Salomão, S.1; Silveira, A. C. F.2 - 1PUC/Rio - Psicologia; 2Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro – Ambulatório
O campo da terapia familiar prima pela constante transformação
teórica e metodológica, pois o paradigma da complexidade possibilitou
romper com a lógica disjuntiva, ampliando o contexto de intervenções
e técnicas. Frente a isto, introduzimos no cenário da terapia
familiar brasileira as contribuições da Gestalt-terapia. Nossa
bagagem diversificada como terapeutas de família e formadoras construiu
uma experiência mutuamente enriquecedora. Ao articular a Cibernética
de segunda ordem com a Gestalt-terapia, geramos um atendimento que contempla
a conversação, o campo experiencial do terapeuta, a reflexão
e a transformação da percepção do terapeuta em ação
imediata.
Objetivo do curso: Introdução de conceitos e da metodologia da
Gestalt-terapia integrado com o campo da Terapia Familiar Sistêmica, com
ênfase temática no experimento gestáltico. Sub-tema, o instrumento
emocional.
Metodologia: Princípios da abordagem Gestáltico-Sistêmica:
aula expositiva destacando a atitude experiencial fenomenológica da Gestalt-terapia.
Demonstração do método: role-play/ vídeo de atendimento.
Vivência sobre criação e execução do experimento:
técnica “ensinando a criar”. Mini-grupos de reflexão.
Fechamento
Justificativa
A Gestalt terapia e a Abordagem sistêmica de segunda ordem possuem uma
afinidade epistemológica e metodológica, que possibilitou a junção
de conceitos e técnicas oriundas dos dois campos. Construímos
um modelo de intervenção relacional que associa construção
de narrativas, ressonância, equipe reflexiva e experimento gestáltico.
Enfatizamos a utilização do campo emocional do terapeuta em articulação
com o campo emocional das famílias atendidas e empregamos a noção
de auto-regulação criativa. A idéia de ressonância,
já conhecida na terapia familiar, operacionalizada com a metodologia
fenomenológica experiencial da Gestalt-terapia no aqui - agora, utiliza
como recurso as emoções do terapeuta e traz para as famílias
a abertura de campos emocionais diversos. As verdades se transformam em versões,
para o casal, a família e para os terapeutas
É um modelo de intervenção terapêutica com famílias
e de instrumentalização de psicoterapeutas, desenvolvido no curso
de formação de família. O atendimento terapêutico
forma um sistema de conversas multilaterais e de intervenção experiencial.
Após a eliminação do recurso da sala de espelho, desenvolvemos
um recurso de entrevista estruturada não diretiva que acontece em oito
etapas: 1) apresentação do modelo ou acolhimento da família,
2) conversa entre a família, 3) conversa terapeutas-grupo ou família
ou consultor, 4) conversa entre terapeutas, 5) conversa da equipe reflexiva
e terapeutas de intervenção, 6) conversa da família sobre
a conversa da equipe reflexiva, 7)experimento terapêutico e 8) fechamento
da sessão.
O recurso da equipe reflexiva foi introduzido por Tom Andersen, como resposta
ao questionamento à prática normatizada na terapia familiar de
uma equipe de supervisores e alunos em formação assistindo à
sessão terapêutica e conversando sobre a sessão, sem que
esta conversa pudesse ser escutada pela família em atendimento. Partindo
das idéias de Bateson a este respeito, Andersen introduziu a idéia
de que a família precisaria de uma pausa que a possibilitasse refletir.
Entendemos que esta pausa serve tanto às famílias ou grupo atendidos
quanto ao terapeuta de intervenção, pois o momento de conversa
da equipe reflexiva trouxe para o cenário da terapia uma pausa na interação
entre terapeutas de campo e aqueles que são atendidos, de tal forma que
ao escutar a conversa da equipe reflexiva a respeito do que surgiu na sessão,
tanto terapeutas quanto o sistema em atendimento pode agregar ao mapa cognitivo,
idéias diferentes daquelas que surgiram na conversa terapêutica,
através das várias pausas.
Quando a equipe reflexiva entra em campo instala-se a possibilidade de múltiplas
versões a respeito do vivido durante o atendimento. As diferentes versões
apresentadas pela conversa da equipe reflexiva e as reflexões dos terapeutas
de intervenção trazem universos mais amplos para o atendimento
e o critério de verdades absolutas é substituído por múltiplas
versões advindas do campo experiencial dos terapeutas que se expressam
através de uma fala não científica, não instrumental,
não crítica, não técnica. As falas podem ser muito
diferentes e se referem à ressonância das pessoas envolvidas. Como
muitos espelhos, espelhamos as muitas faces do campo familiar. O grupo de terapeutas
forma com as famílias um campo terapêutico único. A construção
através das relações entre equipe, terapeutas e família
se igualmente nos princípios existenciais- fenomenológicos da
Gestalt-terapia, que promove uma fala não interpretativa e não
conceitual da interação. O tom emocional é mantido nos
limites do contexto relacional aqui e agora, o que evita abstrações
e regras deverísticas apareçam de fora da experiência. As
perguntas, falas e intervenções são orientadas sempre pelo
contexto da família e do que ocorre dialogicamente entre família
e grupo de profissionais, na experiência que é do campo do vivido.
