Fórum 3 – A abordagem gestáltica e seu caráter atemporal: histórias para contar

A associação da psicoterapia de abordagem gestáltica ao método fenomenológico, que pode ser considerada fundadora de uma epistemologia possível nessa área de teoria e prática, longe de significar uma conclusão ou fechamento de Gestalt, implica em permanente revisão, construção, criação e negociação de conhecimento e meta-conhecimento.
Ao romper com a(s) dicotomias clássicas e propor o campo relacional como lugar de estabelecimento de sentido para a consciência e seu(s) mundo(s), essa associação propiciou o uso e desenvolvimento de noções e conceitos complexos, que todavia são com freqüência postulados e utilizados de forma restritiva ou simplista, deturpando sua vocação e impedindo a plena vigência da mesma epistemologia evocada.
Entre esses conceitos, podemos destacar alguns, cuja importância e abrangência justificam seu manuseio no presente trabalho, como exemplos daquilo que acontece com outros mais específicos ou parciais. Por intermédio deles pretendemos dinamizar a discussão entre os participantes, de modo a criar uma atualização coletiva e viva das possibilidades de afinação dos mesmos às matrizes epistemológicas e aos paradigmas contemporâneos.
Em primeiro lugar, então, destacamos a noção de totalidade, que em senso lato remete a agrupamentos em ‘boas formas’ ou a todos ‘significativos’. Reconhecendo que a idéia de ‘todo’ é sedutora e enigmática, abrangendo versões diferentes, que se relacionam a partir dessas diferenças, respectivamente, com também distintas noções de estrutura, processo, forma - e em grau maior de especialização de conceitos, com a própria concepção de um ‘si mesmo’-, perguntaremos, em relação a cada um desses níveis conceituais: o que caracteriza um todo, afinal? Em relação à convivência (ou isolamento) da abordagem gestáltica com outras teorias e práticas em psicoterapia, assim como com outras epistemologias, questionaremos: até onde vai a adequação entre forma e conteúdo dialógicos na exposição ao contato e permeabilidade de fronteiras? Ela pode resistir à tentação da auto-suficiência?
Esperamos, por meio dos diferentes recursos de dinamização utilizados, explorar as potencialidades do grupo de participantes na co-criação de uma configuração atual e dinâmica do(s) tema(s) abordado(s), no sentido de fertilizar e qualificar o conhecimento compreensivo das ‘totalidades’ em forma de pessoas que são nossos pacientes, em sua muito especial composição de autonomia e inter-dependência, auto e hetero-estima, parcialidade e integridade.

BIBLIOGRAFIA:
TÁVORA, C.B. Do self ao selfing: o estrutural e o processual na emergência da subjetividade. In: Holanda, A.F. & Faria, N.J. Gestalt-Terapia e Contemporaneidade. Campinas, Livro Pleno, 2005.