Mini-Curso 13: Terapia familiar gestáltico - sistêmica: o experimento terapêutico – evoluindo com a família.

Salomão, S.1; Silveira, A. C. F.2 - 1PUC/Rio - Psicologia; 2Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro – Ambulatório

O campo da terapia familiar prima pela constante transformação teórica e metodológica, pois o paradigma da complexidade possibilitou romper com a lógica disjuntiva, ampliando o contexto de intervenções e técnicas. Frente a isto, introduzimos no cenário da terapia familiar brasileira as contribuições da Gestalt-terapia. Nossa bagagem diversificada como terapeutas de família e formadoras construiu uma experiência mutuamente enriquecedora. Ao articular a Cibernética de segunda ordem com a Gestalt-terapia, geramos um atendimento que contempla a conversação, o campo experiencial do terapeuta, a reflexão e a transformação da percepção do terapeuta em ação imediata.
Objetivo do curso: Introdução de conceitos e da metodologia da Gestalt-terapia integrado com o campo da Terapia Familiar Sistêmica, com ênfase temática no experimento gestáltico. Sub-tema, o instrumento emocional.
Metodologia: Princípios da abordagem Gestáltico-Sistêmica: aula expositiva destacando a atitude experiencial fenomenológica da Gestalt-terapia. Demonstração do método: role-play/ vídeo de atendimento. Vivência sobre criação e execução do experimento: técnica “ensinando a criar”. Mini-grupos de reflexão. Fechamento
Justificativa
A Gestalt terapia e a Abordagem sistêmica de segunda ordem possuem uma afinidade epistemológica e metodológica, que possibilitou a junção de conceitos e técnicas oriundas dos dois campos. Construímos um modelo de intervenção relacional que associa construção de narrativas, ressonância, equipe reflexiva e experimento gestáltico. Enfatizamos a utilização do campo emocional do terapeuta em articulação com o campo emocional das famílias atendidas e empregamos a noção de auto-regulação criativa. A idéia de ressonância, já conhecida na terapia familiar, operacionalizada com a metodologia fenomenológica experiencial da Gestalt-terapia no aqui - agora, utiliza como recurso as emoções do terapeuta e traz para as famílias a abertura de campos emocionais diversos. As verdades se transformam em versões, para o casal, a família e para os terapeutas
É um modelo de intervenção terapêutica com famílias e de instrumentalização de psicoterapeutas, desenvolvido no curso de formação de família. O atendimento terapêutico forma um sistema de conversas multilaterais e de intervenção experiencial.
Após a eliminação do recurso da sala de espelho, desenvolvemos um recurso de entrevista estruturada não diretiva que acontece em oito etapas: 1) apresentação do modelo ou acolhimento da família, 2) conversa entre a família, 3) conversa terapeutas-grupo ou família ou consultor, 4) conversa entre terapeutas, 5) conversa da equipe reflexiva e terapeutas de intervenção, 6) conversa da família sobre a conversa da equipe reflexiva, 7)experimento terapêutico e 8) fechamento da sessão.
O recurso da equipe reflexiva foi introduzido por Tom Andersen, como resposta ao questionamento à prática normatizada na terapia familiar de uma equipe de supervisores e alunos em formação assistindo à sessão terapêutica e conversando sobre a sessão, sem que esta conversa pudesse ser escutada pela família em atendimento. Partindo das idéias de Bateson a este respeito, Andersen introduziu a idéia de que a família precisaria de uma pausa que a possibilitasse refletir. Entendemos que esta pausa serve tanto às famílias ou grupo atendidos quanto ao terapeuta de intervenção, pois o momento de conversa da equipe reflexiva trouxe para o cenário da terapia uma pausa na interação entre terapeutas de campo e aqueles que são atendidos, de tal forma que ao escutar a conversa da equipe reflexiva a respeito do que surgiu na sessão, tanto terapeutas quanto o sistema em atendimento pode agregar ao mapa cognitivo, idéias diferentes daquelas que surgiram na conversa terapêutica, através das várias pausas.
Quando a equipe reflexiva entra em campo instala-se a possibilidade de múltiplas versões a respeito do vivido durante o atendimento. As diferentes versões apresentadas pela conversa da equipe reflexiva e as reflexões dos terapeutas de intervenção trazem universos mais amplos para o atendimento e o critério de verdades absolutas é substituído por múltiplas versões advindas do campo experiencial dos terapeutas que se expressam através de uma fala não científica, não instrumental, não crítica, não técnica. As falas podem ser muito diferentes e se referem à ressonância das pessoas envolvidas. Como muitos espelhos, espelhamos as muitas faces do campo familiar. O grupo de terapeutas forma com as famílias um campo terapêutico único. A construção através das relações entre equipe, terapeutas e família se igualmente nos princípios existenciais- fenomenológicos da Gestalt-terapia, que promove uma fala não interpretativa e não conceitual da interação. O tom emocional é mantido nos limites do contexto relacional aqui e agora, o que evita abstrações e regras deverísticas apareçam de fora da experiência. As perguntas, falas e intervenções são orientadas sempre pelo contexto da família e do que ocorre dialogicamente entre família e grupo de profissionais, na experiência que é do campo do vivido.
