se dão tanto pelo pensamento quanto por experiências
concretas através das quais o indivíduo experimenta seus atributos
e potencialidades.
Já o autoconceito vocacional (AC) seria:
“A constelação de atributos do self considerada pelo indivíduo
como sendo vocacionalmente relevante, tenham ou não sido traduzidas em
uma preferência vocacional. ” (In: LASSANCE, 1997, p. 12).
O autoconceito vocacional é formado por percepções conscientes
do sujeito sobre seus atributos, ou seja, suas características, possibilidades,
limitações... . Estes atributos constituem a estrutura básica
da personalidade e da auto-imagem do indivíduo e podem ou não
serem expressos numa opção profissional. Acredito, contudo que
uma escolha profissional mais compromissada e vinculada ao eu, é aquela
em que a opção de carreira é a mais identificada possível
com os auto-atributos vocacionais.
Um adulto na meia idade já experenciou durante a sua trajetória
de vida, de forma intencional ou não, situações que contribuíram
para a cristalização de diversos autoconceitos vocacionais que
levaram a constituição de uma identidade ocupacional. Esta identidade
é que permite ao sujeito responder às seguintes perguntas: - O
que quero fazer? – A maneira de quem? – Com o que? – Como?
– Onde?
Esta identidade desenvolve-se a partir de estágios, durante toda a vida,
e poderia ser definida com a autopercepção do sujeito dos diversos
papéis ocupacionais que ele poderia desempenhar (suas expectativas).
A formação desta identidade se dá em conjunto com desenvolvimento
da personalidade do indivíduo e envolve os seguintes processos, segundo
Super (1957):
1 - Formação do autoconceito (AC), que é construído através de identificações e imitações, desenvolvendo-se durante toda a vida do indivíduo;
2 - Tradução do AC em termos vocacionais através de: identificações com adultos significativos; aprendizagem do seu papel na sociedade e maior consciência dos atributos necessários para o desempenho de determinadas funções;
3 - Implementação do AC através de treinamento profissional e ida para o trabalho.
O trabalho do orientador com pessoas na terceira idade será
o de conscientizá-las do seu AC vocacional, corrigindo algumas distorções,
reformulando percepções e principalmente permitindo uma maior
exploração dos seus autoconceitos. Desta forma alguns atributos
antes não considerados poderão agora ser redescobertos e traduzidos
em novas possibilidades de atuação profissional.
Podemos dizer que a escolha de uma profissão se dá em função
de um comportamento exploratório vocacional consciente que vise a experimentação,
tentativa ou procura por novos autoconceitos. O comportamento exploratório
dentro de um processo de orientação vocacional tem por finalidade
possibilitar ao sujeito engajar-se em diversas experiências que irão
contribuir para o autoconhecimento ou mesmo reformulação dos seus
autoconceitos vocacionais.
No processo de formação desta identidade ocupacional alguns elementos
devem ser considerados, segundo a perspectiva de Super:
- A capacidade do sujeito de diferenciar-se em relação aos outros
(familiares, amigos) - diferenciação do self;
- O desempenho de papéis que lhe são atribuídos;
- E principalmente o teste de hipóteses, ou teste de realidade, ou seja
a capacidade do indivíduo em confrontar-se com o que ele gostaria de
ser ou pensa que é, e a sua realidade. Através do teste de realidade
o sujeito vai verificar se suas crenças, hipóteses e/ou expectativas
referentes ao seu self e ao seu ambiente são verdadeiras.
O Adulto, diferentemente do adolescente, já realizou
diversos testes de hipóteses que confirmaram ou não, na realidade,
alguns de seus autoconceitos. Este confronto torna-se novamente necessário
com a entrada na terceira idade. As mudanças vividas, tais como aposentadoria,
envelhecimento físico e discriminação social, levam a reformulações
na identidade. Desta forma alguns autoconceitos terão que ser abandonados,
outros reformulados e, até, construídos em função
desta nova realidade pessoal - profissional.
