Mini-Curso 7 – Introdução à Gestalt-terapia: conhecendo os fundamentos da abordagem gestáltica.



Objetivos: Propiciar aos participantes do congresso, com um nível de conhecimento mínimo ou básico sobre a Gestalt-terapia, uma visão estruturada dos fundamentos da abordagem gestáltica, visando ampliar suas condições de assimilação dos conteúdos que serão apresentados nos demais trabalhos. Visa também propiciar uma oportunidade de atualização e revisão para os participantes que já possuam formação mas que, contudo, tenham se afastado dos estudos teóricos.

Conteúdo e a natureza da abordagem filosófica, teórica ou técnico-metodológica: No mini-curso, teremos como proposta preferencialmente embasarmos a fundamentação filosófica da Gestalt-terapia, inicialmente contrastando sua metodologia contra os fundamentos metodológicos do paradigma cartesiano vigente. Desta forma, para compreender o pensamento gestáltico, inicialmente revisaremos e elucidaremos o próprio pensamento de fundamentação cartesiana, com sua metodologia analítica, causal e atomística. Uma vez se constituindo a noção da base paradigmática que o pensamento gestáltico criticará, ficará mais acessível a compreensão desta própria crítica, com o estudo da Fenomenologia, da Psicologia da Gestalt, da Teoria Organísmica e da Indiferença Criativa. Somaremos uma noção prática da Gestalt-terapia, com a inclusão de atendimentos pedagógico-terapêuticos, visando a demonstração da aplicação técnica dos aspectos teóricos estudados.

Em relação à Fenomenologia: no tocante a obra de Husserl, limitada aos aspectos teóricos da construção do cogito cogitatum, da redução psicológica, redução eidética e redução fenomenológica propriamente dita, e seus desdobramentos em termos de uma metodologia para a Gestalt-terapia: um trabalho descritivo que considera todo o contexto com a implicação da relação terapeuta/cliente inclusive; o enfoque sobre a síntese temporal que representa a noção do aqui-e-agora; um enfoque que não privilegia um meio de comunicação ou outro (só trabalhar “fala”, ou só trabalhar “comportamentos”, ou só trabalhar “couraças” etc) , mas utiliza todos os recursos disponíveis para o bem psicoterápico; se permite criar condições de experimentação que sensibilizem a intuição originária não como lembranças lembradas que remetem às experiências anteriores, mas como percepções percebidas das situações atualmente vivenciadas, com o uso das técnicas de experimento/vivências que presentificam o sentido do vivido; um trabalho do qual se depreende uma Teoria da Personalidade dinâmica, com um conceito de “self” que se instaura – ou melhor: que vai se instaurando - na dimensão temporal da fronteira do continuum relacionamento eu/mundo.

Em relação à Psicologia da Gestalt: no tocante à obra de Köhler, Koffka e Wertheimer, limitada aos aspectos selecionados por Perls como relevantes para a Gestalt-terapia: a percepção dialética da estrutura figura-fundo como uma relação que se dá no tempo e a noção da tensão produzida pelas situações inacabadas.

Em relação à Teoria Organísmica: no tocante a utilização do corpo não como algo que pertence a um “eu”, mas que “sou eu”, com a valorização das mensagens expressas em gestos, expressões faciais, respiração etc, ampliando a possibilidade de captação da manutenção das situações inacabadas no presente, através dos hábitos.

Em relação à Indiferença Criativa: no tocante ao aspecto de que toda situação vivida que se apresenta nunca é algo que surge de um nada, e sempre precisa ser contextualizada, através da sua relação com seu “ponto zero”, ou a inclusão do contexto a partir do qual um conflito existencial se instaura e perante o qual nos recusamos a trabalhar como simples dualidades (“sim” ou “não”, “quero”, “não quero” etc), mas que, ao invés disso, trabalhamos com um nível de complexidade maior, que é o nível das polaridades de um contexto vivencial tomado holisticamente.

Em relação a demonstração de atendimentos pedagógico-terapêuticos: com a participação de voluntários, demonstraremos como os fundamentos teóricos acima descritos se convertem em técnicas, com atendimentos pedagógico-terapêuticos, trabalhando questões pessoais a um nível superficial meramente necessário para criar condições para a demonstração das técnicas, sem comprometer a privacidade ou a intimidade dos participantes.

Metodologia do Mini-curso: coerentemente com a proposta de uma antropologia filosófica para a qual a abordagem gestáltica nos remete, ao considerar o ser humano como um ser capaz de utilizar de seus próprios recursos para compreender a si mesmo, atualizar-se, ampliar suas escolhas e realizar novas opções, o método da transmissão dos conhecimentos se preocupa com a consonância a esta visão, utilizando uma abordagem maiêutica, inquirindo os participantes e sensibilizando-os em relação às suas próprias capacidades de depreender os principais aspectos que serão tratados.

Bibliografia:

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