Há também uma paridade no compartilhamento de experiências e histórias de vida. O se o compartilhamento emocional da experiência evocada permite que seja possível a percepção de lados e facetas não tocados, explorados ou que estejam cristalizados, congelados.
O momento de realizar experimentos nesse modelo de trabalho
Uma premissa básica da prática da Gestalt-terapia é que as experiências terapêuticas acontecidas na sessão devem ser eventos reais. O trabalho terapêutico é uma experiência válida em si mesma. A sessão é um encontro transformador porque há uma experiência acontecendo de fato no aqui e agora do atendimento (Polster e Polster, 2001). Denomina-se experimento (Polster e Polster, 2001) a etapa terapêutica em que o foco das questões trazido para a sessão será trabalhado. Essa etapa pode se referir a um determinado momento da sessão ou do processo como um todo.
Através do experimento os impasses se transformam em experiências e o casal e a família tem oportunidade de criar outras possibilidades. Uma delas é que a família possa realizar os fechamentos de antigas Gestalten a partir das vivências reais no setting terapêutico.
O método de trabalho é experiencial, ou seja, transforma o falar sobre em interação. Considerando-se tanto a perspectiva da família quanto à percepção e compreensão do terapeuta, as intervenções terapêuticas são baseadas no que vivemos em conjunto.
O espelho está dentro da sala - os terapeutas são “eus como espelho”. Agir como espelho não é simplesmente fazer comentários de meros observadores sobre o que ocorreu. A família conversa e nós devolvemos o que é evocado enquanto estamos fora das fronteiras da família (Zinker, 2001). Os dados fenomenológicos informam sobre o comportamento do sistema e nossa presença nos permite o entendimento do processo. A experiência permite que sejam evocadas as figuras, imagens e metáforas em nós mesmos. O terapeuta como seu próprio instrumento de trabalho ( Polster e Polster, 2000) transforma palavras, gestos e atitudes em uma gestalt experiencial englobadora para toda a família. Em geral o experimento é uma etapa que vai sendo delineada no decorrer da sessão. Conforme Joseph Zinker*, ele vai sendo construído desde que a sessão se inicia. E como ensina Polster**, o experimento é o próximo passo ( )... Em geral, um gestalt-terapeuta procura em toda sessão realizar um experimento originado no que está ocorrendo no encontro. A intenção é ativar o sistema de ação dentro do consultório, produzindo uma conexão entre o falar e o fazer, provocando processos de exploração, improvisação e invenção produtiva. Como o ambiente de uma sessão terapêutica tem uma segurança relativa, posto que um experimento tem conotação de realidade (Polster e Polster, 2001), a família pode se defrontar e confrontar com as emergências de sua vida, e fazer contato com o antigo e com o novo, realizando novas sínteses e procurando um outro ajustamento criativo, uma homeostase diferente.
Ensinando a fazer um experimento
Um experimento não é faz-de-conta, não é ensaio. É contato emocional com a experiência. Ele é composto de muitas técnicas, que podem preexistir ou ser construídas na cena terapêutica a partir do que está acontecendo no momento. O que distingue um experimento de uma técnica é que um experimento surge sempre em função do tema da família. Em seu formato, utiliza-se, se for o caso, de mais de uma técnica. Um experimento deve ser proposto sob medida para a área de conflito mais relevante da família. Esse fazer que será ensinado no curso versará sobre como criar um experimento e quando utilizá-lo.
Equipamentos necessários: Data show, DVD e Flip Shart ou quadro branco.

Bibliografia:
(1) McNAMEE, S.; GERGEN, K. – A Terapia como construção social- Porto Alegre: Artes médicas, 1998. (2) SILVEIRA, Ana C. Felisberto- “O “impacto da cibernética de segunda ordem na terapia”. Familiar sistêmica” – Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia da UFRJ, 1988. (3) PERLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. – Gestalt-Terapia- São Paulo: Summus, 1997. (4) Polster, Erving e Miriam. – Gestalt-terapia Integrada –São Paulo:Summus, 2001 Joseph Zinker, Em Busca da Elegância: São Paulo:Summus, 2001.