No trabalho de orientação o sujeito terá um espaço
para verificar a realidade de algumas crenças, hipóteses e expectativas
concernentes ao seu self e ao ambiente, formuladas ao longo de sua vida. Através
da reflexão sobre a sua trajetória profissional, algumas imagens
idealizadas ou reprimidas serão questionadas e reformuladas. Novos testes
de hipóteses não distorcidos serão experimentados, de forma
que algumas crenças do self sejam modificadas. A vivência de novas
experiências poderá levar ao resgate de processos abandonados e
a descoberta de novas potencialidades, possíveis de serem estimuladas,
neste momento especial da vida.
Entendo ainda, que a escolha de uma profissão deve fundamentar-se
numa boa avaliação pelo indivíduo de seus autoconceitos
vocacionais. Desta forma pretendo que o trabalho de reorientação
profissional concentre-se em alguns processos que são chamados por Super
de metadimensões dos Acs. Pretende durante o trabalho de orientação,
estimular o comportamento exploratório vocacional dos orientandos de
forma que as atividades propostas focalizem e estimulem as seguintes dimensões
dos autoconceitos vocacionais:
1 - a auto - estima e auto - avaliação do sujeito sobre suas características
e atributos, na sua idade atual;
2 - o grau de clareza que ele possui sobre o seu papel atual na sociedade e
na família
3 - a sua habilidade em descrever-se de forma abstrata, que já deve estar
desenvolvida, em função do seu grau de maturidade intelectual
e emocional;
4 - o seu grau de refinamento, ou seja, a capacidade de reelaborar, a imagem
que tem de si próprio;
5 - a segurança que ele pode ter com relação “a pessoa
que ele é”, suas certezas;
6 - a estabilidade de suas percepções, sendo que algumas podem
agora ser percebidas como cristalizações de imagens ou atributos
que não são mais necessários;
7 - o realismo, ou seja, a capacidade de confrontar-se com o retrato de si próprio
e como o meio o percebe.
PÚBLICO ALVO
Este trabalho foi realizado com duas mulheres na idade de
58 e 60 anos, ambas demonstrando grande vigor físico e intelectual, além
do desejo de reconstruir sua vida profissional e afetiva.
São mulheres que estão aposentadas, separadas do marido e filhos,
morando atualmente sozinhas e que demandam a redescoberta de uma nova opção
profissional que possibilite além de ganhos financeiros, a reconstrução
de vínculos sociais e afetivos.
METODOLOGIA
Realizou-se inicialmente, uma entrevista individual com cada
uma das participantes para avaliar a problemática vocacional e diagnosticar
o seu momento atual de vida.
Posteriormente, participaram de dez sessões de atendimento, com duas
horas de duração. Estas foram realizadas em conjunto, para que
as atividades propostas, assim como, as vivências provenientes destas,
pudessem ser compartilhadas.
O processo foi planejado de forma que as orientandas durante a Orientação
Profissional vivenciassem as seguintes etapas:
Autoconhecimento - enfocando a influência familiar nos projetos pessoais
e profissionais, a reorganização da auto - imagem e o incremento
na auto - estima;
Redescoberta de potencialidades - habilidades perdidas, reencontradas edescobertas;
Modelos de tomada de decisão - reflexão sobre os diferentes estilos:
racional, intuitivo e dependente;
Informação profissional - discussão sobre o campo de trabalho
na meia idade e as possíveis formas de reinserção;
Finalização – fechamento do processo de orientação
através da reflexão sobre as metas atingidas e o crescimento obtido,
assim como, avaliação do trabalho realizado.
As técnicas utilizadas foram:
a) provenientes da orientação profissional e adequadas para esta
faixa etária;
b)experimentos de crescimento em gestalt-terapia – viagens de fantasia;
c)atividades criadas em função da necessidade da dinâmica
do trabalho em orientação profissional.
O material surgido durante as sessões foi processado e elaborado dentro
de uma modalidade clínica de Orientação Vocacional, tendo
contudo como referencial e atuação, a abordagem gestáltica.
A seguir descreverei as técnicas utilizadas em cada etapa, e os comentários
referentes a estas.
DESCRIÇÃO DAS TÉCNICAS DE ACORDO COM AS
ETAPAS REALIZADAS
1ª ETAPA: AUTOCONHECIMENTO
TÉCNICAS UTILIZADAS:
A) Realização da Entrevista Individual e Construção
do Gráfico de Avaliação do Estilo Atual Geral de Vida (RIO,
1995) – sessão individual.
