Abordagem gestáltica com crianças: Criando recursos facilitadores do contato.


Daniela Magalhães da Silva

 

Há doze anos venho atuando como psicoterapeuta infantil. Sinto-me privilegiada pela possibilidade de ajudar as crianças a passar por situações de vida tão adversas, oferecendo acolhimento para que situações delicadas sejam explicitadas e suporte para que novos caminhos sejam percorridos em busca de fortalecimento.
Meu comprometimento e minha responsabilidade com estes pequenos clientes revelaram ao longo dos anos a necessidade de criar uma forma original e criativa de trabalho. Diferentemente dos adultos que chegam ao consultório com o desejo de trabalhar determinados temas ou questões, a criança necessita de recursos que as ajudem a ampliar e traduzir seus sentimentos. Dessa forma, o trabalho com elas exige uma variedade de recursos disponíveis para serem experenciados.
Meu contato com crianças na prática clínica e escolar tem revelado de forma contínua e crescente que o tempo para o sentir e o espaço para estar junto estão cada vez mais raros. Pais e filhos estão se distanciando. O tempo para convivência, para troca de idéias ou valores e para experenciar sentimentos estão perdendo espaço na rotina das famílias.
A dor e o vazio conseqüentes desse distanciamento geram crises e conflitos. Sem ter suas necessidades atendidas e sem saber o que fazer para reverter esse quadro, a criança sofre sem conseguir nomear seus sentimentos, manifestando alguma disfunção no seu equilíbrio. Somatizações, problemas de comportamento e dificuldades de aprendizagem são os motivos mais freqüentes para busca de uma psicoterapia.
Assim é no espaço terapêutico que a criança tem a possibilidade de expressar suas fantasias, seus medos e desejos. A psicoterapia torna-se o lugar de regate do contato com seus sentimentos.
Quase sempre a criança que necessita de ajuda tem algum comprometimento na sua capacidade de fazer contato consigo mesma e com os outros. Nossa função é ajudá-la a fortalecer as funções de contato, para que assim possa restaurar seu equilíbrio.
Nesse sentido podemos facilitar esse contato lançando mão do que na Gestalt-terapia chamamos de experimento. O experimento facilita a conscientização do tema que está sendo abordado, permitindo que o cliente se aprofunde no que está sendo trabalhado. É importante ressaltar no entanto, que diferentemente da técnica o experimento é da ordem do vivido. Segundo Ciornai a finalidade de um experimento não é alcançar um resultado já conhecido, específico e previsto; seu objetivo é criar novas experiências ou explorar e aprofundar experiências já vividas, enriquecendo-as com novas perspectivas, novos olhares, novas luzes, novos ângulos de visão. (...) É sempre uma aventura, uma proposta a ser explorada.
Ao longo desses anos fui buscando recursos que poderiam se tornar grandes facilitadores da retomada do fluxo de contato. Encontrei na Arteterapia, na literatura infantil e em outros trabalhos que criei e fiz adaptações instrumentos valiosos que privilegiam o vivido e ajudam na intensificação do contato da criança consigo mesma e com os outros.
Neste trabalho, fruto da minha prática profissional no âmbito clínico e escolar, venho relatar experiências que ampliaram as possibilidades da criança abrir as portas e janelas do seu coração, facilitando o caminho para que o conteúdo emergido fosse trabalhado com muito cuidado e confirmação.

Referências bibliográficas:

Ciornai, Selma: “Percursos em Arterapia” _ São Paulo, Summus, 2004.
Fonseca, Afonso Lisboa: “ Gestalt-terapia fenomenológico existencial”- Maceió: Pedang, 2005

Oaklander, Violet.: “Descobrindo crianças” – São Paulo, Summus, 1980.