Há também uma paridade no compartilhamento de experiências
e histórias de vida. O se o compartilhamento emocional da experiência
evocada permite que seja possível a percepção de lados
e facetas não tocados, explorados ou que estejam cristalizados, congelados.
O momento de realizar experimentos nesse modelo de trabalho
Uma premissa básica da prática da Gestalt-terapia é que
as experiências terapêuticas acontecidas na sessão devem
ser eventos reais. O trabalho terapêutico é uma experiência
válida em si mesma. A sessão é um encontro transformador
porque há uma experiência acontecendo de fato no aqui e agora do
atendimento (Polster e Polster, 2001). Denomina-se experimento (Polster e Polster,
2001) a etapa terapêutica em que o foco das questões trazido para
a sessão será trabalhado. Essa etapa pode se referir a um determinado
momento da sessão ou do processo como um todo.
Através do experimento os impasses se transformam em experiências
e o casal e a família tem oportunidade de criar outras possibilidades.
Uma delas é que a família possa realizar os fechamentos de antigas
Gestalten a partir das vivências reais no setting terapêutico.
O método de trabalho é experiencial, ou seja, transforma o falar
sobre em interação. Considerando-se tanto a perspectiva da família
quanto à percepção e compreensão do terapeuta, as
intervenções terapêuticas são baseadas no que vivemos
em conjunto.
O espelho está dentro da sala - os terapeutas são “eus como
espelho”. Agir como espelho não é simplesmente fazer comentários
de meros observadores sobre o que ocorreu. A família conversa e nós
devolvemos o que é evocado enquanto estamos fora das fronteiras da família
(Zinker, 2001). Os dados fenomenológicos informam sobre o comportamento
do sistema e nossa presença nos permite o entendimento do processo. A
experiência permite que sejam evocadas as figuras, imagens e metáforas
em nós mesmos. O terapeuta como seu próprio instrumento de trabalho
( Polster e Polster, 2000) transforma palavras, gestos e atitudes em uma gestalt
experiencial englobadora para toda a família. Em geral o experimento
é uma etapa que vai sendo delineada no decorrer da sessão. Conforme
Joseph Zinker*, ele vai sendo construído desde que a sessão se
inicia. E como ensina Polster**, o experimento é o próximo passo
( )... Em geral, um gestalt-terapeuta procura em toda sessão realizar
um experimento originado no que está ocorrendo no encontro. A intenção
é ativar o sistema de ação dentro do consultório,
produzindo uma conexão entre o falar e o fazer, provocando processos
de exploração, improvisação e invenção
produtiva. Como o ambiente de uma sessão terapêutica tem uma segurança
relativa, posto que um experimento tem conotação de realidade
(Polster e Polster, 2001), a família pode se defrontar e confrontar com
as emergências de sua vida, e fazer contato com o antigo e com o novo,
realizando novas sínteses e procurando um outro ajustamento criativo,
uma homeostase diferente.
Ensinando a fazer um experimento
Um experimento não é faz-de-conta, não é ensaio.
É contato emocional com a experiência. Ele é composto de
muitas técnicas, que podem preexistir ou ser construídas na cena
terapêutica a partir do que está acontecendo no momento. O que
distingue um experimento de uma técnica é que um experimento surge
sempre em função do tema da família. Em seu formato, utiliza-se,
se for o caso, de mais de uma técnica. Um experimento deve ser proposto
sob medida para a área de conflito mais relevante da família.
Esse fazer que será ensinado no curso versará sobre como criar
um experimento e quando utilizá-lo.
Equipamentos necessários: Data show, DVD e Flip Shart ou quadro branco.
Bibliografia:
(1) McNAMEE, S.; GERGEN, K. – A Terapia como construção
social- Porto Alegre: Artes médicas, 1998. (2) SILVEIRA, Ana C. Felisberto-
“O “impacto da cibernética de segunda ordem na terapia”.
Familiar sistêmica” – Dissertação de Mestrado,
Instituto de Psicologia da UFRJ, 1988. (3) PERLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN,
P. – Gestalt-Terapia- São Paulo: Summus, 1997. (4) Polster, Erving
e Miriam. – Gestalt-terapia Integrada –São Paulo:Summus,
2001 Joseph Zinker, Em Busca da
Elegância: São Paulo:Summus, 2001.