Comentário:
Está atividade proporcionou às orientandas uma reflexão
sobre o seu momento atual, em termos de relacionamento social, afetivo, sexual
e pessoal, assim como, situação financeira, administração
do tempo, lazer e atividade profissional.
B) 1. Viagem através do Projeto dos Pais para os Filhos.
(LUCCHIARI, 1997).
2. Criação por cada Orientanda de um cartaz com o Tema: “Expectativas
dos Meus Pais versus Meus Interesses Pessoais e Profissionais Pessoais e Profissionais.
”
Comentário:
O resultado da técnica, visualizado pelas orientandas através
dos cartazes, foi ao mesmo tempo estimulante e mobilizador. Ficou claro para
estas que o projeto dos pais foi realizado por ambas e que muitos de seus planos
pessoais foram abandonados e não concretizados.
Fala das orientandas:
Orientanda A:
“Ficou claro o projeto de minha mãe para mim e o fato de eu tê-lo
cumprido direitinho, não tendo nenhuma possibilidade de realizar meus
desejos e sonhos pessoais. Quem sabe agora posso tentar realizar alguns, apesar
da dificuldade da idade. ”
Orientanda B:
“Percebo que cumpri alguns projetos da minha família mas que também
tive oportunidade de realizar alguns dos meus sonhos. Tenho uma sensação
de frustração por perceber que devido ao casamento e ao nascimento
de meu filho, não dei prosseguimento a eles. Isto me dá um desânimo
e a sensação de tempo perdido.”. (Está orientanda
está passando, no momento, por um processo de separação
conjugal e encontra-se deprimida com a situação).
C) Construção da Árvore Genealógica
da Família – ARGEVOC. (MULLER, 1988, 1988 – LUCCHIARI,1995
– CANEDO,1998).
Comentário:
Esta técnica e a dinâmica realizada possibilitou para as orientandas
uma percepção mais concreta das diversas influências familiares
que receberam, assim como dos parentes com os quais mais se identificavam, seja
positivamente ou negativamente. Além disso, permitiu através de
uma vivência lúdica, o aparecimento dos estereótipos familiares
e a reflexão sobre algumas identificações mais conflituosas.
Fala da Orientanda A: “Achei esta vivência muito interessante pois
pude perceber que possuo um pouco das características de todos os subgrupos
de famílias que eu criei. Percebi também que embora eu sempre
achasse que o meu pai nunca me deu nada de bom, foi da família dele que
eu tive as melhores influências e o maior estímulo em termos profissionais.”
D) Técnica do Baú da Fantasia (LUCCHIARI,1993
– CANEDO,1998).
Comentário:
Apareceu a necessidade de vivenciarem roupas/ocupações que trouxessem
sentimentos de liberdade e descontração.
Houve ainda a descoberta de que certas áreas profissionais, que até
então eram vistas como possibilidades de atuação, despertavam
sentimentos de desqualificação pessoal.
Uma das orientandas colocou a fantasia de espantalho como a que detestaria vestir
pois esta lhe trazia “sentimentos de pobreza, ser ridicularizada, baixa
auto – estima, aparência feia e desleixada, sentir-se desconfortável”.
Ao pedir que correlacionasse esta roupa com alguma profissão, ficou surpresa
ao lembrar-se da profissão de vendedora, pois estes eram os sentimentos
que sentia quando tentava exercer esta função. Ficou claro para
ela a dificuldade que sentia quando, por insistência familiar, aceitava
fazer parte de diversos negócios com vendas: dietas, roupas, utilidades
domésticas, nunca conseguindo dar continuidade a estes.
E) 1. Discussão do Texto: “E a Busca da Felicidade.
“ (ORNSTEIN & SOBEL, 1989).
2. Viagem de Fantasia: O Sábio (CANEDO,1998).
Comentário:
A discussão do texto trouxe para as orientandas o resgate do prazer por
pequenas coisas que estavam esquecidas ou abandonadas.
