Fórum 10 - “O pão nosso de cada dia”: conversando sobre nossas fontes de suporte e inspiração para o trabalho clínico.

O objetivo deste Fórum Interativo é promover uma reflexão sobre o exercício da prática clínica em nosso cotidiano. Pretendemos criar um espaço de conversa inspirado no clima dos “bate-papos de cozinha dos consultórios”, onde possamos falar livremente de nossas experiências pessoais focando, principalmente, naquilo que se destaca, para nós, como fontes extra-curriculares de sustentação do papel de psicoterapeuta.
Orientados pela idéia de que a pessoa é o seu melhor instrumento de trabalho, queremos explorar e identificar um pouco do que, nos bastidores da vida do terapeuta, se faz relevante como recurso e fonte de inspiração em busca de um modo próprio de atuação e práxis, enquanto gestalt-terapeutas.
No livro “Gestalt Terapia Integrada” (1979), Erving e Miriam Polster escrevem um capítulo onde sistematizam a idéia do psicoterapeuta como seu próprio instrumento. Eles definem, metaforicamente, o papel do psicoterapeuta como o de uma “câmara de ressonância para aquilo que se passa entre ele e o paciente” (p.35) Para que o psicoterapeuta possa exercer esta função é necessário que ele faça uso de sua própria “reatividade” de modo a “reverberar tudo aquilo que acontece nesta interação”. (idem)
Dentro deste ponto de vista, os autores compreendem o psicoterapeuta também como um artista, que “age a partir dos seus próprios sentimentos, utilzando-se do seu estado psicológico como um instrumento de terapia.” (p. 35)
Em artigo publicado no livro “As Psicoterapias Hoje” (1982), Tellegen enfatiza a importância do suporte próprio, não só do cliente, mas igualmente do terapeuta, no exercício da psicoterapia: “(...) também o terapeuta precisa saber do seu auto-suporte na situação terapêutica, pois só assim se garante a qualidade de sustento do campo terapêutico e a possibilidade de investigar novas dimensões de contato.” No mesmo texto, encontramos:
Se o contato sempre se dá no aqui e agora, o suporte se fundamenta no conjunto dos recursos desenvolvidos ao longo da história pessoal de cada um. O contato se passa na fronteira eu – não eu; o suporte é tudo que se tem à disposição para este contato ser pleno e vivificante. O foco do trabalho terapêutico em Gestalt é precisamente a articulação das dimensões de suporte e contato. (p.86).

Qual o significado e as implicações desta proposta, acima exposta, no exercício do papel de psicoterapeuta enquanto uma prática profissional? O que serve como suporte e como orientação para que esta pessoa, o terapeuta, esteja disponível para de fato servir como um canal de reverberação na relação com seu(s) cliente(s)? Quais os recursos de que dispomos, além daqueles da nossa formação e da experiência acumulada ao longo do exercício clínico, para nos acompanhar nesta tarefa, que não é meramente técnica, mas também artística e pessoal?
Também desejamos que este fórum possa contribuir para a criação de um ambiente acolhedor, onde a dimensão relacional seja privilegiada por uma atitude de escuta e atenção nossa. Acreditamos que cada um de nós tenha algo a contar sobre como e onde encontra recursos para manutenção da qualidade do contato. Na nossa profissão, esta qualidade é um recurso que necessita estar sempre a serviço da relação com o outro.

Referências bibliográficas:
Polster, E & Polster, M. Gestalt Terapia Integrada. Belo Horizonte: Intelivros, 1979
Tellegen, Therese A. em Porchat, I. (organizadora). As Psicoterapias Hoje. São Paulo, Summus, 1982.