A humanidade vive hoje uma crise de auto desvalor, sem precedentes.
Não se sentindo amado, o ser humano não tem conseguido superar
os dramas da rejeição e os tormentos da solidão. Acorrentado
pela ilusão do menor esforço, anseia pela felicidade como se tal
estado pudesse ser fruto da aquisição de facilidades e privilégios.
Portanto, buscar esta felicidade fora de si é dar prosseguimento a uma
procura recheada de decepções e dor.
A conquista da felicidade se faz por meio da educação de si mesmo.
Se educar para ser feliz é dar significado a existência. O homem
contemporâneo padece da doença do sentido. Precisa aprender que
dele depende a suavização de suas moléstias para alcançar
ser tão feliz quanto possível.
E são nos matizes da vida mental profunda, nas células afetivas
que se encontra a maior conquista para ser feliz. E todas essas sensações
operam-se no reinado do coração e não são formas
de pensar e sim sentimentos. Neste enfoque de transitoriedade e de desprendimento
se encaixa a premissa de que é possível existir caminhos para
estabelecer significados educativos ao sofrimento.
A arte de ouvir os sentimentos não significa adotá-los prontamente,
mas aceitá-los na intimidade e criar uma relação amigável
com eles. O ato de existir ocorre no sentimento e o sentimento é a maior
conquista evolutiva do Espírito.
Desta forma, esta atitude é o primeiro passo para um diálogo educativo
com o mundo interior. Ter uma conexão com a real identidade psicológica
possibilita a rica aventura do auto descobrimento no rumo da singularidade –
a identidade cósmica do Espírito.
Na obra de Roger Woolger (1987) intitulada As Várias Vidas da Alma, em
sua introdução, cita Herman Hesse em O Lobo da Estepe, valorizando
a busca profunda do conhecimento e confirmação da totalidade do
que nos pertence:
“Só no seu íntimo existe aquela outra realidade pela qual
você anseia. Não posso lhe dar nada que não exista dentro
de você. Não posso abrir-lhe outra galeria de quadros além
da sua própria alma”. (p.15)
Auto amor não é treinar o pensamento para beneficiar a si, mas
educar o sentimento para escutar o “Deus” em nós.
Em seu artigo O Sagrado e a Experiência do Sagrado na Psicoterapia, Gisele
Mariano Vaz (2006) retratou esta condição na seguinte passagem:
“Ribeiro (2005b) alerta que para a pessoa se encontrar com o sagrado é
preciso primeiro que ela se encontre consigo mesma, com o seu ser mais íntimo,
com o mundo, e só então será capaz de experienciar o sagrado.
O diálogo profundo com o outro leva a pessoa além de sua finitude.
Quando o indivíduo se relaciona com outro self ele amplia a sua existência
e torna-se inteiro, pois o entre possibilita a evolução de características
do self que ainda não se desenvolveram”. (p.81) (Grifo nosso)
E ainda Carl Gustav Yung (apud Ermance Dufaux, 2006) afirmou: “Nenhuma
circunstância exterior substitui a experiência interna. E é
só à luz dos acontecimentos internos que entendo a mim mesmo.
São eles que constituem a singularidade de minha vida”. (p. 26)
A grande maioria do ser humano convive com fantasmas que excitam as dificuldades
habituando-se na miséria de si mesmo. Munido deste aprendizado o terapeuta
gestáltico auxilia como agir no aqui e agora, para alcançar a
tomada de consciência na conquista de comportamentos mais satisfatórios.
Ribeiro (1999) enfatiza: “... que estar na experiência imediata
nossa e do outro é ter uma consciência emocionada dessas dimensões.
Estamos em um imenso campo “biopsicossocioespiritual”; portanto,
temos de nos relacionar com nosso interior como seres que tem corpo, uma psique,
um social, e também uma dimensão transcendente. Se essas quatro
dimensões não estiverem presentes no ato psicoterapêutico,
o encontro não ocorre, a consciência não se amplia a totalidade
não se faz e o fenômeno é renegado”. (p.12)
Esta abordagem gera, através de sua filosofia, uma forma de ser que produz
benefícios para si e para outras pessoas. Suas técnicas e estratégias
favorecem a necessidade de angariar coragem e amadurecimento espiritual para
identificar as pedras presentes na batalha da vida. Desse modo, cria condições
de retirá-las da penumbra do psiquismo e utilizá-las como fator
transformador da existência tornando-se o homem um ser integrado na sua
existência.
“Conhecer o homem profundamente só se torna possível ao
considerá-lo holisticamente, em todas as suas dimensões”.
(Ribeiro apud Vaz, 2006, p.77)
O campo da psicoterapia é vasto, contínuo, transformador e gerador
de cura. Considerar e reconhecer a importância da experiência e
vivência da espiritualidade dentro do “setting” terapêutico
potencializa a ressignificação tão necessária ao
crescimento do cliente e do terapeuta. Ambos entram em contato com suas totalidades,
tornam-se integrados consigo e vivem repletos de sentido.
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