A vivência do sábio mobilizou material conflituoso em relação
às dificuldades pessoais e de relacionamento. Dentro do enquadre da orientação
profissional foram feitas intervenções breves e eficazes, conscientizando
as de alguns dos conflitos que estavam dificultando o processo de elaboração
de uma nova identidade pessoal e profissional.
A orientanda A trouxe como sábio, “uma pessoa doente e isolada
que era ao mesmo tempo um farsante que fingia-se de sábio para que os
outros não percebessem que era doente”. O presente dado a ela pelo
sábio foi uma fava, algo místico, esotérico (no qual a
orientanda não acredita) que tinha a finalidade de realizar os pedidos.
Escreveu as seguintes palavras sobre o sábio: “isolamento, impostor,
dar o que a pessoa quer, medo de ser visto como louco”.
A orientanda B trouxe como sábio um mendigo que tinha muitas potencialidades
desperdiçadas. Este era “uma pessoa culta, com muitos conhecimentos
e que se tornou mendigo devido a falta de oportunidades”. Desenhou como
presente recebido um ovo no qual se via um pintinho querendo nascer e as frases:
“renascer pelo esforço, sair da casca, alegria da vida, ser eu
mesma”.
2º ETAPA: REDESCOBERTA DE POTENCIALIDADES
TÉCNICAS UTILIZADAS:
A) 1. Técnica: Criatividade com Ferramentas (ANDRADE, 1997).
2. Exercício de Auto Habilidades (PAIVA, 1985).
Comentário:
Esta sessão foi muito estimulante para as orientandas que perceberam
um leque de possibilidades.
Surgiram os seguintes comentários:
Orientanda A: “ Realmente, como eu posso realizar coisas! "
Orientanda B: “ Como é que a gente não percebe quanto pode;
não percebe toda a nossa capacidade.
A técnica da criatividade com ferramentas em conjunto com o exercício
de auto - habilidades permitiu uma discriminação entre as áreas
em que possuíam maior facilidade, assim como um reencontro com algumas
habilidades perdidas e/ou desperdiçadas e que agora podiam ser reencontradas.
Além disso levou a reflexão entre possibilidades de atuação
versus motivação versus habilidades proeminentes versus momento
atual de vida versus experiências profissionais já vividas.
3º ETAPA: MODELOS DE TOMADA DE DECISÃO
TÉCNICAS UTILIZADAS:
A) 1. Escala de Estilo de Tomada de Decisão – TDC. (PAIVA, 1985).
2. Viagem de Fantasia: A Procura (CANEDO,1998).
Comentário:
O trabalho de TDC deu uma nova perspectiva as orientandas sobre como cada uma
delas havia realizado, até então, suas escolhas, assim como a
possibilidade de utilizar novos estilos.
Ficou presente para ambas que no momento atual desejavam realizar uma nova escolha
profissional onde o sentimento de gostar ou não gostar fosse prioritário
em relação ao pensamento de devo ou não devo.
Na viagem de fantasia ficou evidente a necessidade afetiva das orientandas,
assim como suas situações conflituosas atuais: uma vivenciou o
encontro com um novo parceiro que lhe desse realização afetiva,
não vivida até então; já a outra fantasiou a possibilidade
de uma nova união familiar, já que atualmente vive o momento difícil
de separação e desestruturação de seu núcleo
de família
4º ETAPA: INFORMAÇÃO PROFISSIONAL
TÉCNICAS UTILIZADAS:
A) Construção da Pétala de Rosa sobre a ocupação
ideal. (BOLLES, 1998).
Comentário:
Esta técnica permitiu a construção da anatomia do trabalho
ideal. Houve uma integração dos aspectos anteriormente trabalhados
e a possibilidade de criar uma lista de oportunidades profissionais que envolvessem
as motivações, interesses, possibilidades e limitações
de cada uma.
Abaixo transcrevo as listas criadas.
