A associação da psicoterapia de abordagem gestáltica
ao método fenomenológico, que pode ser considerada fundadora de
uma epistemologia possível nessa área de teoria e prática,
longe de significar uma conclusão ou fechamento de Gestalt, implica em
permanente revisão, construção, criação e
negociação de conhecimento e meta-conhecimento.
Ao romper com a(s) dicotomias clássicas e propor o campo relacional como
lugar de estabelecimento de sentido para a consciência e seu(s) mundo(s),
essa associação propiciou o uso e desenvolvimento de noções
e conceitos complexos, que todavia são com freqüência postulados
e utilizados de forma restritiva ou simplista, deturpando sua vocação
e impedindo a plena vigência da mesma epistemologia evocada.
Entre esses conceitos, podemos destacar alguns, cuja importância e abrangência
justificam seu manuseio no presente trabalho, como exemplos daquilo que acontece
com outros mais específicos ou parciais. Por intermédio deles
pretendemos dinamizar a discussão entre os participantes, de modo a criar
uma atualização coletiva e viva das possibilidades de afinação
dos mesmos às matrizes epistemológicas e aos paradigmas contemporâneos.
Em primeiro lugar, então, destacamos a noção de totalidade,
que em senso lato remete a agrupamentos em ‘boas formas’ ou a todos
‘significativos’. Reconhecendo que a idéia de ‘todo’
é sedutora e enigmática, abrangendo versões diferentes,
que se relacionam a partir dessas diferenças, respectivamente, com também
distintas noções de estrutura, processo, forma - e em grau maior
de especialização de conceitos, com a própria concepção
de um ‘si mesmo’-, perguntaremos, em relação a cada
um desses níveis conceituais: o que caracteriza um todo, afinal? Em relação
à convivência (ou isolamento) da abordagem gestáltica com
outras teorias e práticas em psicoterapia, assim como com outras epistemologias,
questionaremos: até onde vai a adequação entre forma e
conteúdo dialógicos na exposição ao contato e permeabilidade
de fronteiras? Ela pode resistir à tentação da auto-suficiência?
Esperamos, por meio dos diferentes recursos de dinamização utilizados,
explorar as potencialidades do grupo de participantes na co-criação
de uma configuração atual e dinâmica do(s) tema(s) abordado(s),
no sentido de fertilizar e qualificar o conhecimento compreensivo das ‘totalidades’
em forma de pessoas que são nossos pacientes, em sua muito especial composição
de autonomia e inter-dependência, auto e hetero-estima, parcialidade e
integridade.
BIBLIOGRAFIA:
TÁVORA, C.B. Do self ao selfing: o estrutural e o processual na emergência
da subjetividade. In: Holanda, A.F. & Faria, N.J. Gestalt-Terapia e Contemporaneidade.
Campinas, Livro Pleno, 2005.