Orientanda A
“Ser dona de um negócio (curso de inglês ou curso de cuidados
especiais para mulheres de meia idade); trabalhar no aeroporto no setor de informações
e recepção; cursar uma faculdade de Secretária Executiva
para poder atuar nesta função; “
Orientanda B
“Promotora de Vendas; estética;prestadora de serviços (leitora
a domicílio, depiladora, correção de provas em colégio,
entretenimento para pessoas idosas e deficientes);pesquisadora (do IBGE ou firmas
em geral); demonstradora (em supermercados, feiras).“
B) 1. Leitura e Pesquisa de:
- Caderno de Empregos de diversos jornais;
- Revistas sobre Pequenas Empresas e Negócios;
- Material sobre cursos e atividades em universidades comuns e da terceira idade.
2. Criação de um anúncio por cada uma das orientandas,
oferecendo seus serviços.
3. Vivência: Viagem à um Dia no Futuro. (LUCCHIARI, 1992).
Comentário:
Nesta sessão houve o confronto com a realidade do mercado formal de emprego
que se encontra fechado para esta população.
O lado positivo desta percepção foi o contato pelas orientandas
com sua criatividade para criar formas pessoais de inserção profissional.
Surgiram idéias como as de publicar os anúncios criados, criar
um negócio em conjunto, oferecer-se para serviços de relações
públicas e demonstradoras em empresas.
A vivência da Viagem ao Futuro levou a reflexão sobre o envelhecer,
o medo da solidão e do desgaste físico e mental, assim como, a
importância de viver intensamente o presente, sendo o futuro pensado a
partir de projetos a curto prazo.
5º ETAPA: FINALIZAÇÃO DO PROCESSO DE ORIENTAÇÃO
TÉCNICAS UTILIZADAS:
A) 1. Discussão do Texto: “Estilo de Vida: Mudando a Maneira de
Olhar” (GODIN & MALDONADO, 1995).
2. Redação: “Como cheguei e como estou saindo.”
3. Aplicação da Técnica: Programa de Metas (SILVA, 1997).
Comentário:
As orientandas mostraram-se muito satisfeitas com o trabalho realizado. Transcrevo
a seguir, com a autorização das mesmas, às redações
produzidas.
Redação: “Como cheguei - Como estou saindo.”
Orientanda A:
“Ao tomar conhecimento do trabalho de reorientação profissional
achei bastante interessante a proposta e participei com bastante interesse das
sessões.As vivências me proporcionaram bons momentos de autoconhecimento
e análise de sentimentos.Os trabalhos escritos mostraram-me claramente
as profissões para as quais possuo habilidades e interesses, dando-me
um maior conhecimento desses itens e motivando-me a procurar a profissão
certa.Pelo que acabo de expor, cheguei bastante animada e esperançosa
e estou saindo animada e esperançosa, embora mais consciente de que não
será uma tarefa tão fácil, devido à minha idade
e à retração do mercado de trabalho com relação
à meia e a terceira idade.Acho que valeu a pena o esforço.”
Orientanda B: (Criou um poema)
“Cheguei triste sim
Mas esperançosa
Algo iria acontecer
Ao abrir a porta da orientação
Meu coração estava ansioso por mudanças
Sem saber como e onde
Tudo era vazio no meu ser
Parecia ter esquecido o viver
Não havia mais conteúdo em mim
À vontade fraca queria só dormir
Eu mentia a todo instante
C. , Você não pode nada!
Fica em casa, vê que tudo volta
Dizia de mim para mim...
Entre tanto remexer
A panela de pressão explodiu
Feijão, arroz, carne, água, subiu
E lá está C.
A recolher o que sobrou
Ainda achando graça
Do que passou
Do tempo perdido em dor
Vendo que a vida é
Mais que isso
Viver é belo
Basta saber como ”
COMENTÁRIOS FINAIS
Acredito que a importância desta experiência encontra-se na possibilidade
de discussão e reflexão sobre o trabalho na terceira idade assim
como a ampliação da orientação profissional para
esta faixa etária. Através do material relatado neste trabalho
fica evidente como a aposentadoria pode ser vivenciada como um momento revolucionário
na vida de uma pessoa. Momento este que sempre foi visto pela sociedade como
um “fechar-se para o mundo” ou “isolar-se”.
Fica claro que a meia idade pode ser uma etapa de reconstrução
e mesmo de construção de formas mais integradas e positivas de
viver. A busca por uma nova inserção profissional é o ponto
de partida para a manutenção da vitalidade e a vivência
do “estar aposentado” pode permitir a retomada dos sonhos esquecidos
ou abandonados, ou ainda a renovação através de novos projetos.
Este trabalho também nos remete para a expansão e o incentivo
da prática da orientação profissional, pois para que tenhamos
profissionais cada vez mais vinculados e comprometidos com a sua prática
é necessário que a sociedade valorize o momento da escolha de
uma ocupação. O primeiro momento crítico é o da
adolescência, onde o sujeito escolhe a sua forma de inserção
no mundo ocupacional. Neste momento a participação num trabalho
de orientação permite ao adolescente realizar uma escolha o mais
identificada possível com seus autoconceitos vocacionais, desvinculando-se
de projetos familiares e sociais que lhe seriam frustrantes.
O segundo seria o da aposentadoria, onde através da reorientação
profissional o sujeito aprende que “preparar-se para a aposentadoria significa
ultrapassar o medo de sentir que já não é mais importante
para conscientizar-se de que passou a ser importante de outro modo” (MALDONADO
& GODIN, 1995).
Todas as etapas realizadas durante este processo de reorientação
tiveram seu valor e importância. Vou contudo ressaltar alguns momentos
da orientação, que acredito, foram de maior significado em termos
de mudança de auto - imagem e por conseguinte reformulação
do autoconceito vocacional.
As sessões de autoconhecimento tiveram um papel fundamental na conscientização
das orientandas sobre sua história pessoal e familiar. A percepção
de que os seus projetos de vida profissional e pessoal foram influenciados,
e até em alguns momentos, determinados, pelas projeções
dos pais e pela história familiar, permitiu a estas questionar e até
mesmo modificar alguns de seus atributos e autopercepções. Já
as viagens de fantasia propiciaram um confronto entre: sentimentos de desqualificação
e desesperança, e o desejo pulsante de liberdade, renascimento e novas
descobertas.
A etapa de redescoberta de potencialidades evidenciou o sentimento de inadequação
das orientandas, face as difíceis mudanças pelas quais estavam
passando: aposentadoria, envelhecimento e mudança na vida familiar. Nestas
sessões o contato com habilidades e motivações esquecidas,
ou mesmo desconhecidas, motivaram a criação de novas formas de
inserção profissional onde o prazer pelo trabalho e a crença
pessoal pudessem ser resgatados.
A etapa da informação profissional deixou claro a escassez de
oportunidades para pessoas na terceira idade, e a existência de um mercado
informal de trabalho, para o aposentado, do qual se tem poucas informações.
É importante ressaltar o quanto fica evidente através deste trabalho
à influência dos projetos dos pais e da estória familiar
na opção profissional das pessoas. Face a isto a orientação
tem um papel de particular importância no confronto e diferenciação
entre os projetos familiares e os projetos pessoais dos orientandos, assim como
na conscientização por estes da influência da estória
familiar na constituição de sua identidade ocupacional.
Outro fato evidente é o quanto a escolha profissional está diretamente
ligada a auto-imagem pessoal. Sentimentos de baixa estima e de desqualificação
pessoal freqüentemente levam a escolhas por profissões que geram
desprazer e desconforto. Uma práxis comprometida está intimamente
vinculada a uma auto-imagem positiva constituída pelo sentimento de “ter
algo a oferecer”.
No momento da aposentadoria, a crença num novo projeto profissional está
diretamente relacionada ao sentimento de possibilidade de reconstrução
de uma vida afetiva e social, assim como se sentir necessário e valorizado
pelas pessoas e pelo ambiente em que vive.
A reorientação profissional na aposentadoria permite ao idoso
refletir sobre o envelhecer, confrontando-o com sua realidade social, pessoal,
familiar e psicológica, estimulando-o a criar possibilidades profissionais
e pessoais adequadas ao seu momento presente. A falta de perspectiva ocasionada
no indivíduo face a uma mudança radical, como a aposentadoria,
proporciona ao orientador profissional uma ampla área de atuação.
É função do orientador estimular formas alternativas de
inserção profissional para a pessoa na terceira idade, haja visto
a retração do mercado formal de trabalho para estas pessoas, o
que gera sentimentos de desqualificação e impotência.
Este trabalho possibilitou a ampliação da minha área de
atuação enquanto orientadora profissional e criou uma expectativa
com relação a novos estudos e experiências na área
da reorientação para a terceira idade. Pretendo em função
disso dar continuidade a novos projetos nesta área e futuramente iniciar
uma pesquisa sobre as formas informais de inserção profissional
do aposentado na sociedade
Finalizando ressalto o compromisso, a participação e a motivação
das orientandas com esse trabalho, assim como, o meu sentimento de prazer e
satisfação com os objetivos atingidos. Embora houvesse um planejamento
prévio sobre como seria a orientação, este foi modificando-se
e transformando-se a cada etapa. Algumas dinâmicas foram elaboradas em
função da relação estabelecida no processo e da
necessidaddasorientandas. A expectativa sobre como cada técnica seria
vivenciada e aproveitada por elas, ocasionou o repensar constante do trabalho
realizado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOLLES, R. N. - Qual
a cor de seu pára - quedas? : Como conseguir um emprego e
descobrir a profissão dos seus sonhos. Rio de Janeiro: GMT, 1998.
BRUNS, M. A. T.
& ABREU, A. S. - O Envelhecimento: Encantos e Desencantos da
Aposentadoria. In: Revista da ABOP, Porto Alegre, 1997, v.1, n.1.
BRUNS, M. T. –
Não era isto o que Eu esperava da Universidade: Um estudo de Escolhas
Profissionais. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação –
UNICAMP/SP, 1992.
CANEDO, I. R.–
Contribuições da Gestalt - Terapia para o referencial teórico
da
Orientação Profissional. In: Revista da ABOP, Porto Alegre, 1997,
v.1, n. 1.
GODIN, A. &
MALDONADO, M. T. - Maiores de 40: Guia de Viagem para a Vida. São Paulo:
Saraiva, 1995.
LASSANCE, M. C.
- A Teoria Evolutiva de Donald Super. Material distribuído no Curso de
Formação em Orientação Profissional: A Facilitação
da Escolha. Instituto do Ser – Psicologia e Psicopedagogia, 1997, (mimeo).
LISBOA, M. D. -
Orientação Vocacional / Ocupacional : Projeto Profissional e
Compromisso com o Eixo Social. Material distribuído no Curso de Formação
em Orientação Profissional: A Facilitação da Escolha.
Instituto do Ser – Psicologia e Psicopedagogia, 1997, (mimeo).
LISBOA, M. &
LUCCHIARI, D. H. - Novas Técnicas em Orientação Profissional.
. Material
distribuído no Curso de Formação em Orientação
Profissional: A Facilitação da Escolha. Instituto do Ser –
Psicologia e Psicopedagogia, 1997, (mimeo).
LUCCHIARI, D. H.
P. (org.) - Pensando e Vivendo a Orientação Profissional. São
Paulo:
Summus, 1992.
LUCCHIARI, D. H.
S. - A Re – orientação Profissional: Apoio em época
de crise. In:
Revista da ABOP, Porto Alegre, 1997 v.1, n.1.
LUCCHIARI, D. H.
- A Psicologia do Projeto. Material distribuídono Curso de Formação
em
Orientação Profissional: A Facilitação da Escolha.
Instituto do Ser – Psicologia e Psicopedagogia, 1997, (mimeo).
MULLER, Marina -
Orientação Vocacional - Contribuições Clínicas
e Educacionais. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1988.
ORNSTEIN, R., &
SOBEL, D. - De Prazer também se vive: propostas positivas sobre o
papel do prazer na saúde física e mental. São Paulo: Best
Seller, 1989.
RIO, R. Pires do - O Fascínio do Stress. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.
STEVENS, John O.
- Tornar- se Presente: experimentos de crescimento em gestalt -
terapia. São Paulo, Summus, 1971.
SUPER, D; STARISHEVSKY;
JORDAAN; MATLIN – Career Development: the selfconcept
theory, 1957. In: A teoria evolutiva de Donald Super, Lassance, M. C. Material
distribuído no curso de Formação em Orientação
Profissional: A Facilitação da Escolha. Instituto do Ser –
Psicologia e Psicopedagogia, 1997, (mimeo).